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Santa Maria, RS, Brazil

Pandemia: exposições e artistas plásticos adaptam-se ao ambiente virtual

Foto: Heloisa Helena Canabarro

Muito antes do início da pandemia de Coronavírus, a arte e a cultura no país vêm sofrendo com o descaso do governo. Ao ser eleito, Jair Bolsonaro (Sem partido), atual presidente, cumpriu sua promessa de campanha e ação do Ministério da Cultura (Minc), suas atribuições foram incorporadas ao recém-criado Ministério da Cidadania e, em 7 de novembro de 2019, a Secretaria Especial de Cultura foi transferida para o Ministério do Turismo. O atual governo não apoia a cultura no Brasil, pelo contrário, por diversas vezes demonstrou descaso, reduziu verbas, mostrou intolerância a obras e expressões artísticas e incitou práticas de ódio e censura.

É nesse contexto que emerge a pandemia de Coronavírus no Brasil. Com a necessidade de isolamento social e a proibição de aglomerações, a tragédia sanitária fechou cinemas, museus, galerias, teatros, circos e cancelou shows, que tinham o público aglomerado como parte fundamental de seus eventos. O setor cultural que já estava fragilizado e desprovido de recursos, foi o primeiro a ser impactado e pode ser um dos últimos a normalizar. A pandemia provocou o mundo das artes a se reinventar e adaptar-se às circunstâncias. Museus, galerias, curadores e artistas plásticos e visuais, começaram a buscar soluções inovadoras para propagar arte durante esse período.

Exposições e artistas no ambiente virtual

Conforme a pesquisa nacional, realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), entre junho e setembro de 2020, intitulada “Percepção dos Impactos da COVID-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil”, mais de 41% dos correspondentes perderam a totalidade de suas receitas, entre os meses de março e abril. Essa proporção aumentou para 48,88%, entre maio e julho de 2020. O Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea), através da Carta de Conjuntura número 49, anunciou que “as estimativas de participação do setor cultural na economia brasileira, antes da pandemia, variavam de 1,2% a 2,67% do produto interno bruto (PIB), e o conjunto de ocupados no setor cultural representava, em 2019, 5,8% do total de ocupados, ou seja, em torno de 5,5 milhões de pessoas”.

Percepção dos Impactos da COVID-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil,

Em maio do ano passado, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) estimou que 13% dos museus do mundo poderiam encerrar, em definitivo, suas atividades em decorrência da pandemia. O risco de contaminação levou ao fechamento, temporário, de 90% dos museus. Sem previsão de quando as atividades irão retornar ao normal, parte dos museus, galerias e artistas plásticos e visuais buscam abrigo no ambiente virtual. Com o objetivo de propagar arte e cultura, tentam adequar suas exposições a diferentes plataformas. Alguns desses espaços culturais optaram por reproduzir fotos do acervo em alta resolução, acompanhadas de texto descritivo sobre obra e autor e mostrar em seu próprio site ou pelas redes sociais, criando assim um modelo de exposição virtual.

A abertura de algumas mostras começaram a ser realizadas por Live streaming — transmissões ao vivo — em redes sociais, como Instagram, Facebook ou Youtube, buscando divulgar e atrair o público a apreciar obras virtualmente. Já outros espaços culturais foram além, adaptaram suas exposições a Online Viewing Rooms — Salas de Visualização Online — que reproduz digitalmente em 3D um espaço de exposição, permitindo ao público navegar pelo espaço, observando as obras de diferentes ângulos.

Como exemplo de exposição virtual, no vídeo abaixo podemos assistir como é a experiência de entrar em uma sala de visualização online. A exposição coletiva é da Photoarts Gallery, que reuniu fotografias de diversos artistas em uma galeria virtual. O visitante tem liberdade de andar pelo ambiente projetado, ao ativar o áudio é possível ouvir o som ambiente, e com apenas um clique se obtém informações sobre o autor, descrição sobre a obra, de forma escrita ou por meio de áudio do próprio autor, sendo possível até adquiri-la.[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=V-bdO51fWQU”]

O curador e responsável técnico do acervo do Museu de Arte de Santa Maria (Masm), Marcio Flores, relata que transformações nos processos curatoriais foram necessárias para adequar-se ao momento em que estamos vivenciando. “Hoje é preciso pensar nas plataformas digitais como meio de divulgação, embora as exposições presenciais sejam realizadas. Isto demanda mais trabalho, organização e criação de materiais específicos para estas plataformas e programas”, esclarece. Marcio realizou curadoria de diversas exposições de forma híbrida, online e presencial, durante a pandemia. Sobre as exposições virtuais e o futuro dessa modalidade, o curador comenta: “Acho fantástico essas possibilidades expográficas, que permitem a participação e visualização de diferentes públicos. Acredito que este processo tecnológico, digital, é uma grande ferramenta de divulgação e promoção cultural, veio para ficar e cada vez mais ser aprimorado, e seu desenvolvimento irá nos proporcionar futuramente muitos resultados ainda nem imaginados.”

A prática de exposições virtuais não surgiu durante a pandemia de Covid-19, a plataforma Google Arts & Culture há anos disponibiliza visitas virtuais em museus de todo o mundo e acesso a galerias com um amplo acervo de imagens, tudo de forma gratuita, tornando a arte mais acessível. Utilizando a tecnologia Street View, possibilita vistas panorâmicas de 360° na horizontal e 290° na vertical, dando ao visitante uma certa liberdade para andar pelo local. O site exibe mais de seis milhões de obras e conta com mais de seis mil exposições. É possível visitar instituições de arte internacionais e nacionais, como por exemplo, o Museu Nacional, Instituto Inhotim, Museu Afro Brasil, MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand e outros.

O Sesc RS lançou, em abril deste ano, a Galeria Virtual Sesc, o projeto nasceu visando disseminar as artes visuais e aproximar a relação do público com a arte e artistas gaúchos, de diferentes regiões do estado. Na plataforma é possível visitar as exposições de forma online, apreciando as obras e suas descrições, contendo também audiodescrição. Sob a lógica de uma galeria física, a cada 30 dias é apresentada uma nova exposição, atualmente está em exibição a mostra “Entre o Sagrado e o Profano” de Nelson Theophilo Hartmann.

Os museus não apenas adaptaram-se à pandemia, mas um novo museu foi criado, o Covid Art Museum (CAM) — Museu de Arte Covid — primeiro museu digital que nasceu durante o período de isolamento social. O acervo é disponibilizado pelo Instagram (@covidartmuseum), mostrando artes que surgiram durante o período pandêmico, tendo como tema sentimentos e objetos relacionados a pandemia de Coronavírus. É composto por pinturas, colagens, fotografias e ilustrações de diversos autores. O CAM foi idealizado por Emma Calvo, Irene Llorca e José Guerrero, de Barcelona, que também são responsáveis pela curadoria das obras, que são partilhados através da hashtag #CovidArtMuseum.

De acordo com uma pesquisa, realizada pelo Itaú Cultural em parceria com o Instituto de pesquisa Datafolha, sobre “Hábitos culturais: expectativa de reabertura e comportamento digital”, 57% dos brasileiros intensificaram o acesso à web durante a pandemia, 36% mantiveram o padrão de acesso e 7% reduziram suas atividades virtuais. Segundo o levantamento, 17% dos entrevistados relataram visitar museus e exposições online, ainda de acordo com a pesquisa, a intenção de continuar a fazer estas atividades virtuais após a pandemia diminui para 14%. Os entrevistados que realizaram atividades culturais durante a pandemia avaliam positivamente os impactos da prática para a saúde mental e para convivência social, 54%, declararam que as atividades culturais na web ajudaram a diminuir a sensação de solidão, para 45%, o acesso à cultura pela internet reduziu o estresse e ansiedade, e 44% viram uma melhora geral na qualidade de vida. É importante salientar que nem todo mundo tem acesso ao meio digital, de acordo com o levantamento, dos cerca de 1.500 entrevistados em todo o país, 7% relataram não ter acesso à internet.

Para o jornalista, professor e amante das artes Carlos Alberto Badke, as visitações online têm seus pontos positivos e negativos. “As visitas virtuais a museus, exposições e passeios por cidades históricas têm vantagens e desvantagens. Eu destacaria o fato de termos a possibilidade de viajar sem sair de casa, conhecer lugares até então desconhecidos e ampliar nosso acervo cultural. A maior desvantagem é não estar em presença das obras de arte, prédios e ambientes. A mediação via tela de computador esfria um pouco esta relação, essencial para sentirmos empatia com as possibilidades ofertadas pelos seus criadores”, avalia Carlos. O jornalista também afirma que a visitação virtual, embora tenha suas limitações, o ajudou durante o período de pandemia. “Foi uma ferramenta de grande auxílio para aumentar o meu conhecimento e disponibilizar aos alunos.”

A pandemia parecia um beco sem saída para artistas plásticos e visuais, mas alguns desses artistas contornaram a situação e fizeram dela um momento de reinvenção e ressignificação. Simone Rosa, artista visual que iniciou sua carreira em 1987, fala de que forma a temática de suas produções artísticas mudou neste período. “Minha produção poética durante a pandemia mudou bastante, inseri pássaros beija-flor como símbolo de boas novas, como mensageiro de notícias boas, inclusive a última exposição que estou fazendo chamo de Tempos consonantes, que quer dizer que a gente busca tempos consonantes, tempos harmoniosos, notícias boas e que tudo isso passe. O beija-flor é um símbolo de mensageiro de boas novas, ele é símbolo místico no Xamanismo e em várias religiões.”

Para a artista a experiência digital não substitui o presencial: “Quero que volte às exposições presenciais e que a gente consiga continuar tendo esse contato presencial com as obras, eu acho que o virtual surgiu para ser uma opção paralela, mas ele nunca vai substituir a experiência que tem que ter no contato direto com a obra.”

Reprodução/ Instagram de Simone Rosa, Exposição Mensageiros do Recomeço

O artista Emerson Massoli iria expor sua mostra individual OP-ORIGAMI, ano passado, no Museu de Arte de Santa Maria (Masm), mas em decorrência da pandemia a exposição foi adiada para este ano, na esperança que a situação estivesse um pouco melhor, o que não ocorreu. Para a mostra não ser adiada novamente, o artista, em parceria com o museu e curadoria, optou por realizá-la de forma híbrida, online e presencial. “Como a maioria das obras expostas eram objetos em três dimensões, foi muito interessante pensar e visualizar como transpor isso para o virtual, sem que perdesse a essência da percepção das obras físicas…”, relata Emerson sobre a adaptação. As obras de sua exposição foram apresentadas nas redes sociais, por meio de fotos dos trabalhos expostos no espaço físico, imagens com detalhes, informações descritivas sobre a obra e um vídeo, estilo tour pela exposição, o que possibilitou a compreensão da noção de dimensão e disposição dos trabalhos no espaço expositivo.

Reprodução/ Instagram Museu de Arte de Santa Maria

Sobre o sucesso que a exposição obteve virtualmente o artista revela: “O alcance foi algo que me surpreendeu bastante, não imaginava a repercussão que poderia tomar, indo além do contexto local, o que teve grande influência das redes sociais para que acontecesse”. Emerson conta que por causa da pandemia, assim como muitos artistas, buscou alternativas criativas no ambiente online. “Acredito que a maioria dos artistas teve que se adaptar ao contexto para dar vazão a sua arte. Participei ano passado de algumas exposições coletivas de forma virtual, criei um perfil específico em uma rede social para compartilhar os processos e resultados da pesquisa artística que desenvolvo, e pretendo no começo do mês de junho realizar uma exposição virtual em uma plataforma de realidade virtual. As opções são muitas e variadas, acredito que após o fim da pandemia esses modelos de difusão de arte se manterão, pois trouxeram novas perspectivas para o cenário cultural”.

Helena Macedo, artista plástica e professora de arte, no início da pandemia, aposentou-se da função de professora, a qual trabalhou por 38 anos. Em seus anos de magistério atuou conjuntamente como artista plástica, atualmente continua produzindo obras de arte. A artista é membro da Associação dos Artistas Plásticos de Santa Maria (AAPSM), que realizou três exposições, todas de forma híbrida, antes do período pandêmico, no Museu de Arte de Santa Maria (Masm). Helena também pertence ao Grupo Olhares, coordenado pelo artista plástico Luciano Santos. Durante a pandemia, o grupo realizou algumas exposições virtuais, como “VAI DE ARTE”, uma mostra virtual pelo instagram (@vai.de.arte), de máscaras decorativas em alusão a pandemia. Também participou da exposição “Alegorias Pandêmicas”, que foi pensada exclusivamente para a plataforma Instagram, contando com obras de artistas do grupo e convidados. A última exposição do grupo foi “CONTEMPORÂNEA: MARIA”, que reúne a visão particular de 15 artistas de Santa Maria acerca de Maria, além de virtualmente a mostra também está disponível para visitação presencial na Universidade Franciscana (UFN), na Sala de Exposições Angelita Stefani.

Reprodução/ Instagram da Exposição Alegorias Pandêmicas

A artista comenta sua satisfação com o resultado das mostras virtuais. “Eu acho que todas tiveram um grande alcance e me realizei muito”. As produções artísticas de Helena não foram afetadas durante o período pandêmico, a artista continuou realizando suas obras e incluindo objetos referentes à pandemia, o que mais a afetou foi não ir presencialmente às mostras. “Um dos problemas foi não poder mais frequentar exposições, que adoro ir ver pessoalmente”, relata. Sobre o impacto econômico no setor cultural, Helena conta que não foi fácil, mas como grande parte dos artistas plásticos têm outra fonte de renda, afirma: “Para mim foi muito negativo, a renda nas vendas das obras foi muito baixa. Mas como falei no início, sou professora e tenho outra renda, e assim não me afetou tanto. Não posso dizer que não vendi obras de arte, vendi. Mas não como na época em que não tínhamos pandemia”.

Auxílio emergencial cultural – Lei Aldir Blanc

Apenas três meses após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar a pandemia de Coronavírus, foi aprovado o projeto de lei 1.075/2020 iniciativa da deputada Benedita da Silva (PT). O projeto determinava à União a aplicação de ações emergenciais destinadas ao setor cultural a serem adotadas durante o estado de calamidade pública. A legislação foi intitulada como Lei Aldir Blanc em homenagem ao artista, que morreu em maio vítima do coronavírus. De acordo com o projeto de lei, caberia a União entregar para estados, Distrito Federal e municípios R$ 3 bilhões. Os beneficiários desse auxílio são profissionais que trabalhavam com música, entretenimento, teatro, artes, espetáculos e outros setores artísticos e estabelecimentos do setor cultural afetados pela pandemia. O repasse da verba ao setor cultural ficou a cargo dos estados e municípios. A ajuda financeira começou a ser paga só em setembro de 2020.

A Secretaria Especial de Cultura, que é vinculada ao Ministério do Turismo federal, oferece em seu site um painel de dados que permite o acompanhamento dos indicadores da Lei Aldir Blanc.

Embora o Auxílio Emergencial Cultural tenha beneficiado uma parte dos trabalhadores da cultura, a quantidade de solicitações foi menor que o esperado. O principal motivo está no fato que dentre os artistas e trabalhadores da cultura aptos a inscrição para receber o benefício, muitos já estavam cadastrados no Auxílio Emergencial pago pelo Governo Federal, instituído em abril de 2020, o que não os permitiu ter direito ao Auxílio Cultural.

Santa Maria

Em Santa Maria não foi diferente, reinventar-se virtualmente foi necessário a artistas e espaços culturais. Da mesma maneira que em outras regiões do país, após o fechamento de espaços e eventos adiados como medida de combate à Covid-19, artistas tiveram dificuldade de atuar em sua área e manter sua renda. “O impacto econômico foi muito forte, pois teve uma grande parada, tive que fechar meu atelier ao público e não ter mais alunos, teve um tempo que parou as vendas e depois recomeçou devagar”, relata a artista Simone Rosa, e acrescenta que felizmente tem outra fonte de renda para garantir o sustento: “Não vivo só da renda do atelier ou das artes visuais, tenho outra fonte de renda, porque se não seria muito problemático. Fico triste em pensar que existem pessoas e famílias que dependem da renda da produção cultural, tanto artes plásticas, quanto teatro e música. Fico feliz em ver que tiveram várias campanhas que incentivam e apoiam esse setor que foi abandonado de uma hora para outra”.

Para auxiliar o setor cultural, a Prefeitura de Santa Maria abriu em maio o edital Viva Cultura 2020, que beneficiou 70 projetos e mais de 200 pessoas, que realizaram apresentações artísticas no festival virtual Viva Santa Maria. Já em outubro foi realizada a primeira edição do festival Santa Maria Pela Música, também de forma online, porém dessa vez com venda de ingressos, em que a verba da arrecadação foi revertida aos artistas que se apresentaram no evento. Por meio da Secretaria de Cultura, auxiliou artistas locais, selecionados em edital da Lei Aldir Blanc, para projetos artísticos de Arte Mural/Grafite em espaços do Parque Itaimbé.

Exposições online começam a fazer parte da rotina do Masm

O Museu de Arte de Santa Maria (Masm) não ficou para trás e começou a realizar exposições no formato virtual, tendo como objetivo manter o museu em funcionamento durante a pandemia de Covid-19. As visitações online podem ser feitas pelo Instagram ou Facebook do museu, e as obras expostas são apresentadas por meio de fotos. A diretora do Masm e artista plástica Marília Chartune relembra o começo dessa iniciativa. “Nós tivemos muitas dificuldades no início, porque não sabíamos qual público iríamos atingir. Temos nossas redes sociais, Instagram e Facebook, e adaptamos juntamente com os expositores que enviaram arquivos de qualidade, fizemos as publicações periódicas de acordo com cada uma das redes sociais”, conta a diretora.

A primeira exposição postada nesse formato foi durante o evento Viva Masm, em junho do ano passado, onde além da exposição, diversas obras de arte estavam disponíveis para serem comercializadas no Mercado de Arte do Museu. Devido ao sistema de bandeiras no Rio Grande do Sul, o Masm fica aberto também a visitação presencial, com agendamento prévio para evitar aglomerações, exceto na bandeira preta. O museu deu continuidade às apresentações de maneira híbrida, combinando online e presencial, em 2021. Sobre as exposições virtuais, Marília relata: “A gente tem muitas visitações registradas, muito mais as vezes do que quando é presencial, então tivemos sucesso nessa parte”.

Reprodução/ Facebook Museu de Arte de Santa Maria

Yann Ziegler, artista visual santa-mariense, que há anos dedica-se à produzir arte a partir da ressignificação de objetos apropriados do meio onde vive, expôs de forma híbrida no Masm sua mostra “A Transmutação dos Sólidos”, com curadoria de Marcio Flores, composta por 61 objetos-arte. A abertura da exposição foi realizada virtualmente, via transmissão ao vivo no Instagram do Masm. “Fazer a abertura de uma exposição através de uma live foi uma experiência e tanto. Teve um alcance além do esperado, tanto que estou certo que, mesmo depois da pandemia, quando se voltar a fazer abertura presencial, farei juntamente com a on-line. Acho que a live de vernissage veio para ficar”, declara o artista sobre a experiência. Quanto à busca de alternativas criativas no ambiente online, Ziegler acrescenta: “Intensifiquei o uso das redes sociais como forma de melhor chegar ao meu público”.

Foto: Heloisa Helena – Obra de Yann Ziegler, Exposição A Transmutação dos Sólidos

Um ano após o início da pandemia de Coronavírus, a vacinação no Brasil caminha a passos lentos e o número de óbitos supera os 400 mil, será mais um ano complicado para o setor cultural. Artistas plásticos e visuais, museus e galerias seguirão tentando adaptar-se às circunstâncias da pandemia, somando esforços para reinventar-se e manter a arte viva em meio ao caos. As exposições virtuais e o ambiente online podem auxiliar nesse processo, com suas vantagens e desvantagens, estão ganhando espaço no mundo das artes.

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Foto: Heloisa Helena Canabarro

Muito antes do início da pandemia de Coronavírus, a arte e a cultura no país vêm sofrendo com o descaso do governo. Ao ser eleito, Jair Bolsonaro (Sem partido), atual presidente, cumpriu sua promessa de campanha e ação do Ministério da Cultura (Minc), suas atribuições foram incorporadas ao recém-criado Ministério da Cidadania e, em 7 de novembro de 2019, a Secretaria Especial de Cultura foi transferida para o Ministério do Turismo. O atual governo não apoia a cultura no Brasil, pelo contrário, por diversas vezes demonstrou descaso, reduziu verbas, mostrou intolerância a obras e expressões artísticas e incitou práticas de ódio e censura.

É nesse contexto que emerge a pandemia de Coronavírus no Brasil. Com a necessidade de isolamento social e a proibição de aglomerações, a tragédia sanitária fechou cinemas, museus, galerias, teatros, circos e cancelou shows, que tinham o público aglomerado como parte fundamental de seus eventos. O setor cultural que já estava fragilizado e desprovido de recursos, foi o primeiro a ser impactado e pode ser um dos últimos a normalizar. A pandemia provocou o mundo das artes a se reinventar e adaptar-se às circunstâncias. Museus, galerias, curadores e artistas plásticos e visuais, começaram a buscar soluções inovadoras para propagar arte durante esse período.

Exposições e artistas no ambiente virtual

Conforme a pesquisa nacional, realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), entre junho e setembro de 2020, intitulada “Percepção dos Impactos da COVID-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil”, mais de 41% dos correspondentes perderam a totalidade de suas receitas, entre os meses de março e abril. Essa proporção aumentou para 48,88%, entre maio e julho de 2020. O Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea), através da Carta de Conjuntura número 49, anunciou que “as estimativas de participação do setor cultural na economia brasileira, antes da pandemia, variavam de 1,2% a 2,67% do produto interno bruto (PIB), e o conjunto de ocupados no setor cultural representava, em 2019, 5,8% do total de ocupados, ou seja, em torno de 5,5 milhões de pessoas”.

Percepção dos Impactos da COVID-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil,

Em maio do ano passado, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) estimou que 13% dos museus do mundo poderiam encerrar, em definitivo, suas atividades em decorrência da pandemia. O risco de contaminação levou ao fechamento, temporário, de 90% dos museus. Sem previsão de quando as atividades irão retornar ao normal, parte dos museus, galerias e artistas plásticos e visuais buscam abrigo no ambiente virtual. Com o objetivo de propagar arte e cultura, tentam adequar suas exposições a diferentes plataformas. Alguns desses espaços culturais optaram por reproduzir fotos do acervo em alta resolução, acompanhadas de texto descritivo sobre obra e autor e mostrar em seu próprio site ou pelas redes sociais, criando assim um modelo de exposição virtual.

A abertura de algumas mostras começaram a ser realizadas por Live streaming — transmissões ao vivo — em redes sociais, como Instagram, Facebook ou Youtube, buscando divulgar e atrair o público a apreciar obras virtualmente. Já outros espaços culturais foram além, adaptaram suas exposições a Online Viewing Rooms — Salas de Visualização Online — que reproduz digitalmente em 3D um espaço de exposição, permitindo ao público navegar pelo espaço, observando as obras de diferentes ângulos.

Como exemplo de exposição virtual, no vídeo abaixo podemos assistir como é a experiência de entrar em uma sala de visualização online. A exposição coletiva é da Photoarts Gallery, que reuniu fotografias de diversos artistas em uma galeria virtual. O visitante tem liberdade de andar pelo ambiente projetado, ao ativar o áudio é possível ouvir o som ambiente, e com apenas um clique se obtém informações sobre o autor, descrição sobre a obra, de forma escrita ou por meio de áudio do próprio autor, sendo possível até adquiri-la.[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=V-bdO51fWQU”]

O curador e responsável técnico do acervo do Museu de Arte de Santa Maria (Masm), Marcio Flores, relata que transformações nos processos curatoriais foram necessárias para adequar-se ao momento em que estamos vivenciando. “Hoje é preciso pensar nas plataformas digitais como meio de divulgação, embora as exposições presenciais sejam realizadas. Isto demanda mais trabalho, organização e criação de materiais específicos para estas plataformas e programas”, esclarece. Marcio realizou curadoria de diversas exposições de forma híbrida, online e presencial, durante a pandemia. Sobre as exposições virtuais e o futuro dessa modalidade, o curador comenta: “Acho fantástico essas possibilidades expográficas, que permitem a participação e visualização de diferentes públicos. Acredito que este processo tecnológico, digital, é uma grande ferramenta de divulgação e promoção cultural, veio para ficar e cada vez mais ser aprimorado, e seu desenvolvimento irá nos proporcionar futuramente muitos resultados ainda nem imaginados.”

A prática de exposições virtuais não surgiu durante a pandemia de Covid-19, a plataforma Google Arts & Culture há anos disponibiliza visitas virtuais em museus de todo o mundo e acesso a galerias com um amplo acervo de imagens, tudo de forma gratuita, tornando a arte mais acessível. Utilizando a tecnologia Street View, possibilita vistas panorâmicas de 360° na horizontal e 290° na vertical, dando ao visitante uma certa liberdade para andar pelo local. O site exibe mais de seis milhões de obras e conta com mais de seis mil exposições. É possível visitar instituições de arte internacionais e nacionais, como por exemplo, o Museu Nacional, Instituto Inhotim, Museu Afro Brasil, MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand e outros.

O Sesc RS lançou, em abril deste ano, a Galeria Virtual Sesc, o projeto nasceu visando disseminar as artes visuais e aproximar a relação do público com a arte e artistas gaúchos, de diferentes regiões do estado. Na plataforma é possível visitar as exposições de forma online, apreciando as obras e suas descrições, contendo também audiodescrição. Sob a lógica de uma galeria física, a cada 30 dias é apresentada uma nova exposição, atualmente está em exibição a mostra “Entre o Sagrado e o Profano” de Nelson Theophilo Hartmann.

Os museus não apenas adaptaram-se à pandemia, mas um novo museu foi criado, o Covid Art Museum (CAM) — Museu de Arte Covid — primeiro museu digital que nasceu durante o período de isolamento social. O acervo é disponibilizado pelo Instagram (@covidartmuseum), mostrando artes que surgiram durante o período pandêmico, tendo como tema sentimentos e objetos relacionados a pandemia de Coronavírus. É composto por pinturas, colagens, fotografias e ilustrações de diversos autores. O CAM foi idealizado por Emma Calvo, Irene Llorca e José Guerrero, de Barcelona, que também são responsáveis pela curadoria das obras, que são partilhados através da hashtag #CovidArtMuseum.

De acordo com uma pesquisa, realizada pelo Itaú Cultural em parceria com o Instituto de pesquisa Datafolha, sobre “Hábitos culturais: expectativa de reabertura e comportamento digital”, 57% dos brasileiros intensificaram o acesso à web durante a pandemia, 36% mantiveram o padrão de acesso e 7% reduziram suas atividades virtuais. Segundo o levantamento, 17% dos entrevistados relataram visitar museus e exposições online, ainda de acordo com a pesquisa, a intenção de continuar a fazer estas atividades virtuais após a pandemia diminui para 14%. Os entrevistados que realizaram atividades culturais durante a pandemia avaliam positivamente os impactos da prática para a saúde mental e para convivência social, 54%, declararam que as atividades culturais na web ajudaram a diminuir a sensação de solidão, para 45%, o acesso à cultura pela internet reduziu o estresse e ansiedade, e 44% viram uma melhora geral na qualidade de vida. É importante salientar que nem todo mundo tem acesso ao meio digital, de acordo com o levantamento, dos cerca de 1.500 entrevistados em todo o país, 7% relataram não ter acesso à internet.

Para o jornalista, professor e amante das artes Carlos Alberto Badke, as visitações online têm seus pontos positivos e negativos. “As visitas virtuais a museus, exposições e passeios por cidades históricas têm vantagens e desvantagens. Eu destacaria o fato de termos a possibilidade de viajar sem sair de casa, conhecer lugares até então desconhecidos e ampliar nosso acervo cultural. A maior desvantagem é não estar em presença das obras de arte, prédios e ambientes. A mediação via tela de computador esfria um pouco esta relação, essencial para sentirmos empatia com as possibilidades ofertadas pelos seus criadores”, avalia Carlos. O jornalista também afirma que a visitação virtual, embora tenha suas limitações, o ajudou durante o período de pandemia. “Foi uma ferramenta de grande auxílio para aumentar o meu conhecimento e disponibilizar aos alunos.”

A pandemia parecia um beco sem saída para artistas plásticos e visuais, mas alguns desses artistas contornaram a situação e fizeram dela um momento de reinvenção e ressignificação. Simone Rosa, artista visual que iniciou sua carreira em 1987, fala de que forma a temática de suas produções artísticas mudou neste período. “Minha produção poética durante a pandemia mudou bastante, inseri pássaros beija-flor como símbolo de boas novas, como mensageiro de notícias boas, inclusive a última exposição que estou fazendo chamo de Tempos consonantes, que quer dizer que a gente busca tempos consonantes, tempos harmoniosos, notícias boas e que tudo isso passe. O beija-flor é um símbolo de mensageiro de boas novas, ele é símbolo místico no Xamanismo e em várias religiões.”

Para a artista a experiência digital não substitui o presencial: “Quero que volte às exposições presenciais e que a gente consiga continuar tendo esse contato presencial com as obras, eu acho que o virtual surgiu para ser uma opção paralela, mas ele nunca vai substituir a experiência que tem que ter no contato direto com a obra.”

Reprodução/ Instagram de Simone Rosa, Exposição Mensageiros do Recomeço

O artista Emerson Massoli iria expor sua mostra individual OP-ORIGAMI, ano passado, no Museu de Arte de Santa Maria (Masm), mas em decorrência da pandemia a exposição foi adiada para este ano, na esperança que a situação estivesse um pouco melhor, o que não ocorreu. Para a mostra não ser adiada novamente, o artista, em parceria com o museu e curadoria, optou por realizá-la de forma híbrida, online e presencial. “Como a maioria das obras expostas eram objetos em três dimensões, foi muito interessante pensar e visualizar como transpor isso para o virtual, sem que perdesse a essência da percepção das obras físicas…”, relata Emerson sobre a adaptação. As obras de sua exposição foram apresentadas nas redes sociais, por meio de fotos dos trabalhos expostos no espaço físico, imagens com detalhes, informações descritivas sobre a obra e um vídeo, estilo tour pela exposição, o que possibilitou a compreensão da noção de dimensão e disposição dos trabalhos no espaço expositivo.

Reprodução/ Instagram Museu de Arte de Santa Maria

Sobre o sucesso que a exposição obteve virtualmente o artista revela: “O alcance foi algo que me surpreendeu bastante, não imaginava a repercussão que poderia tomar, indo além do contexto local, o que teve grande influência das redes sociais para que acontecesse”. Emerson conta que por causa da pandemia, assim como muitos artistas, buscou alternativas criativas no ambiente online. “Acredito que a maioria dos artistas teve que se adaptar ao contexto para dar vazão a sua arte. Participei ano passado de algumas exposições coletivas de forma virtual, criei um perfil específico em uma rede social para compartilhar os processos e resultados da pesquisa artística que desenvolvo, e pretendo no começo do mês de junho realizar uma exposição virtual em uma plataforma de realidade virtual. As opções são muitas e variadas, acredito que após o fim da pandemia esses modelos de difusão de arte se manterão, pois trouxeram novas perspectivas para o cenário cultural”.

Helena Macedo, artista plástica e professora de arte, no início da pandemia, aposentou-se da função de professora, a qual trabalhou por 38 anos. Em seus anos de magistério atuou conjuntamente como artista plástica, atualmente continua produzindo obras de arte. A artista é membro da Associação dos Artistas Plásticos de Santa Maria (AAPSM), que realizou três exposições, todas de forma híbrida, antes do período pandêmico, no Museu de Arte de Santa Maria (Masm). Helena também pertence ao Grupo Olhares, coordenado pelo artista plástico Luciano Santos. Durante a pandemia, o grupo realizou algumas exposições virtuais, como “VAI DE ARTE”, uma mostra virtual pelo instagram (@vai.de.arte), de máscaras decorativas em alusão a pandemia. Também participou da exposição “Alegorias Pandêmicas”, que foi pensada exclusivamente para a plataforma Instagram, contando com obras de artistas do grupo e convidados. A última exposição do grupo foi “CONTEMPORÂNEA: MARIA”, que reúne a visão particular de 15 artistas de Santa Maria acerca de Maria, além de virtualmente a mostra também está disponível para visitação presencial na Universidade Franciscana (UFN), na Sala de Exposições Angelita Stefani.

Reprodução/ Instagram da Exposição Alegorias Pandêmicas

A artista comenta sua satisfação com o resultado das mostras virtuais. “Eu acho que todas tiveram um grande alcance e me realizei muito”. As produções artísticas de Helena não foram afetadas durante o período pandêmico, a artista continuou realizando suas obras e incluindo objetos referentes à pandemia, o que mais a afetou foi não ir presencialmente às mostras. “Um dos problemas foi não poder mais frequentar exposições, que adoro ir ver pessoalmente”, relata. Sobre o impacto econômico no setor cultural, Helena conta que não foi fácil, mas como grande parte dos artistas plásticos têm outra fonte de renda, afirma: “Para mim foi muito negativo, a renda nas vendas das obras foi muito baixa. Mas como falei no início, sou professora e tenho outra renda, e assim não me afetou tanto. Não posso dizer que não vendi obras de arte, vendi. Mas não como na época em que não tínhamos pandemia”.

Auxílio emergencial cultural – Lei Aldir Blanc

Apenas três meses após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar a pandemia de Coronavírus, foi aprovado o projeto de lei 1.075/2020 iniciativa da deputada Benedita da Silva (PT). O projeto determinava à União a aplicação de ações emergenciais destinadas ao setor cultural a serem adotadas durante o estado de calamidade pública. A legislação foi intitulada como Lei Aldir Blanc em homenagem ao artista, que morreu em maio vítima do coronavírus. De acordo com o projeto de lei, caberia a União entregar para estados, Distrito Federal e municípios R$ 3 bilhões. Os beneficiários desse auxílio são profissionais que trabalhavam com música, entretenimento, teatro, artes, espetáculos e outros setores artísticos e estabelecimentos do setor cultural afetados pela pandemia. O repasse da verba ao setor cultural ficou a cargo dos estados e municípios. A ajuda financeira começou a ser paga só em setembro de 2020.

A Secretaria Especial de Cultura, que é vinculada ao Ministério do Turismo federal, oferece em seu site um painel de dados que permite o acompanhamento dos indicadores da Lei Aldir Blanc.

Embora o Auxílio Emergencial Cultural tenha beneficiado uma parte dos trabalhadores da cultura, a quantidade de solicitações foi menor que o esperado. O principal motivo está no fato que dentre os artistas e trabalhadores da cultura aptos a inscrição para receber o benefício, muitos já estavam cadastrados no Auxílio Emergencial pago pelo Governo Federal, instituído em abril de 2020, o que não os permitiu ter direito ao Auxílio Cultural.

Santa Maria

Em Santa Maria não foi diferente, reinventar-se virtualmente foi necessário a artistas e espaços culturais. Da mesma maneira que em outras regiões do país, após o fechamento de espaços e eventos adiados como medida de combate à Covid-19, artistas tiveram dificuldade de atuar em sua área e manter sua renda. “O impacto econômico foi muito forte, pois teve uma grande parada, tive que fechar meu atelier ao público e não ter mais alunos, teve um tempo que parou as vendas e depois recomeçou devagar”, relata a artista Simone Rosa, e acrescenta que felizmente tem outra fonte de renda para garantir o sustento: “Não vivo só da renda do atelier ou das artes visuais, tenho outra fonte de renda, porque se não seria muito problemático. Fico triste em pensar que existem pessoas e famílias que dependem da renda da produção cultural, tanto artes plásticas, quanto teatro e música. Fico feliz em ver que tiveram várias campanhas que incentivam e apoiam esse setor que foi abandonado de uma hora para outra”.

Para auxiliar o setor cultural, a Prefeitura de Santa Maria abriu em maio o edital Viva Cultura 2020, que beneficiou 70 projetos e mais de 200 pessoas, que realizaram apresentações artísticas no festival virtual Viva Santa Maria. Já em outubro foi realizada a primeira edição do festival Santa Maria Pela Música, também de forma online, porém dessa vez com venda de ingressos, em que a verba da arrecadação foi revertida aos artistas que se apresentaram no evento. Por meio da Secretaria de Cultura, auxiliou artistas locais, selecionados em edital da Lei Aldir Blanc, para projetos artísticos de Arte Mural/Grafite em espaços do Parque Itaimbé.

Exposições online começam a fazer parte da rotina do Masm

O Museu de Arte de Santa Maria (Masm) não ficou para trás e começou a realizar exposições no formato virtual, tendo como objetivo manter o museu em funcionamento durante a pandemia de Covid-19. As visitações online podem ser feitas pelo Instagram ou Facebook do museu, e as obras expostas são apresentadas por meio de fotos. A diretora do Masm e artista plástica Marília Chartune relembra o começo dessa iniciativa. “Nós tivemos muitas dificuldades no início, porque não sabíamos qual público iríamos atingir. Temos nossas redes sociais, Instagram e Facebook, e adaptamos juntamente com os expositores que enviaram arquivos de qualidade, fizemos as publicações periódicas de acordo com cada uma das redes sociais”, conta a diretora.

A primeira exposição postada nesse formato foi durante o evento Viva Masm, em junho do ano passado, onde além da exposição, diversas obras de arte estavam disponíveis para serem comercializadas no Mercado de Arte do Museu. Devido ao sistema de bandeiras no Rio Grande do Sul, o Masm fica aberto também a visitação presencial, com agendamento prévio para evitar aglomerações, exceto na bandeira preta. O museu deu continuidade às apresentações de maneira híbrida, combinando online e presencial, em 2021. Sobre as exposições virtuais, Marília relata: “A gente tem muitas visitações registradas, muito mais as vezes do que quando é presencial, então tivemos sucesso nessa parte”.

Reprodução/ Facebook Museu de Arte de Santa Maria

Yann Ziegler, artista visual santa-mariense, que há anos dedica-se à produzir arte a partir da ressignificação de objetos apropriados do meio onde vive, expôs de forma híbrida no Masm sua mostra “A Transmutação dos Sólidos”, com curadoria de Marcio Flores, composta por 61 objetos-arte. A abertura da exposição foi realizada virtualmente, via transmissão ao vivo no Instagram do Masm. “Fazer a abertura de uma exposição através de uma live foi uma experiência e tanto. Teve um alcance além do esperado, tanto que estou certo que, mesmo depois da pandemia, quando se voltar a fazer abertura presencial, farei juntamente com a on-line. Acho que a live de vernissage veio para ficar”, declara o artista sobre a experiência. Quanto à busca de alternativas criativas no ambiente online, Ziegler acrescenta: “Intensifiquei o uso das redes sociais como forma de melhor chegar ao meu público”.

Foto: Heloisa Helena – Obra de Yann Ziegler, Exposição A Transmutação dos Sólidos

Um ano após o início da pandemia de Coronavírus, a vacinação no Brasil caminha a passos lentos e o número de óbitos supera os 400 mil, será mais um ano complicado para o setor cultural. Artistas plásticos e visuais, museus e galerias seguirão tentando adaptar-se às circunstâncias da pandemia, somando esforços para reinventar-se e manter a arte viva em meio ao caos. As exposições virtuais e o ambiente online podem auxiliar nesse processo, com suas vantagens e desvantagens, estão ganhando espaço no mundo das artes.