Ela não deixa marcas, não pode ser diagnosticada por exames laboratoriais e muitas vezes é confundida com tristeza ou estresse comum. Ela inclusive vive sendo subestimada por terceiros que não a reconhecem como o mal que é, mas não se engane, essa patologia tão sutil é tão letal quanto algumas das piores infecções conhecidas pelo homem.
Estamos falando da depressão, uma doença caracterizada por distúrbios de humor que causam a constante sensação de tristeza, apatia, solidão, baixa autoestima e pensamentos suicidas, podendo ser causada por desequilíbrios químicos no cérebro ou fatores externos, como a perda de um ente querido ou o fim de um relacionamento. A recorrência dos sintomas pode ser momentânea ou crônica.
A doença em números
Mundialmente, a depressão atinge 350 milhões de pessoas e, segundo projeção da Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2030, se tornará a doença mais comum no mundo, no Brasil estima-se que 10% da população sofra do problema. Ainda segundo a OMS, o suicídio devido à depressão mata em média 800 mil jovens por ano mundialmente, mais do que HIV/Aids.
O aumento de suicídios causados por depressão também é alarmante, em um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, foi apontado que entre 1998 e 2014 o número de suicídios causados por depressão subiu 705%. Além do grande número de mortes, a quantidade de recursos relacionados ao tratamento para a depressão também subiu muito nos últimos anos. O Banco Mundial junto com a OMS recentemente divulgou um estudo que apontou a cifra de US$ 1 trilhão de dólares anuais como o custo coletivo de tratamentos para depressão e ansiedade mundialmente.
Anjos da guarda
Por mais que os números sejam assustadores, às vezes uma palavra de motivação, um ombro amigo ou alguém com quem desabafar são o suficiente para impedir que uma pessoa que sofre de depressão tire a própria vida. Essa é a missão do Centro de Valorização da Vida: impedir suicídios. A instituição, que não visa a lucros e possui postos em todo o país, conta com voluntários para atender pessoalmente e pelo telefone qualquer pessoa que precise de apoio emocional, esteja em depressão ou pensando em tirar a própria vida. A CVV está em Santa Maria desde 2012.
Para Paulo Barbosa, coordenador da CVV em Santa Maria, o fato de a sociedade muitas vezes ver a depressão e o suicídio como tabus é um grande problema: “essa ideia de que ao falarmos sobre suicídio nós o estamos incentivando é um mito. Como se acaba com outras doenças? Falando sobre elas, instruindo a população sobre elas. Isso que precisamos fazer sobre a depressão e o suicídio, ou a sociedade fica à mercê deles”, explica.
Uma das ações que busca quebrar esse tabu é o Setembro Amarelo, um movimento mundial de conscientização e prevenção do suicídio, o nome vem do dia 10 de setembro, o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. No ano passado, cobrindo o Setembro Amarelo, a jornalista Carolina Carvalho conheceu o trabalho da instituição e quis se envolver mais com a causa.
Hoje ela é coordenadora de comunicação da CVV Santa Maria e voluntária, atendendo aqueles que procuram por ajuda, um trabalho que ela classifica como desafiador, mas muito gratificante: “A gente nunca sabe que tipo de situação vai encontrar, que tipo de problema aquela pessoa está enfrentando, e, pra mim, o exercício mais nobre que nós podemos ter é respeitar essa dor, independente do que ela seja e passar por esse momento junto com ela, de forma que no momento que ela desligue o telefone, esteja melhor”.
Mesmo com o grande número de voluntários, muitas chamadas infelizmente são perdidas, no relatório semanal regional de ligações da CVV pode-se checar que só na última semana três mil e setecentas e vinte e nove chamadas foram perdidas no estado, comparadas com as vinte mil quatrocentas e cinquenta e quatro chamadas atendidas. A média de chamadas não atendidas por mês é de dezoito por cento, um número que Brandão espera diminuir em breve, porque a partir do mês de julho a CVV começara a trabalhar com mais uma linha para atender a maior demanda de ajuda.
Avanços no combate à depressão
Além dos engajados no combate à depressão voluntariamente a ciência vem, há anos, procurando maneiras mais eficazes de tratar a doença. Recentemente, um grande avanço foi feito: a descoberta de um exame de sangue capaz de determinar a reação de indivíduos a medicamentos antidepressivos.
Enquanto esse tipo de droga pode salvar vidas, o efeito contrário também é possível, existem muitas pessoas que pioram drasticamente da depressão ao consumir antidepressivos, e existem até mesmo casos de indivíduos que começam a apresentar sintomas depressivos que não tinham antes após utilizar os medicamentos para algum outro fim.
Esse problema é conhecido pela ciência, mas, até então, saber se alguém era suscetível ou não ao efeito reverso era uma questão de tentativa e erro. No entanto, um recente estudo feito por pesquisadores do King’s college London promete mudar isso, os cientistas desenvolveram um exame de sangue capaz de definir os níveis de aceitabilidade de um indivíduo para cada tipo de droga. O exame não só indica substâncias que podem ter efeito reverso, como também mostra aquelas que tem melhores chances de dar bons resultados.
A luz no fim do túnel
Se você sofre de depressão, tem pensamentos suicidas ou conhece alguém que passa por isso, procure ajuda, o primeiro passo para escapar dessa doença é admitir a sua existência e começar um tratamento. Para procurar a ajuda da CVV, você pode ligar para a linha 188 ou ir pessoalmente ao posto de atendimento, que fica na rodoviária e está aberto das sete da manhã até as seis da tarde, o atendimento é discreto e pode ser anônimo.
Por Luciano Vieira, para a disciplina Jornalismo Especializado I, do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano (1º semestre /2016).