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Paip

No  histórico do Programa de Atenção Integrada em Psicologia, Paip, a principal demanda de atendimento à comunidade acadêmica estava relacionada a problemas de aprendizagem. Nos últimos anos aumentou a  demanda por questões de transtornos de ansiedade, além de processos depressivos. A informação é da professora do curso de Psicologia da Universidade Franciscana e coordenadora do Paip, Graziela Oliveira  Miolo Cezne.

Em entrevista, ela explica que no contexto da pandemia essa demanda se acentuou e intensificou, e sugere para driblar esse momento: “Momentos de lazer, atividades físicas. Leituras que produzam rupturas lógicas no tempo e psicoterapia.” .

Graziela Cenzne é Mestre em Psicologia Clínica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos(UNISINOS-2009), Graduação em Psicologia pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA-2004). Também é Especialista em Clínica Psicanalítica pela Universidade de Santa Cruz(UNISC-2007), Psicanalista em consultório particular. Docente do Curso de Graduação de Psicologia e do Curso de Pós Graduação em Clínica Psicanalítica da Universidade Franciscana (UFN). Coordenadora do Programa de Atenção Integral em Psicologia – PAIP também da Universidade Franciscana. Também atua como supervisora de estágio nas seguintes ênfases: Promoção e Prevenção em Saúde e Psicologia e Processos Clínicos, junto a Universidade Franciscana (UFN). Membro do Grupo de Pesquisa Laboratório de Estudos em Psicanálise, Literatura e Política da UFRGS. Atualmente mantém interesse em pesquisas sobre Psicanálise, Gênero, Política e Cultura.

Agência Central Sul –  Qual o papel do PAIP na UFN e como ele se articula com o curso de Psicologia?

Graziela Miolo Cezne –  O Programa de Atenção Integrada em Psicologia é um serviço institucional  que promove atendimento psicológico para estudantes, professores e funcionários da instituição. No atual momento da pandemia estendemos esse auxílio aos familiares desse público. E a articulação com o curso de Psicologia é total, uma vez que os atendimentos são realizados através das práticas de estágio curricular. Ou seja, quem realiza os atendimentos são os estagiários do curso de psicologia, cumprindo suas práticas curriculares, sob supervisão acadêmica dos professores psicólogos do curso.

Além do curso de graduação, também contamos com o auxilio dos alunos do curso de pós graduação em Clínica Psicanalítica, que desenvolvem suas práticas finais de curso atendendo este público, sob supervisão dos professores psicólogos.

ACS – Como o PAIP está enfrentando esse período de atividades remotas? De que forma está funcionando?

GMC – Estamos funcionando atualmente através de agendamento pelo email do Paip (paip@ufn.edu.br). Os interessados são direcionados para uma lista, e estão sendo encaminhados aos estagiários à medida em que as vagas vão se abrindo. Até o presente momento, neste ano, estávamos desenvolvendo atendimento on line. Estamos retornando para o modelo híbrido, tanto com atendimento presencial como on line, a partir da segunda quinzena de maio. A plataforma de atendimento on line é combinada a partir da disponibilidade do interessado no atendimento.

ACS – Como está  a demanda nesse período? O que mudou no que diz respeito às demandas dos atendimentos?

GMC – No histórico do Paip temos como principal demanda de atendimento os problemas de aprendizagem. No entanto, nos últimos anos temos visto uma demanda por questões de transtornos de ansiedade, além de processos depressivos. No contexto da pandemia essa demanda se acentuou e intensificou. As dificuldades com o modelo híbrido de ensino, problemas de concentração, motivação e desempenho no estudo surgiram com intensidade. Somado a isso, uma grande demanda por crises de pânico e ansiedade, dificuldades de relacionamento familiar, sentimentos de isolamento e tristeza profundos. Muitos pacientes com uso abusivo de psicofármacos como forma de enfrentamento das suas situações de crise.  Pode-se dizer que as demandas continuam as mesmas, no entanto, com uma dose acentuada de gravidade.

ACS – Como profissional da psicologia, você percebe  transformações no emocional  das pessoas hoje?

GMC – Na verdade não percebo uma transformação muito grande. O que percebo é que os sintomas sociais de adoecimento que já eram presentes em nossa sociedade, emergiram. Vivemos em uma sociedade que não subjetiva. Ela massifica. E por isso nos joga para um condicionamento performático.  Como se houvesse uma exigência social para garantir uma performance de desempenho com padrões sempre muito elevados. E isso nos deshumaniza. O que acaba por corresponder ao ideal de que o subjetivo e particular não precisam ser levados em conta, como se fossemos levados ao nosso limite, sempre operando numa lógica de corresponder a uma demanda sem observar o sentido da mesma em nossas vidas. E isso desperta um sentimento profundo que acaba por desencadear adoecimentos graves, que muitas vezes são tratados a partir da perspectiva apenas medicamentosa ( e muitas vezes MUITO necessária), mas sem tratar o modo do sujeito lidar com essa demanda social, impedindo que ele encontre saídas singulares e criativas para os seus desejos singulares. E a psicoterapia auxilia nesse processo de não ser engolfado por uma demanda social que obstaculiza a expressão singular e, por isso, as dinâmicas das relações humanas e sociais.

ACS -Tem  alguma receita para minimizar o dano emocional que a pandemia está causando?

GMC – Observando que somos humanos e, por isso, singulares, a ideia de receita é bastante complicada. Mas entendemos que podemos criar estratégias de enfrentamento como ter momentos de lazer, atividades físicas, leituras que produzam rupturas lógicas no tempo e psicoterapia.