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Santa Maria, RS, Brazil

Laura Gross

Sou feita de sonhos

Toda vez que eu paro para pensar sobre o momento que estamos vivendo, me encontro naquela linha tênue entre raiva/ódio por estar presenciando esse evento histórico (dessa forma), e a gratidão. Palavra “tão batida” dos últimos

Laura Gross atuando como repórter do SBT/RS. Imagem: arquivo pessoal.

Formada em jornalismo na Universidade Franciscana, em 2014, Laura Gross revela não ter sonhado com a carreira jornalística. A decisão pelo curso de comunicação teve a participação da mãe. Não sabia ao certo sobre que caminhos o jornalismo lhe revelaria, mas confiou na percepção materna, ao perceber a filha como uma pessoa muito comunicativa. E Laura expressa: “e deu certo”.

Não pensou em outra opção profissional depois da conversa com a mãe. A jornalista frisa que “apostou as fichas” no jornalismo. Ela percebeu durante a graduação, e ainda assim vê, através das suas diversas atuações na área, que “não faria nada diferente”. Lembra do encantamento ao ingressar na faculdade e começar a entender muitas coisas da profissão.

Das aulas iniciais, como a disciplina de Teorias da Comunicação, em que a maioria, segundo ela, achava “super chato”, começou a analisar a importância da carreira jornalística e suas transformações. Define como uma atividade profissional de impacto à sociedade. Teve diversos professores como referência. Cita o professor Bebeto Badke, no aprendizado da escrita, de contar uma história, indo além das perguntas: “o quê? quando? como? onde? e por quê?”. 

Durante a entrevista, sempre com seu sorriso largo, relembra os momentos em sala de aula com o professor Bebeto. Ela diz sobre as horas que ouvia música e de como aprender a tirar da cabeça as histórias que queria contar “de uma forma tão bonita” e que, por vezes, se percebia sempre tão “direta, seca, curta, grossa, para algo que merecia mais”.

Ainda como universitária, recorda da professora Daniela Hinerasky. Ela “me fez aprender sobre jornalismo online, que era uma coisa que eu também não fazia muito ideia. Ela me inspirou, principalmente na área que eu mais gostava que era de Jornalismo de Moda, era meu sonho. Depois dos primeiros semestres, ele virou o que eu realmente queria fazer da minha vida. Ela foi um ponto muito importante da minha trajetória”.

Descreve as aulas da professora Sibila Rocha: “aulas encantadoras, com sua forma de contar a semiótica”. Revive as aulas de TV com a Professora Glaíse Palma: “foi a partir daí que comecei a pegar gosto em fazer TV”. Passou por mentorias, bolsas, desde o primeiro semestre aproveitou todas as oportunidades. Disse que “ia nos professores e perguntava: tem uma vaguinha aí? Eu quero fazer”. Participou na UFN TV, no Linc, na assessoria de comunicação da Universidade. 

O primeiro estágio remunerado ocorreu no Diário de Santa Maria, no caderno de variedades, onde pode trabalhar com a moda, o que lhe fascina, dentro do jornalismo. Formou-se, e no ano seguinte, em 2015, decidiu morar na Irlanda. Revelou sua preocupação com o mercado de trabalho à época, em não conseguir uma colocação. Ao retornar para o Brasil, encaminhou muitos currículos “para milhares de lugares”, nas palavras de Laura. 

A primeira contratação foi no Jornal Semanário, em Bento Gonçalves, onde assumiu como repórter de geral. Tem sua trajetória marcada na Rádio Guaíba, como repórter de geral e de esporte. Foi enquanto repórter de torcida que Laura sofreu o episódio de assédio no futebol. Um torcedor, antes do início de um jogo da Libertadores, no estádio Beira-Rio, tentou beijá-la à força. A jornalista seguiu com a identificação e denúncia do agressor. 

Laura Gross estampa em sua carreira “Deixa ela trabalhar”. Imagem: arquivo pessoal.

Laura pontua a demissão no período da pandemia de Covid-19. Passado esse hiato mundial, ingressa como freelancer no SBT, na produção dos jornais locais, e, depois, na RBS TV, como editora de texto do esporte. Volta para o SBT para atuar na produção de entretenimento, onde está atualmente como editora de texto. Trabalha no SBT Rio Grande e, por vezes, é repórter, editora e apresentadora do jornal do geral e do esporte.

Ela também destaca que, “os jornalistas precisam ser multi. Nossa profissão é multi. Não tem como dizer eu só faço uma coisa. Os lugares estão cada vez mais se fechando para pessoas que só aceitam fazer uma coisa”. Na configuração atual das  empresas, contrata-se menos pessoas com múltiplas tarefas e define “essa é a lógica do sistema. Fundamental é estar preparado”.

Laura Gross, ao falar em preparação profissional, traz Marilice Daronco. “Uma pessoa que me ensinou muito no Diário de Santa Maria. A Mari tem um dos melhores textos que eu já li na minha vida. Ajudou muito no meu primeiro emprego, quando eu era repórter de jornal impresso. Ensinava como escrever um título que chamasse a atenção, com as informações, um lide, enfim, como amarrar bem o texto para o impresso. Foi uma pessoa que mudou a minha trajetória logo no meu começo”. 

E Marilice também expressa o tempo em estiveram juntas como colegas no Diário. “Uma época em que cobrimos shows e outros eventos culturais. Os olhos atentos, a vontade de aprender, o coração que não queria descobrir só a profissão, mas o mundo. Desde aquela época mostrava-se uma profissional e pessoa especial. Sinto muito orgulho de ver todo o crescimento dela ao longo dos anos e poder dizer que mais do que uma grande colega jornalista, é uma amiga maravilhosa”. 

Depois de tantos momentos retratados, Laura, sem perder o brilho entusiasta no olhar, deixa uma mensagem, em especial, aos estudantes de Jornalismo: “tenham certeza de que continuar na faculdade, que se formar, que estudar para a profissão que a gente escolheu é essencial. Não se faz jornalismo de uma forma correta, justa, ética, sem estudo. Não se fechem para somente uma coisa”. Para ela é necessário enxergar além. Saber falar para a rádio, TV, gravar, escrever, estar aptos às exigências de trabalho. Buscar informações em diversas áreas é um caminho para o sucesso. 

Perfil produzido no 1º semestre de 2023, na disciplina de Narrativa Jornalística , sob orientação da professora Sione Gomes.

Toda vez que eu paro para pensar sobre o momento que estamos vivendo, me encontro naquela linha tênue entre raiva/ódio por estar presenciando esse evento histórico (dessa forma), e a gratidão. Palavra “tão batida” dos últimos anos. Mas eu explico.
Sou jovem. Nem cheguei aos 30 anos ainda. Sou feita de sonhos e teria muitos deles para realizar.
Como jornalista sempre sonhei em trabalhar em um grande veículo de comunicação, mudar a vida das pessoas, mudar o mundo! Desejava morar numa capital, crescer, ganhar prêmios, contar histórias.
Eu cheguei. Sim! Seis anos de diploma, e dois deles de Porto Alegre. Em uma das maiores rádios do Estado, contei os “primeiros passos” desse vírus -maldito- no mundo, no país e no estado. Eu também fiquei trancada em casa e me assustei a primeira vez que vi as pessoas de máscara nas ruas.
Mas depois, o mesmo vírus que mata milhares de pessoas, tirou o emprego de muita gente, inclusive o meu. Dois meses depois da primeira morte registrada no Rio Grande do Sul, fui demitida. Eu estava vivendo um fato histórico, sem emprego e sem poder falar sobre aquilo. Nós jornalistas, quando presenciamos um grandioso “evento” como este, queremos estar lá… na frente dele, com papel e caneta, microfone, gravador, celular nas mãos.  Mas eu ouvi uma frase que mudou minha trajetória e me fez acreditar em mim. “Pra quem é bom (na profissão), nunca falta espaço”. E acho que posso me considerar boa, então. Porque dois meses depois, eu já estava lá de novo. Agora atrás da TV, para, meses depois, presenciar a chegada do primeiro lote de vacinas no Estado.
E mesmo com todo negacionismo, desgoverno e corrupção, a imunização tinha chegado. É aí que entra a raiva/ódio. Mas a ela, o que mais importa, está cada vez mais próxima. Daí eu lembro da gratidão, de novo. Os trabalhos que nunca faltaram. E por não ter precisado dar adeus para os meus. A vacina não chegou aqui ainda. No meu braço. Mas ela está dentro da minha mãe, do meu pai, dos meus avós, dos meus tios…
Como nosso trabalho é fundamental, né? E cada dia que passou desde que essa pandemia começou, me fez perceber ainda mais isso.
Hoje, as histórias que são contadas por mim, são um pouco diferentes. Mas mesmo que o futebol não devesse estar acontecendo, ele entretém. Ele faz as pessoas ficarem em casa, ele move sonhos.
E independente do que eu vá contar, de uma coisa eu tenho certeza, eu vou sempre buscar mudar a vida de quem está lendo, ouvindo ou assistindo.
A caminhada não tem sido fácil. Uns dias de mais raiva/ódio, outros de mais gratidão. Mas eu tento seguir forte… para contar mais um fato histórico: o dia em que vencemos o coronavírus.

Por Laura Gross, jornalista formada na UFN, atua na RBS TV.