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Afinal, quem entregou os chats da Lava Jato ao The Intercept?

Não vou escrever um texto de muitos parágrafos, porque o que há para ser dito pode ser resumido em algumas poucas palavras. Haverá muito que ler hoje e surgirá muito mais nos próximos dias, como nos revela o jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do The Intercept Brasil.

O pacote que ele publica das conversas entre procuradores da Lava Jato e Moro saiu de um aplicativo chamado Telegram, inventado por Nikolai e Pavel Durov. Ele é uma espécie de WhatsApp menos popular aqui no Brasil, embora muito mais potente. Um dos destaques da ferramenta russa é a sua capacidade de autodestruir mensagens em chats secretos.

Pavel Durov, inventor do Telegram, em evento de tecnologia em Berlim, 2013. Foto: CC BY 2.0, Wikipedia.

O autor das mensagens pode, por exemplo, programar quantos segundos o texto ficará ativo antes de virar “pó” na internet. As mensagens também são encriptadas. O foco do Telegram é privacidade e segurança e isto já gerou problemas legais na Rússia, no Irã e em outros lugares do mundo. Mas não há relatos de que o aplicativo, ou algum hacker, tenha vazado informações de conversas.

Uma possibilidade bastante concreta, é que um dos participantes dos grupos tenha documentado os chats por algum motivo e os entregou ao The Intercept. Outra, menos provável, é que os usuários não tenham conversado em um chat secreto nem destruído as mensagens. Mas, ainda assim, restaria a dificuldade de extraí-las do app.

Pergunta: quem entregou as mensagens para o The Intercept? Resposta provável: uma pessoa que estava em todos os chats.

Moro, Dallagnol e D’artagnan

O Ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Moro, assim como Deltan Dallagnol, procurador da Lava Jato, transformaram um sistema jurídico que deveria investigar e julgar (separadamente) em um rito sumário de condenação. A questão é que um precedente assim, tão explícito, coloca todos os brasileiros em risco de ir para a guilhotina. Quem serão os próximos?

Se não há verdade possível, sobra a mentira com todas as suas variáveis e dissimulações. Os chats vazados, pela riqueza de detalhes, colocam a Justiça no lugar que não deveria estar, sob uma desconfortável lupa. As conversas entre procuradores não só são imorais como também demonstram a falta de ética e, pior, a esculhambação generalizada.

As autoridades e organizações da sociedade civil têm um desafio enorme pela frente. Cobrar dos envolvidos explicações e a exemplar punição, tanto quanto possível. Ministros do Supremo Tribunal Federal já acreditam na anulação de sentenças de Moro. Seria o mínimo necessário para restabelecer algum fiapo de credibilidade.

Celebrado como o quarto mosqueteiro da obra de Alexandre Dumas, D’Artangn não deve ser confundido com o homem de carne osso Charles de Batz-Castelmore. Capitão da guarda de Luís XIV, ele que cuidou do cárcere de Nicolas Fouquet, espécie de ministro das finanças do rei — nos castelos de Angers, de Vincennes, na Bastilha e em Pignerol. Moro e Dallagnol , definitivamente, não são heróis.

Ricardo Mendes é jornalista investigativo e consultor internacional. Autorizou que a ACS reproduzisse seus textos publicados originalmente na sua página na plataforma Medium.

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Não vou escrever um texto de muitos parágrafos, porque o que há para ser dito pode ser resumido em algumas poucas palavras. Haverá muito que ler hoje e surgirá muito mais nos próximos dias, como nos revela o jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do The Intercept Brasil.

O pacote que ele publica das conversas entre procuradores da Lava Jato e Moro saiu de um aplicativo chamado Telegram, inventado por Nikolai e Pavel Durov. Ele é uma espécie de WhatsApp menos popular aqui no Brasil, embora muito mais potente. Um dos destaques da ferramenta russa é a sua capacidade de autodestruir mensagens em chats secretos.

Pavel Durov, inventor do Telegram, em evento de tecnologia em Berlim, 2013. Foto: CC BY 2.0, Wikipedia.

O autor das mensagens pode, por exemplo, programar quantos segundos o texto ficará ativo antes de virar “pó” na internet. As mensagens também são encriptadas. O foco do Telegram é privacidade e segurança e isto já gerou problemas legais na Rússia, no Irã e em outros lugares do mundo. Mas não há relatos de que o aplicativo, ou algum hacker, tenha vazado informações de conversas.

Uma possibilidade bastante concreta, é que um dos participantes dos grupos tenha documentado os chats por algum motivo e os entregou ao The Intercept. Outra, menos provável, é que os usuários não tenham conversado em um chat secreto nem destruído as mensagens. Mas, ainda assim, restaria a dificuldade de extraí-las do app.

Pergunta: quem entregou as mensagens para o The Intercept? Resposta provável: uma pessoa que estava em todos os chats.

Moro, Dallagnol e D’artagnan

O Ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Moro, assim como Deltan Dallagnol, procurador da Lava Jato, transformaram um sistema jurídico que deveria investigar e julgar (separadamente) em um rito sumário de condenação. A questão é que um precedente assim, tão explícito, coloca todos os brasileiros em risco de ir para a guilhotina. Quem serão os próximos?

Se não há verdade possível, sobra a mentira com todas as suas variáveis e dissimulações. Os chats vazados, pela riqueza de detalhes, colocam a Justiça no lugar que não deveria estar, sob uma desconfortável lupa. As conversas entre procuradores não só são imorais como também demonstram a falta de ética e, pior, a esculhambação generalizada.

As autoridades e organizações da sociedade civil têm um desafio enorme pela frente. Cobrar dos envolvidos explicações e a exemplar punição, tanto quanto possível. Ministros do Supremo Tribunal Federal já acreditam na anulação de sentenças de Moro. Seria o mínimo necessário para restabelecer algum fiapo de credibilidade.

Celebrado como o quarto mosqueteiro da obra de Alexandre Dumas, D’Artangn não deve ser confundido com o homem de carne osso Charles de Batz-Castelmore. Capitão da guarda de Luís XIV, ele que cuidou do cárcere de Nicolas Fouquet, espécie de ministro das finanças do rei — nos castelos de Angers, de Vincennes, na Bastilha e em Pignerol. Moro e Dallagnol , definitivamente, não são heróis.

Ricardo Mendes é jornalista investigativo e consultor internacional. Autorizou que a ACS reproduzisse seus textos publicados originalmente na sua página na plataforma Medium.