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Santa Maria, RS, Brazil

Entrevista – Patrono do Inter-SM

Histórico torcedor e colaborador da equipe, Mário Cassol tem a honra de ostentar esse título-homenagem, casando sua biografia à do clube. Em entrevista, concedida em sua residência, o ex-presidente falou sobre a história do time, fatos que ocorreram quando presidia a agremiação, o ‘caso Josiel’ e a expectativa quanto à ascensão do clube à elite do futebol gaúcho. Confira abaixo os principais trechos!

ACS-Por que o título de patrono do Inter-SM?
Cassol- Quando vim pra Santa Maria, por gostar de futebol me associei ao Internacional e, evidentemente, no passar dos anos, a vida que a gente leva torcendo, vivendo o clube e fazendo algumas coisas pelo clube, tudo foi se agrupando e eu me tornei uma pessoa realmente torcedora do Inter-SM e colaboradora.

ACS-Conte um pouco sobre a história dos times da cidade…
Cassol- Quando eu comecei a torcer pelo Internacional, o Riograndense possuía uma barbaridade de torcedores não só ferroviários, mas da cidade inteira. Houve uma pessoa que na ocasião tornou o Riograndense uma potência em Santa Maria e no Estado, o Trevisan. Já o Inter é um time de origem libanesa e árabe e, nessa época, se concentrou em ser um rival do Riograndense, que empregava os jogadores na rede ferroviária. Com isso, eles tinham uma sustentação financeira porque ninguém joga de graça.

ACS-E quando você acha que aconteceu essa reviravolta do Inter-SM?
Cassol- O Inter começou a fluir quando eu era presidente e propus para os dirigentes do Riograndense, numa reunião na rádio Imembuí, a fusão dos dois times para poder angariar um objetivo maior. Mas eles não quiseram e cada um seguiu o seu caminho. O Inter cresceu e o Riograndense diminuiu. Eles estão sofrendo o abalo de falecimentos de pessoas ilustres no clube. Enquanto isso, o Inter vem vivendo aos trancos e barrancos, mas vem se conservando numa fase média. O nosso objetivo é alcançar a divisão principal porque o nosso estádio é bom, temos público suficiente para chegarmos lá, além da grandeza do Inter em nível estadual.

ACS-Pela dificuldade financeira, você acha que o Inter-SM tem como se manter na 1ª divisão?
Cassol- O Inter já esteve na primeira divisão e eu era presidente quando ele caiu. Infelizmente, sem dinheiro ninguém faz nada. Como não há patrocinadores daqui, talvez o Inter-SM realmente não tenha condições ou não possa se manter. Esse ano, o Inter teve um desafogo financeiro porque ele está sendo patrocinado por algumas multinacionais (Petrobrás, Votorantim, Monsanto) que têm aportado dinheiro. Isso faz com que se tenha certa tranqüilidade no pagamento dos jogadores. Mas o Inter sempre foi um celeiro de jogadores bons e vendeu muitos jogadores. 

ACS-
A respeito das atuais transferências de jogadores do Inter-SM, qual a sua opinião?
Cassol- Quem se sobressaía muito era o Josiel. Num treino, quebrou uma perna e ficou seis meses parado. O Inter pagou salário e cuidou do Josiel. Só que ele voltou a jogar e, sabe como é, muda a direção, muda o presidente. O Josiel se destacava como o melhor jogador e foi emprestado ao Juventude, que o deixou no ostracismo. Então, ele voltou, mas sem ritmo de jogo e foi justamente quando começou a se entrosar, que Ivo Santa Lucia assumiu a direção. Com desentendimentos com o ex-presidente Marquetto, o Santa Lucia tirou o Josiel do Inter num momento crucial quando nós íamos disputar uma partida e estávamos para entrar na primeira divisão. O Josiel tinha voltado a jogar. O presidente o tirou do ônibus no embarque para a última partida e perdemos o jogo e a vaga. Partindo daí, ele mandou o Josiel para o Brasiliense, e o Inter não recebeu nada.

ACS-E como foi a negociação do jogador Josiel?
Cassol- O Santa Lucia tinha o passe de quatro jogadores do Inter: Josiel, Tiago Duarte, Paulão e um alemão que era lateral. Bons, mas não eram nossos. O Santa Lucia ficou com o passe do Josiel, porque ele acertou com o outro presidente um crédito com o clube que ele nunca apresentou. Aí o Brasiliense largou de mão e o Paraná o trouxe. O Josiel se transformou no goleador do campeonato brasileiro. Mas o Inter não ganhou nada. Para se ter um crédito tem que apresentar provas e ser aprovado pelo conselho fiscal, mas isso não aconteceu. Mas ele se adonou de tudo isso e o Josiel estava no Paraná. O Inter só ganhou o que o Santa Lucia disse que tinha por receber. Mais de 200 mil reais e 75 mil que ele deu pro Marquetto. Hoje, o Santa Lucia já deve ter recebido do Paraná uma verba maior, e o Paraná deve ter propostas para levar o Josiel por uma quantia maior, só que o Inter não vai ter nada disso.

ACS-Qual a sua opinião a respeito da não-participação do Inter-SM na Copa FGF-Paulo Rogério Amoretty?
Cassol- Eu acho que para disputar essa Copa é um ônus a mais. No caso de um jogo em Passo Fundo, por exemplo, se gasta em média quatro mil reais, entre hotéis e ônibus. Se você ganha o jogo e faz algum acordo com os jogadores de pagar um “bicho” depois do jogo, aí as contas vão para quatro ou cinco mil. O objetivo é alcançar a série A, mas não é fácil subir. É só comparar com a estrutura do Pelotas, por exemplo. Tem que ter um elenco muito bom para suprir as necessidades dessas duas competições.  A FGF só paga os árbitros.

ACS-Quais as expectativas para os últimos jogos da Segundona e a possível subida?
Cassol- A nossa vantagem é que jogaremos contra o Pelotas e o Santo Ângelo em casa. Pela lógica, teríamos resultados bons, mas pela realidade nós temos tido resultados ruins em nosso campo. Contra o Ipiranga foi bárbaro. Estávamos perdendo de 1 a 0 e viramos o jogo no fim. O Inter tem um bom elenco. Eu não sei o que está existindo, não sei porque não deslancha.  Agora, o Pelotas também fortaleceu a equipe uma barbaridade. Mas isso não impede que a gente possa ultrapassar eles.

ACS-O que tem achado da participação do torcedor?
Cassol- Eu acho que o torcedor tem parte importante quando vai ao estádio e incentiva, não quando vaia. Porque o jogador pode estar num dia ruim. A torcida não pode estar em cima do jogador, cobrando. Se jogar 10 partidas bem e uma ruim, não pode crucificar o cara. A torcida é muito boa quando é organizada e faz com que o clube realmente receba esses elogios, aplausos. É mais fácil aplaudir do que estar execrando. Se pudéssemos contratar 11 craques, não teria problemas. Mas tem que ter alguns reservas né.

ACS-A mobilização da comunidade em torno do Inter-SM poderia ser maior?
Cassol- Pode. Se tu vais pedir patrocício para os empresários de Santa Maria uma contínua colaboração, eles colaboram um ano, mas se o clube não alcança o objetivo, não colaboram mais. Agora, se tu olhares o comércio da cidade, tu entras na rua do Acampamento e vê, não tem mais nenhuma firma santa-mariense. O dinheiro que elas ganham daqui com o pessoal que freqüenta as lojas de qualquer negócio não fica na cidade, vai para as sedes. Assim fica difícil manter um clube.

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Histórico torcedor e colaborador da equipe, Mário Cassol tem a honra de ostentar esse título-homenagem, casando sua biografia à do clube. Em entrevista, concedida em sua residência, o ex-presidente falou sobre a história do time, fatos que ocorreram quando presidia a agremiação, o ‘caso Josiel’ e a expectativa quanto à ascensão do clube à elite do futebol gaúcho. Confira abaixo os principais trechos!

ACS-Por que o título de patrono do Inter-SM?
Cassol- Quando vim pra Santa Maria, por gostar de futebol me associei ao Internacional e, evidentemente, no passar dos anos, a vida que a gente leva torcendo, vivendo o clube e fazendo algumas coisas pelo clube, tudo foi se agrupando e eu me tornei uma pessoa realmente torcedora do Inter-SM e colaboradora.

ACS-Conte um pouco sobre a história dos times da cidade…
Cassol- Quando eu comecei a torcer pelo Internacional, o Riograndense possuía uma barbaridade de torcedores não só ferroviários, mas da cidade inteira. Houve uma pessoa que na ocasião tornou o Riograndense uma potência em Santa Maria e no Estado, o Trevisan. Já o Inter é um time de origem libanesa e árabe e, nessa época, se concentrou em ser um rival do Riograndense, que empregava os jogadores na rede ferroviária. Com isso, eles tinham uma sustentação financeira porque ninguém joga de graça.

ACS-E quando você acha que aconteceu essa reviravolta do Inter-SM?
Cassol- O Inter começou a fluir quando eu era presidente e propus para os dirigentes do Riograndense, numa reunião na rádio Imembuí, a fusão dos dois times para poder angariar um objetivo maior. Mas eles não quiseram e cada um seguiu o seu caminho. O Inter cresceu e o Riograndense diminuiu. Eles estão sofrendo o abalo de falecimentos de pessoas ilustres no clube. Enquanto isso, o Inter vem vivendo aos trancos e barrancos, mas vem se conservando numa fase média. O nosso objetivo é alcançar a divisão principal porque o nosso estádio é bom, temos público suficiente para chegarmos lá, além da grandeza do Inter em nível estadual.

ACS-Pela dificuldade financeira, você acha que o Inter-SM tem como se manter na 1ª divisão?
Cassol- O Inter já esteve na primeira divisão e eu era presidente quando ele caiu. Infelizmente, sem dinheiro ninguém faz nada. Como não há patrocinadores daqui, talvez o Inter-SM realmente não tenha condições ou não possa se manter. Esse ano, o Inter teve um desafogo financeiro porque ele está sendo patrocinado por algumas multinacionais (Petrobrás, Votorantim, Monsanto) que têm aportado dinheiro. Isso faz com que se tenha certa tranqüilidade no pagamento dos jogadores. Mas o Inter sempre foi um celeiro de jogadores bons e vendeu muitos jogadores. 

ACS-
A respeito das atuais transferências de jogadores do Inter-SM, qual a sua opinião?
Cassol- Quem se sobressaía muito era o Josiel. Num treino, quebrou uma perna e ficou seis meses parado. O Inter pagou salário e cuidou do Josiel. Só que ele voltou a jogar e, sabe como é, muda a direção, muda o presidente. O Josiel se destacava como o melhor jogador e foi emprestado ao Juventude, que o deixou no ostracismo. Então, ele voltou, mas sem ritmo de jogo e foi justamente quando começou a se entrosar, que Ivo Santa Lucia assumiu a direção. Com desentendimentos com o ex-presidente Marquetto, o Santa Lucia tirou o Josiel do Inter num momento crucial quando nós íamos disputar uma partida e estávamos para entrar na primeira divisão. O Josiel tinha voltado a jogar. O presidente o tirou do ônibus no embarque para a última partida e perdemos o jogo e a vaga. Partindo daí, ele mandou o Josiel para o Brasiliense, e o Inter não recebeu nada.

ACS-E como foi a negociação do jogador Josiel?
Cassol- O Santa Lucia tinha o passe de quatro jogadores do Inter: Josiel, Tiago Duarte, Paulão e um alemão que era lateral. Bons, mas não eram nossos. O Santa Lucia ficou com o passe do Josiel, porque ele acertou com o outro presidente um crédito com o clube que ele nunca apresentou. Aí o Brasiliense largou de mão e o Paraná o trouxe. O Josiel se transformou no goleador do campeonato brasileiro. Mas o Inter não ganhou nada. Para se ter um crédito tem que apresentar provas e ser aprovado pelo conselho fiscal, mas isso não aconteceu. Mas ele se adonou de tudo isso e o Josiel estava no Paraná. O Inter só ganhou o que o Santa Lucia disse que tinha por receber. Mais de 200 mil reais e 75 mil que ele deu pro Marquetto. Hoje, o Santa Lucia já deve ter recebido do Paraná uma verba maior, e o Paraná deve ter propostas para levar o Josiel por uma quantia maior, só que o Inter não vai ter nada disso.

ACS-Qual a sua opinião a respeito da não-participação do Inter-SM na Copa FGF-Paulo Rogério Amoretty?
Cassol- Eu acho que para disputar essa Copa é um ônus a mais. No caso de um jogo em Passo Fundo, por exemplo, se gasta em média quatro mil reais, entre hotéis e ônibus. Se você ganha o jogo e faz algum acordo com os jogadores de pagar um “bicho” depois do jogo, aí as contas vão para quatro ou cinco mil. O objetivo é alcançar a série A, mas não é fácil subir. É só comparar com a estrutura do Pelotas, por exemplo. Tem que ter um elenco muito bom para suprir as necessidades dessas duas competições.  A FGF só paga os árbitros.

ACS-Quais as expectativas para os últimos jogos da Segundona e a possível subida?
Cassol- A nossa vantagem é que jogaremos contra o Pelotas e o Santo Ângelo em casa. Pela lógica, teríamos resultados bons, mas pela realidade nós temos tido resultados ruins em nosso campo. Contra o Ipiranga foi bárbaro. Estávamos perdendo de 1 a 0 e viramos o jogo no fim. O Inter tem um bom elenco. Eu não sei o que está existindo, não sei porque não deslancha.  Agora, o Pelotas também fortaleceu a equipe uma barbaridade. Mas isso não impede que a gente possa ultrapassar eles.

ACS-O que tem achado da participação do torcedor?
Cassol- Eu acho que o torcedor tem parte importante quando vai ao estádio e incentiva, não quando vaia. Porque o jogador pode estar num dia ruim. A torcida não pode estar em cima do jogador, cobrando. Se jogar 10 partidas bem e uma ruim, não pode crucificar o cara. A torcida é muito boa quando é organizada e faz com que o clube realmente receba esses elogios, aplausos. É mais fácil aplaudir do que estar execrando. Se pudéssemos contratar 11 craques, não teria problemas. Mas tem que ter alguns reservas né.

ACS-A mobilização da comunidade em torno do Inter-SM poderia ser maior?
Cassol- Pode. Se tu vais pedir patrocício para os empresários de Santa Maria uma contínua colaboração, eles colaboram um ano, mas se o clube não alcança o objetivo, não colaboram mais. Agora, se tu olhares o comércio da cidade, tu entras na rua do Acampamento e vê, não tem mais nenhuma firma santa-mariense. O dinheiro que elas ganham daqui com o pessoal que freqüenta as lojas de qualquer negócio não fica na cidade, vai para as sedes. Assim fica difícil manter um clube.