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A divulgação científica vista por eles, os pesquisadores

A divulgação científica, também chamada de “popularização da ciência” envolve as atividades que buscam fazer a mediação de informações produzidas na academia para a comunidade em geral, de forma a difundir o conhecimento científico para públicos/leitores

A divulgação científica, também chamada de “popularização da ciência” envolve as atividades que buscam fazer a mediação de informações produzidas na academia para a comunidade em geral, de forma a difundir o conhecimento científico para públicos/leitores não especializados.
Aos cientistas cabe o papel de pesquisar, tentar transformar o conhecimento acadêmico em prática, em uma forma de conhecimento “palpável” que a população possa usufruir e se beneficiar de alguma forma. Afinal, é a sociedade que financia, indiretamente, os estudos realizados nas universidades, e deve receber o retorno deste investimento. Já ao jornalista, cabe o papel de divulgar os resultados destas pesquisas da ciência. Porém, durante este processo são identificadas algumas zonas de tensões entre jornalistas, os mediadores do processo, e cientistas, os responsáveis pelas descobertas. Mas, por que isso acontece? Quais as principais dificuldades de se transmitir a ciência à sociedade? Com a palavra, eles: os pesquisadores.
José Airton Brutti, pesquisador. Foto: Divulgação.

Para o economista, professor adjunto horista do Centro Universitário Feevale Coordenador do Polo de Inovações Tecnológicas e Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), José Airton Brutti, a mídia divulga o que é do interesse de seu público e que este segmento do jornalismo não é muito popular. “Dá para contar as vezes que os resultados de pesquisas são divulgados na mídia.  Isso só ocorre quando é algo bizarro ou, então, muito inovador. Trata-se do que é interesse e o que não é para aquele meio”. Ainda segundo Brutti, o Brasil produz milhares de artigos científicos por ano, mas o conhecimento científico acaba ficando restrito às academias por falta de interesse editorial e profissionais capacitados para fazer esta transição de conhecimento e linguagem.

“Gostaria que houvesse maior divulgação na mídia do que é realizado nas universidades, é o meio de repassar o conhecimento à comunidade”, afirma Melânia Palermo Manfron, doutora em Ciências Biológicas pela UNESP, professora de Farmacognosia no Curso de Farmácia da UFSM e chefe do Departamento de Farmácia Industrial da UFSM. Segundo Melânia, o tratamento jornalístico dado às pesquisas carece de alguns critérios, mas ela reconhece e ressalta a importância desta divulgação. “Quando fui convidada para divulgar trabalhos realizados, conversamos um pouco sobre as perguntas que seriam feitas e tudo transcorreu normalmente. O resultado da divulgação foi positivo”, afirma.
            O farmacêutico e doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da UFSM, Ritiel Corrêa da Cruz, traz um questionamento diferente em relação ao tratamento jornalístico dado às pesquisas científicas. “Em pesquisa, se gera muito resultado negativo. Mas, um dos principais problemas que eu identifico é que o atual modelo de divulgação científica só foca no positivo”, afirma o doutorando. Para ele, isto é muito equivocado. Afinal, o resultado negativo faz descobertas tão boas quanto ao resultado positivo, pois ajuda outros pesquisadores a excluir possibilidades e, de certa forma, poupa tempo e recursos financeiros, que seriam investidos de forma equivocada. Cruz faz outra crítica em relação aos critérios jornalísticos de publicação. “A mídia procura os resultados positivos, pois são mais impactantes. Podendo ser tratados de forma mais sensacionalista”.
Dirce Stein Backes (esquerda), doutora em enfermagem pela UFSC,diz que o jornalismo é fundamental para o avanço da ciência. Foto: divulgação

Já a professora de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (Unifra) e doutora em Enfermagem pela UFSC, Dirce Stein Backes, acredita no jornalismo como uma ferramenta fundamental para a evolução e popularização da ciência. “O principal papel do jornalista é ajudar a desenvolver essa nova cultura de conhecimento acadêmico, para desenvolver ainda mais a pesquisa. Para isso, precisamos de algo impactante, e o jornalismo é algo extremamente, impactante. Precisamos, nós enquanto pesquisadores, saber aproveitar e usar destas possibilidades de divulgação”.

Katia Barreto, doutora em Ciências Biológicas pela UFRGS e professora do Departamento de Fisiologia da UFSM, acredita que tudo depende do “alvo” da mídia e considera que o jornalista deve passar a informação de forma que ela seja entendida pelo maior número de pessoas. “Por exemplo, é compreensível que uma notícia do resultado de uma pesquisa muito importante, publicado em uma revista igualmente importante, tenha que ser ‘traduzido’ para um contexto mais próximo do público-alvo”, declara Katia. Quando questionada em relação à linguagem e as discrepâncias evidenciadas pelos pesquisadores nos textos jornalísticos de ciência, a professora acrescenta que não ocorrem distorções graves no sentido de desqualificar a informação original passada pelo pesquisador.
O fato é que cada um dos pesquisadores ouvidos tem um ponto de vista diferente. Alguns meio parecidos, outros, divergentes. Entretanto, todos convergem quando aceitam a mídia como um ótimo espaço de circulação e popularização da ciência.O que importa, realmente, é ter-se identificado, ainda que de forma primária, os acertos, os erros e os preconceitos que existem entre as classes e,principalmente, a leitura que a mídia faz dos resultados das pesquisas científicas.

O Brasil é o 7º maior mercado de internet no mundo, com um público de 46,3 milhões de visitantes de 15 anos ou mais que acessam a internet pelo computador de casa ou do trabalho, aponta a empresa de consultoria comScore. Entre os sites mais acessados estão as redes sociais.

Redes sociais científicas facilitam o intercâmbio de conhecimento

Facebook, Orkut e Twitter, lideram o ranking de acessos, porém, uma nova tendência tem chamado a atenção: as redes sociais segmentadas. Existem redes direcionadas a milionários, escritores, público infantil, e até mesmo exclusiva para pessoas bonitas. Seguindo essa tendência, surgem também as redes sociais para compartilhamento de conhecimento científico.

O ResearchGateé uma das redes sociais para cientistas mais populares do mundo. Cada pesquisador cria a sua rede de contatos. Como no Twitter, um usuário pode receber as atualizações de um pesquisador sem que ele o conheça. Há ainda a opção de ingressar em grupos nos quais são compartilhadas informações sobre a temática escolhida.

A principal intenção da ferramenta é ajudar a diminuir as principais ineficiências nos processos científicos, pois facilita a troca de experiências. De forma colaborativa, os pesquisadores encontram soluções ou mesmo discutem sobre os métodos utilizados.

Atualmente, são mais de 1,7 milhões de pesquisadores e estudantes universitários cadastrados, com cerca de 2.000 novos registros diariamente. Os brasileiros estão entre os dez países que mais utilizam a plataforma, segundo a assessoria de comunicação da empresa.

Rogério de Aquino Saraiva, doutorando em Bioquímica Toxicológica, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) faz parte desse índice. Entrou no ResearchGate porque a ferramenta possibilita o contato com pesquisadores da mesma linha de pesquisa que estuda, porém, ainda utiliza a plataforma esporadicamente. “Como entrei há pouco tempo, ainda estou entendendo como a rede funciona. No momento, tenho utilizado pouco, apenas para o intercâmbio de informações importantes como, por exemplo, esclarecer dúvidas sobre métodos utilizados”, pontua.

Já a professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),  Ana Luiza Coiro Moraes, doutora, não se recorda dos motivos que a fizeram se cadastrar na rede. Dos recursos digitais mais utilizados por Coiro para a troca de conhecimento com outros pesquisadores estão os grupos de discussão e o e-mail.“Utilizo as listas de discussão na internet da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação (Compós) e da Federação Nacional do Professores de Jornalismo (FNPJ). Também participo da lista de discussão do grupo de pesquisa ´Análise de Telejornalismo´ ao qual me filio, em função do estágio pós-doutoral na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Além disso, tenho colegas adicionados como amigos no Facebook e uso o e-mail para me comunicar com professores e pesquisadores que já conheço”, salienta.

Apesar de ter um número representativo de pesquisadores cadastrados, o ResearchGate ainda precisa ser melhor explorado pelos cientistas brasileiros. “Seria uma ótima ferramenta, mas a desvantagem é que ainda tem poucos usuários no Brasil (pelo menos na minha área de pesquisa) e muitos desconhecem sua existência”, comenta Aquino.

Iniciativa santa-mariense

Muitas pessoas nem imaginam, mas a primeira rede social de divulgação científica brasileira surgiu de uma iniciativa de um santa-mariense, o professor da UFSM, Dr. Ricardo Simão Diniz Dalmolin.

Denominada  SciSmart, nome que une ciência (science) e inteligência (smart), tem por objetivo reunir virtualmente interessados por ciência e educação em um único local, ajudando na popularização da ciência “O scismart entende que é necessário um maior conhecimento, por parte da população em geral e também por pessoas empreendedoras, o que está sendo realizado por diferentes cientistas, em diferentes instituições e de que forma essas informações podem contribuir para o desenvolvimento da sociedade”, comenta Dalmolin.

Moacir Tuzzin de Moraes, mestrando em Ciência do Solo pela (UFSM), relata que se cadastrou na plataforma para acessar as “salas de aulas virtuais” para compartilhar materiais específicos sobre determinados temas. “Utilizo umas duas vezes por dia. Através das salas de aulas virtuais, recebo materiais complementares e os apresentados em sala de aula de disciplinas ministradas presencialmente”, ressalta. Moraes espera que no futuro o SciSmart se torne um grande canal de comunicação entre a comunidade científica do Brasil e do mundo.

Cientistas também amam

A curiosa rede “Scientific Singles” tem uma proposta pra lá de inovadora: ser um serviço de paquera destinada a relacionamentos entre cientistas e amantes de ciência.

A plataforma oferece chats entre usuários e possibilita que pessoas com interesses em comum possam se encontrar. Se você está a procura do seu “cientista encantado” acesse: http://www.scientificsingles.com/

Links interessantes

Quer saber mais sobre o tema? A Agência Central Sul preparou uma lista de artigos que podem ajudar você a se aprofundar no assunto. Confira, clicando no título:

 Artigo | Redes Sociais e popularização da Ciência

Artigo | Análise de redes sociais – aplicação nos estudos de transferência da informação

Artigo Redes Sociais na pesquisa científica da área de ciência da informação

Links: Redes Sociais Segmentadas

Por Maurício Lavarda do Nascimento. 

Reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Especializado II.