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Santa Maria, RS, Brazil

Um pouco de Elias Monteiro

      O Patrono da Feira do Livro Infantil deste ano, Elias Ramires Monteiro, veio até a redação da Agência Central Sul pra falar um pouco mais sobre sua carreira, literatura e o convite para ser patrono da feira. Ele contou que tudo começou aos 6 anos, quando fazia histórias em quadrinhos para seus familiares. Um dos motivos pelo qual desenhava foi que não havia muito acesso a TV, pois ela estava recém surgindo, assim como também havia o costume de os meninos reunirem-se nas esquinas, munidos dos seus desenhos, trocando com os amigos da turma, dizendo ‘olha, eu criei um super-herói’. “Trocavam e faziam quadrinhos para serem lidos em casa, com a família, para as visitas. Eu nem suspeitava que havia uma produção industrial, não sabia como era feito, eu tinha a idéia de que o autor tinha que fazer várias vezes, todas as publicações” ressalta Monteiro. O autor descreve como era a sua forma de publicar quadrinhos: ele grampeava, coloria a capa e colocava um preço, tudo para imitar os que via nas bancas e deixava na sala para os seus tios, que vinham de outras cidades, ler.

     Um problema exposto por ele durante a conversa é que o mercado para quadrinhos é difícil até hoje, e como desenhista de uma cidade do interior, foi trabalhar de ilustrador de jornal, em agências de propaganda, chargista de jornal e desenho de humor. “Sou agradecido ao Sr. Luisinho de Grande, já falecido diretor do “A Razão”. Numa das fases mais brilhantes, ele me chamou para ser chargista do jornal” destacou.

A reação

     Ao perguntarmos sobre qual foi a reação quando recebeu o convite para ser patrono na edição deste ano, ele respondeu que logo veio a pergunta: ‘será que não tem outros autores que poderiam ser convidados?’ Mas depois ele afirmou perceber qual era a sua importância para a Feira Infantil, pois representa não só os escritores de Santa Maria, como também os ilustradores. O seu primeiro livro, ‘Fábulas de Elias’ foi editado para não deixar a feira infantil de 2003 morrer e este ano lançou, no dia 8, o segundo, intitulado ‘A Lenda do Menino Invisível’.

     “Desde 2003 que as escolas me convidam para falar do “Fábulas de Elias” e fazer oficina de ilustração com as crianças sobre o livro. Eu chego nas escolas e já estão com os bonecos do meu livro, feitos com sucatas ou desenhados. Para mim é uma satisfação enorme e além disso eu faço histórias para eles baseado em fábulas” comenta Monteiro. Segundo ele, o livro serviu para mostrar aos pequenos que eles podem escrever uma mini-historinha, podendo ter apenas uma única frase. “Eu me sinto lisonjeado, me vejo como o patrono que representa os ilustradores da cidade e não os escritores. É um viés diferente na verdade. Passei a ver desse jeito e comecei a curtir muito, agora eu me sinto merecedor, mas como ilustrador de livro infantil” explica o também ilustrador do Jornal Diário de Santa Maria.

Participação no curta

     O desenho animado sempre foi uma coisa que o seduziu e, segundo ele, encanta as crianças que gostam de desenhar. “Eu era encantadíssimo com os desenhos animados que via na televisão e no cinema. A minha ida pra ver Pinóquio da Disney é uma coisa inesquecível, hoje ninguém dá muita importância” conta, discorrendo nos mínimos detalhes sobre sua ida no antigo cine Glória aqui na cidade. O chargista explica que quando Jair Giacomini, que é o roteirista do curta ‘Leonel pé-de-vento’ convidou-o para participar, tentou produzir a animação mas não teve muito sucesso. “Aí eu disse pro Jair que não iria conseguir, até porque o prazo era pequeno. Ele procurou o estúdio de animação: Cartunaria Desenhos; o pessoal com um estúdio novo, mas com muita experiência. Pra mim, a criação dos personagens que eles fizeram baseados nos meus ficaram, lógico, um pouco modificados, pois para animar precisaram simplificar alguns traços” diz ele, que também criou o cenário do curta. “Eu estava saindo do curso de Artes Visuais na UFSM, do ateliê da pintura, e fiquei feliz com a possibilidade de desenhar o cenário com aquarela” explica. Elias considera o curta singelo do ponto de vista técnico, mas avalia o roteiro como excelente.

 Realidade

     “A maioria das coisas que faço eu não ganho. Quem desenha no Brasil, se não for um Ziraldo, um Millor, …; não ganha bem. E o pior que eu insisto em não ganhar bem, pois gosto de quadrinhos” afirma. Segundo ele, o que é alternativo não entra na grande indústria. E diz que, por vezes, fica se indagando se o que faz é o que saberia fazer de melhor. E outras vezes, pensa que não se sentiria melhor fazendo outra coisa. “Penso em ir pra centros maiores, mas daí coloco em questão as conseqüências e me dá um pouco de medo” declara.

Leitura

     “O incentivo à leitura tem sido trabalhado bastante, mais do que antes. Está acontecendo um fenômeno, típico da atualidade, no momento em que o mundo digital avança e, junto à informatização, está acontecendo um fenômeno que já ocorria antes: o da não leitura” comenta Elias Ramires.

     ‘Transformar pessoas em leitores’ tem sido o tema sobre o qual tem falado junto com o Patrono da Feira Vitor Biasoli, nas idas à imprensa, em aberturas da feira, em painéis, em discussões em auditórios de escolas e universidades. “O assunto veio à tona mais do que nunca. Está muito em pauta a formação de leitores, e acho que não está sendo deixado de lado, ao contrário, só que transformar isso numa realidade é difícil, todos nós sabemos” defende Monteiro.

     Alguns relatos o preocupam muito, como o fato de o hábito de leitura não estar associado ao nível de acesso à educação das pessoas, ou seja, quem tem acesso às universidades, por exemplo, não lê necessariamente muito. “Pesquisas têm nos dado informações de que a leitura de fato não ocorre como você imagina. A interpretação dos leitores brasileiros é muito deficiente. É aquela história de analfabetos funcionais. Não basta ler, tem que interpretar” ressalta. A sua participação na feira, tem por objetivo resgatar isso, principalmente através dos desenhos, das conversas nas escolas e na produção diária.

Elias x Elias

     O Patrono da Feira Infantil diz que não pretende só ficar na literatura infantil. Seu maior objetivo é publicar um livro de quadrinhos longos, com extensas narrativas. “É um sonho, lançar um livro grosso, com lombada, daqueles que dá pra pensar que é um livro de texto, mas na verdade é um livro de quadrinhos. O problema é arrumar alguém que queira patrocinar isso, ou quem sabe, um dia, eu mesmo bancarei”, brinca. Para finalizar afirma que nos conhecemos na medida em que produzimos algo. “Nos conhecemos quando nos jogamos no mundo, quando o trabalho recebe um retorno, um reflexo disso” conclui.

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      O Patrono da Feira do Livro Infantil deste ano, Elias Ramires Monteiro, veio até a redação da Agência Central Sul pra falar um pouco mais sobre sua carreira, literatura e o convite para ser patrono da feira. Ele contou que tudo começou aos 6 anos, quando fazia histórias em quadrinhos para seus familiares. Um dos motivos pelo qual desenhava foi que não havia muito acesso a TV, pois ela estava recém surgindo, assim como também havia o costume de os meninos reunirem-se nas esquinas, munidos dos seus desenhos, trocando com os amigos da turma, dizendo ‘olha, eu criei um super-herói’. “Trocavam e faziam quadrinhos para serem lidos em casa, com a família, para as visitas. Eu nem suspeitava que havia uma produção industrial, não sabia como era feito, eu tinha a idéia de que o autor tinha que fazer várias vezes, todas as publicações” ressalta Monteiro. O autor descreve como era a sua forma de publicar quadrinhos: ele grampeava, coloria a capa e colocava um preço, tudo para imitar os que via nas bancas e deixava na sala para os seus tios, que vinham de outras cidades, ler.

     Um problema exposto por ele durante a conversa é que o mercado para quadrinhos é difícil até hoje, e como desenhista de uma cidade do interior, foi trabalhar de ilustrador de jornal, em agências de propaganda, chargista de jornal e desenho de humor. “Sou agradecido ao Sr. Luisinho de Grande, já falecido diretor do “A Razão”. Numa das fases mais brilhantes, ele me chamou para ser chargista do jornal” destacou.

A reação

     Ao perguntarmos sobre qual foi a reação quando recebeu o convite para ser patrono na edição deste ano, ele respondeu que logo veio a pergunta: ‘será que não tem outros autores que poderiam ser convidados?’ Mas depois ele afirmou perceber qual era a sua importância para a Feira Infantil, pois representa não só os escritores de Santa Maria, como também os ilustradores. O seu primeiro livro, ‘Fábulas de Elias’ foi editado para não deixar a feira infantil de 2003 morrer e este ano lançou, no dia 8, o segundo, intitulado ‘A Lenda do Menino Invisível’.

     “Desde 2003 que as escolas me convidam para falar do “Fábulas de Elias” e fazer oficina de ilustração com as crianças sobre o livro. Eu chego nas escolas e já estão com os bonecos do meu livro, feitos com sucatas ou desenhados. Para mim é uma satisfação enorme e além disso eu faço histórias para eles baseado em fábulas” comenta Monteiro. Segundo ele, o livro serviu para mostrar aos pequenos que eles podem escrever uma mini-historinha, podendo ter apenas uma única frase. “Eu me sinto lisonjeado, me vejo como o patrono que representa os ilustradores da cidade e não os escritores. É um viés diferente na verdade. Passei a ver desse jeito e comecei a curtir muito, agora eu me sinto merecedor, mas como ilustrador de livro infantil” explica o também ilustrador do Jornal Diário de Santa Maria.

Participação no curta

     O desenho animado sempre foi uma coisa que o seduziu e, segundo ele, encanta as crianças que gostam de desenhar. “Eu era encantadíssimo com os desenhos animados que via na televisão e no cinema. A minha ida pra ver Pinóquio da Disney é uma coisa inesquecível, hoje ninguém dá muita importância” conta, discorrendo nos mínimos detalhes sobre sua ida no antigo cine Glória aqui na cidade. O chargista explica que quando Jair Giacomini, que é o roteirista do curta ‘Leonel pé-de-vento’ convidou-o para participar, tentou produzir a animação mas não teve muito sucesso. “Aí eu disse pro Jair que não iria conseguir, até porque o prazo era pequeno. Ele procurou o estúdio de animação: Cartunaria Desenhos; o pessoal com um estúdio novo, mas com muita experiência. Pra mim, a criação dos personagens que eles fizeram baseados nos meus ficaram, lógico, um pouco modificados, pois para animar precisaram simplificar alguns traços” diz ele, que também criou o cenário do curta. “Eu estava saindo do curso de Artes Visuais na UFSM, do ateliê da pintura, e fiquei feliz com a possibilidade de desenhar o cenário com aquarela” explica. Elias considera o curta singelo do ponto de vista técnico, mas avalia o roteiro como excelente.

 Realidade

     “A maioria das coisas que faço eu não ganho. Quem desenha no Brasil, se não for um Ziraldo, um Millor, …; não ganha bem. E o pior que eu insisto em não ganhar bem, pois gosto de quadrinhos” afirma. Segundo ele, o que é alternativo não entra na grande indústria. E diz que, por vezes, fica se indagando se o que faz é o que saberia fazer de melhor. E outras vezes, pensa que não se sentiria melhor fazendo outra coisa. “Penso em ir pra centros maiores, mas daí coloco em questão as conseqüências e me dá um pouco de medo” declara.

Leitura

     “O incentivo à leitura tem sido trabalhado bastante, mais do que antes. Está acontecendo um fenômeno, típico da atualidade, no momento em que o mundo digital avança e, junto à informatização, está acontecendo um fenômeno que já ocorria antes: o da não leitura” comenta Elias Ramires.

     ‘Transformar pessoas em leitores’ tem sido o tema sobre o qual tem falado junto com o Patrono da Feira Vitor Biasoli, nas idas à imprensa, em aberturas da feira, em painéis, em discussões em auditórios de escolas e universidades. “O assunto veio à tona mais do que nunca. Está muito em pauta a formação de leitores, e acho que não está sendo deixado de lado, ao contrário, só que transformar isso numa realidade é difícil, todos nós sabemos” defende Monteiro.

     Alguns relatos o preocupam muito, como o fato de o hábito de leitura não estar associado ao nível de acesso à educação das pessoas, ou seja, quem tem acesso às universidades, por exemplo, não lê necessariamente muito. “Pesquisas têm nos dado informações de que a leitura de fato não ocorre como você imagina. A interpretação dos leitores brasileiros é muito deficiente. É aquela história de analfabetos funcionais. Não basta ler, tem que interpretar” ressalta. A sua participação na feira, tem por objetivo resgatar isso, principalmente através dos desenhos, das conversas nas escolas e na produção diária.

Elias x Elias

     O Patrono da Feira Infantil diz que não pretende só ficar na literatura infantil. Seu maior objetivo é publicar um livro de quadrinhos longos, com extensas narrativas. “É um sonho, lançar um livro grosso, com lombada, daqueles que dá pra pensar que é um livro de texto, mas na verdade é um livro de quadrinhos. O problema é arrumar alguém que queira patrocinar isso, ou quem sabe, um dia, eu mesmo bancarei”, brinca. Para finalizar afirma que nos conhecemos na medida em que produzimos algo. “Nos conhecemos quando nos jogamos no mundo, quando o trabalho recebe um retorno, um reflexo disso” conclui.