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Santa Maria, RS, Brazil

Não nasci amando futebol

 

Foto de JESHOOTS.com no Pexels

Não nascemos amando tudo, tudo que amamos nos é apresentado pela primeira vez, às vezes vamos amar na hora e, às vezes, vamos construir esse amor. O futebol é assim, eu não nasci com gosto pelo esporte e, muito menos, com amor pelo meu time.

Lembro-me que me vendia por qualquer doce quando diziam que deveria ser colorada ou gremista, eu não entendia direito o que era torcer.

Quando pequena, jogos de futebol na TV eram quase que uma tortura e um dos tédios mais prolongados da minha vida. Havia brigas pelo controle da TV com meu irmão toda vez que tinha jogo. E eu nem entendia a raiva e a alegria que ele demonstrava com gritos, xingões e abraços quando seu time estava em campo.

Somente na adolescência eu dei a oportunidade de me sentar no sofá e acompanhar os eternos 90 minutos de bola rolando. Sabe, foi a melhor escolha que fiz! De lá em diante, não perdia um jogo sequer do meu time, sabia o nome de todos os jogadores e já sabia como as regras funcionavam. Mas não foi só isso.

Comecei a ver meu irmão com olhos diferentes nos dias de jogos, entendi a raiva dele quando um passe era dado errado e, ainda mais, sua vibração quando sai um gol ao seu favorito. Essa emoção era tão grande que contagiava, se tornava linda aos meus olhos. Foi com ele que aprendi a amar meu time e a torcer com paixão.

O meu gosto por sentar e assistir um jogo e o meu amor em torcer pelo time nasceram disso, da influência do meu irmão. Aquele com quem eu tanto brigava pelo controle da TV era, então, meu mais novo companheiro de jogo e de vida.

Foi assim que minha família se uniu, em frente à TV nos finais de domingo, acompanhados de uma bacia enorme de pipoca doce e mate, sempre de olho nos jogos.

Meu pai, que não era muito ligado em futebol, também acabou sendo contagiado por nós. Assim que meu irmão se mudou, eu logo adotei meu pai como novo companheiro de jogo.  Às vezes no meio do jogo ele dormia, pois sempre estava cansado, mas eu não ficava chateada porque ele permanecia ao meu lado sempre. Quando tinha jogo da Libertadores, ele me buscava mais cedo no cursinho, sempre me esperando com uma cervejinha e uma carne assada.

Entende o que eu quero dizer? Não é nem tanto pelo jogo que digo tudo isso. É pelo que a paixão de um time e essa vontade de fazer questão em se unir, em esperar a hora do jogo para se sentar com quem gostamos, em volta de uma lareira, na roda do mate ou na beira da churrasqueira, é a “função” que se dá somente para ver nosso time.

E foi nessa “função” que eu tinha um dos meus momentos mais sagrados e amados em família. Todos juntos, criança atrapalhando no meio da sala, barulho de gente conversando, mas aquilo que era mágico, todos ali e no final estaríamos ou comemorando ou se lamentando, mas juntos.

Hoje, infelizmente, esses encontros não vão acontecer mais com tanta frequência e nem com o mesmo sentimento. Nosso pai partiu para outros campos e vamos sentir saudade do churrasquinho que ele fazia na hora do jogo, ou da dormidinha que ele dava no meio da partida. Assistir aos jogos não vai ser a mesma coisa, não vai ter aquela graça das piadas que ele fazia ou dos gritos que ele dava de susto.

Mas sabemos o quanto ele também gostava daquele momento, vamos continuar e, a camisa do grêmio que ele tanto queria e eu dei de Natal, vai estar estendida por ele. Seguiremos com nosso amor pelo futebol, torcendo pelo nosso time e ensinando os que vierem depois de nós o quanto momentos assim são importantes. Meu pai, certamente, desejaria nos ver juntos, assim.

Que todas as famílias, apaixonadas pelo futebol se unissem assim e conseguissem enxergar o quanto esse esporte pode unir as pessoas, torná-las mais próximas e alimentar esse sentimento.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

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Não nascemos amando tudo, tudo que amamos nos é apresentado pela primeira vez, às vezes vamos amar na hora e, às vezes, vamos construir esse amor. O futebol é assim, eu não nasci com gosto pelo esporte e, muito menos, com amor pelo meu time.

Lembro-me que me vendia por qualquer doce quando diziam que deveria ser colorada ou gremista, eu não entendia direito o que era torcer.

Quando pequena, jogos de futebol na TV eram quase que uma tortura e um dos tédios mais prolongados da minha vida. Havia brigas pelo controle da TV com meu irmão toda vez que tinha jogo. E eu nem entendia a raiva e a alegria que ele demonstrava com gritos, xingões e abraços quando seu time estava em campo.

Somente na adolescência eu dei a oportunidade de me sentar no sofá e acompanhar os eternos 90 minutos de bola rolando. Sabe, foi a melhor escolha que fiz! De lá em diante, não perdia um jogo sequer do meu time, sabia o nome de todos os jogadores e já sabia como as regras funcionavam. Mas não foi só isso.

Comecei a ver meu irmão com olhos diferentes nos dias de jogos, entendi a raiva dele quando um passe era dado errado e, ainda mais, sua vibração quando sai um gol ao seu favorito. Essa emoção era tão grande que contagiava, se tornava linda aos meus olhos. Foi com ele que aprendi a amar meu time e a torcer com paixão.

O meu gosto por sentar e assistir um jogo e o meu amor em torcer pelo time nasceram disso, da influência do meu irmão. Aquele com quem eu tanto brigava pelo controle da TV era, então, meu mais novo companheiro de jogo e de vida.

Foi assim que minha família se uniu, em frente à TV nos finais de domingo, acompanhados de uma bacia enorme de pipoca doce e mate, sempre de olho nos jogos.

Meu pai, que não era muito ligado em futebol, também acabou sendo contagiado por nós. Assim que meu irmão se mudou, eu logo adotei meu pai como novo companheiro de jogo.  Às vezes no meio do jogo ele dormia, pois sempre estava cansado, mas eu não ficava chateada porque ele permanecia ao meu lado sempre. Quando tinha jogo da Libertadores, ele me buscava mais cedo no cursinho, sempre me esperando com uma cervejinha e uma carne assada.

Entende o que eu quero dizer? Não é nem tanto pelo jogo que digo tudo isso. É pelo que a paixão de um time e essa vontade de fazer questão em se unir, em esperar a hora do jogo para se sentar com quem gostamos, em volta de uma lareira, na roda do mate ou na beira da churrasqueira, é a “função” que se dá somente para ver nosso time.

E foi nessa “função” que eu tinha um dos meus momentos mais sagrados e amados em família. Todos juntos, criança atrapalhando no meio da sala, barulho de gente conversando, mas aquilo que era mágico, todos ali e no final estaríamos ou comemorando ou se lamentando, mas juntos.

Hoje, infelizmente, esses encontros não vão acontecer mais com tanta frequência e nem com o mesmo sentimento. Nosso pai partiu para outros campos e vamos sentir saudade do churrasquinho que ele fazia na hora do jogo, ou da dormidinha que ele dava no meio da partida. Assistir aos jogos não vai ser a mesma coisa, não vai ter aquela graça das piadas que ele fazia ou dos gritos que ele dava de susto.

Mas sabemos o quanto ele também gostava daquele momento, vamos continuar e, a camisa do grêmio que ele tanto queria e eu dei de Natal, vai estar estendida por ele. Seguiremos com nosso amor pelo futebol, torcendo pelo nosso time e ensinando os que vierem depois de nós o quanto momentos assim são importantes. Meu pai, certamente, desejaria nos ver juntos, assim.

Que todas as famílias, apaixonadas pelo futebol se unissem assim e conseguissem enxergar o quanto esse esporte pode unir as pessoas, torná-las mais próximas e alimentar esse sentimento.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.