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É preciso avançar ainda mais

Pesquisa da Agência Nacional dos Direitos da Infância revelou que a imprensa está tratando do tema com mais atenção, mas ainda é pouco

A notícia pode até gerar uma comemoração tímida, mas nada de muito alarde ou orgulho. O fato é que a imprensa brasileira passou a enxergar com mais valor os Direitos Humanos e, nesse compasso, abriu espaço para o tema. Quem prova isso é a Agência Nacional dos Direitos da Infância (Andi), com uma pesquisa meticulosa divulgada no final do ano passado. Ao analisar 1.315 matérias em 57 jornais do Brasil, descobriu-se que mais da metade deles trazem em suas páginas a expressão “Direitos Humanos”.

A má notícia é que em 80% dos casos essas duas palavras estão relacionadas à divulgação de eventos ou são referências a entidades e publicações que trazem os Direitos Humanos no nome. Apenas 0,5% do material verificado aborda o tema conceituando-o explicitamente. São matérias generalistas, que dificilmente contemplam um enfoque profundo no cotidiano das populações específicas que mais sofrem essa violação, como gays, negros, mulheres, crianças, idosos e pobres.

Se, por um lado, 34,9% dos textos trazem a menção de forma genérica e acidental, percebe-se que, na outra metade das matérias analisadas, houve uma vitória no quesito mais importante a ser tratado e dissecado: a violação desse direito. Nos textos específicos sobre o assunto, essa abordagem ocupa 13,9%. Há ainda outra descoberta importante. O tema é raramente ligado a ‘direitos dos bandidos’, como se disseminou até alguns anos, principalmente em decorrência das coberturas de rebeliões. 

      
No meio de tantos dados, um outro é lamentável: a escolha da fonte. Fica claro que o cidadão, aquele que teve o seu direito desrespeitado, perde espaço para as organizações do Estado. Os chamados poderes constituídos aparecem em 28,5% como fontes ouvidas no material pesquisado, enquanto as populações representam 3% nesse universo. 

Outra revelação contundente é que na dianteira dos jornais que publicam matérias de Direitos Humanos estão os de abrangência regional. Os cinco maiores jornais do país respondem por apenas 13% do material coletado. É a velha história da pauta secundária, “sem importância”, que aparece lá no fundo da gaveta, e pode ser sepultada a qualquer momento.

O desafio da imprensa é justamente mergulhar no tema, com reportagens que mostrem a cara do povo, suas mazelas nuas e cruas, e que também informem que o cidadão tem direitos e deve exigir por eles, seja na cobrança pelo funcionamento adequado da máquina pública ou fazendo do seu principal personagem (o leitor) um cidadão muito mais consciente.

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Pesquisa da Agência Nacional dos Direitos da Infância revelou que a imprensa está tratando do tema com mais atenção, mas ainda é pouco

A notícia pode até gerar uma comemoração tímida, mas nada de muito alarde ou orgulho. O fato é que a imprensa brasileira passou a enxergar com mais valor os Direitos Humanos e, nesse compasso, abriu espaço para o tema. Quem prova isso é a Agência Nacional dos Direitos da Infância (Andi), com uma pesquisa meticulosa divulgada no final do ano passado. Ao analisar 1.315 matérias em 57 jornais do Brasil, descobriu-se que mais da metade deles trazem em suas páginas a expressão “Direitos Humanos”.

A má notícia é que em 80% dos casos essas duas palavras estão relacionadas à divulgação de eventos ou são referências a entidades e publicações que trazem os Direitos Humanos no nome. Apenas 0,5% do material verificado aborda o tema conceituando-o explicitamente. São matérias generalistas, que dificilmente contemplam um enfoque profundo no cotidiano das populações específicas que mais sofrem essa violação, como gays, negros, mulheres, crianças, idosos e pobres.

Se, por um lado, 34,9% dos textos trazem a menção de forma genérica e acidental, percebe-se que, na outra metade das matérias analisadas, houve uma vitória no quesito mais importante a ser tratado e dissecado: a violação desse direito. Nos textos específicos sobre o assunto, essa abordagem ocupa 13,9%. Há ainda outra descoberta importante. O tema é raramente ligado a ‘direitos dos bandidos’, como se disseminou até alguns anos, principalmente em decorrência das coberturas de rebeliões. 

      
No meio de tantos dados, um outro é lamentável: a escolha da fonte. Fica claro que o cidadão, aquele que teve o seu direito desrespeitado, perde espaço para as organizações do Estado. Os chamados poderes constituídos aparecem em 28,5% como fontes ouvidas no material pesquisado, enquanto as populações representam 3% nesse universo. 

Outra revelação contundente é que na dianteira dos jornais que publicam matérias de Direitos Humanos estão os de abrangência regional. Os cinco maiores jornais do país respondem por apenas 13% do material coletado. É a velha história da pauta secundária, “sem importância”, que aparece lá no fundo da gaveta, e pode ser sepultada a qualquer momento.

O desafio da imprensa é justamente mergulhar no tema, com reportagens que mostrem a cara do povo, suas mazelas nuas e cruas, e que também informem que o cidadão tem direitos e deve exigir por eles, seja na cobrança pelo funcionamento adequado da máquina pública ou fazendo do seu principal personagem (o leitor) um cidadão muito mais consciente.