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Santa Maria, RS, Brazil

A resistência e a força no documentário Meu Relacionamento Abusivo

Documentário ''Meu Relacionamento Abusivo''
Documentário ”Meu Relacionamento Abusivo”

“A culpa não é minha, é dele, a culpa é sempre do abusador, nunca da vítima”, foi a forma que as cinco feministas encerraram seus depoimentos no documentário Meu Relacionamento Abusivo, pré-lançado hoje, 9, no Vaca Profana. O documentário surgiu como finalização do projeto Não é você, É ele realizado pelos alunos de Publicidade e Propagando do Centro Universitário Franciscano, Caroline Pigatto Motta e Hélison Leeher. “Queremos mostrar que tem um local para as pessoas que sofreram esse tipo de abuso, que as meninas que foram abusadas têm onde se encontrar e buscar apoio”, comenta Hélison.

O projeto começou no final do ano passado, na disciplina de Projeto de Comunicação Comunitária l na forma de campanha. A ideia veio a partir do vídeo Não tira o batom vermelho, da youtuber Julia Tolezano (Jout Jout). A campanha que começou a ser veiculado nas redes sociais no dia 21 de abril deste ano, e foi desenvolvida pelos alunos na página do Unas e muitas meninas do coletivo Unas participaram. Por fim, veio o documentário Meu Relacionamento Abusivo, dando rostos, nomes e histórias sobre essa violência.

O documentário começa com violência psicológica, uma pessoa controlando outra e, depois, parte para a violência doméstica. “É impossível não se identificar com elas, principalmente nós, mulheres, com os relatos. Sempre deixamos claro que, caso elas não se sentissem confortáveis, nós tiraríamos alguma parte do documentário, para criar um ambiente seguro”, aponta Caroline. As meninas que sofreram abuso e deram seus relatos foram: Júlia Do Carmo, Nanda Fernandes, Luana Dornelles Moreira, Alice Carvalho e Natália Barchet.

“Tu sentes como se tu se soltasse dele, tu cai num vazio”

Meu Relacionamento Abusivo inicia com o relato de Júlia Do Carmo, militante do Unas, que sofreu abuso psicológico por três anos. Foi essa vivência que fez Júlia entrar para o feminismo, a partir do processo pelo qual ela passou. “Quando eu vi que isso era comum entre as meninas, comecei a militar. Depois que passou o momento da vergonha e eu me senti livre, sempre tentei mostrar minha história e apoiar quem passa ou passou por isso”, salienta. “Encaramos o ciúme e apego exagerado como normal, como sinal de amor, então é muito importante falar das relações interpessoais. É algo difícil de enxergar e de chegar até a vítima, pois ela se fecha. Há muito apego e posse e, por esse motivo, relacionamentos abusivos são invisibilizados”, acrescenta. E eles acontecem, desde as meninas jovens até mulheres empoderadas.

“Eu tinha muita vergonha de ter sido agredida, de ter medida protetiva da Lei Maria da Penha. Depois eu percebi que eu não tinha maturidade. Ele era 11 anos mais velho do que eu, tinha plena consciência do que estava fazendo, e eu não”. Nanda Fernandes, também do Unas, conta que relutou muito em admitir que não tinha culpa nenhuma sobre o que aconteceu.

Hélison, Caroline, Júlia, Nathália, Nanda, Alice, Luana e Júlia (Foto: Juliano Dutra/Laboratório de Fotografia e Memória)
Hélison, Caroline, Júlia, Natália, Nanda, Alice, Luana e Julia Sousa (Foto: Juliano Dutra/Laboratório de Fotografia e Memória)

“Então, inicialmente as gurias do Unas, especialmente a Nanda Fernandes, me falou do projeto e me convidou para participar, pela importância de deixar o trabalho ainda mais plural e com vivências diversas”, conta  Alice Carvalho.

Por mais difícil que seja  falar sobre que aconteceu, as participantes do trabalho a deixaram mais tranquila sobre se expor e contar sua história. Segundo elas, há medo no silêncio e há medo quando se fala sobre isso, porém Alice, e todas elas, se fortalecem em suas companheiras, e ajudam outras a sair de uma situação abusiva. “Meu silêncio não me protegeu até hoje e não quero a inércia e o silêncio se tornem meus maiores arrependimentos na vida, porque também não vai proteger outras mulheres e só nos corrói diariamente”. afirma. A importância do documentário, para ela, é o alerta, o empoderamento e fortalecimento de mulheres, principalmente as negras. “Meu depoimento é totalmente atravessado pela questão racial. Quero que as pretas se vejam em mim, acreditem no poder delas para superação desses relacionamentos e acreditem que, de fato, a culpa não é delas, somente do agressor”, encerra a militante.

O último depoimento foi a história de um relacionamento abusivo entre mulheres, com a militante Natália Barchet, que sofreu abuso psicológico de sua namorada por meses. Ela conta que já estava dentro do feminismo e empoderada quando conheceu a menina, e o relacionamento tóxico a afastou de todas suas amigas, inclusive, das feministas.

As psicólogas, Júlia de Sousa e Vânia Fortes também comentaram sobre os estágios de um abuso psicológico e relacionamentos. Júlia ressaltou o racismo que impregna relacionamentos abusivos com mulheres negras. “Geralmente nos lares, a mulher negra está sozinha, é mãe solteira, e então passa a aceitar esse tipo de relacionamento, por dependência financeira e psicológica”, afirma.

O coletivo Unas

O Unas, Coletivo Feminista Interseccional de Santa Maria, é formado por onze mulheres e mais cinco colaboradoras, que não podem estar sempre ativas nas reuniões e encontros, mas que militam pelo coletivo. Na página online há postagens sobre temas sociais e políticos ligados às mulheres.

Webcard Foto: Projeto AMA/reprodução Coletivo Unas
Webcard
Foto: Projeto AMA/reprodução Coletivo Unas

Elas recebem um retorno muito grande na página no Facebook do coletivo, de mulheres que se identificam com os relatos. “São várias militantes com diferentes vivências que formam o coletivo, e eu falo de abuso em relacionamentos porque é algo que eu vivi. Essa experiência serviu para que a Júlia de hoje existisse, mas eu espero que nenhuma menina precise passar por isso, nunca”, reforça Júlia. Quando tu percebes que há pessoas passando pelo mesmo e que tu podes usar esse sofrimento como uma bandeira de luta, para ajudar elas, é algo muito gratificante, conta Nanda. Várias seguidoras vão à página pedir conselhos e apoio, justamente porque uma das características mais fortes do relacionamento abusivo é que o abusador te isola completamente do mundo social.

Há webcards do projeto “Não é você, É ele” postados na página com dados de pesquisa sobre violência contra mulher, notícias relacionadas na cidade, informativos, e sinais que caracterizam relacionamento abusivo. O documentário completo será lançado dia 12 de junho, domingo, no Facebook do Unas.

Para entrar em contato com o Unas, visite a página no Facebook, ou pelo email contatounas@gmail.com.
Confira o teaser do documentário Meu Relacionamento Abusivo aqui.

 

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Documentário ''Meu Relacionamento Abusivo''
Documentário ”Meu Relacionamento Abusivo”

“A culpa não é minha, é dele, a culpa é sempre do abusador, nunca da vítima”, foi a forma que as cinco feministas encerraram seus depoimentos no documentário Meu Relacionamento Abusivo, pré-lançado hoje, 9, no Vaca Profana. O documentário surgiu como finalização do projeto Não é você, É ele realizado pelos alunos de Publicidade e Propagando do Centro Universitário Franciscano, Caroline Pigatto Motta e Hélison Leeher. “Queremos mostrar que tem um local para as pessoas que sofreram esse tipo de abuso, que as meninas que foram abusadas têm onde se encontrar e buscar apoio”, comenta Hélison.

O projeto começou no final do ano passado, na disciplina de Projeto de Comunicação Comunitária l na forma de campanha. A ideia veio a partir do vídeo Não tira o batom vermelho, da youtuber Julia Tolezano (Jout Jout). A campanha que começou a ser veiculado nas redes sociais no dia 21 de abril deste ano, e foi desenvolvida pelos alunos na página do Unas e muitas meninas do coletivo Unas participaram. Por fim, veio o documentário Meu Relacionamento Abusivo, dando rostos, nomes e histórias sobre essa violência.

O documentário começa com violência psicológica, uma pessoa controlando outra e, depois, parte para a violência doméstica. “É impossível não se identificar com elas, principalmente nós, mulheres, com os relatos. Sempre deixamos claro que, caso elas não se sentissem confortáveis, nós tiraríamos alguma parte do documentário, para criar um ambiente seguro”, aponta Caroline. As meninas que sofreram abuso e deram seus relatos foram: Júlia Do Carmo, Nanda Fernandes, Luana Dornelles Moreira, Alice Carvalho e Natália Barchet.

“Tu sentes como se tu se soltasse dele, tu cai num vazio”

Meu Relacionamento Abusivo inicia com o relato de Júlia Do Carmo, militante do Unas, que sofreu abuso psicológico por três anos. Foi essa vivência que fez Júlia entrar para o feminismo, a partir do processo pelo qual ela passou. “Quando eu vi que isso era comum entre as meninas, comecei a militar. Depois que passou o momento da vergonha e eu me senti livre, sempre tentei mostrar minha história e apoiar quem passa ou passou por isso”, salienta. “Encaramos o ciúme e apego exagerado como normal, como sinal de amor, então é muito importante falar das relações interpessoais. É algo difícil de enxergar e de chegar até a vítima, pois ela se fecha. Há muito apego e posse e, por esse motivo, relacionamentos abusivos são invisibilizados”, acrescenta. E eles acontecem, desde as meninas jovens até mulheres empoderadas.

“Eu tinha muita vergonha de ter sido agredida, de ter medida protetiva da Lei Maria da Penha. Depois eu percebi que eu não tinha maturidade. Ele era 11 anos mais velho do que eu, tinha plena consciência do que estava fazendo, e eu não”. Nanda Fernandes, também do Unas, conta que relutou muito em admitir que não tinha culpa nenhuma sobre o que aconteceu.

Hélison, Caroline, Júlia, Nathália, Nanda, Alice, Luana e Júlia (Foto: Juliano Dutra/Laboratório de Fotografia e Memória)
Hélison, Caroline, Júlia, Natália, Nanda, Alice, Luana e Julia Sousa (Foto: Juliano Dutra/Laboratório de Fotografia e Memória)

“Então, inicialmente as gurias do Unas, especialmente a Nanda Fernandes, me falou do projeto e me convidou para participar, pela importância de deixar o trabalho ainda mais plural e com vivências diversas”, conta  Alice Carvalho.

Por mais difícil que seja  falar sobre que aconteceu, as participantes do trabalho a deixaram mais tranquila sobre se expor e contar sua história. Segundo elas, há medo no silêncio e há medo quando se fala sobre isso, porém Alice, e todas elas, se fortalecem em suas companheiras, e ajudam outras a sair de uma situação abusiva. “Meu silêncio não me protegeu até hoje e não quero a inércia e o silêncio se tornem meus maiores arrependimentos na vida, porque também não vai proteger outras mulheres e só nos corrói diariamente”. afirma. A importância do documentário, para ela, é o alerta, o empoderamento e fortalecimento de mulheres, principalmente as negras. “Meu depoimento é totalmente atravessado pela questão racial. Quero que as pretas se vejam em mim, acreditem no poder delas para superação desses relacionamentos e acreditem que, de fato, a culpa não é delas, somente do agressor”, encerra a militante.

O último depoimento foi a história de um relacionamento abusivo entre mulheres, com a militante Natália Barchet, que sofreu abuso psicológico de sua namorada por meses. Ela conta que já estava dentro do feminismo e empoderada quando conheceu a menina, e o relacionamento tóxico a afastou de todas suas amigas, inclusive, das feministas.

As psicólogas, Júlia de Sousa e Vânia Fortes também comentaram sobre os estágios de um abuso psicológico e relacionamentos. Júlia ressaltou o racismo que impregna relacionamentos abusivos com mulheres negras. “Geralmente nos lares, a mulher negra está sozinha, é mãe solteira, e então passa a aceitar esse tipo de relacionamento, por dependência financeira e psicológica”, afirma.

O coletivo Unas

O Unas, Coletivo Feminista Interseccional de Santa Maria, é formado por onze mulheres e mais cinco colaboradoras, que não podem estar sempre ativas nas reuniões e encontros, mas que militam pelo coletivo. Na página online há postagens sobre temas sociais e políticos ligados às mulheres.

Webcard Foto: Projeto AMA/reprodução Coletivo Unas
Webcard
Foto: Projeto AMA/reprodução Coletivo Unas

Elas recebem um retorno muito grande na página no Facebook do coletivo, de mulheres que se identificam com os relatos. “São várias militantes com diferentes vivências que formam o coletivo, e eu falo de abuso em relacionamentos porque é algo que eu vivi. Essa experiência serviu para que a Júlia de hoje existisse, mas eu espero que nenhuma menina precise passar por isso, nunca”, reforça Júlia. Quando tu percebes que há pessoas passando pelo mesmo e que tu podes usar esse sofrimento como uma bandeira de luta, para ajudar elas, é algo muito gratificante, conta Nanda. Várias seguidoras vão à página pedir conselhos e apoio, justamente porque uma das características mais fortes do relacionamento abusivo é que o abusador te isola completamente do mundo social.

Há webcards do projeto “Não é você, É ele” postados na página com dados de pesquisa sobre violência contra mulher, notícias relacionadas na cidade, informativos, e sinais que caracterizam relacionamento abusivo. O documentário completo será lançado dia 12 de junho, domingo, no Facebook do Unas.

Para entrar em contato com o Unas, visite a página no Facebook, ou pelo email contatounas@gmail.com.
Confira o teaser do documentário Meu Relacionamento Abusivo aqui.