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Santa Maria, RS, Brazil

Mais obras, menos verde

avenida_roraima_arv_caida_alice.jpgQuem passou pela avenida Roraima, na quarta-feira, 21 de setembro – celebração do dia da árvore -, percebeu que algo não condizia com a data. Devido às obras de revitalização da avenida, que dá acesso à Universidade Federal de Santa Maria, uma timbaúva saiu daquele cenário. Tudo se deu pelo fato das escavações da obra chegarem muito próximas das raízes que mantêm a sustentação da árvore.

   

av_roraima_fut_ciclovia_romulo.jpgEm 2011, ano do seu cinquentenário, a UFSM tem como um dos principais projetos em execução a revitalização da avenida Roraima. O projeto consiste na recuperação do pavimento das duas pistas de asfalto, criação de um canteiro, refúgio para duas paradas de ônibus, iluminação do canteiro central, drenagem dos dois lados da via, canalização de esgoto, além de uma área de aproximadamente seis metros de largura com uma ciclovia e pista para acesso de pedestres até o campus.  A obra é um projeto da Pró-reitoria de Infraestrutura da UFSM (Proinfra), executada pela Della Pasqua Engenharia e Construção e cuja fiscalização é responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). O trecho é um pequeno segmento de rodovia federal e está dentro do PNV (Plano Nacional de Viação).

av_roraima_timbauva_romulo.jpgO campus universitário faz parte do roteiro turístico de Santa Maria, justamente por apresentar uma vasta área verde e uma bela paisagem. Qualquer canteiro de obras na universidade está dentro, ou próximo, de uma área verde. A revitalização da avenida não é diferente. Na área da obra, existe uma faixa de timbaúvas (espécie nativa) e pinus (espécie exótica). O coordenador de Obras e Planejamento Urbano e Ambiental da Proinfra, Edison Andrade da Rosa, afirma que existe na universidade uma portaria, em vigor, segundo a qual toda e qualquer árvore a ser cortada dentro da instituição passa pelo Departamento de Ciências Florestais. Da Rosa complementa dizendo que quando a árvore é exótica, é feito um ofício comum e encaminhado ao chefe do departamento que autoriza o corte. Quando é uma árvore nativa, o ofício é encaminhado ao Instituto de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

 
 

A retirada das árvores

 Segundo o pró-reitoav_roraima_arvore_replantada_romulo.jpgr de Infraestrutura, professor Valmir Brondani, as timbaúvas serão todas preservadas e o que vai ser cortado são quatro pinus, que estão nos pontos de acesso à ciclovia e duas corticeiras que já foram replantadas (foto à esquerda).

 

 
av_roraima_pinus_romulo.jpg

 

O corte dos pinus é justificado pelo professor. “Os pinus têm um risco que em dia de ventania possam vir a cair por cima de casas. Esses pinus estão me trazendo problemas. Já passaram da fase adulta e estão morrendo de velhos. Isso tem que ser trabalhado, cortar e replantar”, afirma Brondani. O pró-reitor ratifica que a universidade evita sacrificar árvore nativa. “Imagina esse campus sem nenhuma árvore, que coisa horrível que seria”, diz Brondani.

 
 

av_roraima_arvore1_alice.jpgPorém, uma timbaúva plantada na década de 80, tombou durante a execução da obra. Mesmo com as preocupações ambientais alegadas pelos responsáveis, nenhum estaqueamento ou amarração foram feitos para sustentar as árvores que ainda continuam com as raízes expostas. A timbaúva que caiu estava localizada acima de um esgoto pluvial-cloacal que está sendo canalizado. De acordo com a empresa Della Pasqua, a árvore caiu devido ao vento, pois o talude (limite do aterro) estava muito próximo às escavações, deixando assim, as raízes expostas.

 

Para Rafael Hallal, engenheiro do Dnit, algumas árvores estavam praticamente dentro das valas. “Existia uma valeta de drenagem a céu aberto. Para se abrir a valeta, tirar o material ruim que tinha embaixo e fazer a canalização, necessitava retirar algumas árvores que estavam até o talude, então não se tinha outra forma a não ser retirando algumas árvores”, argumenta Hallal. O engenheiro ainda informou que outras espécies (como as corticeiras), foram transplantadas.

av_roraima_toras_romulo.jpgO engenheiro florestal e professor universitário, Sandro Barreto, justifica que os pinus naquela área da obra fazem parte de uma floresta plantada e que é natural dessa espécie, depois de certo período, fazer a retirada das árvores. “É claro que ambientalmente, de certa maneira, tem ali um microclima, tem os animais que ficavam nas árvores, alguma coisa vai ser afetada. Mas quando se faz o plantio desse tipo de árvore, normalmente se prevê mais tarde ou mais cedo se fazer o corte delas”, salienta Barreto.

 

As árvores que ainda correm riscos

av_roraima_canalizacao2_romulo.jpgOutra consequência ambiental visível na avenida são as árvores nativas que apresentam raízes expostas. A execução da obra contempla canalizar o esgoto que passa por baixo dessas plantas e então aterrar o sistema radicular. O engenheiro Sandro Barreto acredita que a sobrevivência das árvores está relacionada à sanidade da planta, se a planta tiver uma boa estrutura e as raízes não forem danificadas, elas têm chances de sobreviverem. “Aquelas árvores provavelmente estão condenadas, ou elas vão acabar tombando ou vão acabar sofrendo algum processo de decomposição em função da raiz estar exposta”, acrescentou Barreto.

O chefe do Departamento de Ciências Florestais da UFSM, professor Elio José Santini, citou que a universidade não pediu ao departamento nenhuma avaliação das espécies nativas e que o mesmo não interferiu em nenhum momento. “A única coisa que perguntaram é se daria pra derrubar alguns daqueles pinus e quanto a isso não há problema. Foi uma coisa meio sentimental, pois foi a minha turma que plantou em 1972”, explicou Santini.

Sobre as timbaúvas, o professor Santini avaliou que as plantas são bem enraizadas, mas que dependendo do grau de interferência que tiveram as escavações, elas podem tombar. Porém, se for feito um aterramento no sistema radicular, as plantas têm condições de se readaptar, dependendo de sua sanidade. Sobre o seu papel no departamento, o professor frisa: “algumas nativas que temos aqui demoraram 40 anos pra chegar onde estão agora, não vou permitir que cortem. São exemplares que a gente usa muito em aula prática”.

O replantio

av_roraima_mudas_romulo.jpgO coordenador de Obras e Planejamento Urbano e Ambiental, Edison Andrade da Rosa, reforçou que a UFSM já possui um projeto em execução de replantio de quatro mil árvores nativas. “Por onde se andar pelo campus, se vê estacas com plantas”, disse da Rosa. O pró-reitor de Infraestrutura, Valmir Brondani, disse que esse número pode ser ainda maior e que uma equipe é responsável pela manutenção e preservação do campus. “Dentro da universidade, a gente tem que mostrar para a ‘gurizada’ de que se deve saber manusear o meio ambiente. Se eu cortar uma árvore, eu tenho que plantar mais sete, oito ou dez”, complementa Brondani.

Dentre as espécies replantadas estão: araçá, pitangueira, timbaúva, guapuriti, cerejeira e cangerana. Algumas dessas mudas são produzidas diretamente no Viveiro Florestal da instituição. A previsão é de que a obra seja entregue até o final de 2011.

Saiba a diferença entre árvores nativas e exóticas

Nativas: São as espécies que ocorrem naturalmente em determinada região. Dentre as inúmeras vantagens do plantio destas árvores, está a relação entre os diferentes tipos, sendo que uma planta contribui para o desenvolvimento de outra, além de fornecer os alimentos necessários para a fauna do local.  Corticeiras, timbaúvas, ipês e inúmeras árvores frutíferas fazem parte desta classe.

Exóticas: Refere-se àquelas que não são próprias do local onde estão, gerando inúmeros problemas, como por exemplo, tornarem-se uma praga por não possuírem predadores naturais e deixarem o solo seco e infértil, por terem em sua natureza absorver toda a água que conseguirem. As árvores mais comuns deste gênero são os pinheiros e os eucaliptos.

 

Fotos: Alice Bollick (Laboratório de Fotografia e Memória) e Rômulo D’Avila (acadêmico de Jornalismo)

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avenida_roraima_arv_caida_alice.jpgQuem passou pela avenida Roraima, na quarta-feira, 21 de setembro – celebração do dia da árvore -, percebeu que algo não condizia com a data. Devido às obras de revitalização da avenida, que dá acesso à Universidade Federal de Santa Maria, uma timbaúva saiu daquele cenário. Tudo se deu pelo fato das escavações da obra chegarem muito próximas das raízes que mantêm a sustentação da árvore.

   

av_roraima_fut_ciclovia_romulo.jpgEm 2011, ano do seu cinquentenário, a UFSM tem como um dos principais projetos em execução a revitalização da avenida Roraima. O projeto consiste na recuperação do pavimento das duas pistas de asfalto, criação de um canteiro, refúgio para duas paradas de ônibus, iluminação do canteiro central, drenagem dos dois lados da via, canalização de esgoto, além de uma área de aproximadamente seis metros de largura com uma ciclovia e pista para acesso de pedestres até o campus.  A obra é um projeto da Pró-reitoria de Infraestrutura da UFSM (Proinfra), executada pela Della Pasqua Engenharia e Construção e cuja fiscalização é responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). O trecho é um pequeno segmento de rodovia federal e está dentro do PNV (Plano Nacional de Viação).

av_roraima_timbauva_romulo.jpgO campus universitário faz parte do roteiro turístico de Santa Maria, justamente por apresentar uma vasta área verde e uma bela paisagem. Qualquer canteiro de obras na universidade está dentro, ou próximo, de uma área verde. A revitalização da avenida não é diferente. Na área da obra, existe uma faixa de timbaúvas (espécie nativa) e pinus (espécie exótica). O coordenador de Obras e Planejamento Urbano e Ambiental da Proinfra, Edison Andrade da Rosa, afirma que existe na universidade uma portaria, em vigor, segundo a qual toda e qualquer árvore a ser cortada dentro da instituição passa pelo Departamento de Ciências Florestais. Da Rosa complementa dizendo que quando a árvore é exótica, é feito um ofício comum e encaminhado ao chefe do departamento que autoriza o corte. Quando é uma árvore nativa, o ofício é encaminhado ao Instituto de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

 
 

A retirada das árvores

 Segundo o pró-reitoav_roraima_arvore_replantada_romulo.jpgr de Infraestrutura, professor Valmir Brondani, as timbaúvas serão todas preservadas e o que vai ser cortado são quatro pinus, que estão nos pontos de acesso à ciclovia e duas corticeiras que já foram replantadas (foto à esquerda).

 

 
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O corte dos pinus é justificado pelo professor. “Os pinus têm um risco que em dia de ventania possam vir a cair por cima de casas. Esses pinus estão me trazendo problemas. Já passaram da fase adulta e estão morrendo de velhos. Isso tem que ser trabalhado, cortar e replantar”, afirma Brondani. O pró-reitor ratifica que a universidade evita sacrificar árvore nativa. “Imagina esse campus sem nenhuma árvore, que coisa horrível que seria”, diz Brondani.

 
 

av_roraima_arvore1_alice.jpgPorém, uma timbaúva plantada na década de 80, tombou durante a execução da obra. Mesmo com as preocupações ambientais alegadas pelos responsáveis, nenhum estaqueamento ou amarração foram feitos para sustentar as árvores que ainda continuam com as raízes expostas. A timbaúva que caiu estava localizada acima de um esgoto pluvial-cloacal que está sendo canalizado. De acordo com a empresa Della Pasqua, a árvore caiu devido ao vento, pois o talude (limite do aterro) estava muito próximo às escavações, deixando assim, as raízes expostas.

 

Para Rafael Hallal, engenheiro do Dnit, algumas árvores estavam praticamente dentro das valas. “Existia uma valeta de drenagem a céu aberto. Para se abrir a valeta, tirar o material ruim que tinha embaixo e fazer a canalização, necessitava retirar algumas árvores que estavam até o talude, então não se tinha outra forma a não ser retirando algumas árvores”, argumenta Hallal. O engenheiro ainda informou que outras espécies (como as corticeiras), foram transplantadas.

av_roraima_toras_romulo.jpgO engenheiro florestal e professor universitário, Sandro Barreto, justifica que os pinus naquela área da obra fazem parte de uma floresta plantada e que é natural dessa espécie, depois de certo período, fazer a retirada das árvores. “É claro que ambientalmente, de certa maneira, tem ali um microclima, tem os animais que ficavam nas árvores, alguma coisa vai ser afetada. Mas quando se faz o plantio desse tipo de árvore, normalmente se prevê mais tarde ou mais cedo se fazer o corte delas”, salienta Barreto.

 

As árvores que ainda correm riscos

av_roraima_canalizacao2_romulo.jpgOutra consequência ambiental visível na avenida são as árvores nativas que apresentam raízes expostas. A execução da obra contempla canalizar o esgoto que passa por baixo dessas plantas e então aterrar o sistema radicular. O engenheiro Sandro Barreto acredita que a sobrevivência das árvores está relacionada à sanidade da planta, se a planta tiver uma boa estrutura e as raízes não forem danificadas, elas têm chances de sobreviverem. “Aquelas árvores provavelmente estão condenadas, ou elas vão acabar tombando ou vão acabar sofrendo algum processo de decomposição em função da raiz estar exposta”, acrescentou Barreto.

O chefe do Departamento de Ciências Florestais da UFSM, professor Elio José Santini, citou que a universidade não pediu ao departamento nenhuma avaliação das espécies nativas e que o mesmo não interferiu em nenhum momento. “A única coisa que perguntaram é se daria pra derrubar alguns daqueles pinus e quanto a isso não há problema. Foi uma coisa meio sentimental, pois foi a minha turma que plantou em 1972”, explicou Santini.

Sobre as timbaúvas, o professor Santini avaliou que as plantas são bem enraizadas, mas que dependendo do grau de interferência que tiveram as escavações, elas podem tombar. Porém, se for feito um aterramento no sistema radicular, as plantas têm condições de se readaptar, dependendo de sua sanidade. Sobre o seu papel no departamento, o professor frisa: “algumas nativas que temos aqui demoraram 40 anos pra chegar onde estão agora, não vou permitir que cortem. São exemplares que a gente usa muito em aula prática”.

O replantio

av_roraima_mudas_romulo.jpgO coordenador de Obras e Planejamento Urbano e Ambiental, Edison Andrade da Rosa, reforçou que a UFSM já possui um projeto em execução de replantio de quatro mil árvores nativas. “Por onde se andar pelo campus, se vê estacas com plantas”, disse da Rosa. O pró-reitor de Infraestrutura, Valmir Brondani, disse que esse número pode ser ainda maior e que uma equipe é responsável pela manutenção e preservação do campus. “Dentro da universidade, a gente tem que mostrar para a ‘gurizada’ de que se deve saber manusear o meio ambiente. Se eu cortar uma árvore, eu tenho que plantar mais sete, oito ou dez”, complementa Brondani.

Dentre as espécies replantadas estão: araçá, pitangueira, timbaúva, guapuriti, cerejeira e cangerana. Algumas dessas mudas são produzidas diretamente no Viveiro Florestal da instituição. A previsão é de que a obra seja entregue até o final de 2011.

Saiba a diferença entre árvores nativas e exóticas

Nativas: São as espécies que ocorrem naturalmente em determinada região. Dentre as inúmeras vantagens do plantio destas árvores, está a relação entre os diferentes tipos, sendo que uma planta contribui para o desenvolvimento de outra, além de fornecer os alimentos necessários para a fauna do local.  Corticeiras, timbaúvas, ipês e inúmeras árvores frutíferas fazem parte desta classe.

Exóticas: Refere-se àquelas que não são próprias do local onde estão, gerando inúmeros problemas, como por exemplo, tornarem-se uma praga por não possuírem predadores naturais e deixarem o solo seco e infértil, por terem em sua natureza absorver toda a água que conseguirem. As árvores mais comuns deste gênero são os pinheiros e os eucaliptos.

 

Fotos: Alice Bollick (Laboratório de Fotografia e Memória) e Rômulo D’Avila (acadêmico de Jornalismo)