Há 19 anos, existe em Santa Maria um programa que inclui pequenos produtores no mercado e promove a comercialização de seus produtos através do cooperativismo vinculado à economia solidária. Trata-se do Projeto Esperança.
Criado em 15 de agosto de 1987 como um setor do Banco da Esperança, o Projeto articula e congrega as experiências de Economia Popular Solidária (EPS) no meio urbano e rural.
Em 1989, foi fundada a Cooesperança, uma cooperativa mista dos pequenos produtores que participam do Projeto, que atua como uma central, articulando os empreendimentos da região centro do estado.
A proposta do trabalho realizado é dar apoio necessário para que os cooperativistas adquiram a capacidade de autogestão. Uma das idealizadoras do projeto e responsável pela administração do Banco da Esperança, Irmã Lourdes Dill, diz que este apoio é realizado de forma responsável e incentivadora: “Não damos o peixe, mas ensinamos a pescar”, salienta.
A cooperativa está aberta para todas as pessoas que produzam com as próprias mãos, seja plantando ou confeccionando, e estejam de acordo com a ideologia do Projeto. “Somos todos muito unidos. Sempre que alguém precisa o outro dá uma mão. Quem não se enquadra neste espírito cooperativista logo abandona o barco”, diz Luís Carlos Gomes, antigo participante do grupo.
Para ingressar no Projeto, basta juntar um grupo de no mínimo cinco produtores e procurar o Banco da Esperança. Os novos grupos devem pagar uma taxa de 30 reais para associar-se e tem de participar de uma reunião onde são explanadas as normas de trabalho.
Muitas possibilidades para a comercialização
A atuação comercial dos cooperativistas acontece em diversas feiras. Em 2003, foi criada a Teia Esperança, que é a rede dos empreendimentos associados ao Projeto, com o objetivo de aumentar o escoamento da produção e a qualidade dos produtos.
Os principais Pontos da Teia Esperança são o Feirão Colonial – uma feira que acontece todos os sábados no Terminal de Comercialização Direta, ao lado do Colégio Irmão José Otão, nos fundos do Santuário da Medianeira – e o Feirão Mensal da Praça Saldanha Marinho. Além disso, há mais de 40 estabelecimentos que comercializam os produtos na região.
Para participar das feiras, cada produtor deve pagar uma porcentagem para a cooperativa. O valor é destinado para cobrir gastos com impostos, água e luz. No Feirão, a taxa é de 8%. Já na Praça, onde a feira dura uma semana, a taxa é maior – 10%, porque os feirantes contrataram dois guardas noturnos para não haver a necessidade de desmontar a estrutura diariamente.
Nos pontos fixos, onde a administração fica sob a responsabilidade de um grupo específico, são expostos e comercializados produtos de todos os cooperativistas interessados. O maior ponto de teia de Santa Maria é o Armazém da Colônia, que fica na Avenida Rio Branco, ao lado do Hotel Glória. No local, há mais de 35 grupos expondo e comercializando a produção.
Outros pontos importantes na cidade são o Centro de Economia Popular Solidária, na Rua Serafim Valandro, a Produção e Arte Esperança, na Rua Roque Callage e o Cantinho do Artesanato, no terceiro andar do Santa Maria Shopping. A taxa para a exposição nestes pontos – que funcionam de segunda-feira a sábado – é de 25%, pos é necessário cobrir gastos relacionados ao aluguel do local.
Um espaço em desenvolvimento
Uma novidade para os produtores e consumidores é que o Feirão da Praça ocorre atualmente na primeira semana de cada mês. O período de uma semana só foi liberado durante a atual gestão administrativa da cidade, em uma parceria da Cooesperança com a Prefeitura Municipal.
Nos primeiros anos de realização, a comercialização só acontecia em datas especiais como o Dia das Mães e Natal. Luís Carlos Gomes, que faz parte do Projeto Esperança desde 1994, conta que no início cerca de oito grupos dividiam uma única banca.
“Armávamos a banca com taquaras e lona, era uma situação bastante precária”, lembra Luís Carlos, que hoje trabalha em sua própria banca com a venda de lanches rápidos, café e sucos. “Hoje, temos um espaço com cerca de 54 estandes, todos com armação e lonas brancas. Melhoramos muito, mas estamos longe da perfeição”, ressalta o comerciante.
Ivonete Marine, que trabalha com produtos alimentícios há seis anos e é a coordenadora do Feirão, também comemora o crescimento do Projeto. “Hoje temos uma procura cada vez maior para associações. Estamos nos tornando uma grande cooperativa de pequenos produtores”, diz.
“A semana de exposição na praça é muito importante para a divulgação do nosso trabalho, que já é conhecido em toda a América Latina”, comenta Ivonete.
Cooperativismo ultrapassa fronteiras
Nos dia 7, 8 e 9 de julho, a cidade será sede da maior feira de economia solidária do Mercosul. É a 13ª FEICOOP e 2ª Feira da Economia Solidária da América Latina, que acontece junto ao Terminal de Comercialização Direta do Projeto Esperança.
Em 2005, a Feira teve a participação de 16 países, 221 municípios e 23 estados brasileiros, além de um público de 66 mil pessoas, quando Santa Maria foi considerada a Capital da Economia Solidária. A perspectiva é de que este ano mais de 120 mil pessoas visitem a Feira.
Algumas mudanças foram feitas na estrutura e local do evento, para uma melhor recepção. “Este ano, teremos estacionamento com guardas, e sem nenhum custo para o público. No ano passado, as pessoas tinham que deixar os carros até três quadras do local”, conta Luís Carlos, que colabora na organização da feira. Outra expectativa para a edição desse ano é a visita do Presidente Lula, que foi convidado para vir em 2005, mas que não compareceu.