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Santa Maria, RS, Brazil

Sobrevivendo nas ruas

Inácio Ferraz, 75 anos “Trabalho como engraxate deste guri. Nunca fiz ou consegui fazer outra coisa na vida…minha filha, pra ser doutor tem que ter estudo. E esse, eu nunca vi.”

Vendedores ambulantes sempre fizeram parte das ruas dos centros urbanos, misturados entre os pedestres e os carros pelas praças, calçadas e vias das cidades. Em Santa Maria esta realidade não é diferente. No entanto, de dois a três anos para cá, o número de pessoas que trabalham com o comércio informal tem aumentado consideravelmente. Esta situação se dá, principalmente, pelos altos índices de desemprego em todo o país, restando aqueles que foram demitidos ou que nunca foram absorvidos pelos trabalhos formais a sobrevivência por conta própria.

Alda Martins, 58 anos.
“Ahhh, eu trabalho como vendedora de doces nas ruas há mais de 40 anos. Sempre batalhei meu sustento dessa forma, minha irmã e eu. Mas o que se pode fazer, né? Eu preciso fazer o que faço. E quando vejo os fiscais da Prefeitura, mudo de calçada, vou pro outro lado, mas não dou chance de me tirarem minha mercadoria porque este é o meu sustento”.

Mas como é sobreviver sem um emprego com salário garantido no final do mês? Quais são as condições de trabalho para aqueles que vivem da venda ambulante ou de uma atividade rentável nas ruas da nossa cidade? Ao fotografar e entrevistar alguns trabalhadores de rua pode-se perceber que esta vida não é nada fácil. E como seria,
considerando as condições de trabalho destas pessoas?
Além das intempéries do tempo, da incerteza do lucro cotidiano e mensal, das pressões das responsabilidades e demandas familiares, das enfermidades do corpo, da impossibilidade de gerar lucro suficiente para um futuro que se torna incerto, há também a fiscalização da Prefeitura Municipal de Santa Maria sob todos estes trabalhadores da informalidade. E sobre esta questão em específico, o discurso dos profissionais informais foi unânime: “Não nos deixam trabalhar em paz nas ruas. Não nos deixam sobreviver onde queremos e achamos melhor para o nosso comércio e produtos!”.

Juliano Marafiga Cardoso, 38 anos “Olha moça, eu passei a minha vida inteira na rua. Fiz de tudo, sabe? Nós erámos em 16 irmãos e não tinha nem o que comer. Comi muito lixo pra me manter vivo. Até que consegui trabalhar na Prefeitura Municipal de Santa Maria, no governo do Schirmer e mudei um pouco o meu destino. Então melhorei de uns dezessete anos pra cá. Agora, quando mudou o prefeito, eu sai de lá e voltei pras ruas. Não é fácil, sabe? Mas tento viver dignamente. Só que preciso estar na rua. Não trancado no shopping popular, alí. Meu público não vai até lá comprar os meus panos de prato”.

João Rodrigues, 51 anos.
“Eu trabalho com venda de Cd´s e DVD´s há 15 anos. Não é uma vida muito fácil, não. Mas prefiro ser meu patrão”.

Diante de todas as dificuldades pelas quais passam estes trabalhadores, mas principalmente pelo cerceamento das condições de atuarem fora do Shopping Popular, localizado na Praça Saldanha Marinho, no centro da cidade, não há como não se colocar no lugar destes sujeitos e termos empatia por suas vidas sofridas. São pessoas que nunca
tiveram as mesmas chances que alguns têm para uma vida menos difícil ou melhor. São sujeitos que fazem o que podem para garantir sua dignidade. São seres humanos que tentam tão somente sobreviver nas ruas.

Rodrigo Pedroso da Silva, 42 anos.
“Eu quero apenas o suficiente pra minha vida”.

 

 

 

Texto e foto de Laura Fabrício, jornalista, fotógrafa e professora no curso de Jornalismo da UFN

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Inácio Ferraz, 75 anos “Trabalho como engraxate deste guri. Nunca fiz ou consegui fazer outra coisa na vida…minha filha, pra ser doutor tem que ter estudo. E esse, eu nunca vi.”

Vendedores ambulantes sempre fizeram parte das ruas dos centros urbanos, misturados entre os pedestres e os carros pelas praças, calçadas e vias das cidades. Em Santa Maria esta realidade não é diferente. No entanto, de dois a três anos para cá, o número de pessoas que trabalham com o comércio informal tem aumentado consideravelmente. Esta situação se dá, principalmente, pelos altos índices de desemprego em todo o país, restando aqueles que foram demitidos ou que nunca foram absorvidos pelos trabalhos formais a sobrevivência por conta própria.

Alda Martins, 58 anos.
“Ahhh, eu trabalho como vendedora de doces nas ruas há mais de 40 anos. Sempre batalhei meu sustento dessa forma, minha irmã e eu. Mas o que se pode fazer, né? Eu preciso fazer o que faço. E quando vejo os fiscais da Prefeitura, mudo de calçada, vou pro outro lado, mas não dou chance de me tirarem minha mercadoria porque este é o meu sustento”.

Mas como é sobreviver sem um emprego com salário garantido no final do mês? Quais são as condições de trabalho para aqueles que vivem da venda ambulante ou de uma atividade rentável nas ruas da nossa cidade? Ao fotografar e entrevistar alguns trabalhadores de rua pode-se perceber que esta vida não é nada fácil. E como seria,
considerando as condições de trabalho destas pessoas?
Além das intempéries do tempo, da incerteza do lucro cotidiano e mensal, das pressões das responsabilidades e demandas familiares, das enfermidades do corpo, da impossibilidade de gerar lucro suficiente para um futuro que se torna incerto, há também a fiscalização da Prefeitura Municipal de Santa Maria sob todos estes trabalhadores da informalidade. E sobre esta questão em específico, o discurso dos profissionais informais foi unânime: “Não nos deixam trabalhar em paz nas ruas. Não nos deixam sobreviver onde queremos e achamos melhor para o nosso comércio e produtos!”.

Juliano Marafiga Cardoso, 38 anos “Olha moça, eu passei a minha vida inteira na rua. Fiz de tudo, sabe? Nós erámos em 16 irmãos e não tinha nem o que comer. Comi muito lixo pra me manter vivo. Até que consegui trabalhar na Prefeitura Municipal de Santa Maria, no governo do Schirmer e mudei um pouco o meu destino. Então melhorei de uns dezessete anos pra cá. Agora, quando mudou o prefeito, eu sai de lá e voltei pras ruas. Não é fácil, sabe? Mas tento viver dignamente. Só que preciso estar na rua. Não trancado no shopping popular, alí. Meu público não vai até lá comprar os meus panos de prato”.

João Rodrigues, 51 anos.
“Eu trabalho com venda de Cd´s e DVD´s há 15 anos. Não é uma vida muito fácil, não. Mas prefiro ser meu patrão”.

Diante de todas as dificuldades pelas quais passam estes trabalhadores, mas principalmente pelo cerceamento das condições de atuarem fora do Shopping Popular, localizado na Praça Saldanha Marinho, no centro da cidade, não há como não se colocar no lugar destes sujeitos e termos empatia por suas vidas sofridas. São pessoas que nunca
tiveram as mesmas chances que alguns têm para uma vida menos difícil ou melhor. São sujeitos que fazem o que podem para garantir sua dignidade. São seres humanos que tentam tão somente sobreviver nas ruas.

Rodrigo Pedroso da Silva, 42 anos.
“Eu quero apenas o suficiente pra minha vida”.

 

 

 

Texto e foto de Laura Fabrício, jornalista, fotógrafa e professora no curso de Jornalismo da UFN