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Santa Maria, RS, Brazil

O diagnóstico da saúde na Santa Marta

Desde a década de 90 a Cohab Santa Marta oferece atendimento de saúde por intermédio da Unidade Básica Dr. Floriano da Rocha. Inicialmente, os atendimentos eram realizados no local onde hoje se encontra o conselho tutelar. Porém, com o aumento no número de atendimentos foi necessário mudar de endereço. O local escolhido foi o antigo salão comunitário da comunidade, na Rua Benjamin Ávila com a Travessa da Paz. Contudo, desde o ano passado a unidade passa por uma reforma e o posto foi realocado para o ginásio poliesportivo da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), na Rua Dr. Paulo da Silva e Souza.

A Agência Central Sul foi até o local da reconstrução e constatou que a estrutura está depredada. A grama alta, o acúmulo de lixo, as portas e janelas danificadas mostram o abandono do lugar. Conforme o relato dos moradores, a reforma está parada há pelo menos três meses e os materiais de construção foram roubados. O contador de luz, pias e lâmpadas também foram levados.

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Estilhaços de vidros e materiais abandonados no interior do posto. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória

“Ocorriam bailes e festas beneficentes. Havia um clube de mães também. A comunidade era responsável pela manutenção do salão, e funcionava tranquilamente”, relata Valdoir Marafiga, 48 anos, que relembrou a época de quando o lugar ainda sediava o clube da comunidade. O morador, que vive na Cohab desde os 12 anos, ainda revela que no atual ponto de atendimento a cobertura é de zinco, e que no verão isso dificultou as consultas, pois “trabalhavam até meio dia por causa do calor, mas agora já atendem à tarde”.

Fachada do ginásio poliesportivo da APAE. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória
Fachada do ginásio poliesportivo da APAE. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória

Há quase um ano os consultórios foram montados de maneira improvisada dentro do ginásio poliesportivo. Para Fernanda Barreto, 38 anos, que aguardava atendimento, apesar da tentativa de realizar um bom trabalho, o lugar não é adequado. “O espaço físico até é grande, mas as divisórias parecem bretes. Só venho por necessidade”, comenta a vendedora.

Outra reclamação diz respeito à espera pela distribuição das fichas para o atendimento. Segundo as pessoas ouvidas no posto, é necessário ir até mais de uma vez para conseguir agendar consulta. ”Tem que vir às 4h para conseguir ficha para ser atendida no outro dia. Ficamos na calçada, no lado na rua. E ainda não são todos que conseguem senha” destaca Fernanda. A justificativa para esse relato é porque há um limite de fichas por dia, e isso gera filas que iniciam pela madrugada. “Já assaltaram uma pessoa que aguardava de madrugada”, lembra a dona de casa Jocelaine dos Santos, 43 anos.

Entulho no pátio da unidade de saúde. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória
Entulho no pátio da unidade de saúde. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória

Cleci Sagrilo, 69 anos, não acredita que a reforma será finalizada tão cedo. “O nosso posto está péssimo, cada noite tiram um pouco, ninguém toma conta. Todos os dias vemos portão aberto e portas quebradas, maior judiaria, não vai ser fácil reformar”, alerta. De acordo a aposentada, a solução para tentar conter os vândalos que destroem a unidade é encaminhar um guarda para cuidar do lugar. Entretanto, para Cleci, a situação será resolvida somente com a mudança de prefeito. “Acho que não vamos ver nada de bom ali tão cedo”, lastima.

A enfermeira responsável pela unidade, Márcia Dias Viana, lamenta sobre a situação atual do posto. “É triste. Eu não gosto nem de passar ali. Eu abri aquele posto, há 22 anos, e dá uma dor na alma passar na frente”, desabafa. Conforme Márcia, apesar de o ginásio não ser um local adequado, foi a melhor saída para seguir atendendo à população.

A APAE ofereceu o local que estava ocioso, e desde junho, aproximadamente, as equipes – formada por dois clínicos gerais, dois ginecologistas, dois pediatras, e mais um grupo somente para atendimento estratégico da saúde da família- trabalham desviando dos obstáculos. Até então, parte do posto se fixava no Alto da Boa Vista e outra no Parque Pinheiro Machado. Segundo Márcia, mesmo com a reclamação sobre o calor, o ginásio foi a melhor opção para os moradores, mas para os funcionários os problemas vão além da questão da temperatura, a falta de silêncio e a irregularidade, são um dos fatores que atrapalham o trabalho.

Atual local de atendimento. Foto: Parte interna do posto. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Mamória
Atual local de atendimento. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória

Sobre a demora no atendimento e a espera para recebimento de ficha, a enfermeira declara que há um problema de gestão. A região cresceu, mas a estrutura do sistema de saúde se manteve a mesma de 20 anos atrás. Márcia ressalta que enquanto não houver o envio de mais médicos, as filas continuarão. “Nesta região são cerca de 90 mil pessoas. É maior que o município de Santiago. Os médicos não são suficientes. Atendemos uma população de 40 mil somente na Santa Marta. É muita gente”, aponta. Conforme Márcia, os clínicos trabalham via consórcio, e apenas podem atender 12 pessoas. Além disso, as fichas para os idosos começam ser distribuídas a partir das 10h, mas por medo de não conseguirem serem atendidos, acabam chegando antes do amanhecer. Por fim, a enfermeira desabafa, “Espero que se resolva isso, mas já não acredito muito, estou perdendo as forças. A comunidade da Santa Marta ajuda, mas ela vai até um limite, não é ativa e isso não é de agora”, finalizou.

Marcelo Dalla Corte, superintendente de finanças do município, declarou que a empresa responsável pela reforma da Unidade Dr. Floriano da Rocha abandonou a obra, e que foi aberto um processo para rescidir o contrato. Desde o mês de abril a restauração do posto não está sob responsabilidade de nenhuma empresa.

Conforme Dalla Corte, foi feito um orçamento para saber qual foi o valor investido na obra para que seja cobrado da empresa, além da multa contratual prevista. “Não há uma estimativa para o retorno dos trabalhos. Há o trâmite legal, em que para substituir a empresa, é necessário abrir uma nova licitação”, conclui o superintendente. A Agência Central Sul tentou entrar em contato com a construtora que abandonou a obra, mas os números disponibilizados pelo site da empresa não completam a ligação.

Confira outras imagens da Unidade Básica de Saúde Dr. Floriano da Rocha fotografadas por Roger Haeffner, do Laboratório de Fotografia e Memória

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Desde a década de 90 a Cohab Santa Marta oferece atendimento de saúde por intermédio da Unidade Básica Dr. Floriano da Rocha. Inicialmente, os atendimentos eram realizados no local onde hoje se encontra o conselho tutelar. Porém, com o aumento no número de atendimentos foi necessário mudar de endereço. O local escolhido foi o antigo salão comunitário da comunidade, na Rua Benjamin Ávila com a Travessa da Paz. Contudo, desde o ano passado a unidade passa por uma reforma e o posto foi realocado para o ginásio poliesportivo da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), na Rua Dr. Paulo da Silva e Souza.

A Agência Central Sul foi até o local da reconstrução e constatou que a estrutura está depredada. A grama alta, o acúmulo de lixo, as portas e janelas danificadas mostram o abandono do lugar. Conforme o relato dos moradores, a reforma está parada há pelo menos três meses e os materiais de construção foram roubados. O contador de luz, pias e lâmpadas também foram levados.

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Estilhaços de vidros e materiais abandonados no interior do posto. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória

“Ocorriam bailes e festas beneficentes. Havia um clube de mães também. A comunidade era responsável pela manutenção do salão, e funcionava tranquilamente”, relata Valdoir Marafiga, 48 anos, que relembrou a época de quando o lugar ainda sediava o clube da comunidade. O morador, que vive na Cohab desde os 12 anos, ainda revela que no atual ponto de atendimento a cobertura é de zinco, e que no verão isso dificultou as consultas, pois “trabalhavam até meio dia por causa do calor, mas agora já atendem à tarde”.

Fachada do ginásio poliesportivo da APAE. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória
Fachada do ginásio poliesportivo da APAE. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória

Há quase um ano os consultórios foram montados de maneira improvisada dentro do ginásio poliesportivo. Para Fernanda Barreto, 38 anos, que aguardava atendimento, apesar da tentativa de realizar um bom trabalho, o lugar não é adequado. “O espaço físico até é grande, mas as divisórias parecem bretes. Só venho por necessidade”, comenta a vendedora.

Outra reclamação diz respeito à espera pela distribuição das fichas para o atendimento. Segundo as pessoas ouvidas no posto, é necessário ir até mais de uma vez para conseguir agendar consulta. ”Tem que vir às 4h para conseguir ficha para ser atendida no outro dia. Ficamos na calçada, no lado na rua. E ainda não são todos que conseguem senha” destaca Fernanda. A justificativa para esse relato é porque há um limite de fichas por dia, e isso gera filas que iniciam pela madrugada. “Já assaltaram uma pessoa que aguardava de madrugada”, lembra a dona de casa Jocelaine dos Santos, 43 anos.

Entulho no pátio da unidade de saúde. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória
Entulho no pátio da unidade de saúde. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória

Cleci Sagrilo, 69 anos, não acredita que a reforma será finalizada tão cedo. “O nosso posto está péssimo, cada noite tiram um pouco, ninguém toma conta. Todos os dias vemos portão aberto e portas quebradas, maior judiaria, não vai ser fácil reformar”, alerta. De acordo a aposentada, a solução para tentar conter os vândalos que destroem a unidade é encaminhar um guarda para cuidar do lugar. Entretanto, para Cleci, a situação será resolvida somente com a mudança de prefeito. “Acho que não vamos ver nada de bom ali tão cedo”, lastima.

A enfermeira responsável pela unidade, Márcia Dias Viana, lamenta sobre a situação atual do posto. “É triste. Eu não gosto nem de passar ali. Eu abri aquele posto, há 22 anos, e dá uma dor na alma passar na frente”, desabafa. Conforme Márcia, apesar de o ginásio não ser um local adequado, foi a melhor saída para seguir atendendo à população.

A APAE ofereceu o local que estava ocioso, e desde junho, aproximadamente, as equipes – formada por dois clínicos gerais, dois ginecologistas, dois pediatras, e mais um grupo somente para atendimento estratégico da saúde da família- trabalham desviando dos obstáculos. Até então, parte do posto se fixava no Alto da Boa Vista e outra no Parque Pinheiro Machado. Segundo Márcia, mesmo com a reclamação sobre o calor, o ginásio foi a melhor opção para os moradores, mas para os funcionários os problemas vão além da questão da temperatura, a falta de silêncio e a irregularidade, são um dos fatores que atrapalham o trabalho.

Atual local de atendimento. Foto: Parte interna do posto. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Mamória
Atual local de atendimento. Foto: Roger Haeffner/ Laboratório de Fotografia e Memória

Sobre a demora no atendimento e a espera para recebimento de ficha, a enfermeira declara que há um problema de gestão. A região cresceu, mas a estrutura do sistema de saúde se manteve a mesma de 20 anos atrás. Márcia ressalta que enquanto não houver o envio de mais médicos, as filas continuarão. “Nesta região são cerca de 90 mil pessoas. É maior que o município de Santiago. Os médicos não são suficientes. Atendemos uma população de 40 mil somente na Santa Marta. É muita gente”, aponta. Conforme Márcia, os clínicos trabalham via consórcio, e apenas podem atender 12 pessoas. Além disso, as fichas para os idosos começam ser distribuídas a partir das 10h, mas por medo de não conseguirem serem atendidos, acabam chegando antes do amanhecer. Por fim, a enfermeira desabafa, “Espero que se resolva isso, mas já não acredito muito, estou perdendo as forças. A comunidade da Santa Marta ajuda, mas ela vai até um limite, não é ativa e isso não é de agora”, finalizou.

Marcelo Dalla Corte, superintendente de finanças do município, declarou que a empresa responsável pela reforma da Unidade Dr. Floriano da Rocha abandonou a obra, e que foi aberto um processo para rescidir o contrato. Desde o mês de abril a restauração do posto não está sob responsabilidade de nenhuma empresa.

Conforme Dalla Corte, foi feito um orçamento para saber qual foi o valor investido na obra para que seja cobrado da empresa, além da multa contratual prevista. “Não há uma estimativa para o retorno dos trabalhos. Há o trâmite legal, em que para substituir a empresa, é necessário abrir uma nova licitação”, conclui o superintendente. A Agência Central Sul tentou entrar em contato com a construtora que abandonou a obra, mas os números disponibilizados pelo site da empresa não completam a ligação.

Confira outras imagens da Unidade Básica de Saúde Dr. Floriano da Rocha fotografadas por Roger Haeffner, do Laboratório de Fotografia e Memória