O conceito de sustentabilidade ainda é bastante discutido e passou a ser utilizado de forma banalizada nos últimos anos. O significado está relacionado com a sobrevivência envolvendo recursos naturais, desenvolvimento econômico e a própria sociedade. A base do conceito vem de uma expressão britânica chamada Triple Bottom Line constituído de três pilares: econômico, social e ambiental, em que para qualquer empreendimento ser viável precisa ser socialmente justo, ambientalmente responsável e economicamente lucrativo.
A versão mais difundida do termo está associada ao desenvolvimento sustentável, apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1987, pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente. O documento ficou conhecimento como Relatório Brundtland, nome da presidente da conferência, a então primeira ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland. A definição de desenvolvimento sustentável refere-se a “satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades” e está diretamente relacionado com o consumo.
As discussões da ONU foram consequência da publicação do estudo Limites do crescimento, em 1972, pelo Clube de Roma, considerado um marco na história do pensamento ambientalista. O livro foi o primeiro estudo sobre a possibilidade de esgotamento de recursos para a existência humana.
Impacto da produção de alimentos baseada em monocultura
A cada ano diferentes tipos de alimentos são identificados como “super” alimentos e se tornam os “queridinhos” das dietas. No entanto, em muitos dos casos são produtos exóticos – pouco conhecidos ou produzidos em regiões específicas – em que o aumento da procura muda a economia da região produtora. Isto pode ter benefícios econômicos, mas também grande impacto ambiental.
A quinoa, por exemplo, em 2013 foi declarada como Alimento do Ano pelas Nações Unidas, por meio da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO[1]). O que era um alimento tradicional da região dos Andes, produzido, principalmente, na Bolívia, Peru e Equador por pequenos agricultores e consumido na América do Central e do Sul, passou a ser produzido para exportação. O preço do grão para consumo local ficou elevado e mais moradores começaram a produzir visando lucro da exportação afetando outras atividades agrícolas. Estudos na região, divulgados pela própria FAO, identificaram a diminuição das variedades cultivadas e a degradação da terra nos três primeiros anos provocando a diminuição também de animais como as lhamas.
As consequências do crescimento desenfreado do consumo de determinados produtos são ainda maiores no caso do óleo de palma. Atualmente pesquisas já associam o consumo do óleo ao aumento de algumas doenças, revelando ainda o lado menos saudável. O óleo de palma é atualmente o óleo mais produzido no mundo e a indústria que causa maior destruição mundial de florestas tropicais. Utilizado em alimentos, cosmética, estética, produtos químicos e combustíveis, a produção óleo de palma ameaça pequenos agricultores, tribos nativas e animais como orangotangos[2] – metade da população de orangotangos de Bornéus, na Ásia, foi exterminada nos últimos 16 anos.
O Greenpeace (2018[3]) revelou, em relatório, que 130 mil hectares de floresta tropical foram desmatados de 2015 a 2018, sendo que 40% do desmatamento foi na Indonésia, na província de Papua. A exploração do óleo de palma afeta diferentes regiões do planeta e comunidades locais, como denuncia a Rainforest[4], emitindo elevada concentração de gases de efeito estufa, desde a produção ao transporte.
Consumo de impacto positivo
Socialmente justo, ambientalmente responsável e economicamente lucrativo requer a valorização da produção local. Mas podemos pensar o incentivo ao consumo local em vários níveis e não necessariamente somente no nosso bairro. O turismo é um dos grandes exemplos quando se refere ao impacto do consumo local. Não é à toa que em muitas regiões os moradores têm protestado contra o turismo de massa. Neste sentido, priorizar o empreendedorismo local fortalece a comunidade e valoriza também a cultura.
A preferência por restaurantes locais e comidas de rua do que comer em fastfood internacionais. A hospedagem pode ser em pousada e alojamento local, ao invés de grandes redes hoteleiras. Na hora de comprar lembrancinhas, por exemplo, pode optar pelo artesanato local, o que vai dar ainda autenticidade ao produto e possibilitar o contato direto com os artesãos. Ações que contribuem para melhorar a experiência da própria viagem.
Consumo consciente requer pesquisa
No âmbito do consumo de produtos de multinacionais procure sempre pelos selos de comércio justo. Existem diversas organizações mundiais como a Organização Mundial do Comércio Justo (WFTA -World Fair Trade Association) e o selo das Organizações Internacionais de Rotulagem do Comércio Justo (FLO Internacional – Fair Trade Labelling Organisations International).
No Brasil, a realização do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em 2003, é considerado o ponto de partida nas mobilizações, encontros e a construção de estratégias do campo da Economia Solidária. Na ocasião, se consolidou o Fórum Brasileiro da Economia Solidária[5]. No mesmo ano, foi surgiu a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), criada no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego.
O princípio da economia solidária é que os benefícios da atividade econômica estejam ao alcance dos trabalhadores, uma forma de organização da produção, consumo e distribuição da riqueza, caracterizada pela igualdade e valorização do humano, articulando as dimensões econômicas, políticas e sociais.
A cidade de Santa Maria é referência quando se trata de economia solidária e acolhe a realização da Feira Latino Americana de Economia Solidária e a Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop comemorou 25 anos, em 2018) realizadas anualmente no mês de julho.
Além dos benefícios econômicos em se investir na produção local, é também mais sustentável ao reduzir o impacto dos transportes e, ainda, saudável consumir produtos da época e da região. Estima-se que em Santa Maria, por exemplo, existem em torno de 15 feiras de hortifrutigranjeiros e produtos coloniais. Pesquise sempre a melhor opção de acordo com as suas necessidades. Em diversas cidades é possível comprar cestas de produtos orgânicos até para entrega em casa ou no trabalho, surgindo, assim, novas oportunidades de negócio.
[1] http://www.fao.org/home/en/
[2] https://www.bbc.com/portuguese/geral-44745555
[3] https://www.greenpeace.org/international/publication/18455/the-final-countdown-forests-indonesia-palm-oil/
[4]https://d3n8a8pro7vhmx.cloudfront.net/rainforestactionnetwork/pages/17708/attachments/original/1493246815/RAN_PepsiCo_Profits_Over_People_Planet.pdf?1493246815
[5] http://fbes.org.br/
Alice Dutra Balbé, doutora em Ciências da Comunicação e mestre em Informação e Jornalismo pela Universidade do Minho, Portugal, jornalista egressa UFN.