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AIDS

Dezembro Vermelho: último mês do ano marca o combate das ISTs

A campanha do Dezembro Vermelho, que vem ao combate às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), foi promulgada em 2017 no Brasil e visa conscientizar, por meio de ações públicas, que abordam sobre a importância da assistência, prevenção

O tratamento e o preconceito em casos de HIV

A psicóloga  em política municipal, Daiane Tolentino, ministrou  nesta quarta-feira, 29, a oficina  sobre psicologia e atuação em HIV / Aids.  O workshop foi realizado de forma interativa, através de um bate-papo com os alunos e

Epidemia de Aids volta a crescer no Brasil

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença de origem infecciosa, causada pelo vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Reconhecida como uma nova doença em 1981, os Estados Unidos da América presenciaram um boom de mortes em decorrência

A campanha do Dezembro Vermelho, que vem ao combate às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), foi promulgada em 2017 no Brasil e visa conscientizar, por meio de ações públicas, que abordam sobre a importância da assistência, prevenção e proteção dos direitos das pessoas infectadas com HIV. A iniciativa, realizada em todo o país, abrange o Sistema Único de Saúde (SUS) em parceria com administração pública de cada estado e cidade. Originalmente, a campanha foi instituída através da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1991. A denominação ISTs substituiu a sigla DSTs, Doenças Sexualmente Transmissíveis, e é usada como meio de explicar a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir a infecção, mesmo ela não tendo sinais ou sintomas.

Dia 1 de dezembro é a data que marca a importância a conscientização sobre precauções, sintomas e tratamento da AIDS. Foto: Freepik

As ISTs são causadas por vírus, bactérias ou microrganismos transmitidas por meio de relações sexuais (oral, vaginal, anal) sem o uso de preservativo masculino ou feminino com a pessoa que está infectada. A transmissão pode ocorrer também de maneira não-sexual através do contato de mucosas ou pele não íntegra com secreções corporais contaminadas.

Entre os sintomas das ISTs estão feridas, corrimento, verrugas anogenitais, dor pélvica, lesões de pele e aumentos de ínguas. Alguns tipos de ISTs são: herpes genital, sífilis, gonorreia, tricomoníase, infecção pelo HIV, hepatites virais B e C , entre outros. O tratamento pode ser realizado de forma gratuita através do SUS.

HIV ainda preocupa

A AIDS ou HIV é uma IST causada por meio da infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana, conhecida também por HIV. O Dia Mundial de Luta Contra a AIDS, 1º de dezembro, foi instituído pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma data simbólica de conscientização para todos os povos sobre a epidemia de Aids.

A transmissão ocorre devido a relações sexuais sem o uso do preservativo masculino ou feminino, uso de seringa por mais de uma pessoa, transmissão de sangue contaminado, da mãe infectada para seu filho durante gravidez no parto ou amamentação, e por instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

Os primeiros sintomas da doença surgem entre duas e quatro semanas após o contato com o vírus e são parecidos com os de gripe. A próxima fase é caracterizada pela alta interação entre as células do corpo e as mutações do vírus, e é quando o corpo fica assintomático. Mais tarde, o ataque às células aumenta o gera um desgaste no corpo, o que deixa o sistema imunológico mais sensível a várias infecções. Em um estágio mais avançado o paciente pode desenvolver hepatites virais. O diagnóstico da doença é realizado por meio de um teste a partir da coleta de sangue ou fluido oral de forma gratuita pelo SUS.

O tratamento é realizado mediante o uso de medicamentos antiretrovirais (ARV) que surgiram na década de 80 e impedem a multiplicação do HIV no organismo, o que evita o enfraquecimento do sistema imunológico. Desde 1996, o Brasil disponibiliza de forma gratuita os ARV e, na atualidade, existem 22 medicamentos. Em 2022, a AIDS entrou oficialmente na Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, que tem por objetivo auxiliar o planejamento de saúde, definir prioridades de intervenção e permitir o impacto que estas intervenções trazem para a erradicação da doença.

No Rio Grande do Sul, a implementação dessas medidas vem acompanhada de outras estratégias, como a manutenção do Projeto Geração Consciente, iniciativa da Secretaria Estadual da Saúde em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, UNESCO, UNAIDS e RS Seguro, dirigido a jovens estudantes de escolas estaduais e municipais em que um dos eixos trabalhados é a saúde sexual e reprodutiva.

Entre as capitais do país, Porto Alegre é a que apresentou maior índice de infectados em um levantamento dos últimos cinco anos (2018 a 2022) que leva em consideração as taxas de detecção na população geral , mortalidade e detecção em menores de 5 anos. Até junho de 2023, o estado do Rio Grande do Sul registrou 1.206 casos de AIDS. Em relação ao coeficiente de mortalidade, o RS apresenta o maior do país: 7,3 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto a média nacional é de 4,1.

Daiane Tolentino, psicóloga, ministrou a oficina sobre psicologia e atuação em HIV/ Aids.  Foto: Thayane Rodrigues

A psicóloga  em política municipal, Daiane Tolentino, ministrou  nesta quarta-feira, 29, a oficina  sobre psicologia e atuação em HIV / Aids.  O workshop foi realizado de forma interativa, através de um bate-papo com os alunos e profissionais da área da saúde e apresentação de vídeos.

Segundo Daiane, até o momento, 95 casos de HIV,foram confirmados no município neste ano. Ela revelou que 32 casos foram de mulheres gestantes. A psicóloga, revelou que dados da política HIV, em 2017, apontaram o percentual em cada grupo de portadores do vírus, sendo: 10% gays,  31% transexuais, 5,9% usuários de drogas, 4,9% mulheres profissionais do sexo. O estigma e o preconceito dificultam o acesso dessas pessoas à educação e aos serviços de saúde. “quanto mais vulnerável mais atenção devemos dar a determinadas pessoas ou a população”, afirma a psicóloga.

Daiane também explicou o funcionamento da Casa 13 de maio, localizada na Rua Riachuelo nº 364, no centro de Santa Maria. O local conta com profissionais da saúde que fazem o acolhimento e realizam exames para o HIV. São feitos quatro testes rápidos para: HIV/Aids, sífilis, hepatite B e C. Uma vez confirmado o resultado, o paciente inicia o tratamento com o uso de medicamentos antiretrovirais disponíveis no Hospital  Universitário de Santa Maria. “A profilaxia deve ser realizada até 72 horas depois da exposição para que se faça o exame de gravidez e demais exames e o uso de medicamentos”, indica a psicóloga.

Para acadêmica de psicologia e estagiária na casa 13 de Maio no setor de Política HIV/Aids, Jessyca Prass Dorneles, 20 anos, o acolhimento leva em conta o estado emocional dos pacientes. “Se a pessoa está muito nervosa a gente nem faz o teste porque ela não tem condições de lidar com o diagnóstico naquele momento. A gente tem que partir do pressuposto de que pode dar positivo” complementa Jessyca. A estudante reforça a realização do procedimento da PEP (Profilixia Pós Exposição), para que se evite a transmissão do HIV.

Outro tema da conversa foi o preconceito da sociedade com os portadores do vírus. “Uma vez estava numa palestra e perguntei se alguém ali tomaria chimarrão com uma pessoa que tem a doença. Ouvi muitos não”, salienta Tolentino.

Os alunos questionaram sobre o procedimento que debe ser adotado com os bebês após o parto.  “No momento do parto se a mulher não sabe que tem HIV, ela toma uma medicação intravenosa e o bebê é acompanhado até os dois anos de idade, que é quando se pode dar um resultado definitivo” esclarece Daiane. Conforme a estudante de psicologia da UFN, Clarissa Carvalho de Oliveira, 21 anos, “aqui na faculdade não se vê muito sobre isso e eu achei que tinha algum conhecimento e não tinha”.

Para marcar o dezembro vermelho, a Universidade Franciscana realiza, no dia 30 de novembro, o recolhimento de objetos de higiene pessoal de uso feminino. As doações serão entregues no presídio feminino do município.

 

Dezembro Vermelho é o nome dado no Brasil a campanha do mês de prevenção à doenças sexualmente transmissíveis. Em Santa Maria são realizados gratuitamente testes no Ponto de Referência de Testagem na Rua Riachuelo, nº 364, esquina com a rua Pinheiro Machado.

O folder ao lado, que ilustra as principais informações sobre a realização dos testes na cidade, foi produzido por duas alunas do 6° semestre do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Franciscano (Unifra) na cadeira de Projeto de Extenção em Comunicação Comunitária.

Ana Carolina Dias e Mariana Fonseca tiveram a intenção de, no folder, dar total ênfase às informações relacionadas aos testes, a principal medida de apoio a campanha tomada pelo município, conforme explica Mariana.

“Ficamos surpresas porque não sabíamos que era tão alto o índice de aids em Santa Maria e no Brasil. E realmente não é muita gente que conhece e que toma precaução sobre isso, então é bem importante informar. Ficamos felizes por este trabalho”; conta Mariana Fonseca.

As estudantes pensaram em algo para chamar atenção. Mariana Fonseca conta que elas perceberam que o lacinho da campanha parece com o ponto de referência do GPS Google Maps, então elas uniram os dois para fazerem referência ao ambulatório que disponibiliza o teste. Veio delas a ideia de chamar o local de “Ponto de Referência de Testagem”, já que a antiga Casa 13, está em processo de reinstalação e adaptação ao novo local de atuação e não possui nome definido ainda. É importante ressaltar que o local também ainda não possui fachada.

Após a realização dos testes o município de Santa Maria caiu 84 posições no ranking nacional dos casos de HIV.

Além da mobilização de incentivo para que a sociedade realize o teste com a distribuição dos folders no calçadão do Centro da cidade no dia 1° de dezembro, também foram promovidas palestras no Centro Universitário Franciscano e no Calçadão e um cine debate no Shopping Praça Nova nos dias 1° e 2 de dezembro.

No site da prefeitura de Santa Maria encontra-se diversas matérias sobre a campanha Dezembro Vermelho na cidade.

Todas as ações realizadas são parcerias entre a prefeitura municipal e diversos órgãos públicos e privados da cidade, como a Pastoral da Aids, a ONG Igualdade, a Residência Multiprofissional da Unifra, setores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e o Shopping Praça Nova Santa Maria.

Você sabe os sintomas da Aids? Já parou  para fazer o teste de HIV?  Ou tem ideia do número de infectados em Santa Maria? De acordo com a Vigilância Epidemiológica do Município, só no primeiro semestre de 2017, foram 142 pessoas identificadas com a doença, entre homens e mulheres de 15 a 80 anos.

O mesmo levantamento, realizado em 2007, mostra 91 casos durante todo aquele ano, com pessoas da mesma faixa etária. Se seguir nessa crescente, 2017 irá fechar com quase 300 diagnosticados com a doença. Assim, no período de 10 anos, o número de infectados por ano identificados pela vigilância terá triplicado. Ainda, de acordo com a pesquisa, os índices mais altos aparecem entre homens de 30 a 39 anos e mulheres de 20 a 29 anos. A partir do vídeo produzido para esta reportagem, pode-se tanto refletir tanto sobre prevenção, quanto ter alguns esclarecimentos sobre o tratamento, na palavra de quem vive essa realidade.

A reportagem tentou contato a Secretaria da Saúde do Município para obtenção de dados em detalhe, mas, mesmo após vários contatos, não houve retorno.

Por Victória Azambuja, Lucas Cirolini e Camila Fogliarini, para a disciplina de Jornalismo Investigativo, no segundo semestre de 2017, sob a orientação da professora Carla Torres.

 

Na América Latina, número de pessoas contaminadas pelo vírus da AIDS aumentou entre 2015 e 2016. O RS apresenta a segunda maior taxa de detecção de aids no país, com 38,3 casos para cada 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional aopontada em 19,7 casos por 100 mil habitantes.Imagem: Pixaby

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença de origem infecciosa, causada pelo vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Reconhecida como uma nova doença em 1981, os Estados Unidos da América presenciaram um boom de mortes em decorrência de infecções oportunistas incomuns e de neoplasias raras, sendo as vítimas, em sua grande maioria, homens homossexuais. Com o passar dos anos, houve uma heterossexualização da doença e, atualmente, as mulheres representam metade das pessoas portadoras do vírus em todo o mundo.

A transmissão da doença ocorre através de sangue e secreções humanas contaminadas e, verticalmente, de mãe para filho durante a gravidez e/ou o parto. O compartilhamento de seringas contaminadas com o vírus, como é caso de usuários de drogas injetáveis, foi uma das principais formas de transmissão na década de 1980 no Brasil. Hoje, 80% dos adultos contraem o vírus por via sexual.

Em um formulário respondido por 62 habitantes de Santa Maria, 8,1% das pessoas afirmaram que não usam preservativo em suas relações sexuais; 29% declaram que “depende da situação”; 30,6% protegem-se quando não estão em relações monogâmicas, e 32,3% usam camisinha em todas as relações sexuais. Se o número de pessoas que tem ou já tiveram relações sexuais sem camisinha é de 67,7%, qual a justificativa para um percentual de quase 50% que nunca realizou um teste de HIV? Medo? Vergonha? O velho pensamento de que “não vai acontecer comigo”?  

Desde o seu surgimento, a AIDS é uma doença acompanhada de rótulos. Se os efeitos físicos costumavam ser extremamente agressivos, as consequências psicológicas não ficavam para trás. No Brasil, o tabu em relação à doença diminuiu quando figuras públicas, como o cantor e compositor Cazuza, mostraram, na cara e na coragem, as consequências de ser soropositivo. Cazuza faleceu em 1990 e, ainda em 1996, quando o Brasil estava com 25 mil casos diagnosticados no Brasil, a taxa de mortalidade representava, em média, 60%, ou seja, 15 mil pessoas vieram a falecer em consequência da AIDS em apenas um ano.

A revolução em relação ao número de mortes surge com os inibidores de protease em 1997, onde, inacreditavelmente, pessoas hospitalizadas começaram a ganhar peso e “voltaram à vida”, como relata o médico Drauzio Varella no vídeo “História da AIDS no Brasil”, disponível em seu canal no YouTube.

A quebra de patente ampliou o tratamento

A farmacêutica bioquímica e mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Renata Soccal, explica que, quando o tratamento contra o vírus HIV surgiu, somente uma determinada parcela de pessoas contaminadas tinha acesso à medicação. Era necessário estar com menos de 500 linfócitos CD4 no organismo, ou seja, com a doença avançada e com uma carência de células eficientes atuando no sistema imune. Quem estava vulnerável às infecções, iniciava o tratamento com os retrovirais. Algum tempo depois, pacientes com menos de 350 linfócitos também passaram a receber a medicação – crescia, assim, o número de pessoas amparadas pelo tratamento. [dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O que são linfócitos? Linfócitos são os glóbulos brancos responsáveis por manter o sistema imune funcionando.[/dropshadowbox]

Hoje, em termos de diagnóstico e tratamento, o Brasil se equipara aos países de primeiro mundo. Segundo o Portal Saúde do Governo Federal, o total de brasileiros com acesso ao tratamento com antirretrovirais no país mais do que dobrou entre 2009 e 2015, passando de 231 mil pacientes (2009) para 455 mil (2015). Atualmente, o SUS oferece, gratuitamente, 22 medicamentos para os pacientes soropositivos. Desse total, 11 são produzidos no Brasil.

Em maio de 2007, o Brasil quebrou a patente do Efavirenz, um anti-retroviral consumido por 75 mil pacientes de Aids na rede pública brasileira, à época.  Imagem: Pixabay

Todas as pessoas contaminadas com o vírus HIV podem e devem realizar o tratamento imediatamente. Embora o portador do vírus ainda não sinta a necessidade de ser medicado, ele evita que o vírus se prolifere e que outras pessoas sejam contaminadas, pois à medida que o organismo responde bem ao tratamento, o paciente consegue zerar a carga viral. “A maioria das pessoas que responde bem ao tratamento consegue eliminar o vírus circulante. É como se o paciente fosse negativo para o HIV – mesmo contaminado, ele não passa o vírus”, explica Renata.[dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O que é vírus circulante? Vírus circulante é a quantidade de vírus HIV presente na circulação sanguínea do paciente.[/dropshadowbox]

Quanto mais precoce o diagnóstico, menor o risco de contaminação em rede. Foto: Pixabay

É importante esclarecer que nem todo o portador do vírus HIV vai desenvolver a AIDS ao longo da vida. As consequências dependem da demora em diagnosticar o vírus e, principalmente, da responsabilidade do paciente com o tratamento. A síndrome retroviral; período de febre, tontura e vômito que ocorre em torno de duas semanas após a contaminação, é um dos momentos em que ocorre a busca pelo teste de HIV. Em casos onde o resultado é positivo, a pessoa já pode começar o tratamento. A farmacêutica atua no LAC, o Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), que recebe gaúchos de diversas cidades do Estado, desde Uruguaiana até Venâncio Aires. O HUSM conta com um equipamento único na região, capaz de visualizar a carga viral de cada indivíduo portador do vírus, ou seja, a quantidade de linfócitos e de vírus circulantes.

Foco na prevenção

A política de quebra de patentes de remédios e a fabricação de genéricos  durante o governo de Luis Inácio Lula da Silva diminuiu em 50% o número de casos fatais desde 1996. O “pós-contaminação” está, em teoria, bem encaminhado. Agora, os holofotes estão – ou deveriam estar – focados na “não-contaminação”.

A médica infectologista dra. Liliane Pacheco afirma que as políticas de prevenção ainda são falhas e deixam uma parcela considerável da população de fora: “Acredito que centros de testagem funcionais, assim como os de aconselhamento, deveriam ser amplamente disponíveis”.

A farmacêutica Renata concorda: “Nós vivemos em um mundo paralelo! A questão de extensão é falha. O ideal seria que tivéssemos uma melhor e mais ampla comunicação entre os lados, por exemplo, levando médicos para conversar com os jovens sobre AIDS dentro das escolas”.

A falta de atenção da mídia também é apontada por ambas. Falar sobre AIDS apenas no dia 1º de dezembro, no Dia Internacional do Combate à AIDS, ainda é pouco. “Acredito que a mídia deve deixar bem claro que a prevenção é a melhor alternativa. Embora tenhamos avanços reais em termos de terapia antirretroviral, o aumento de casos de infecção existe e o vírus continua levando consequências danosas para a saúde física e emocional das pessoas contaminadas”, observa a médica Liliane.

Abandono do tratamento

É preciso ampliar a compreensão em torno dos fatores que afetam o paciente. Não se trata apenas de medicar. Imagem: Pixabay

Para além das questões de prevenção e de tratamento, uma das problemáticas no Brasil é o abandono da intervenção. Esse abandono é o resultado de uma soma de fatores, como depressão, falta de disciplina com as consultas e medicamentos e problemas financeiros. Como, então, convencer os pacientes a não desistirem do tratamento? Para Renata, é preciso existir, acima de tudo, respeito com os pacientes: “É possível perceber que a relação médico-paciente é mais pessoal do que padronizada, ou seja, pode existir preconceito por parte dos médicos.”

Mesmo que, de uma forma geral, os currículos dos cursos de medicina contenham disciplinas que abordam a bioética na relação médico-paciente, Liliane afirma que o enfoque realmente depende muito da experiência dos professores. Em uma situação tão vulnerável, onde qualquer motivo pode ser o suficiente para fazer um paciente abandonar a medicação, as políticas públicas de suporte às pessoas portadoras de HIV também são essenciais. Somente remédios não garantem uma “vida normal”, é preciso sentir-se inserido no espaço.

A AIDS não tem classe, gênero, idade ou orientação sexual. Ela atinge pessoas que trabalham com sexo, assim como surpreende casais que estão juntos há mais de 30 anos, onde um dos envolvidos está em uma relação extraconjugal. Assim como é preciso educar a população para que conheça os próprios direitos – inclusive o direito ao respeito -, deve-se acabar com o estigma de que existe um “grupo de risco”. Para estar no grupo de risco, basta ter uma relação sexual sem preservativo.

Os especialistas explicam que o aumento no número de pessoas contaminadas com o vírus HIV se dá, em parte, em função da atual qualidade dos medicamentos. Isso mesmo. Renata explica que, no passado, a medicação alterava até a cor da pele dos pacientes. A doença era visível. Hoje, o HIV não tem cara e, no momento da relação sexual, ninguém imagina que uma pessoa que aparentemente está com a saúde perfeita possa oferecer algum risco – mas pode. [dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]Onde eu posso fazer o teste de HIV em Santa Maria? Os testes rápidos, que apresentam o diagnóstico em 15 minutos, podem ser feitos nas unidades básicas de saúde. Na Casa Treze de Maio, o exame rápido é oferecido de segunda à sexta-feira, das 8h às 11h30min, e o teste tradicional pode ser feito de segunda à sexta-feira, das 8h15min às 11h15min, ou nas terças-feiras e quintas-feiras, das 15h15min às 17h30min. [/dropshadowbox] [dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O que eu preciso levar? Para fazer o teste, é necessário levar documento de identificação e cartão do SUS. A Casa Treze de Maio fica na Rua 13 de maio, 35, no bairro Centro. Esclareça as suas dúvidas pelo número (55) 3921 – 1263. [/dropshadowbox]

O futuro da AIDS

Em março deste ano, a maior agência sem fins lucrativos para pesquisa sobre HIV, a Fundação amFAR, afirmou que o ano de 2020 será marcado pela descoberta da cura da AIDS. Para alcançar o objetivo, 100 milhões de dólares serão direcionados à pesquisa. A farmacêutica Renata explica que, até hoje, o vírus HIV consegue se esconder em locais aonde o medicamento não chega. Mesmo quando a carga viral está zerada, por exemplo, é possível que o vírus esteja “dormindo”, ou seja, torne-se indetectável. Essa é a grande questão da cura: encontrar um medicamento que chegue ao sítio onde está o vírus latente. [dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O que é vírus latente? É o vírus adormecido, aquele que não está na circulação sanguínea. [/dropshadowbox] [dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O que é sítio? Sítio é um local do corpo, por exemplo, os linfonodos, onde o vírus fica escondido, ou seja, a medicação não consegue atingi-lo. Atualmente, quando o paciente zera a carga viral, ele consegue não transmitir o vírus, porém, em situações onde de baixa imunidade, os vírus latentes “acordam” e vão para a corrente sanguínea. Na possibilidade de cura, nenhum vírus “acordaria” com a baixa da imunidade, pois o medicamento controlaria, também, os vírus latentes. É o vírus adormecido, aquele que não está na circulação sanguínea. [/dropshadowbox]

A médica Liliane afirma que é inquestionável que se está caminhando ao encontro da cura, mas apostar em uma data é otimismo demasiado, uma vez que os estudos ainda estão em andamento e podem sofrer diversas alterações até a aprovação.

Mercado farmacêutico brasileiro deve atingir US$ 48 bilhões em 2020. Cientistas colocam em dúvida o interesse do setor em medicamentos que efetivamente curem a AIDS. Foto: Pixabay

Questionada sobre possíveis interesses da indústria farmacêutica em controlar pesquisas e/ou divulgá-las, Renata diz que é difícil posicionar-se. “As doenças crônicas, onde o paciente precisa ser medicado durante toda a vida, geram muito dinheiro para a indústria farmacêutica. Isso é inquestionável, por isso, eu não me arrisco a dizer se existe algum tipo de interesse envolvido. Infelizmente, não temos como saber”, lamenta a farmacêutica.

O fato é que repercussões mundiais resultaram em ações locais que transformaram o cenário da doença, entretanto, o ano de 2016 mostrou que a América Latina pode estar caminhando em direção oposta ao restante do planeta – o número de pessoas contaminadas aumentou de 2015 para 2016. A torcida para que a cura da AIDS seja encontrada é antiga e, cada vez mais, embasada em possibilidades concretas, porém, não se pode perder o foco: existiam, em 2015, cerca de 37 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo, incluindo crianças e adultos. Dessas, em torno de 827 mil estavam no Brasil, sendo 13% ainda não diagnosticadas. Segundo um estudo divulgado pela revista “The Lancet HIV” em agosto de 2016, cerca de 2,5 milhões de pessoas ainda são infectadas por HIV todos os anos.

“Tudo em nome do amor. Essa é a vida que eu quis!”, cantou Cazuza. Aqui, na América Latina, o amor continua sendo a resposta perfeita para a fome, para a miséria, para a corrupção e para o medo. Que seja, também, a resposta para a AIDS: tudo em nome do amor, mas usando camisinha, por favor!

Por Manuela Fantinel para a disciplina de Jornalismo Científico