As primeiras reuniões aconteciam na casa de pessoas da comunidade ou na rua. Depois, o prédio que era da rede ferroviária, foi cedido para a Prefeitura que repassou para a Arsele, onde é hoje a sede da associação. A reforma feita pela UNIFRA garantiu a reconstrução do local que, atualmente, possui sala de informática, sala de recreação, cozinha, banheiros e local para reciclagem e separação do lixo.
As máquinas para reciclar foram compradas com a verba vinda de um projeto aprovado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), feito pelos professores da UNIFRA. Foram R$ 150 mil, usados para adquirir a picadeira (corta papéis sigilosos), esteira (que separa o lixo), duas prensas, uma para papel e outra para ferro, uma balança e um carrinho para carregar peso. O dinheiro que sobrou vai ser devolvido para o CNPQ.
A coordenadora do projeto pela UNIFRA, Nice de Neves Miranda, do curso de Serviço Social, afirma que a Arsele busca construir a cidadania, através do trabalho que os catadores executam, com elevação da auto-estima deles, sem precisar de assistencialismo. “Em uma associação eles podem ganhar menos, mas tem melhores condições de trabalho e direitos que eles não teriam trabalhando sozinhos.”
A renda fica em torno de R$ 130 por mês, um complemento que ajuda, segundo a catadora Carine Pereira (na foto), que tem três filhos. “O trabalho aqui é gratificante quando vejo que posso dar as coisas para os meus filhos” diz ela.
Dona Terezinha Aires é quem toma conta da Arsele desde o nascimento da entidade. E analisa a importância do dinheiro vindo dali para os catadores. “Eles aqui têm leite, comida e trabalho, mais o bolsa família, isso pode parecer pouco, mas não é”, entende Terezinha. Agora o novo projeto é montar uma rede para vender os produtos reciclados de forma autônoma e obter mais lucro.
Outro catador, que está na Arsele há três semanas, já analisa a situação: “o pessoal me trata bem, eu trabalho de manhã e de tarde, me ocupo e ainda ajudo em casa”, diz José Fernando Oliveira.
Apesar das dificuldades, Nice acredita que o crescimento da Arsele, tanto física como socialmente, foi em torno de 400% . “É preciso motivar eles, romper com a miséria e dar dignidade ao catador, para que ele viva e se sustente com isso, temos que entender que a motivação vem de dentro para fora”, analisa a assistente social e que também afirma que esse é um processo lento.
Com quem e como funcionam as atividades da Arsele
Os alunos e professores do Centro Universitário Franciscano ganham bolsas e horas para trabalhar na Arsele. Hoje, as áreas que atuam na associação são: Psicologia, Administração, Serviço Social e Ciências Contábeis. São quatro bolsistas e 6 professores envolvidos. Uma hora antes de começar a aula de informática, um grupo de quatro alunos conversa com a psicóloga. A sala de recreação conta com uma pedagoga que ainda não está trabalhando esse ano e, três tarde por semana, os alunos têm aulas de informática (terças, quartas e quintas).
Outra atividade é a cozinha comunitária, sustentada pelos próprios catadores e programas desenvolvidos pela prefeitura, como o Compra Antecipada da Agricultura Familiar e Mesa Brasil, além de doações. Por enquanto, a cozinha não atende toda a comunidade, o almoço é feito por duas moradoras do Km2 e servido para os 18 catadores e algumas crianças, filhas desses trabalhadores. A assistente social Nice Miranda explica que as condições de trabalho são outras. “Antes tinha a mãe catando lixo e o filho comendo pão do lado, isso não tem mais”, comemora Nice.
O projeto conta com alguns colaboradores, que hoje são a Unimed, Casas Eni, UNIFRA e Prefeitura. Agora, a Arsele busca mais colaboradores. Um dos projetos é criar uma rede para que a venda seja direta, tendo assim um lucro maior.
Fotos: Vinicius Freitas (Núcleo de Fotografia e Memória) e Laura Píffero