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Santa Maria, RS, Brazil

Obesidade

Pandemia muda hábitos alimentares da população

Quem acha que o confinamento afetou apenas o psicológico da população, está enganado, a reclusão trouxe problemas tantos físicos quanto mentais. Segundo a pesquisa online da Diet & Health under COVID-19,  durante o isolamento, 52% do povo brasileiro

Autoestima baixa é um dos principais problemas do sobrepeso

O sobrepeso na infância e na adolescência é um dos fatores que resultarão na obesidade adulta. “A Cada cinco meninas acima do peso na pré-adolescência, duas se tornam adultas obesas”, comenta o Dr. Glauco da Costa

Quem acha que o confinamento afetou apenas o psicológico da população, está enganado, a reclusão trouxe problemas tantos físicos quanto mentais. Segundo a pesquisa online da Diet & Health under COVID-19,  durante o isolamento, 52% do povo brasileiro teve um aumento de 6,5 kg na balança. Seja por falta de exercícios, por alimentação errada, ou até os dois fatores juntos, o Brasil se tornou um dos países com maior aumento de peso médio do mundo, durante a quarentena.

Tivemos também no país o aumento de 3%, em usuários de tabaco, e 14% de aumento na taxa de pessoas que consumem bebidas alcoólicas. Tudo isso misturado com a queda da prática de exercícios físicos, que caiu 29%.

Porcentagem dos países em que a população mais teve aumento de peso. Imagem:  Diet & Health Under Covid-19

A nutricionista da prefeitura municipal de Formigueiro, Bruna Bortolotto Rohde, falou um pouco sobre a importância de uma alimentação saudável já que, com a chegada da quarentena, muitas pessoas acabaram ingerindo muitas comidas pesadas. Bruna também deu ênfase em como uma rotina de refeições balanceadas ajuda a reforçar a imunidade do ser humano. Confira a seguir:

Matéria produzida no primeiro semestre de 2022, na disciplina de Linguagem das Mídias do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana.

Lanches rápidos são uma alternativa nem sempre saudável. Foto: Lilian Streb

A correria do dia a dia e a falta de tempo tem aumentado o número de pessoas que se alimentam fora de casa. Os alimentos pouco nutritivos, como os fast-foods e outros lanches rápidos, acabam sendo grandes atrativos para quem costuma se alimentar longe da própria cozinha. Com esses novos padrões alimentares e também o sedentarismo que anda junto à falta de tempo de praticar exercícios físicos, muitas pessoas acabam adquirindo sérios problemas de saúde. Mas, será que a alimentação fora de casa (ou má alimentação) pode trazer riscos?  A verdade é que uma alimentação inapropriada pode causar a médio e longo prazo, doenças crônicas, e um grande desequilíbrio no corpo do ser humano, deixando-o mais vulnerável a elas. Algumas das principais doenças decorrentes da má alimentação na atualidade são a obesidade e a hipertensão.

Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade no Brasil aumentou em 60% nos últimos dez anos. Profissionais da área da saúde, como clínicos gerais e nutricionistas, associam essa problemática com a escolha errada dos alimentos ingeridos. Os grandes causadores de doenças como obesidade e hipertensão são os alimentos industrializados. Esses vilões podem contribuir até mesmo para o desenvolvimento de um câncer.    Para o clínico geral Fernando Ribas, a relação da má alimentação e o risco de desenvolver um câncer é muito ampla. ‘’A gama dos tipos de câncer é muito grande e a correlação de cada qual com seus diversos fatores de risco muito específica, sendo assim é difícil de generalizar. Mas é claro que uma dieta variada e natural sempre tem seus fatores protetores nas diversas doenças e também na diminuição do risco de desenvolvimento dos diversos tipos de cânceres’’, pondera.   

Feira da Economia Solidária reúne adeptos da alimentação saudável

Para os nutricionistas e os médicos, uma boa alimentação deve ser o mais natural possível. Para isso é preciso ficar longe dos rótulos, embalagens, conservantes e aditivos. Os alimentos industrializados, como doces, refrigerantes e, principalmente, o sal de cozinha, contém grande quantidade de sódio. A ingestão adequada de sal é de 2-3 g de sal por dia, e a recomendação segue sendo o controle da ingestão de sal por paciente hipertensos, dentro dos limites preconizados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. E ao se considerar que a conservação dos alimentos industrializados se dá através do sódio, pode-se perceber os malefícios que ele pode trazer para a saúde, se ingerido de maneira excessiva.

 A nutricionista Cassiana Della Pace, 25, afirma que as pessoas adquirem essas doenças por comerem errado e em exagero. ‘’Foi criada uma sensação de liberdade cultural, onde tudo eu posso. Então, comer menos remete ao fato de se privar, de não ser livre e, por isso, acabam comendo tudo e ainda colocando sentimento na comida. A comida não é inimiga, mas a falta de controle, sim! Não é preciso tratar a comida como refúgio, ela é apenas sobrevivência e nada mais’’, afirma Cassiana.

Obesidade, hipertensão e diabetes

 Um dos fatores que levam ao aumento dos índices de hipertensão e diabetes é o crescimento da obesidade, que também anda ao lado da má alimentação. Uma leva à outra ao não se tomar consciência de que todo alimento ingerido irá refletir no corpo. A recomendação é a de que portadores de diabetes evitem a ingestão de doces, açucares, farinhas brancas e todos os alimentos que não são integrais.

Uma alimentação balanceada é auxiliar no tratamento do câncer em crianças e adultos. Foto: Laboratório de fotografia e memória.

Conforme o sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico, a VIGITEL que faz parte das ações do Ministério da Saúde para estruturar a vigilância de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no país, em uma década, doenças crônicas tiveram um aumento preocupante, sendo de 61,8% para casos de diabetes e 14,2% para hipertensão. Mais da metade da população está com peso acima do recomendado e a obesidade atinge 18,9% dos brasileiros. A obesidade, que é mais prevalente em homens, cresceu 60% em 10 anos, junto com o número de pessoas hipertensas que também cresceu 25%.

 A hipertensão, que é o aumento dos valores de pressão arterial de forma sustentada, pode ser prevenida através de dieta, consumo moderado de sal, baixo consumo de álcool e exercícios físicos regulares. Conforme o clínico geral Fernando Ribas, a hipertensão arterial e o diabetes são as doenças que mais crescem no mundo em função das mudanças dos hábitos de vida da população, do sedentarismo e da má alimentação.  ‘’A falta de acompanhamento e tratamento da doença pode desencadear problemas vasculares, insuficiência cardíaca e insuficiência renal’’, afirma o médico.

A diabetes é outra doença que cresce desenfreadamente em função das mudanças nos hábitos de vida da população, bem como a má alimentação aliada a falta de exercícios físicos. Obeso é toda e qualquer pessoa que obtiver índice de massa corpórea maior ou igual a 30kg/m2, o que é um fator de risco importante para o desenvolvimento de doenças como a hipertensão arterial, diabetes, insuficiência cardíaca e distúrbios vasculares periféricos.

Conforme o caderno da Atenção Básica do Ministério da Saúde, a prevalência esperada por pessoas hipertensas é de 22% da população acima de 18 anos. Para evitar adquirir problemas sérios de saúde ao longo do tempo, é preciso planejar e obter bons hábitos alimentares, aproveitar as refeições para escolher alimentos saudáveis variados, como verduras, saladas e legumes e é claro – sempre comer com moderação.

Reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Científico

O sobrepeso na infância e na adolescência é um dos fatores que resultarão na obesidade adulta. “A Cada cinco meninas acima do peso na pré-adolescência, duas se tornam adultas obesas”, comenta o Dr. Glauco da Costa Alvarez. Além de afetar a saúde, este problema atinge a autoestima das jovens, complicando a vida adulta e tornando o cotidiano mais difícil do que já é. “Uma criança ou jovem que sofra deste mal terá grandes dificuldades em fazer amizades ou até mesmo manter uma vida social saudável”, explica a psicóloga Betania Stangarlin,34 anos.

O termo transtornos alimentares se refere a um grupo de condições médicas que enfoca, de maneira doentia, a alimentação, dieta, perda ou ganho de peso e imagem corporal. Obesidade e transtornos alimentares frequentemente ocorrem ao mesmo tempo em meninas adolescentes e mulheres jovens que podem se sentir infelizes com sua imagem corporal.

Na entrevista completa, a psicóloga Betania Stangarlin relatou as principais dificuldades de quem passa por questões pessoais que tendem a impulsinonar uma futura obesidade. “É importante lutar contra suas condições adversas”, declara Betania. Confira:

 

Causas e consequências do sobrepeso

Luzieine Rodrigues
Alunos da Escola de Ensino Fundamental no horário do lanche. Foto: Luzieine Rodrigues

As crianças estão rodeadas por facilidades que as estimulam a comer mais e até prejudicam a disposição. Assistir à televisão, jogar videogame e brincar no computador são atividades que exigem pouca energia. Elas podem levar muito tempo e substituir a atividade física, segundo especialistas.

Para o preparador físico Miguel Santos, 23 anos, o consumo de produtos industrializados e a rotina sedentária são os principais fatores que levam ao ganho de peso. “Estilo de vida corrido, alimentos prontos à disposição e com preços acessíveis. Para os pais, comprar lanchinhos nos mercados e entregar aos seus filhos é mais fácil. Eles se acostumam com essa vida do industrializado e refrigerantes”, comenta.

O abuso da tecnologia é outro fator preponderante no cotidiano das crianças e jovens. “Tudo que é demais um dia vai fazer mal. Minha filha só fica no Facebook e no celular dela, reclama que ta engordando, mas também não vai caminhar. Nem fazer esporte não quer”, delata a mãe de Gabriela, Silvia Silva, 42 anos. Gabriela, 17 anos. Está acima do peso desde que é uma criança. Ela diz se aceitar do jeito que é, mas para a mãe sua filha ser “gorda” é algo quase inaceitável.

Muita das vezes as crianças usam a comida em exagero para fugir de frustações e problemas psicológicos e que muitos pais não conseguem enxergar isso, e deixam as crianças crescerem comendo de forma exagerada até chegar a certo ponto de riscos sérios a saúde e com grande dificuldade de uma forma de emagrecimento sem procedimentos cirúrgicos.

Confira entrevista completa com Nutricionista Patricia Patias, onde ela explica porque há tantas crianças acima do peso.


A grande maioria dos jovens, principalmente as meninas, tem uma imagem extremamente negativa dos seus corpos. “Como mãe de uma mulher hoje de 21 anos, passei todos os anos, sofrendo juntamente com ela, a dor de não conseguir perder peso e se sentir menos atraente que as outras amigas dela. E como convencer uma garota de que ela é bonita, sim, e que os outros são somente pessoas ruins que a julgam errado?”, lamenta Rosa Lucia Lopes, 52 anos, mãe de uma jovem que por 17 anos lutou contra a obesidade. Ela chegou a 107kg e acabou se submetendo a uma cirurgia de redução de estômago, por problemas de saúde e de estética que sempre lhe incomodaram.

Os tratamentos

A obesidade é uma doença real entre os adolescentes, mas felizmente existem vários tratamentos para evitar um futuro complicado, como a reeducação alimentar e atividades físicas. Essas iniciativas para superar a obesidade infantil não são fáceis nem para os médicos, nem para a família, nem para as crianças, já exigem a modificação dos estilos de vida do doente e da família.

A mudança de conduta da criança começa com a aprendizagem do autocontrole. Para que a dieta surta efeito é necessária que a criança receba estímulos e reforço social para que ela possa melhorar sua autoestima e sentir-se mais segura de si mesma. Em outras palavras, o trabalho inicial se baseia no controle da ansiedade e de outros sentimentos que podem provocar fome.

Nos casos graves, de obesidades severas e de risco extremo, os recursos depois de dietas sem êxitos são as cirurgias de redução de estômago, uma porta de melhoria de vida e de resultados mais rápidos. Mesmo com a cirurgia, o aprender a se alimentar e manter uma vida saudável serão de suma importância para toda a vida do operado para que não retorne ao peso anterior.

“O mais importante é que estas meninas sintam que têm e que pode contar com todo o apoio psicológico da família e amigos para ultrapassar um problema tão complicado como este e aprender a se amar e crer que pode ser melhor do que a sociedade as julga”,  finaliza a psicóloga Betania.

Por Luzieine Rodrigues, para a disciplina de Jornalismo Online