Sonho de muitos, mas tarefa para poucos. A produção audiovisual, ao contrário do que entusiastas da Sétima Arte muitas vezes possam imaginar, não envolve nada do glamour visto nas telas, muito pelo contrário. Comprometimento e muito trabalho é o que se vê nos bastidores de qualquer produção, seja de grande ou baixo orçamento.
Cada vez mais comum e com mais adeptos, a produção independente ganha espaço no mercado, mas tem como maior desafio a carência de financiamento. A propósito, o que entende-se por “independente”? Uma produção audiovisual independente é aquela cuja produtora responsável pela obra não tenha qualquer vínculo, direto ou indireto, com empresas de serviços de rádio e TV, ou operadoras de comunicação. Com isso, produções e produtoras da Cidade Cultura, que um dia já foi palco do Santa Maria Video e Cinema — Festival local que teve sua primeira edição em 2002, e encerrou as atividades em 2013, na 11ª edição — penam para conseguir investimento da Prefeitura e das grandes empresas da cidade.
O apoio e o investimento podem não ser tão fáceis assim, mas a arte de se produzir não pára. Recentemente, três produções locais foram aprovadas no edital da IECINE (Instituto Estadual de Cinema do Rio Grande do Sul), com financiamento do FAC-RS, o Fundo de Apoio à Cultura do estado — “Quanto Mais Suicidas, Menos Suicidas” e “Espelho Hexagonal” da Finish Produtra; e “Poeira”, da TV OVO.
E como fazer cinema na cidade?
Partindo dessa premissa e pela paixão ao cinema, surgiu, em 2003, a Cia Independente de Cinema. Criada por Jayme Filho e operando com recursos próprios, a Companhia realiza curtas-metragens resultantes de oficinas de criação e produção audiovisual, com projetos realizados em escolas da cidade. Sem depender de projetos ou patrocínios, o Grupo grava e divulga produções independentes, como o recém-lançado Luka, escrito e dirigido pelo próprio Jayme, após quatro anos de produção. Ele conta que a Cia de Cinema é formada por amigos próximos e que não recebem nada por isso.
“Não ganham um centavo, mas também não com gastam nada”, brinca. “Não visamos ao retorno financeiro, porque na verdade não há. Fizemos três curtas, e foi maravilhosa a nossa convivência nos ensaios e gravações.”, destaca.
Para Jayme, a única maneira de fazer cinema em Santa Maria é “reunir uma galera com boa vontade e comprometimento, arregaçar as mangas e mãos à obra.” Otimista, ele fala que trabalhar com cinema na cidade está sendo recompensador. Mesmo não dependendo de patrocínios, a Companhia conta com apoiadores que estão sempre juntos nas produções. “Isso nos livra do incômodo das prestações de contas ou do aval de terceiros para fazermos nossos filmes […] Somos livres para colocar nossas ideias em prática”, conclui.
De acordo com informações divulgadas pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), só em 2015, a produção audiovisual independente brasileira representou 17,3% da programação de filmes de longa-metragem nos canais de TV aberta, e 10,70% nos canais de televisão por assinatura. As oportunidades requerem aperfeiçoamento contínuo e visão empreendedora das produtoras independentes. Com o crescimento das TV’s por assinatura e o maior espaço com a cota de programação nacional estabelecida pela Lei da TV Paga, abre-se uma janela para essas empresas, interessadas em divulgar seus trabalhos, como exemplo da TV OVO em Santa Maria, outro expoente em produções audiovisuais independentes na cidade e região. Cabe a essas produtoras, aproveitarem a chance de se estabelecer no mercado audiovisual, aliado à concorrência de produções feitas diretamente para web. A janela que se abre com o crescimento desse tipo de conteúdo online, inverte um cenário que antes era desfavorável à produção independente, agora capaz de formar uma identidade audiovisual própria, seja para produções publicitárias, obras de ficção ou documentários.
Novas produções a caminho
Apaixonado por cinema e com ideias borbulhando, Gabriel Camillo está prestes a rodar o seu primeiro curta-metragem pela da Cia Independente de Cinema. Ele conta que o interesse pela Sétima Arte começou na sala de aula, em um projeto iniciado nas aulas de Educação Artística. Hoje, aos 17 anos, Gabriel está finalizando o roteiro e em breve começa a filmar O Retorno do Filho do Capeta, “que é bem sanguinário”, segundo o jovem diretor.
A professora e jornalista Luana Iensen, que também participa da produção de O Retorno do Filho do Capeta, conta que o convite para participar do curta-metragem veio do próprio Gabriel, que foi seu aluno em Literatura. “Sempre usei didáticas diferenciadas nas aulas de Literatura, como a encenação dos livros”, relata. A partir dessa experiência, Gabriel convidou Luana para colaborar na produção do novo curta, que ainda não começou a ser rodado.
Atualmente em fase final de edição, Desencanto é mais um trabalho da Cia Independente de Cinema. Jayme revela que as gravações aconteceram de janeiro a julho do ano passado, e que — além de muito trabalho envolvido — o clima nos bastidores era de diversão. “Desencanto conta a história de amor de um casal de jovens, e as reviravoltas de um amor não correspondido”, afirma o diretor.
A nova moda de financiamento coletivo
Roteiro na mão e equipe pronta. E agora, o que fazer para tocar pra frente o projeto? Uma nova opção para alavancar um projeto audiovisual e sair do papel são os mecanismos de financiamento coletivo, conhecidos como Crowdfunding. Esse tipo de iniciativa tem ganhado um espaço cada vez maior, com recursos oriundos diretamente do consumidor ou de empresas apoiadoras, geralmente captado por meio de sites destinados a incentivar produtores independentes. Entre os mais conhecidos estão Kickstarter e Catarse. Câmera na mão e ideia na cabeça? Mãos à obra!
Por Marcos Kontze, para a disciplina de Jornalismo Especializado I, do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano (1º semestre /2016).