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Eleições municipais: Tiago Aires prioriza mudanças no transporte coletivo

CANDIDATO DO PSOL

Santa Maria promete ter um dos pleitos eleitorais mais movimentados em 2012. Cinco candidatos concorrem à administração municipal. Entre eles, está o estudante e militante da classe trabalhadora Tiago Vasconcelos Aires, que concorre pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Aires é o mais jovem entre os candidatos e o único representante de chapa que não possui coligação com outros partidos. Nascido em 8 de abril de 1979 na cidade de São Sepé, filho de Maria Amélia Vasconcelos Aires e Pedro José Morais Aires, veio para Santa Maria aos três anos de idade.

Tiago Aires é candidato à prefeitura de Santa Maria pelo PSOL.

A diferença de idade do candidato com os demais não pode ser considerada sinônimo de inexperiência, visto que Aires milita desde os tempos de escola. Foi no ensino médio que pegou gosto pelas causas populares e estudantis. Defendeu a regulamentação dos mototaxistas durante a gestão do prefeito Valdeci Oliveira (PT), os catadores e a causa estudantil como presidente do Diretório Central dos Estudantes do Centro Universitário Franciscano (Unifra).

Uma das marcas da personalidade de Aires é a convicção em suas ideias. Em seus primeiros passos como militante político, filiou-se ao PSDB para fazer oposição ao governo Valdeci. Na época, acreditava que a legenda não tinha tanta relevância, o que importava era fazer oposição ao governo. Ao perceber que sua agenda e ideologia política não eram compatíveis com o ideário do PSDB, Aires retirou a filiação e conheceu o PSOL, partido pelo qual é candidato a prefeito de Santa Maria.

Aires reconhece que suas referências políticas (Brizola) e a antiga associação ao PSDB podem suscitar críticas de seus adversários e desconfiança de seus correligionários. Porém, se reconhece como único candidato ideologicamente de esquerda no pleito que ocorre em outubro. Além disso, não vê diferenças entre as outras chapas que concorrem à administração municipal.

Contrário à intervenção do empresariado local na agenda política, Aires pretende fazer uma administração diretamente voltada à população santa-mariense. Uma de suas prioridades é realizar mudanças nos transportes, especialmente no transporte coletivo, o qual considera que atende apenas aos interesses dos empresários.

Considera fundamental o combate à corrupção e prima pela humildade e a proximidade com a população. Partilha do cotidiano com a população e vê isso como uma característica crucial para sua administração na cidade. “O prefeito é empregado da população”, afirma.

Em sua relativamente recente história como militante, comparada aos demais candidatos, construiu uma reputação de combatividade aliada à denúncia de casos de corrupção na Câmara e no Executivo municipal.

A existência de divergências e possíveis ameaças não parecem afetar o humor ou a convicção de Aires e seus partidários. O candidato diz estar irredutível quanto às suas convicções. No entanto, pretende respeitar as divergências dentro e fora da prefeitura.

Uma promessa de Aires ao eleitorado é o retorno da consulta popular como forma de administrar os investimentos de recursos em bairros e distritos, além de estreitar os laços da administração com a comunidade.

Em relação aos eleitores, Aires apenas pede que a população tenha consciência de não se deixar levar por candidatos que sejam apoiados pela mídia e pelo poder econômico e buscar uma alternativa que possa ir ao encontro de suas aspirações, além de representar plenamente a vontade do povo.

 Leia a entrevista com Tiago Aires na íntegra.

Reportagem – Qual seu nome completo?

Tiago Aires – Tiago Vasconcelos Aires.

Reportagem – Data e local de nascimento?

Tiago Aires – Nasci em oito de abril de 1979 na cidade de São Sepé.

Reportagem – Quais os nomes de seus pais e ocupação?

 Tiago Aires – Minha mãe é Maria Amélia Vasconcelos Aires, enfermeira, e meu pai, Pedro José Morais Aires é contador.

Reportagem – Qual seu estado civil? Tem filhos?

 Tiago Aires – Sou solteiro e não tenho filhos.

Reportagem – Qual seu grau de instrução e ocupação?

 Tiago Aires – Sou estudante de Direito na Unifra e faço instalação e conserto de aparelhos de ar condicionado e câmaras frigoríficas também para custear os estudos.

Reportagem – Desde quando és filiado ao PSOL? Já esteve ligado a outro partido e já exerceu algum cargo público?

Tiago Aires – Sou filiado ao PSOL desde 2009. Anteriormente, fui ligado ao PSDB a partir de 2007. Acho importante relatar essa parte. Desde o segundo grau eu era ligado ao movimento estudantil no Grêmio estudantil da Escola Estadual Cilon Rosa. Meu envolvimento com questões políticas foi quando eu estive ligado ao movimento dos moto-taxistas durante a transição da primeira para a segunda gestão do então prefeito Valdeci Oliveira (PT). O Valdeci foi ao ponto pedir nosso voto e eu perguntei se a atividade dos moto-taxistas seria regulamentada e todos poderiam trabalhar. No entanto, havia um acordo entre as empresas do consórcio de ônibus urbanos, o sindicato dos taxistas e a prefeitura que pretendia limitar o número de moto-táxis em 267 e havia aproximadamente 500 moto-taxistas. Então, os que não fossem credenciados teriam que se tornar empregados daqueles que trabalhavam legalizados. Eu perguntei como os moto-taxistas, que já trabalhavam com sua própria moto, teriam que se subordinar a isso. Foi aí que nós começamos a realizar protestos, conseguimos barrar a lei e conseguimos garantir que todos os moto-taxistas teriam direito de trabalhar durante o governo do Valdeci.

Esse embate foi muito grande com o PT (Partido dos Trabalhadores) e, então, acabou sendo natural que eu me aproximasse da oposição. Logo me filiei ao PSDB a convite do Presidente Ricardo Jobim que me convidou para entrar para o partido. Naquela época eu pensava que todos os partidos eram iguais e que não havia diferença entre os partidos. Logo percebi que eu tinha cometido um erro. Mesmo assim eu concorri a vereador em 2008, fiz 775 votos, sem dinheiro, sem estrutura, sem nada.

Em 2009 me desfiliei do PSDB e resolvi tomar uma decisão: a de que eu precisava me filiar a um partido que representasse o que eu defendia e a minha prática. Eu defendia a ocupação da Vila Natal, defendia os moto-taxistas e os catadores do lixão. Na verdade, eu agia como político de esquerda e era filiado a um partido de direita. Foi terrível. E isso se mostrou dentro do PSDB, pois eu era tratado como um estranho e visto como um estranho.

Reportagem – Você já teve algum cargo político?

Tiago Aires – Cargo político partidário, não. Eu só considero que ocupei a presidência do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Unifra.

Reportagem – Por que você quer ser prefeito de Santa Maria?

Tiago Aires – Porque existem certas coisas que se não houver uma transformação, elas não vão mudar. Desde que eu iniciei na militância política em Santa Maria venho enfrentando a questão do transporte coletivo. Eles decidem quais são as linhas, quais são os horários, o preço da tarifa, se vai ou não vai haver licitação, são eles que mandam. E pelo que eu vi até hoje, todos os que assumiram a prefeitura tiveram a postura de beneficiar os empresários do transporte coletivo.  Eu quero transformar Santa Maria, pra colocar o povo a governar a cidade. Quem é o povo? O povo é quem anda de ônibus, é quem com esforço trabalha pra comprar um carrinho, uma moto, é aquele que tem um filho que vai usar o ônibus, que “se vira nos trinta”, aqueles trinta dias do mês. O novo prefeito tem que entender, antes de assumir, ele tem que entender de quem vai representar. Se ele vai representar as classes dominantes, se ele vai representar a classe trabalhadora. Isso tem que ficar bem claro.

Bom, e se ele vai representar a classe trabalhadora, não é a empresa de transporte coletivo, que tem uma concessão pública, que deve ser fiscalizada pela prefeitura, que vai decidir qual é o valor da tarifa. É ele quem vai tomar essa responsabilidade. É ele quem vai chegar e vai dizer “não, o preço da tarifa justo é esse”. Uma coisa fundamental é a criação de uma empresa de transporte público em Santa Maria. Pra quê? Pra que essa empresa de transporte público de saída vá a todas as linhas da cidade e diga: “olha, o preço da tarifa é esse”. Aí vem uma empresa e diz: “eu não opero com esse preço”. Ora, se não opera com esse preço, entrega a concessão. Se não trabalhar com esse preço, entrega. Vai participar de licitações de transporte em outra cidade.

Eu venho lutando com essa questão do transporte coletivo há bastante tempo e não só essa questão, outras questões também. E me chamou a atenção, a Câmara de Vereadores completamente silenciada. Formaram uma comissão para discutir a qualidade do transporte. Essa comissão, na verdade, realizou audiências públicas. Para que serviram essas audiências públicas? Para propagandear a ATU (Associação dos Transportadores Urbanos de Passageiros de Santa Maria).

Eu cheguei um dia a ser agredido pelo Luiz Fernando Maffini, presidente da ATU. Ele falou que eu não ia me eleger, que eu era um “playboy” e isso não é verdade. Eu sou de família pobre, batalhamos um horror. Só pra deixar claro: quem vai assumir (a prefeitura) é um candidato que entende que precisa transformar Santa Maria, e representa um partido e um programa de partido. Não é um projeto pessoal do Tiago. É o Tiago que tem a consciência que esse projeto e esse partido representam essa transformação. Que podem realizar essa transformação.

Reportagem – Além desse projeto dos transportes, tens outros planos de governo?

Tiago Aires – Sim. A questão do lixo, por exemplo, é fundamental. Agora assumiu o Grupo Solvi que é o grupo proprietário da Revita (empresa que trabalha com recolhimento e transporte do lixoem Santa Maria). Sabe quanto a prefeitura paga por cada contêiner de lixo? Mais de 400 reais. Isso por mês de aluguel para a empresa concessionária.

A gente tem um projeto de… em primeiro lugar: como é que tu vai pagar mensalmente um contêiner que custa 400, se o contêiner custa quatro mil? Tu compras o contêiner em dez meses. Quer dizer que em um ano tu compra aquele contêiner. Esse contêiner vai durar quinze, doze anos. Isso é muito grave, o desperdício de dinheiro público.

Então, a gente quer fazer o quê: fazer uma usina de reciclagem pra gerar renda, gerar trabalho para os catadores, não só para os catadores que ficavam na cidade, os catadores que trabalhavam no lixão, eu convivi com aquele pessoal. Esse é um projeto que a gente tem.

Outra questão, o orçamento participativo. Precisa voltar o Orçamento Participativo (consulta popular). Se vocês virem o governo Valdeci (Valdeci Oliveira, prefeito de Santa Maria eleito pelo PT em 2001 e reeleito em 2004), no primeiro governo ele fez o Orçamento Participativo. No segundo, eu até coloquei uma faixa na Câmara de Vereadores, ele (Valdeci) trocou o Orçamento Participativo pela Cacism (Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria). Quer dizer, ao invés de a população dizer o que era prioridade para ela, a Cacism passou a dizer quais eram as prioridades para ela. Tanto que uma das prioridades da Cacism era economizar trinta e cinco milhões e construir um centro de eventos com dinheiro público.

Tivemos um seminário, vamos fechar vários projetos. Eu tenho uma participação forte nesse programa (de Orçamento Participativo), mas esse programa não é só meu. E, por exemplo, quem vai fazer o nosso programa de saúde, quem vai bater o martelo sobre a saúde são profissionais de saúde e que trabalham com saúde. Não sou eu que vou falar como vamos lidar com a questão da saúde, é quem entende de saúde.

Eu, por exemplo, sou filho de enfermeira. Situação que me marcou bastante foi quando a mãe fez greve, apesar de ser servidora pública federal, vinculada ao Ministério do Exército, uma situação complicada e, mesmo assim, ela fez greve. Foi bem interessante isso.

Reportagem – Existe questões indefinidas ainda (sobre o programa de governo)?

 Tiago Aires – Isso. Estão sendo trabalhadas. Na questão da saúde vamos valorizar a saúde preventiva e aumentar os postos de saúde.

Reportagem – Qual a importância das coligações partidárias para vencer a eleição e administrar a cidade?

Tiago Aires – Depende do tipo de coligação. As coligações que a gente vê é no sentido de alugar as siglas (partidos) pra espaço de televisão e tempo de rádio. Chegamos a dialogar com o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro) pra fazer uma frente de esquerda, que acabou inviabilizada e foi da seguinte forma: nós conversamos com o PSTU e PCB e em uma reunião com o PSTU e havia meu nome como pré-candidato e o PSTU falou que não tinha problema nenhum com meu nome. Então a gente reforçou, fizemos uma reunião e eu perguntei vocês não vetam então? Não, nós (PSTU) não vetamos o nome. Então nós passamos para um congresso, fizemos uma conferência, e meu nome foi indicado como unanimidade, inclusive unificando o partido, que não estava unificado. E o PSTU veio a vetar o meu nome logo após a conferência. Então o PSTU lançou uma nota e lançou na imprensa, atacando meu nome, atacando o partido (PSOL) e como eu sou vice-presidente do PSOL, houve esse ataque e nós terminamos por não fazer coligação com eles. Não fizemos a frente de esquerda com eles.

E qual importância tem a coligação? A única coligação que tem importância é aquela coligação de quem o governante vai representar. Eu tenho dito isso, a nossa coligação vai se dar com o povo nas ruas e nas urnas. Porque a gente vai conseguir dialogar na população e mostrar essas contradições que vocês sabem que tem hoje. Vocês sabem que tá posto hoje no processo eleitoral é que tem um acordo nacional entre PT e PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), que por isso a candidata é a Helen Cabral (PT) e não Paulo Pimenta ou Fabiano Pereira que poderiam vir com chances de disputar a prefeitura. É por isso que o PT recua e traz Helen Cabral, que é pra permitir que o PMDB continue governando Santa Maria. A gente entende que tem que romper com isso, tem que denunciar para a população e demonstrar qual é a possibilidade que a gente apresenta.

Reportagem – Tu vês um principal adversário na eleição?

Tiago Aires – Apesar de todos os adversários que tem, a gente os coloca no mesmo bloco. A gente os vê como um só. Pelo seguinte, eu não tenho receio de dizer isso. Essa articulação que o PSTU fez teve uma influência externa. A gente tem informações sobre isso, mas tem uma influência externa dentro do PSTU. O PSTU está a serviço do PSDB, do PT e do PMDB em Santa Maria. Então colocamos o PSTU na trincheira do PT, do PMDB e do PSDB na cidade. O nosso adversário é esse.

Mas na verdade, o nosso grande adversário é o poder econômico e a imprensa que escolhe quem são os principais candidatos. O que a imprensa faz? Tem o tempo de televisão e o tempo de rádio, aí ela coloca o título primeiro que o Schirmer (candidato pelo PMDB), que o Pozzobom (candidato pelo PSDB) e a Helen (candidata pelo PT) terão cinco minutos, aí lá embaixo aparece o Tiago e o Jefferson do PSTU. Quer dizer, vocês vão ler várias reportagens em que a Helen, o Schirmer e o Pozzobom e, muitas vezes, não vão nem citar o Tiago, nem o Jefferson do PSTU. É como se a imprensa pré-escolhesse são os candidatos que devem vencer e que devem estar a postos para a população.

O que me chama a atenção é  justamente a imprensa, que não quer ser regulada, dizer que é antidemocrático. Pois eu acho antidemocrático fazer isso. Todos os candidatos, pelo menos quando a imprensa vai colocar como matéria jornalística, vai lá (deveria) colocar “Eleições 2012″, espaços iguais, mesmo tratamento, sem diferenças.

Reportagem – Tu vês uma maneira de investir mais em saúde e educação?

Tiago Aires – Vou dar um exemplo bem claro: 80 mil reais foram mandados para uma escola de samba de Porto Alegre. Era prioridade mandar 80 mil reais para uma escola de samba de Porto Alegre? E eu pergunto a vocês o seguinte: no ano passado voltaram mais de 20 milhões de reais de verba federal para a saúde, que não foi aplicada porque não tinha projeto para ser aplicado aqui em Santa Maria. Então essa verba voltou para o governo federal. Então, 20 milhões em um universo de 400 milhões, que o ano passado estava em 440 milhões no orçamento para esse ano, 20 milhões são dez por cento do orçamento. Isso é um senhor aporte para ser aplicado na saúde. E por que isso não foi aplicado?

Tem que ter projeto pra poder aplicar verba e não deixar esse recurso voltar, sendo que esse recurso tá aqui à disposição para Santa Maria. Eu estive gripado, fui ao UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e levei três horas para ser atendido. Eu pergunto o seguinte: a população tem todo esse tempo para ser atendido, vem verba federal prevista para fazer aquilo ali (UPA), pronto há bastante tempo e agora faz, divulga aos quatro cantos que foi a essa administração que realizou, há certo uso da máquina pública,e eu acho bem complicado isso. Eu acho que o prefeito, quando ele administra a saúde, é responsável pela saúde, ele tem que se tratar em postos de saúde. Poderiam dizer que isso foi populista, mas o cara que é responsável pelos postos de saúde da cidade, ele tem que se tratar no sistema que é responsável e que impões para aqueles que votam nele. Ele não pode ir pro Caridade (Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo), um hospital particular. Vai se tratar naquilo que eu ofereço à população. Isso é uma das coisas que eu quero fazer. Vou me tratar no sistema público de saúde. Acho que isso é bem palpável.

Reportagem – E em relação à educação?

Tiago Aires – Não sei se vocês lembram, teve um projeto aqui em Santa Maria que era o Centro de Cultura e Informação para adolescentes. Esse projeto fechou. Ele atendia crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. As crianças eram atendidas em horário inverso ao da escola. Tinha aula pela manhã, à tarde fazia cursos de fotografia, de informática… e esse projeto fechou. Veio uma verba de 357 mil reais e foram desviados 186 mil reais dessa verba. Houve uma confusão. Pessoas importantes tiveram bens bloqueados, pessoas importantes, vereadores, uma vereadora na época, o prefeito foi condenado pelo Tribunal de Contas da União.

Então, o prefeito tem que combater a corrupção. Se tu cada vez falares em saúde e educação, se tu não combateres a corrupção, tu não vai conseguir fazer um governo que atenda às necessidades da população.

O projeto nosso de ter escola em horário integral, pelo menos oferecer horário integral. Que tenha uma forma de ocupar essas crianças com outras atividades, atividades culturais, por exemplo.

Outra questão importante é a valorização dos professores. A questão salarial é sempre importante. Uma prefeitura não pode cooptar os sindicatos, precisa trazer representação dos trabalhadores, para discutir, pra fazer contas. Não pode ser uma coisa assim: “equipe financeira do governo vai decidir… o prefeito vai dizer se dá ou não…”, tem que ter a transparência pra trazer a categoria e pra dizer: essas são as possibilidades e valorizar esses trabalhadores. Para se ter uma educação digna.

Reportagem – Como resolver ou amenizar os problemas de mobilidade urbana na região central da cidade?

 Tiago Aires – Temos levantado algumas questões. Existem certas coisas que esbarram em interesses econômicos. Na nossa administração isso não vai esbarrar. O interesse da coletividade é maior. Se houver um interesse econômico, ele vai ser suprimido em favor da do interesse da população. Por exemplo, na Floriano estão terríveis os engarrafamentos. Temos estudado algumas questões de se fazer elevados para desafogar o trânsito. Eu fui moto-taxista, então eu conheço muito bem o trânsito da cidade. Então, a gente está fechando algumas mudanças para resolver os problemas do trânsito.

Reportagem – Como oferecer uma melhor estrutura para os moradores dos distritos?

Tiago Aires – Uma coisa que eu achei terrível nesse governo Schirmer foi que ele acabou com a eleição de subprefeito para as subprefeituras. Acho isso ditatorial. Para resolver essas questões, é preciso ter gente que more lá (nos distritos). Não és tu que vai nomear, mesmo que seja alguém que more lá. Tem que ter alguém que more lá e que tenha a confiança da comunidade e sabia passar as necessidades da comunidade. Não adianta alguém que queira agradar o prefeito, que é isso que acontece, ou que tenha medo de falar por que pode perder o cargo. Tem que ser alguém eleito lá e dizer à prefeitura o que deve ser feito pela comunidade. Outra coisa, prefeito não pode ser celebridade, prefeito não é “a autoridade senhor prefeito”. Prefeito é empregado da população de Santa Maria. O prefeito tem que ser a pessoa mais humilde do lugar. Porque ele está a serviço de todos. Quando começarmos nossas visitas aos distritos nesse processo eleitoral, as pessoas te veem como candidato e te trazem as necessidades que tu não sabes hoje, mas elas acabam te passando durante esse processo. Então queremos fazer isso: participação popular da cidade. O prefeito não é celebridade. Ele não é importante. Quem é importante é a população e o prefeito é empregado dessa população.

Reportagem – De que maneira tu pretende equilibrar os investimentos em vilas, bairros e região central da cidade?

Tiago Aires – Vamos dizer assim: um bairro tá todo asfaltado, tem saneamento. Esse bairro não vai precisar muito investimento, então eu tenho que fazer um levantamento de saneamento, moradias para poder distribuir esses investimentos onde mais se precisa. E não adianta eu dizer, por exemplo, qual a prioridade bairro Camobi por que eu não moro lá. Quem vai dizer o que é prioridade do bairro de Camobi é a população. Então eu vou dizer que temos verbas para serem investidas aqui no bairro e a população vai dizer qual é a prioridade ou até mesmo antes de conseguir a verba(…) então cabe ao prefeito buscar esses recursos.

Reportagem – Como lidar com a questão da poluição, do desmatamento e do lixo?

Tiago Aires – Eu tenho andado a pé pela cidade, por quê? Por que quando tu andas muito de moto ou de carro, tu não enxergas a cidade direito. Acaba passando muito rápido pelos lugares. Se tu andas a pé tu pensa, puxa! Como eu não vi isso?  E aonde eu tenho andado, eu tenho visto muito lixo pela cidade. Mas tem uma questão, o sistema que a gente tem hoje, o capitalista, o sistema de consumo gera muito lixo e não existe essa questão da sustentabilidade. A sustentabilidade é uma questão de se abordar para amenizar o problema.

Qual é o grande problema hoje que eu como prefeito talvez não consiga resolver? Os produtos que são vendidos hoje, como uma máquina de lavar, não são produzidos para atender a necessidade de quem precisa de uma máquina de lavar. Ele é produzido para atender à necessidade de lucro de quem produz isso. Eu falo isso por que eu trabalho com isso também, as empresas têm reduzido de qualidade dos materiais e reduz também a durabilidade dos materiais cada vez mais. Então ,as empresas não se preocupam se estão produzindo uma máquina que dura um ano. Quando essa máquina estraga, as peças custam metade do valor de uma máquina nova, então essa máquina é jogada fora, vai para a natureza, então se compra uma nova. Teremos que entrar em uma discussão nacional sobre isso.

Com relação ao lixo, é preciso uma revisão do contrato de limpeza concessionário do lixo e fazer campanhas educativas permanentes e  levar isso para as escolas. Agora até eu vi, coisa que nunca tinha acontecido, um mutirão para limpeza das calçadas da cidade. Como é período eleitoral a gente vê um monte de coisa.

É preciso isso ser permanente. Ter grupo de limpeza, de capina… É preciso que o prefeito acompanhe isso, o prefeito tem que andar pela cidade, ele vive na cidade. Ele sai da prefeitura, anda pela cidade e cobra das secretarias as soluções dos problemas.

Veja os casos das ruas. Existem ruas que são históricas pela presença de buracos na pista e essa administração (Schirmer) não fez nada sobre isso.

Reportagem – Como avalia a Santa Maria que temos e a Santa Maria que queremos?

Tiago Aires – Eu volto à questão dos transportes. A empresa de concessão pública (ATU) financia programas de TV e anuncia em jornais para silenciar a imprensa. O prefeito contrata radialistas e silencia a imprensa. Temos uma tarifa que o coeficiente do óleo lubrificante que custa 17 vezes mais que o praticado em Porto Alegre. Para dizer pouco, nós temos uma roubalheira no sistema de transporte coletivo.

Quem é que fala sobre isso? Que eu me lembre, no jornal eu só vi isso uma vez quando numa reunião no CMT (Conselho Municipal de Transportes) eu entrei e falei da corrupção em Dourados no Estado do Mato Grosso,em São Borja e falei da questão da corrupção aqui em Santa Maria. Eu não me lembro de haver mais debates sobre isso.

No momento do aumento das tarifas nós fazemos esses debates com o pessoal que é contra, mas não tem aquela força. Então é um grande problema, é uma cidade que está dominada pelo poder econômico que cala a imprensa.

Por exemplo, chega a época de festas de natal os líderes comunitários chegam lá na Medianeira (Expresso Medianeira, empresa de transporte coletivo que faz parte da ATU) e saem com 150, 200 reais de “doação” para realizar sua festinha de natal.

Só que quanto foi tomado dos trabalhadores quando foi aumentado em vinte centavos o preço da passagem? Se pegar 20 centavos, vamos dizer que por dia use quatro passagens, isso dá 80 centavos de aumento por dia. Em um mês, vamos colocar 20 vezes. São 16 reais de aumento. Coloca isso em um ano de um pai, e aí depois vê se um único pai daquela comunidade eles (as empresas) não tiram esses 200 reais para dar pra festa de natal. E aí fica todo mundo dominado.

Durante essas audiências públicas havia líderes comunitários que defendiam as empresas e a ATU. Eles dominam algumas lideranças comunitárias, dominam a imprensa, dominam o poder executivo, dominam todo mundo. E o que a gente propõe: ter um governante, ter um projeto político, um programa de governo que rompa com isso e que diga que dessa vez, que vai governar Santa Maria é o povo. Pode ser quem eles não gostem, com certeza não vão gostar, as empresas vão fazer campanha contra a gente. Até quando o cara (Maffini) me xingava na câmara e me atacava, pra mim era um elogio ser atacado por esse tipo de pessoa.

Reportagem – Qual a importância de ter uma boa relação com os governos estadual e federal?

Tiago Aires – Essa boa relação com esses governos, temos várias divergências com os governos estadual e federal. Por exemplo, com o governo estadual, a última divergência foi na questão do piso dos professores que não está sendo aplicado. A importância disso é que nós vamos ter uma relação como Santa Maria. Quem é que vai governar a cidade? Se formos nós, nós teremos uma relação de respeito nos diálogos, na conversa. Boa relação vai ter que ter, mesmo sendo nós. Mas essa boa relação não quer dizer a não crítica. Nós vamos estar como representantes de Santa Maria e defender os interesses da cidade, mas vamos deixar bem claro nossa postura frente às políticas do governo estadual e do governo federal.

Reportagem – Quem são as suas referências na área política e por quê?

Tiago Aires – Eu posso até ser criticado por isso, mas eu sou brizolista, sabe? Brizola pela luta. E depois a Heloisa Helena – eu coloquei som quando ela veio com a Luciana Genro a Santa Maria. São minhas referências. Brizola pela história de luta. Tem uma parte engraçada que ele já dizia antes do PT assumir o governo que o PT não era socialista, que mesmo que o Lula ganhasse o PT não faria um governo socialista. Perguntaram o porquê da afirmação e ele responde mostrando a equipe econômica do Lula que incluía Aloizio Mercadante e que seriam neoliberais.

Reportagem – O noticiário político apresenta muitos casos de corrupção, como evitar isso?

Tiago Aires – Postura do prefeito no governo municipal. Aqui em Santa Maria nós temos um caso do Secretário de Infraestrutura e Obras Tubias Calil, que fez uso do serviço da Sul Clean, empresa que faz a limpeza das ruas da cidade para limpar seu comitê de eleitoral. Foi denunciado ao Ministério Público por improbidade administrativa.

Que dizer, usar uma empresa que presta um serviço público para a prefeitura municipal em um caso particular, tem que deixar de ser secretário na mesma hora. Não ocorreu isso no governo Schirmer. Continuou como secretário e foi candidato a deputado estadual. Complicadíssimo.

Governante tem que ter postura. Eu uso como exemplo quando eu entrei no DCE da Unifra, na primeira reunião de formação da chapa que ia concorrer. Na mesa estavam umas oito pessoas e eu falei: “galera, eu quero deixar umas coisas bem claras aqui. Quem vai formar chapa não pode querer ou pelo menos ter pretensão de ser professor da Unifra ou de fazer ‘média’ com a direção da Unifra. Porque quando terminar a nossa gestão, não vamos desrespeitar a direção da Unifra, mas eles vão dar ‘graças a deus’ de nós termos ido embora”. Porque nós vamos representar os estudantes da Unifra. E foi o que aconteceu. Há pouco tivemos uma assembleia que foi proibida, coisa que eu acho que pela primeira vez na história. Tivemos que trazer som de fora, foi um problema. O que eu quero dizer é que o governante tem que saber de quem ele vai se cercar. É claro que tu não vai conseguir saber tudo de todo mundo. O que tu tens que fazer é falar para essa pessoa que vai trabalhar contigo, que vai ser secretário, que vai ser cargo de confiança, quer dizer, ele não é cargo de confiança tua, tem alguma confiança para nomear, e mesmo aqueles mais longínquos do prefeito tem que saber quais são as regras da administração. Tem que saber qual é a forma da governar.

Agora eu fico me perguntando: como fica um funcionário que vê o que o secretário (Tubias) fazer isso, continuar secretário e andando de mão com o prefeito? Tem alguma coisa errada aí. Isso não é exemplo para ninguém.

Eu tenho um histórico de combate à corrupção. Eu denunciei os vereadores que foram para o Paraguai. Eu pedi a cassação do prefeito Valdeci (PT) por coisas que ele veio a ser condenado depois pelo Tribunal de Contas do Estado e no Tribunal de Contas da União. Pedi a cassação da vereadora que desviou os 186 mil reais de verba federal. Pedi a cassação do vereador João Carlos Maciel (PMDB) por desvio de salário de assessoria. Vocês vão ver um detalhe, quando eu pedi a cassação do vereador Maciel, eu apresentei gravações de áudio retiradas do site do Claudemir Pereira. Gravei em CD e anexei ao processo. Deu mais de 20 páginas, dando direito à ampla defesa, mas pedindo a cassação dele.  Só que a câmara vota o quê? Se aberto um processo, tem que ser apresentado.

O que aconteceu? Reuniram os 14 vereadores na sala do então presidente da câmara Paulo Airton Denardin e decidiram não ler a denúncia, sequer ler a denúncia! E se tu fores ver o Decreto no. 201/67 diz que o presidente de posse da denúncia deve fazer a leitura na primeira sessão. Decidiram não ler.

Vocês vão me perguntar quem eram os vereadores? Estavam no meio disso a vereadora Helen Cabral (PT), que é candidata, e Admar Pozzobom (PSDB), irmão do candidato Jorge Pozzobom. Quero ver qual a corrupção que eles vão combater. Eu acompanhei bastante a questão na câmara de vereadores.

Eu sei que vocês (reportagem) estão gravando, mas isso eu tenho que dizer por que é muito sério: a câmara de vereadores acaba se tornando um nascedouro de corrupção. Porque a população olha e diz, “o cara (João Carlos Maciel) desviou salário e continua lá”. Ele (Maciel) obrigava as pessoas a darem, tem isso gravado: “ou dá ou vai pra rua”. Tenho isso em áudio, se pesquisar no site do Claudemir tu vais achar, a menos que por motivo de força maior tenham sido retirados. Então é complicadíssimo.

Quando eu pedi a cassação do Valdeci (PT), eu tinha recebido três ameaças de morte. Eu recebi duas que eu atendi o telefone. Quando eu recebi a terceira, o meu irmão quem atendeu o telefone. Quando ele atendeu, perguntaram: “ – o Tiago tá aí? – Não. – Que tu é dele? – Sou irmão dele.

Então tu diz pra ele que nós vamos pegar ele e quebrar as duas pernas dele. E se nós não achar ele vamos quebrar as tuas”. Só que ele na minha frente falando no telefone e eu olhando. Quando eu recebi aquela ameaça…

Por isso que eu digo pra vocês que dessa vez muitas forças vão lutar para que a gente não consiga. Mas pode vir a ameaça que for, a intimidação que for não vai haver um recuo. Não vai haver um recuo e não vai haver uma mudança de postura. E a galera do PSOL, nossa galera identifica isso e por isso que eu sou o candidato que unificou o partido.

Reportagem – Tem algum recado para os eleitores?

Tiago Aires – Nessa eleição a população tem que identificar quem as representa. E uma coisa, muita gente vai dizer “não joga teu voto fora” e “tem que votar no candidato que vai ganhar”. Eu digo que não jogar o voto fora é não votar naquele candidato que aquela pessoa quer que ganhe. É isso que eu digo, vejam quem são os candidatos, vejam quais são os projetos.

Estamos terminando a confecção do meu perfil detalhado, tem muita coisa. Por exemplo, tem um pedido que eu fiz de denúncia por corrupção ativa contra o Valdeci, que envolvia a vereadora Anita Costa Beber (PR) e Julinho Brenner (PSDB), porque eu fiz um abaixo-assinado contra a criação da taxa de iluminação pública, e esse abaixo-assinado foi muito importante pra mim. Por que o quê aconteceu? As pessoas chegavam para assinar e ligavam para o vereador na minha frente perguntando: “o quê? Vão criar mais uma taxa para nós pagarmos”? Colocavam no viva voz para eu ouvir e completavam: “seu sem-vergonha! Ou tu vota contra isso ou eu nunca mais voto em ti”! Então aquilo gerou um sentimento que acabou refletindo na câmara de vereadores. Foram 5207 mil assinaturas. Conseguimos barrar a taxa de iluminação pública.

O que eu quero dizer é que a população precisa entender a importância que ela tem. Quando eu digo que as coisas vão mudar na política local e na nacional, quando nós conseguirmos colocar mais pessoas numa manifestação política do que em uma procissão de Nossa Senhora Medianeira. Vejam quem são os candidatos e votem naqueles que vocês querem que ganhe e só assim vai ser possível mudar, porque senão vai continuar ganhando sempre aqueles que a imprensa financiada pelas empresas, pelas concessionárias de transporte coletivo, pela empresa do lixo… Esses é que vão continuar ganhando.

Texto e foto:Yuri Weber, João Miranda, Vinicius Martins e Bruna Severo

Edição: Gilson Piber

Edição de web: Rosana Zucolo

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CANDIDATO DO PSOL

Santa Maria promete ter um dos pleitos eleitorais mais movimentados em 2012. Cinco candidatos concorrem à administração municipal. Entre eles, está o estudante e militante da classe trabalhadora Tiago Vasconcelos Aires, que concorre pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Aires é o mais jovem entre os candidatos e o único representante de chapa que não possui coligação com outros partidos. Nascido em 8 de abril de 1979 na cidade de São Sepé, filho de Maria Amélia Vasconcelos Aires e Pedro José Morais Aires, veio para Santa Maria aos três anos de idade.

Tiago Aires é candidato à prefeitura de Santa Maria pelo PSOL.

A diferença de idade do candidato com os demais não pode ser considerada sinônimo de inexperiência, visto que Aires milita desde os tempos de escola. Foi no ensino médio que pegou gosto pelas causas populares e estudantis. Defendeu a regulamentação dos mototaxistas durante a gestão do prefeito Valdeci Oliveira (PT), os catadores e a causa estudantil como presidente do Diretório Central dos Estudantes do Centro Universitário Franciscano (Unifra).

Uma das marcas da personalidade de Aires é a convicção em suas ideias. Em seus primeiros passos como militante político, filiou-se ao PSDB para fazer oposição ao governo Valdeci. Na época, acreditava que a legenda não tinha tanta relevância, o que importava era fazer oposição ao governo. Ao perceber que sua agenda e ideologia política não eram compatíveis com o ideário do PSDB, Aires retirou a filiação e conheceu o PSOL, partido pelo qual é candidato a prefeito de Santa Maria.

Aires reconhece que suas referências políticas (Brizola) e a antiga associação ao PSDB podem suscitar críticas de seus adversários e desconfiança de seus correligionários. Porém, se reconhece como único candidato ideologicamente de esquerda no pleito que ocorre em outubro. Além disso, não vê diferenças entre as outras chapas que concorrem à administração municipal.

Contrário à intervenção do empresariado local na agenda política, Aires pretende fazer uma administração diretamente voltada à população santa-mariense. Uma de suas prioridades é realizar mudanças nos transportes, especialmente no transporte coletivo, o qual considera que atende apenas aos interesses dos empresários.

Considera fundamental o combate à corrupção e prima pela humildade e a proximidade com a população. Partilha do cotidiano com a população e vê isso como uma característica crucial para sua administração na cidade. “O prefeito é empregado da população”, afirma.

Em sua relativamente recente história como militante, comparada aos demais candidatos, construiu uma reputação de combatividade aliada à denúncia de casos de corrupção na Câmara e no Executivo municipal.

A existência de divergências e possíveis ameaças não parecem afetar o humor ou a convicção de Aires e seus partidários. O candidato diz estar irredutível quanto às suas convicções. No entanto, pretende respeitar as divergências dentro e fora da prefeitura.

Uma promessa de Aires ao eleitorado é o retorno da consulta popular como forma de administrar os investimentos de recursos em bairros e distritos, além de estreitar os laços da administração com a comunidade.

Em relação aos eleitores, Aires apenas pede que a população tenha consciência de não se deixar levar por candidatos que sejam apoiados pela mídia e pelo poder econômico e buscar uma alternativa que possa ir ao encontro de suas aspirações, além de representar plenamente a vontade do povo.

 Leia a entrevista com Tiago Aires na íntegra.

Reportagem – Qual seu nome completo?

Tiago Aires – Tiago Vasconcelos Aires.

Reportagem – Data e local de nascimento?

Tiago Aires – Nasci em oito de abril de 1979 na cidade de São Sepé.

Reportagem – Quais os nomes de seus pais e ocupação?

 Tiago Aires – Minha mãe é Maria Amélia Vasconcelos Aires, enfermeira, e meu pai, Pedro José Morais Aires é contador.

Reportagem – Qual seu estado civil? Tem filhos?

 Tiago Aires – Sou solteiro e não tenho filhos.

Reportagem – Qual seu grau de instrução e ocupação?

 Tiago Aires – Sou estudante de Direito na Unifra e faço instalação e conserto de aparelhos de ar condicionado e câmaras frigoríficas também para custear os estudos.

Reportagem – Desde quando és filiado ao PSOL? Já esteve ligado a outro partido e já exerceu algum cargo público?

Tiago Aires – Sou filiado ao PSOL desde 2009. Anteriormente, fui ligado ao PSDB a partir de 2007. Acho importante relatar essa parte. Desde o segundo grau eu era ligado ao movimento estudantil no Grêmio estudantil da Escola Estadual Cilon Rosa. Meu envolvimento com questões políticas foi quando eu estive ligado ao movimento dos moto-taxistas durante a transição da primeira para a segunda gestão do então prefeito Valdeci Oliveira (PT). O Valdeci foi ao ponto pedir nosso voto e eu perguntei se a atividade dos moto-taxistas seria regulamentada e todos poderiam trabalhar. No entanto, havia um acordo entre as empresas do consórcio de ônibus urbanos, o sindicato dos taxistas e a prefeitura que pretendia limitar o número de moto-táxis em 267 e havia aproximadamente 500 moto-taxistas. Então, os que não fossem credenciados teriam que se tornar empregados daqueles que trabalhavam legalizados. Eu perguntei como os moto-taxistas, que já trabalhavam com sua própria moto, teriam que se subordinar a isso. Foi aí que nós começamos a realizar protestos, conseguimos barrar a lei e conseguimos garantir que todos os moto-taxistas teriam direito de trabalhar durante o governo do Valdeci.

Esse embate foi muito grande com o PT (Partido dos Trabalhadores) e, então, acabou sendo natural que eu me aproximasse da oposição. Logo me filiei ao PSDB a convite do Presidente Ricardo Jobim que me convidou para entrar para o partido. Naquela época eu pensava que todos os partidos eram iguais e que não havia diferença entre os partidos. Logo percebi que eu tinha cometido um erro. Mesmo assim eu concorri a vereador em 2008, fiz 775 votos, sem dinheiro, sem estrutura, sem nada.

Em 2009 me desfiliei do PSDB e resolvi tomar uma decisão: a de que eu precisava me filiar a um partido que representasse o que eu defendia e a minha prática. Eu defendia a ocupação da Vila Natal, defendia os moto-taxistas e os catadores do lixão. Na verdade, eu agia como político de esquerda e era filiado a um partido de direita. Foi terrível. E isso se mostrou dentro do PSDB, pois eu era tratado como um estranho e visto como um estranho.

Reportagem – Você já teve algum cargo político?

Tiago Aires – Cargo político partidário, não. Eu só considero que ocupei a presidência do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Unifra.

Reportagem – Por que você quer ser prefeito de Santa Maria?

Tiago Aires – Porque existem certas coisas que se não houver uma transformação, elas não vão mudar. Desde que eu iniciei na militância política em Santa Maria venho enfrentando a questão do transporte coletivo. Eles decidem quais são as linhas, quais são os horários, o preço da tarifa, se vai ou não vai haver licitação, são eles que mandam. E pelo que eu vi até hoje, todos os que assumiram a prefeitura tiveram a postura de beneficiar os empresários do transporte coletivo.  Eu quero transformar Santa Maria, pra colocar o povo a governar a cidade. Quem é o povo? O povo é quem anda de ônibus, é quem com esforço trabalha pra comprar um carrinho, uma moto, é aquele que tem um filho que vai usar o ônibus, que “se vira nos trinta”, aqueles trinta dias do mês. O novo prefeito tem que entender, antes de assumir, ele tem que entender de quem vai representar. Se ele vai representar as classes dominantes, se ele vai representar a classe trabalhadora. Isso tem que ficar bem claro.

Bom, e se ele vai representar a classe trabalhadora, não é a empresa de transporte coletivo, que tem uma concessão pública, que deve ser fiscalizada pela prefeitura, que vai decidir qual é o valor da tarifa. É ele quem vai tomar essa responsabilidade. É ele quem vai chegar e vai dizer “não, o preço da tarifa justo é esse”. Uma coisa fundamental é a criação de uma empresa de transporte público em Santa Maria. Pra quê? Pra que essa empresa de transporte público de saída vá a todas as linhas da cidade e diga: “olha, o preço da tarifa é esse”. Aí vem uma empresa e diz: “eu não opero com esse preço”. Ora, se não opera com esse preço, entrega a concessão. Se não trabalhar com esse preço, entrega. Vai participar de licitações de transporte em outra cidade.

Eu venho lutando com essa questão do transporte coletivo há bastante tempo e não só essa questão, outras questões também. E me chamou a atenção, a Câmara de Vereadores completamente silenciada. Formaram uma comissão para discutir a qualidade do transporte. Essa comissão, na verdade, realizou audiências públicas. Para que serviram essas audiências públicas? Para propagandear a ATU (Associação dos Transportadores Urbanos de Passageiros de Santa Maria).

Eu cheguei um dia a ser agredido pelo Luiz Fernando Maffini, presidente da ATU. Ele falou que eu não ia me eleger, que eu era um “playboy” e isso não é verdade. Eu sou de família pobre, batalhamos um horror. Só pra deixar claro: quem vai assumir (a prefeitura) é um candidato que entende que precisa transformar Santa Maria, e representa um partido e um programa de partido. Não é um projeto pessoal do Tiago. É o Tiago que tem a consciência que esse projeto e esse partido representam essa transformação. Que podem realizar essa transformação.

Reportagem – Além desse projeto dos transportes, tens outros planos de governo?

Tiago Aires – Sim. A questão do lixo, por exemplo, é fundamental. Agora assumiu o Grupo Solvi que é o grupo proprietário da Revita (empresa que trabalha com recolhimento e transporte do lixoem Santa Maria). Sabe quanto a prefeitura paga por cada contêiner de lixo? Mais de 400 reais. Isso por mês de aluguel para a empresa concessionária.

A gente tem um projeto de… em primeiro lugar: como é que tu vai pagar mensalmente um contêiner que custa 400, se o contêiner custa quatro mil? Tu compras o contêiner em dez meses. Quer dizer que em um ano tu compra aquele contêiner. Esse contêiner vai durar quinze, doze anos. Isso é muito grave, o desperdício de dinheiro público.

Então, a gente quer fazer o quê: fazer uma usina de reciclagem pra gerar renda, gerar trabalho para os catadores, não só para os catadores que ficavam na cidade, os catadores que trabalhavam no lixão, eu convivi com aquele pessoal. Esse é um projeto que a gente tem.

Outra questão, o orçamento participativo. Precisa voltar o Orçamento Participativo (consulta popular). Se vocês virem o governo Valdeci (Valdeci Oliveira, prefeito de Santa Maria eleito pelo PT em 2001 e reeleito em 2004), no primeiro governo ele fez o Orçamento Participativo. No segundo, eu até coloquei uma faixa na Câmara de Vereadores, ele (Valdeci) trocou o Orçamento Participativo pela Cacism (Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria). Quer dizer, ao invés de a população dizer o que era prioridade para ela, a Cacism passou a dizer quais eram as prioridades para ela. Tanto que uma das prioridades da Cacism era economizar trinta e cinco milhões e construir um centro de eventos com dinheiro público.

Tivemos um seminário, vamos fechar vários projetos. Eu tenho uma participação forte nesse programa (de Orçamento Participativo), mas esse programa não é só meu. E, por exemplo, quem vai fazer o nosso programa de saúde, quem vai bater o martelo sobre a saúde são profissionais de saúde e que trabalham com saúde. Não sou eu que vou falar como vamos lidar com a questão da saúde, é quem entende de saúde.

Eu, por exemplo, sou filho de enfermeira. Situação que me marcou bastante foi quando a mãe fez greve, apesar de ser servidora pública federal, vinculada ao Ministério do Exército, uma situação complicada e, mesmo assim, ela fez greve. Foi bem interessante isso.

Reportagem – Existe questões indefinidas ainda (sobre o programa de governo)?

 Tiago Aires – Isso. Estão sendo trabalhadas. Na questão da saúde vamos valorizar a saúde preventiva e aumentar os postos de saúde.

Reportagem – Qual a importância das coligações partidárias para vencer a eleição e administrar a cidade?

Tiago Aires – Depende do tipo de coligação. As coligações que a gente vê é no sentido de alugar as siglas (partidos) pra espaço de televisão e tempo de rádio. Chegamos a dialogar com o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro) pra fazer uma frente de esquerda, que acabou inviabilizada e foi da seguinte forma: nós conversamos com o PSTU e PCB e em uma reunião com o PSTU e havia meu nome como pré-candidato e o PSTU falou que não tinha problema nenhum com meu nome. Então a gente reforçou, fizemos uma reunião e eu perguntei vocês não vetam então? Não, nós (PSTU) não vetamos o nome. Então nós passamos para um congresso, fizemos uma conferência, e meu nome foi indicado como unanimidade, inclusive unificando o partido, que não estava unificado. E o PSTU veio a vetar o meu nome logo após a conferência. Então o PSTU lançou uma nota e lançou na imprensa, atacando meu nome, atacando o partido (PSOL) e como eu sou vice-presidente do PSOL, houve esse ataque e nós terminamos por não fazer coligação com eles. Não fizemos a frente de esquerda com eles.

E qual importância tem a coligação? A única coligação que tem importância é aquela coligação de quem o governante vai representar. Eu tenho dito isso, a nossa coligação vai se dar com o povo nas ruas e nas urnas. Porque a gente vai conseguir dialogar na população e mostrar essas contradições que vocês sabem que tem hoje. Vocês sabem que tá posto hoje no processo eleitoral é que tem um acordo nacional entre PT e PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), que por isso a candidata é a Helen Cabral (PT) e não Paulo Pimenta ou Fabiano Pereira que poderiam vir com chances de disputar a prefeitura. É por isso que o PT recua e traz Helen Cabral, que é pra permitir que o PMDB continue governando Santa Maria. A gente entende que tem que romper com isso, tem que denunciar para a população e demonstrar qual é a possibilidade que a gente apresenta.

Reportagem – Tu vês um principal adversário na eleição?

Tiago Aires – Apesar de todos os adversários que tem, a gente os coloca no mesmo bloco. A gente os vê como um só. Pelo seguinte, eu não tenho receio de dizer isso. Essa articulação que o PSTU fez teve uma influência externa. A gente tem informações sobre isso, mas tem uma influência externa dentro do PSTU. O PSTU está a serviço do PSDB, do PT e do PMDB em Santa Maria. Então colocamos o PSTU na trincheira do PT, do PMDB e do PSDB na cidade. O nosso adversário é esse.

Mas na verdade, o nosso grande adversário é o poder econômico e a imprensa que escolhe quem são os principais candidatos. O que a imprensa faz? Tem o tempo de televisão e o tempo de rádio, aí ela coloca o título primeiro que o Schirmer (candidato pelo PMDB), que o Pozzobom (candidato pelo PSDB) e a Helen (candidata pelo PT) terão cinco minutos, aí lá embaixo aparece o Tiago e o Jefferson do PSTU. Quer dizer, vocês vão ler várias reportagens em que a Helen, o Schirmer e o Pozzobom e, muitas vezes, não vão nem citar o Tiago, nem o Jefferson do PSTU. É como se a imprensa pré-escolhesse são os candidatos que devem vencer e que devem estar a postos para a população.

O que me chama a atenção é  justamente a imprensa, que não quer ser regulada, dizer que é antidemocrático. Pois eu acho antidemocrático fazer isso. Todos os candidatos, pelo menos quando a imprensa vai colocar como matéria jornalística, vai lá (deveria) colocar “Eleições 2012″, espaços iguais, mesmo tratamento, sem diferenças.

Reportagem – Tu vês uma maneira de investir mais em saúde e educação?

Tiago Aires – Vou dar um exemplo bem claro: 80 mil reais foram mandados para uma escola de samba de Porto Alegre. Era prioridade mandar 80 mil reais para uma escola de samba de Porto Alegre? E eu pergunto a vocês o seguinte: no ano passado voltaram mais de 20 milhões de reais de verba federal para a saúde, que não foi aplicada porque não tinha projeto para ser aplicado aqui em Santa Maria. Então essa verba voltou para o governo federal. Então, 20 milhões em um universo de 400 milhões, que o ano passado estava em 440 milhões no orçamento para esse ano, 20 milhões são dez por cento do orçamento. Isso é um senhor aporte para ser aplicado na saúde. E por que isso não foi aplicado?

Tem que ter projeto pra poder aplicar verba e não deixar esse recurso voltar, sendo que esse recurso tá aqui à disposição para Santa Maria. Eu estive gripado, fui ao UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e levei três horas para ser atendido. Eu pergunto o seguinte: a população tem todo esse tempo para ser atendido, vem verba federal prevista para fazer aquilo ali (UPA), pronto há bastante tempo e agora faz, divulga aos quatro cantos que foi a essa administração que realizou, há certo uso da máquina pública,e eu acho bem complicado isso. Eu acho que o prefeito, quando ele administra a saúde, é responsável pela saúde, ele tem que se tratar em postos de saúde. Poderiam dizer que isso foi populista, mas o cara que é responsável pelos postos de saúde da cidade, ele tem que se tratar no sistema que é responsável e que impões para aqueles que votam nele. Ele não pode ir pro Caridade (Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo), um hospital particular. Vai se tratar naquilo que eu ofereço à população. Isso é uma das coisas que eu quero fazer. Vou me tratar no sistema público de saúde. Acho que isso é bem palpável.

Reportagem – E em relação à educação?

Tiago Aires – Não sei se vocês lembram, teve um projeto aqui em Santa Maria que era o Centro de Cultura e Informação para adolescentes. Esse projeto fechou. Ele atendia crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. As crianças eram atendidas em horário inverso ao da escola. Tinha aula pela manhã, à tarde fazia cursos de fotografia, de informática… e esse projeto fechou. Veio uma verba de 357 mil reais e foram desviados 186 mil reais dessa verba. Houve uma confusão. Pessoas importantes tiveram bens bloqueados, pessoas importantes, vereadores, uma vereadora na época, o prefeito foi condenado pelo Tribunal de Contas da União.

Então, o prefeito tem que combater a corrupção. Se tu cada vez falares em saúde e educação, se tu não combateres a corrupção, tu não vai conseguir fazer um governo que atenda às necessidades da população.

O projeto nosso de ter escola em horário integral, pelo menos oferecer horário integral. Que tenha uma forma de ocupar essas crianças com outras atividades, atividades culturais, por exemplo.

Outra questão importante é a valorização dos professores. A questão salarial é sempre importante. Uma prefeitura não pode cooptar os sindicatos, precisa trazer representação dos trabalhadores, para discutir, pra fazer contas. Não pode ser uma coisa assim: “equipe financeira do governo vai decidir… o prefeito vai dizer se dá ou não…”, tem que ter a transparência pra trazer a categoria e pra dizer: essas são as possibilidades e valorizar esses trabalhadores. Para se ter uma educação digna.

Reportagem – Como resolver ou amenizar os problemas de mobilidade urbana na região central da cidade?

 Tiago Aires – Temos levantado algumas questões. Existem certas coisas que esbarram em interesses econômicos. Na nossa administração isso não vai esbarrar. O interesse da coletividade é maior. Se houver um interesse econômico, ele vai ser suprimido em favor da do interesse da população. Por exemplo, na Floriano estão terríveis os engarrafamentos. Temos estudado algumas questões de se fazer elevados para desafogar o trânsito. Eu fui moto-taxista, então eu conheço muito bem o trânsito da cidade. Então, a gente está fechando algumas mudanças para resolver os problemas do trânsito.

Reportagem – Como oferecer uma melhor estrutura para os moradores dos distritos?

Tiago Aires – Uma coisa que eu achei terrível nesse governo Schirmer foi que ele acabou com a eleição de subprefeito para as subprefeituras. Acho isso ditatorial. Para resolver essas questões, é preciso ter gente que more lá (nos distritos). Não és tu que vai nomear, mesmo que seja alguém que more lá. Tem que ter alguém que more lá e que tenha a confiança da comunidade e sabia passar as necessidades da comunidade. Não adianta alguém que queira agradar o prefeito, que é isso que acontece, ou que tenha medo de falar por que pode perder o cargo. Tem que ser alguém eleito lá e dizer à prefeitura o que deve ser feito pela comunidade. Outra coisa, prefeito não pode ser celebridade, prefeito não é “a autoridade senhor prefeito”. Prefeito é empregado da população de Santa Maria. O prefeito tem que ser a pessoa mais humilde do lugar. Porque ele está a serviço de todos. Quando começarmos nossas visitas aos distritos nesse processo eleitoral, as pessoas te veem como candidato e te trazem as necessidades que tu não sabes hoje, mas elas acabam te passando durante esse processo. Então queremos fazer isso: participação popular da cidade. O prefeito não é celebridade. Ele não é importante. Quem é importante é a população e o prefeito é empregado dessa população.

Reportagem – De que maneira tu pretende equilibrar os investimentos em vilas, bairros e região central da cidade?

Tiago Aires – Vamos dizer assim: um bairro tá todo asfaltado, tem saneamento. Esse bairro não vai precisar muito investimento, então eu tenho que fazer um levantamento de saneamento, moradias para poder distribuir esses investimentos onde mais se precisa. E não adianta eu dizer, por exemplo, qual a prioridade bairro Camobi por que eu não moro lá. Quem vai dizer o que é prioridade do bairro de Camobi é a população. Então eu vou dizer que temos verbas para serem investidas aqui no bairro e a população vai dizer qual é a prioridade ou até mesmo antes de conseguir a verba(…) então cabe ao prefeito buscar esses recursos.

Reportagem – Como lidar com a questão da poluição, do desmatamento e do lixo?

Tiago Aires – Eu tenho andado a pé pela cidade, por quê? Por que quando tu andas muito de moto ou de carro, tu não enxergas a cidade direito. Acaba passando muito rápido pelos lugares. Se tu andas a pé tu pensa, puxa! Como eu não vi isso?  E aonde eu tenho andado, eu tenho visto muito lixo pela cidade. Mas tem uma questão, o sistema que a gente tem hoje, o capitalista, o sistema de consumo gera muito lixo e não existe essa questão da sustentabilidade. A sustentabilidade é uma questão de se abordar para amenizar o problema.

Qual é o grande problema hoje que eu como prefeito talvez não consiga resolver? Os produtos que são vendidos hoje, como uma máquina de lavar, não são produzidos para atender a necessidade de quem precisa de uma máquina de lavar. Ele é produzido para atender à necessidade de lucro de quem produz isso. Eu falo isso por que eu trabalho com isso também, as empresas têm reduzido de qualidade dos materiais e reduz também a durabilidade dos materiais cada vez mais. Então ,as empresas não se preocupam se estão produzindo uma máquina que dura um ano. Quando essa máquina estraga, as peças custam metade do valor de uma máquina nova, então essa máquina é jogada fora, vai para a natureza, então se compra uma nova. Teremos que entrar em uma discussão nacional sobre isso.

Com relação ao lixo, é preciso uma revisão do contrato de limpeza concessionário do lixo e fazer campanhas educativas permanentes e  levar isso para as escolas. Agora até eu vi, coisa que nunca tinha acontecido, um mutirão para limpeza das calçadas da cidade. Como é período eleitoral a gente vê um monte de coisa.

É preciso isso ser permanente. Ter grupo de limpeza, de capina… É preciso que o prefeito acompanhe isso, o prefeito tem que andar pela cidade, ele vive na cidade. Ele sai da prefeitura, anda pela cidade e cobra das secretarias as soluções dos problemas.

Veja os casos das ruas. Existem ruas que são históricas pela presença de buracos na pista e essa administração (Schirmer) não fez nada sobre isso.

Reportagem – Como avalia a Santa Maria que temos e a Santa Maria que queremos?

Tiago Aires – Eu volto à questão dos transportes. A empresa de concessão pública (ATU) financia programas de TV e anuncia em jornais para silenciar a imprensa. O prefeito contrata radialistas e silencia a imprensa. Temos uma tarifa que o coeficiente do óleo lubrificante que custa 17 vezes mais que o praticado em Porto Alegre. Para dizer pouco, nós temos uma roubalheira no sistema de transporte coletivo.

Quem é que fala sobre isso? Que eu me lembre, no jornal eu só vi isso uma vez quando numa reunião no CMT (Conselho Municipal de Transportes) eu entrei e falei da corrupção em Dourados no Estado do Mato Grosso,em São Borja e falei da questão da corrupção aqui em Santa Maria. Eu não me lembro de haver mais debates sobre isso.

No momento do aumento das tarifas nós fazemos esses debates com o pessoal que é contra, mas não tem aquela força. Então é um grande problema, é uma cidade que está dominada pelo poder econômico que cala a imprensa.

Por exemplo, chega a época de festas de natal os líderes comunitários chegam lá na Medianeira (Expresso Medianeira, empresa de transporte coletivo que faz parte da ATU) e saem com 150, 200 reais de “doação” para realizar sua festinha de natal.

Só que quanto foi tomado dos trabalhadores quando foi aumentado em vinte centavos o preço da passagem? Se pegar 20 centavos, vamos dizer que por dia use quatro passagens, isso dá 80 centavos de aumento por dia. Em um mês, vamos colocar 20 vezes. São 16 reais de aumento. Coloca isso em um ano de um pai, e aí depois vê se um único pai daquela comunidade eles (as empresas) não tiram esses 200 reais para dar pra festa de natal. E aí fica todo mundo dominado.

Durante essas audiências públicas havia líderes comunitários que defendiam as empresas e a ATU. Eles dominam algumas lideranças comunitárias, dominam a imprensa, dominam o poder executivo, dominam todo mundo. E o que a gente propõe: ter um governante, ter um projeto político, um programa de governo que rompa com isso e que diga que dessa vez, que vai governar Santa Maria é o povo. Pode ser quem eles não gostem, com certeza não vão gostar, as empresas vão fazer campanha contra a gente. Até quando o cara (Maffini) me xingava na câmara e me atacava, pra mim era um elogio ser atacado por esse tipo de pessoa.

Reportagem – Qual a importância de ter uma boa relação com os governos estadual e federal?

Tiago Aires – Essa boa relação com esses governos, temos várias divergências com os governos estadual e federal. Por exemplo, com o governo estadual, a última divergência foi na questão do piso dos professores que não está sendo aplicado. A importância disso é que nós vamos ter uma relação como Santa Maria. Quem é que vai governar a cidade? Se formos nós, nós teremos uma relação de respeito nos diálogos, na conversa. Boa relação vai ter que ter, mesmo sendo nós. Mas essa boa relação não quer dizer a não crítica. Nós vamos estar como representantes de Santa Maria e defender os interesses da cidade, mas vamos deixar bem claro nossa postura frente às políticas do governo estadual e do governo federal.

Reportagem – Quem são as suas referências na área política e por quê?

Tiago Aires – Eu posso até ser criticado por isso, mas eu sou brizolista, sabe? Brizola pela luta. E depois a Heloisa Helena – eu coloquei som quando ela veio com a Luciana Genro a Santa Maria. São minhas referências. Brizola pela história de luta. Tem uma parte engraçada que ele já dizia antes do PT assumir o governo que o PT não era socialista, que mesmo que o Lula ganhasse o PT não faria um governo socialista. Perguntaram o porquê da afirmação e ele responde mostrando a equipe econômica do Lula que incluía Aloizio Mercadante e que seriam neoliberais.

Reportagem – O noticiário político apresenta muitos casos de corrupção, como evitar isso?

Tiago Aires – Postura do prefeito no governo municipal. Aqui em Santa Maria nós temos um caso do Secretário de Infraestrutura e Obras Tubias Calil, que fez uso do serviço da Sul Clean, empresa que faz a limpeza das ruas da cidade para limpar seu comitê de eleitoral. Foi denunciado ao Ministério Público por improbidade administrativa.

Que dizer, usar uma empresa que presta um serviço público para a prefeitura municipal em um caso particular, tem que deixar de ser secretário na mesma hora. Não ocorreu isso no governo Schirmer. Continuou como secretário e foi candidato a deputado estadual. Complicadíssimo.

Governante tem que ter postura. Eu uso como exemplo quando eu entrei no DCE da Unifra, na primeira reunião de formação da chapa que ia concorrer. Na mesa estavam umas oito pessoas e eu falei: “galera, eu quero deixar umas coisas bem claras aqui. Quem vai formar chapa não pode querer ou pelo menos ter pretensão de ser professor da Unifra ou de fazer ‘média’ com a direção da Unifra. Porque quando terminar a nossa gestão, não vamos desrespeitar a direção da Unifra, mas eles vão dar ‘graças a deus’ de nós termos ido embora”. Porque nós vamos representar os estudantes da Unifra. E foi o que aconteceu. Há pouco tivemos uma assembleia que foi proibida, coisa que eu acho que pela primeira vez na história. Tivemos que trazer som de fora, foi um problema. O que eu quero dizer é que o governante tem que saber de quem ele vai se cercar. É claro que tu não vai conseguir saber tudo de todo mundo. O que tu tens que fazer é falar para essa pessoa que vai trabalhar contigo, que vai ser secretário, que vai ser cargo de confiança, quer dizer, ele não é cargo de confiança tua, tem alguma confiança para nomear, e mesmo aqueles mais longínquos do prefeito tem que saber quais são as regras da administração. Tem que saber qual é a forma da governar.

Agora eu fico me perguntando: como fica um funcionário que vê o que o secretário (Tubias) fazer isso, continuar secretário e andando de mão com o prefeito? Tem alguma coisa errada aí. Isso não é exemplo para ninguém.

Eu tenho um histórico de combate à corrupção. Eu denunciei os vereadores que foram para o Paraguai. Eu pedi a cassação do prefeito Valdeci (PT) por coisas que ele veio a ser condenado depois pelo Tribunal de Contas do Estado e no Tribunal de Contas da União. Pedi a cassação da vereadora que desviou os 186 mil reais de verba federal. Pedi a cassação do vereador João Carlos Maciel (PMDB) por desvio de salário de assessoria. Vocês vão ver um detalhe, quando eu pedi a cassação do vereador Maciel, eu apresentei gravações de áudio retiradas do site do Claudemir Pereira. Gravei em CD e anexei ao processo. Deu mais de 20 páginas, dando direito à ampla defesa, mas pedindo a cassação dele.  Só que a câmara vota o quê? Se aberto um processo, tem que ser apresentado.

O que aconteceu? Reuniram os 14 vereadores na sala do então presidente da câmara Paulo Airton Denardin e decidiram não ler a denúncia, sequer ler a denúncia! E se tu fores ver o Decreto no. 201/67 diz que o presidente de posse da denúncia deve fazer a leitura na primeira sessão. Decidiram não ler.

Vocês vão me perguntar quem eram os vereadores? Estavam no meio disso a vereadora Helen Cabral (PT), que é candidata, e Admar Pozzobom (PSDB), irmão do candidato Jorge Pozzobom. Quero ver qual a corrupção que eles vão combater. Eu acompanhei bastante a questão na câmara de vereadores.

Eu sei que vocês (reportagem) estão gravando, mas isso eu tenho que dizer por que é muito sério: a câmara de vereadores acaba se tornando um nascedouro de corrupção. Porque a população olha e diz, “o cara (João Carlos Maciel) desviou salário e continua lá”. Ele (Maciel) obrigava as pessoas a darem, tem isso gravado: “ou dá ou vai pra rua”. Tenho isso em áudio, se pesquisar no site do Claudemir tu vais achar, a menos que por motivo de força maior tenham sido retirados. Então é complicadíssimo.

Quando eu pedi a cassação do Valdeci (PT), eu tinha recebido três ameaças de morte. Eu recebi duas que eu atendi o telefone. Quando eu recebi a terceira, o meu irmão quem atendeu o telefone. Quando ele atendeu, perguntaram: “ – o Tiago tá aí? – Não. – Que tu é dele? – Sou irmão dele.

Então tu diz pra ele que nós vamos pegar ele e quebrar as duas pernas dele. E se nós não achar ele vamos quebrar as tuas”. Só que ele na minha frente falando no telefone e eu olhando. Quando eu recebi aquela ameaça…

Por isso que eu digo pra vocês que dessa vez muitas forças vão lutar para que a gente não consiga. Mas pode vir a ameaça que for, a intimidação que for não vai haver um recuo. Não vai haver um recuo e não vai haver uma mudança de postura. E a galera do PSOL, nossa galera identifica isso e por isso que eu sou o candidato que unificou o partido.

Reportagem – Tem algum recado para os eleitores?

Tiago Aires – Nessa eleição a população tem que identificar quem as representa. E uma coisa, muita gente vai dizer “não joga teu voto fora” e “tem que votar no candidato que vai ganhar”. Eu digo que não jogar o voto fora é não votar naquele candidato que aquela pessoa quer que ganhe. É isso que eu digo, vejam quem são os candidatos, vejam quais são os projetos.

Estamos terminando a confecção do meu perfil detalhado, tem muita coisa. Por exemplo, tem um pedido que eu fiz de denúncia por corrupção ativa contra o Valdeci, que envolvia a vereadora Anita Costa Beber (PR) e Julinho Brenner (PSDB), porque eu fiz um abaixo-assinado contra a criação da taxa de iluminação pública, e esse abaixo-assinado foi muito importante pra mim. Por que o quê aconteceu? As pessoas chegavam para assinar e ligavam para o vereador na minha frente perguntando: “o quê? Vão criar mais uma taxa para nós pagarmos”? Colocavam no viva voz para eu ouvir e completavam: “seu sem-vergonha! Ou tu vota contra isso ou eu nunca mais voto em ti”! Então aquilo gerou um sentimento que acabou refletindo na câmara de vereadores. Foram 5207 mil assinaturas. Conseguimos barrar a taxa de iluminação pública.

O que eu quero dizer é que a população precisa entender a importância que ela tem. Quando eu digo que as coisas vão mudar na política local e na nacional, quando nós conseguirmos colocar mais pessoas numa manifestação política do que em uma procissão de Nossa Senhora Medianeira. Vejam quem são os candidatos e votem naqueles que vocês querem que ganhe e só assim vai ser possível mudar, porque senão vai continuar ganhando sempre aqueles que a imprensa financiada pelas empresas, pelas concessionárias de transporte coletivo, pela empresa do lixo… Esses é que vão continuar ganhando.

Texto e foto:Yuri Weber, João Miranda, Vinicius Martins e Bruna Severo

Edição: Gilson Piber

Edição de web: Rosana Zucolo