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Santa Maria, RS, Brazil

Psiquiatria

O movimento antimanicomial e a saúde pública do Estado

Desde os anos 70, militantes do sistema de saúde vêm lutando por uma reforma em sua estrutura e no que diz respeito ao tratamento e cuidado de pessoas com sofrimento psíquico. O mês de Maio é

Bem-estar e felicidade foram tema de abertura do XVIII SEPE

“O que interessa às pessoas: ausência de doença mental ou ampliação do bem-estar psíquico?”, essa foi a pergunta que regeu a palestra de abertura do XVIII Simpósio de Ensino, Pesquisa e Extensão do Centro Universitário Franciscano.

Desde os anos 70, militantes do sistema de saúde vêm lutando por uma reforma em sua estrutura e no que diz respeito ao tratamento e cuidado de pessoas com sofrimento psíquico. O mês de Maio é significativo para o grupo do movimento antimanicomial já que, no dia 18 desse mês, em Bauru, São Paulo, no ano de 1987, aconteceu o primeiro encontro dos profissionais de saúde mental, a fim de discutir reivindicações, relatar preocupações e lutar por uma transformação do sistema de tratamento vigente na época.

Segundo o psicólogo, especialista em saúde mental pela Universidade Federal de Santa Maria e mestrando em psicologia da saúde Tiago Alves, a militância se constrói no encontro com o outro. E a militância na saúde mental diz respeito a lutar para que esses usuários tenham o direito de ir e vir e de existir. “O louco está sempre nesse lugar à margem, como marginal dentro da saúde. E a militância é baseada nisso: em lutar pelo direito do outro, mostrar que a igualdade se distribui através da diferença, e reconhecer a diferença nos outros”, comenta Tiago.

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11º Mental Tchê  (Foto: Divulgação Mental Tchê 2015)

A Lei Paulo Delgado tramitou durante 12 anos e, em 2001, foi aprovada  pelo Congresso Nacional, isso garantiu uma reestruturação no sistema de saúde mental do país. A lei assegura aos usuários do sistema de saúde a oportunidade do tratamento em liberdade e da não segregação perante a sociedade. Ainda, prevê que o tratamento deve ser realizado de acordo com as necessidades de cada um, e de sua singularidade como pessoa. Os pacientes têm a oportunidade de beneficiar-se com diversos tipos de tratamentos terapêuticos, de uma forma não invasiva.

Um dos carros-chefes dessa reforma psiquiátrica foi a criação dos Centros de Apoio Psicossociais (CAPS), que promovem diferentes formas de terapia, procurando entender o que é necessidade de cada paciente, e de como gostariam de participar das atividades propostas pelos profissionais atuantes nesses locais. Hoje Santa Maria conta com quatro desses centros, mapeados em zonas diferentes da cidade.

“A gente tem a função de inventar uma forma de cuidado que seja de verdade, e que respeite a singularidade de cada pessoa. Nesse sentido, a raiz o CAPS tem uma ligação estreita com essa perspectiva de reverter uma lógica de cuidado. Já que muitas pessoas ainda pensam que é a forma manicomial, de internar, pra criar outra cultura, pra de tratamento dessas pessoas que tem problemas mentais, sofrimento psíquico ou são usuários de álcool e drogas”, reforça o psicólogo, Douglas Casarotto que atua no CAPS – Cia do Recomeço.

Mental Tchê em São Lourenzo do Sul em 2015
Mental Tchê em São Lourenço do Sul  (Foto: Divulgação Mental Tchê 2015)

Douglas ainda comenta que as alternativas de tratamento vão das mais tradicionais às mais alternativas, desde que as pessoas considerem importante. “Às vezes tem a ver com a família, com pais, os filhos, lazer e emprego. A gente tenta ajudar ela a fazer um plano de vida. Para que a droga, por exemplo, saia do centro da vida da pessoa e passe a não fazer mal para ela. Mas não trabalhamos com a questão da abstinência, é uma opção pessoal deixar de usá-la”, ressalta o psicólogo.

A atual gestão do governo do Estado, assumida no início de 2015, alterou a política de saúde mental. Não houve repasses aos CAPS e novos leitos de internação para usuários de drogas e pessoas com sofrimento mental foram reabertos. Além disso, os chamados residenciais terapêuticos, também frutos da reforma, foram desalugados no Estado. Esses residenciais são casas localizadas em diversos bairros, fundamentadas para atender às necessidades tanto de moradia como de cuidados às pessoas portadoras de transtornos mentais egressas ou não de hospitais psiquiátricos que apresentam dificuldade de reintegração familiar.

A psicóloga, representante do Conselho Regional de Psicologia, Bruna Osório, a atual gestão de saúde mental do governo do estado vem manifestando publicamente, em audiência publicas e na imprensa, a pedido do conselho estadual de saúde que é muito possível que os recursos desse setor sejam realocados para ações manicomiais.

“O atual gestor já anunciou na imprensa a reativação de longa permanência do Hospital Colônia Itapuã e que o Hospital São Pedro também, será centro de referencia para tratamento de Crack, colocando o a droga como uma epidemia, que não é a lógica proposta”, conclui Bruna.

O 11º Mental Tchê ocorreu, entre o dia 6 ao dia 8 de maio deste ano, em São Lourenço do Sul. O congresso tem como intuito fortalecer a militância na luta antimanicomial. O evento reuniu trabalhadores da área de saúde mental, usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), gestores, trabalhadores, residentes, estudantes e simpatizantes da luta antimanicomial. Neste ano, o Mental Tchê tratou assuntos como o cuidado dos usuários de álcool e drogas. O encontro que durou três dias contou com debates dos participantes sobre assuntos referentes à saúde mental.

Ainda no mês de maio, diversos movimentos de resistência atuaram na cidade em inúmeras atividades. Confira a cobertura que a TV Unifra realizou da caminhada que ocorreu no dia 19.

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Dione Lemos, estudante de Psicologia do Centro Universitário Franciscano, fala sobre o seu envolvimento com a luta

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Vânia Fortes de Oliveira, psicóloga e professora do Centro Universitário Franciscano, conta como foi o Mental Tchê em 2015

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 Por Julia Machado e Helena Moura para a disciplina de Jornalismo Online

Plateia atenta na palestra com o Professor Dr. Luis A. Paim Rohde. Fotografia: Karin Spezia. Laboratório de Fotografia e Memória.
Plateia atenta na palestra com o professor  Luis A. Paim Rohde. Fotografia: Karin Spezia. Laboratório de Fotografia e Memória.

“O que interessa às pessoas: ausência de doença mental ou ampliação do bem-estar psíquico?”, essa foi a pergunta que regeu a palestra de abertura do XVIII Simpósio de Ensino, Pesquisa e Extensão do Centro Universitário Franciscano. O encontro aconteceu na manhã da quarta-feira, 1˚ de outubro, no Salão de Atos do Conjunto I da Instituição quando acadêmicos e professores receberam  Luis Augusto Paim Rohde, professor titular de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor na Pós-Graduação da Universidade de São Paulo (USP).

Rohde que também é vice-coordenador do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para a Infância e Adolescência, afirmou estar interessado em estudar a relação entre os transtornos mentais e as etapas iniciais de vida. “A Psicologia e a Psiquiatria se centraram no estudo da saúde mental a partir do fim da adolescência, início da idade adulta, dando menos importância aos quadros de transtornos mentais na infância e adolescência”, afirmou. Segundo ele, os distúrbios como ansiedade, depressão, bipolaridade, déficit de atenção e hiperatividade são doenças crônicas dos jovens. “Boa parte dos transtornos já estão presentes na infância e na adolescência”, declarou. Para Rohde, é necessário dar mais atenção a essas etapas da vida.

Em resposta à pergunta tema da discussão, o doutor declarou que os pacientes não querem, apenas, se livrar do transtorno, mas buscam, sobretudo, o bem-estar e a felicidade. “O que interessa não é ter menos tristeza e preocupação, mas buscar contentamento e alegria”, explicou. Conforme a Organização Mundial de Saúde, saúde não é ausência de doença, mas estado completo de bem-estar físico, psicológico e social. A Psicologia Positiva estuda esses conceitos relacionados a sensação de bem-estar e felicidade. Ela é, também, a responsável pela quebra de paradigma – a Psicologia deixa de se preocupar com os transtornos para focar nas forças pessoais, no desenvolvimento humano positivo.

Rohde publicou cerca de 180 artigos científicos e é organizador ou editor de 8 livros sobre saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil, Inglaterra, Alemanha e EUA. Fotografia: Karin Spezia. Laboratório de Fotografia e Memória.
Rohde publicou cerca de 180 artigos científicos e é organizador ou editor de 8 livros sobre saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil, Inglaterra, Alemanha e EUA. Fotografia: Karin Spezia. Laboratório de Fotografia e Memória.

Bem-estar e Felicidade

A humanidade sempre esteve na luta pelo aumento da sensação de bem-estar. Rohde explica que o conceito está intimamente ligado ao suprimento das necessidades básicas humanas. Ainda explica que os aspectos psicológicos associados à sensação, refletem os sentimentos e pensamentos do indivíduo.

Segundo pesquisas, o indivíduo obtém sucesso na busca pelo bem-estar quando traça metas significantes para a própria vida e quando tem prazeres momentâneos, sentimentos positivos. Cientificamente, o Dr. Luis apresentou as alternativas como: bem-estar eudaimônico e bem-estar hedônico, respectivamente.

De acordo com uma pesquisa que tinha como objeto o Twitter, o final de semana é o período  em que as pessoas estão mais felizes. A pesquisa observou que as publicações de sexta-feira, sábado e domingo continham palavras associadas à felicidade, e tendia a decair quando chegava a segunda-feira.  Isso demonstra que há alguns determinantes para a sensação de bem-estar.

Dicas sobre como aumentar a sensação de bem-estar

Na última etapa da palestra, o professor garantiu que é possível intervir na sensação de bem-estar do indivíduo e que os resultados são significantes. Mediante pesquisa, foi possível constatar algumas intervenções que obtiveram sucesso. Foi proposto pelo especialista a um grupo de pessoas os seguintes exercícios:

  • Procure escrever, ao final do dia, o que deu certo. Não visualize somente os pontos negativos do seu dia.
  • Estabeleça metas e estude como executá-las.
  • Escreva uma carta em gratidão à alguém.
  • Faça uma lista de suas forças pessoais.
  • Faça um favor à alguém.
  • Identifique quem são os seus melhores amigos.

O Simpósio de Ensino, Pesquisa e Extensão segue nessa quinta-feira, dia 2 de outubro. A novidade da edição é o intervalo cultural com atrações musicais, lançamentos de livros, abertura da exposição “Percursos Ana Norogrando” e apresentação da peça “Pedro: O viajante. As atividades culturais terão início às 15h, no Conjunto III do Centro Universitário Franciscano.