Estudantes, famílias, movimentos sociais e entidades em geral, saíram mais uma vez às ruas de Santa Maria aderindo a onda de protestos que se espalharam de norte a sul do Brasil. A concentração iniciou às 10h na Praça Saldanha Marinho. Em seguida, um caminhão de som abriu caminho para as cerca de 30 mil pessoas participaram da manifestação que terminou em frente à Câmara de Vereadores por volta das 14h30, deste sábado (22).
Ora considerado um protesto apartidário, ora um protesto de várias bandeiras, o fato é que diferentes reivindicações estamparam cartazes e motivaram os gritos dos participantes. Foram criticados os gastos com a Copa do Mundo, a PEC 37, a precariedade da saúde e educação do país. Entre as principais reivindicações estavam a redução das tarifas do transporte público, o fim da corrupção, o veto do Ato Médico e o pedido de justiça às famílias das vítimas e sobreviventes da tragédia de 27 de janeiro.
A administração municipal e a CPI da Boate Kiss foram, novamente, alvos de protesto.
Uma das inúmeras faixas que faziam menção à tragédia trazia o recado: “Nada será arquivado na nossa memória.” Em outra: “ E se fosse um filho teu?”
No meio da multidão um dos cartazes ironizava: “O Ministério da Saúde Adverte: em caso de suspeita de estar gay procure um médico antes de um psicólogo. #naoaoatomedico #naoacuragay.”
O responsável pela confecção da peça, Dione Gonçalves Lemos, de 24 anos desabafou: “É um retrocesso à saúde, pois sofrem os profissionais e sofrem ainda mais, os pacientes.” Dione é estudante de psicologia.
Já o grupo de ciclistas que se juntou a passeata carregava a faixa: “Esporte não é só futebol” Um senhor de cabelos brancos e passos lentos, erguia bem alto o cartaz: “ Aposentado também protesta!”
Segundo o comandante da Brigada Militar, coronel Jaime Machado Garcia a manifestação foi organizada e pacífica: “Foi tudo muito tranquilo e não houve nenhum incidente. Foi cumprido o itinerário de forma organizada, conforme o acordo que fizemos na reunião com o DCE da UFSM, o CEPRS e demais representantes sindicais.”
No fim protesto foram colados cartazes na fachada do prédio da SUCV, onde está localizado o Gabinete do Prefeito. Já na Câmara de Vereadores, um pequeno grupo de manifestantes fez pichações na porta da casa dos edis, escrevendo as palavras: “justiça”, “242 motivos”, entre outras.
Os motivos que levaram os manifestantes à rua:
“As manifestações são oportunas para que tem algo a reivindicar. Minha motivação é para que o Brasil se torne um país melhor em todos os sentidos: transporte educação, saúde e cultura.” (Fábio Prado Lima, 40 anos – Arquiteto)
“Eu fui lá muito mais para ver sobre o que o pessoal iria se manifestar, para fazer uma análise crítica sobre o que estavam falando. Achei muito fraco e vi que muitos também não gostaram das lideranças. Tinha tanta gente lá, com múltiplas reclamações, não gostei desse direcionamento. O movimento poderia ser mais forte elegendo temas de mais repercussão, ou que atingem mais pessoas. Os caras estavam reclamando das passagens e sequer pararam na frente da ATU [Associação dos transportadores Urbanos] para fazer barulho.” (Felipe Ceretta De Gregori, 27 anos – Advogado)
“Eu estava indignada com o que andava acontecendo e triste por ninguém se mobilizar. Sempre participei de marchas e eu não poderia estar fora desta. É um momento histórico contra a injustiça, contra o preconceito.” (Fernanda Beck Moro, 23 anos – Estudante de Artes Visuais)
“É uma manifestação correta, para melhorar as coisas. O problema é que deixam vândalos entrarem e aí acho que deveriam se organizar melhor e a polícia deveria baixar o cacete.” (Daran Dorneles, 60 anos – Engenheiro Agrônomo)
“O que me motivou foi a possibilidade de divulgar uma ideia destoante do Movimento Passe Livre mostrando que o real problema é a intervenção estatal através de concessões que acabam por gerar oligopólios, estes, por impedirem a livre concorrência estimulam o aumento dos preços e a estagnação da qualidade do serviço prestado.” ( Quelen Garlet, 22 anos – Farmacêutica)
“A força do povo sempre ajuda. Estamos aqui segurando cartazes porque perdemos muitos amigos, muitos. Quem deveria estar preso não está. Há muita impunidade.” (Leônidas Pinheiro, 23 anos – Estudante de Ciências Sociais)
“Todos nós [do Shopping Popular Independência] apoiamos e esperamos que o protesto seja pacífico. Somos 204 e todos aderiram, pois nossa história sempre foi marcada por manifestações.”(Magaiver Mello, 39 anos – Vendedor)
Reportagem: Pâmela Rubin Matge
Fotos: Renan Mattos e I. Branco