O convívio com a espera
No início todos contavam. Dez dias de pandemia. Trinta dias. Sessenta dias. E assim por diante. Até que paramos de contar. Agora que ninguém mais conta, já são mais de 400 dias. Grande quantidade deles carregados
No início todos contavam. Dez dias de pandemia. Trinta dias. Sessenta dias. E assim por diante. Até que paramos de contar. Agora que ninguém mais conta, já são mais de 400 dias. Grande quantidade deles carregados
A Agência CentralSul de Notícias faz parte do Laboratório de Jornalismo Impresso e Online do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana (UFN) em Santa Maria/RS (Brasil).
No início todos contavam. Dez dias de pandemia. Trinta dias. Sessenta dias. E assim por diante. Até que paramos de contar. Agora que ninguém mais conta, já são mais de 400 dias. Grande quantidade deles carregados de angústia, preocupação, ansiedade, medo. A dúvida também fez parte deles. Muitos continuaram trabalhando normalmente, outros não. As aulas presenciais foram suspensas, depois voltaram e foram suspensas de novo. Algumas práticas foram liberadas e depois de algum tempo foram proibidas mais uma vez. As incertezas quanto às atividades presenciais perduram até hoje.
Esse assunto sempre me lembra uma frase que muitas pessoas já devem ter lido desde que a pandemia começou: “Não estamos todos no mesmo barco, estamos todos sob a mesma tempestade.” Sim, vivemos realidades totalmente diferentes. Alguns precisam sair de casa todos os dias para manter seu sustento, enquanto outros saem em dias específicos para fazer algo que precisam. Agora que algumas escolas estão reabrindo para receber os alunos, fica a incerteza de comparecer às aulas, podendo colocar a saúde de todos no ambiente escolar em risco, ou continuar em casa na tentativa de manter o processo de aprendizagem. Estudantes de algumas faculdades tentam manter suas atividades práticas nas instituições, com vários protocolos sanitários e com o sentimento de que tudo mudou.
E esse sentimento também reverbera nos encontros pessoais. Visitar amigos e familiares é andar com a insegurança ao lado. É preferível não colocar em risco a vida das pessoas que mais amamos. Então, muitos continuam com as reuniões virtuais, buscando suprir o afeto que antes era algo rotineiro. Pensar que é uma reclusão momentânea promove um certo conforto. É melhor estar em casa do que em um leito de hospital, sem poder receber visitas e com várias incertezas dentro de um quarto.
Díficil. Árduo. Talvez essas sejam as palavras que mais chegam perto do que é viver essa situação. Conviver com pessoas é essencial, é o que todo ser humano faz. O exercício da vida é a convivência. Somos instantes, momentos, rodeados de pessoas que cruzam o nosso caminho. Pessoas essas que ficamos por anos abraçando, apertando a mão, conversando frente a frente. O que era realidade, se tornou lembrança. Estamos onde devemos estar e querendo algo inviável — por enquanto.
Nos resta a esperança. Esperança de que estamos a poucos passos de que conviver com muitas pessoas seja algo comum de novo. De juntar toda a família no almoço de domingo. Sair com os amigos no fim do expediente para ir naquele restaurante especial. Comemorar o aniversário com todas as pessoas importantes da nossa vida. Viajar para qualquer lugar sem medo da experiência. Há pessoas que dizem que nada vai voltar a ser igual como antes, mas que bom que podemos sempre recomeçar. O importante agora é realizar o que podemos e esperar por uma nova contagem de dias.
Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli.