A professora explica que há uma enorme quantidade de resíduos perigosos, como remédios e pilhas descartados. Quando um não-perigoso, como papel, entra em contato com os perigosos, se torna perigoso também. “É papo furado dizer que separam porque é caro e dispendioso. Imagina limpar e separar tudo! O custo operacional é grande. É um absurdo compactar e querer fazer triagem”, enfatiza Marta, cuja tese de doutorado é sobre implantação de gestão ambiental.
Apesar de todo investimento feito nos equipamentos, para a professora de Química, a cidade não evoluiu e o dinheiro foi desperdiçado: “A preocupação foi comprar os contêineres. Poderia ter sido pensado outro sistema em que o lixo pudesse ser separado. O meio ambiente não é prioridade”.
A acadêmica de Arquitetura e Urbanismo Taís Finamor, 19 anos, diz que: “É até interessante a tal implantação do novo sistema no que diz respeito a poder depositar o lixo a qualquer horário, e ao fato da cidade, teoricamente, ficar mais limpa. Porém o sistema se torna falho uma vez que não foi implantada a separação do lixo. Não é tão útil como poderia ser se fosse implantado a coleta seletiva de lixo”.
O pintor Alexandro Sarturi, 27 anos, gostou do sistema implantado no centro, pois onde mora foi beneficiado: “Foi bom porque agora as vilas ficam mais limpas, mais lixeiros recolhem lá e mais seguido, às vezes ficava dois ou três dias sem passar o caminhão do lixo. Me preocupei quando vi os contêineres porque tenho amigos lixeiros, mas eles foram mandados para outros lugares”, conta o morador do bairro São João.
O acadêmico de Odontologia, Murilo Grehs, 21 anos, conta que separa o lixo em casa, mas tudo é largado junto na lixeira. “Até Santo Ângelo tem coleta seletiva há anos e Santa Maria não tem!”.
Acadêmica de Engenharia Florestal, Daniele Ghellar, 19 anos, costumava separar o lixo até que viu o zelador do prédio misturar tudo: “É uma palhaçada não ter coleta seletiva, em uma cidade do tamanho que é”.
O que pensam os catadores
A facilidade alegada, que a comunidade pode depositar o lixo a qualquer hora, não é novidade, muitos moradores já depositavam o lixo quando desejavam. A diferença é que agora o lixo fica protegido. Isso, não há duvida. Mas protegem também de quem sobrevive dele, como os catadores. Alguns entram dentro dos contêineres, em meio a todo lixo, para procurar o que pode ser reutilizado. Uma forma de coleta desumana.
Uma catadora, de 44 anos, que não quis se identificar, afirma que os contêineres são ruins para retirar o material. A moradora do bairro Caturrita conta que recolhe resíduos recicláveis para o depósito do lixão: “Por isso eles têm lixo seco. Mas tem muita gente que não conseguiu a vaga”. Com um gancho improvisado, feito com cabo de vassoura e arames, mexe no lixo dentro do contêiner: “Nunca entrei dentro do contêiner, é muito fedorento lá dentro, mas tem gente que entra, acho horrível. Coitados”, diz.
O catador Carlos Roberto Gomes, 41 anos, conta que é mais perigoso do que nas lixeiras: “É muita coisa misturada, às vezes, entro dentro do contêiner. Lá é mais escuro, já me cortei várias vezes. Isso não vai dar certo”. Ele vende o que pode ser reciclado para uma usina de reciclagem na vila Goiânia. “Se as pessoas tivessem consciência, também do nosso trabalho, separariam o lixo. Isso seria bom pra todo mundo”, lamenta.
A catadora Eni Barbosa Petes, é analfabeta e não sabe sua idade, vem todo dia da vila Oliveira, onde mora, para o centro recolher resíduos recicláveis: “Nada é difícil para mim, mas se as pessoas pelo menos separassem o lixo, ficaria mais fácil”. Ela recolhe jornais, galão de plástico e papéis: “Na lixeira rasgava as sacolas do lixo e tinha que juntar o que caía, com o contêiner ficou até bom, é só jogar tudo para dentro”, confessa.
Fotos: Ariéli Ziegler e Rodrigo Simões (Laboratorio de Fotografia e Memória / acadêmico de Jornalismo)