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transtornos

Mau uso da tecnologia, insônia e depressão estão interligados

Um estudo da Universidade de Stony Brook, nos Estados Unidos, foi publicado recentemente no volume 41º de 2018 da revista Sleep, publicação oficial da Sleep Research Society que aborda a ciência do sono e circadiana. A pesquisa

Da ansiedade à depressão: quando tratar é necessário

Irritabilidade, angústia, sensação de vazio, pessimismo, falta de motivação e outros sintomas que alteram tanto a percepção cognitiva quanto a comportamental  são sintomas de uma pessoa que sofre de ansiedade ou de depressão. Os índices de depressão

Um estudo da Universidade de Stony Brook, nos Estados Unidos, foi publicado recentemente no volume 41º de 2018 da revista Sleep, publicação oficial da Sleep Research Society que aborda a ciência do sono e circadiana. A pesquisa levanta a relação entre o uso da tecnologia e a depressão entre os adolescentes. A pesquisa consultou aproximadamente 3 mil pessoas com média de 15 anos, entre 2014 e 2017, analisando quanto tempo eles passavam em quatro tipos diferentes de atividades que envolvem telas (TV, videogame, redes sociais e uso da internet). O resultado mostra, assim como outros já desenvolvidos, os jovens que passam mais tempo em frente as telas são mais propensos a sintomas de depressão.  A novidade do estudo é indicar que, além do isolamento social, o uso dessas tecnologias compromete o sono, podendo levar ao desenvolvimento da doença.

Excesso de uso de computadores e dispositivos são causas de transtornos . Foto: Juliana Brittes/LABFEM

Para a psicóloga Renata Krug, pós-graduada em terapia de crianças, adolescentes e adultos, os primeiros sintomas do mau uso dessas tecnologias é a ansiedade e a falta de sono.  “Distúrbio de imagem, de sono, de ansiedade, são os primeiros a serem afetados, até desenvolver alguma coisa mais grave como o transtorno do sono, transtorno de ansiedade e transtorno social” afirma.

A pesquisa associa o maior tempo em telas com mais sintomas de insônia, e o menor tempo de sono a sintomas da depressão. O uso da luz azul emitida pelos aparelhos durante a noite interfere na produção do hormônio do sono. O organismo tem um relógio biológico, chamado ciclo circadiano, que determina quando está na hora de acordar e de dormir.

O ciclo circadiano não é 100% exato e precisa de sinais do ambiente externo para se ajustar. O sinal mais importante que ajusta o relógio biológico é a luz do dia. Nem toda luz é igual, porém, a luz azul é a que sensibiliza a retina dos olhos, enviando o sinal de claridade. Com a luz artificial, o cérebro não recebe os sinais corretos fazendo com que a glândula pineal não produza melatonina corretamente.

Atualmente não existem pesquisas sobre os malefícios causados pelo abuso da internet na saúde mental de adultos. No entanto, o assunto está em evidência. A maioria das pesquisas internacionais sobre o tema apontam que pelo menos 10% dos usuários de internet já estão viciados.

Ainda não foram feitas pesquisas conclusivas no Brasil sobre o assunto, mas o índice deve estar próximo, já que os brasileiros estão entre os primeiros colocados no ranking dos povos que permanecem mais tempo conectados. A psicóloga Rochelli Alves Pacheco, pós-graduada em saúde mental e atenção psicossocial,  salienta que, de acordo com o grau de dependência, pode ser considerada uma doença, tendo a possibilidade de se tornar mais perigosa do que a dependência química.

Mídias sociais são mais viciantes que o cigarro e o álcool

Uma pesquisa feita pelo Royal Society for Public Health (RSPH), Instituição de saúde pública do Reino Unido em parceria com Young Health Movement (YHM) analisou como o uso das redes sociais afeta a saúde mental de jovens e destaca, também, que mídias sociais são descritas como mais viciantes que cigarros e álcool.  Rochelli Pacheco explica que o uso abusivo da internet pode comprometer a vida das pessoas no âmbito biopsicossocial. O modelo biopsicossocial estuda a causa ou o desenvolvimento de doenças utilizando fatores biológicos, como a genética e a bioquímica; os fatores psicológicos incluindo a personalidade, comportamento e estado de humor; e os fatores sociais. A tendência é que os dependentes da internet, eliminem de forma gradativa a vida social, os laços familiares e relacionamento com amigos, passando a investir menos tempo em produções criativas, no trabalho e consequentemente na saúde.

Redes sociais são apontadas como prejudiciais à saúde mental de jovens. Foto: Mariana Olhaberriet

Os jovens entre 16 e 24 anos são considerados os mais afetados, seguidos por adultos e idosos que estejam enfrentando períodos de tristeza, solidão e ansiedade. A psicóloga explica que geralmente “a dependência, está associada à frustração da falta de controle dos próprios impulsos. Deseja-se ‘controlar’ o externo, uma vez que o conteúdo interno não seja possível”.

As orientações são de que as pessoas tenham senso crítico e avaliem como a internet está sendo usada, o tempo gasto nas redes e a exposição, que também é um gatilho para inúmeros problemas.

Recomenda-se que os dependentes de internet procurem um acompanhamento psicológico individual ou em grupos, o objetivo do tratamento não consiste em eliminar o uso da internet, mas fazer com que a pessoa aprenda a lidar com os impulsos e consequentemente reorganizando sua vida, as relações interpessoais, ao trabalho, a saúde e o acesso às redes esteja presente de modo equilibrado.

Aliada ao uso excessivo da internet estão as redes sociais, a pesquisa feita no Reino Unido classificou cinco redes sociais como prejudiciais à saúde mental de jovens. A rede de compartilhamento de fotos e vídeos curtos, o Instagram, ficou em último lugar, sendo considerado a mais prejudicial, o aplicativo multimídia, Snapchat, ficou em penúltimo e o YouTube em primeiro lugar sendo considerada a mais positiva.

A psicóloga Renata Krug explica que o Instagram e o Snapchat são redes sociais em que o compartilhamento é estático, muitas imagens que são transformadas em programas de edição, “ali se coloca algumas coisas como se aquilo fosse concreto, pra sempre, estático, ou seja uma imagem totalmente irreal do que é o ser humano, do que é viver e do que é contato social”. Já o Youtube não tem a essa mesma característica, o que facilita uma identificação mais positiva e até certo ponto mais saudável, pois mostra um pouco mais da vida em movimento e não passa por tantos filtros e ferramentas de modificação.  

A questão é a forma de lidar com todas as informações recebidas e que são de fácil acesso. As redes sociais acabam não sendo só um meio, mas também uma forma de consumo. “Escuto muitas vezes, desesperadamente me falarem que precisam consumir determinado produto ou que precisam consumir uma viagem”, afirma a psicóloga. Os motivos para consumir determinadas coisas mudaram, esses produtos são vistos, atualmente, como sinônimo de felicidade e bem-estar, mesmo não estando em harmonia com que se sente e com quem se é.

Pessoas diferentes enfrentando as mesmas situações enxergam as coisas de formas diferentes. Isso se acontece porque vivemos em dois ‘mundos’ simultaneamente, o mundo subjetivo e o objetivo. A subjetividade, se refere ao mundo interno de cada pessoa, incluindo todas as particularidades do sujeito, como as capacidades afetivas, imaginárias, sensoriais, racionais e as relações com o mundo social. A psicóloga Rochelli Alves Pacheco explica que a subjetividade deve englobar, além da psicologia, a filosofia, história, sociologia e antropologia. Tornando possível entender como a sociedade interfere nos indivíduos, e “quanto as influências socioculturais podem ser internalizadas, construtivas e/ou alienantes para constituição do sujeito”. A objetividade é o mundo ‘real’ e externo que é fruto das nossas experiências sensoriais. Os dois mundos estão conectados e interferem um no outro, formando quem somos. Um desses agentes externos que interferem na subjetividade das pessoas é a internet, que dependendo do seu uso, pode levar a transtornos graves.

O caminho para que esse uso não seja prejudicial à saúde mental dos usuários é a busca do equilíbrio, não abusando das horas em frente às telas, mas também compreendendo que, atualmente ,a maioria do conteúdo publicado são produtos que estão ali para serem vendidos. Ter cuidado e se conscientizar de que a vida das pessoas não é sempre perfeita como é mostrado em rede, procurando uma identificação com a vida real e dinâmica. Além de buscar e aceitar ajuda de profissionais quando necessário.

Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Científico.

 

Fotos: Pixabay

Irritabilidade, angústia, sensação de vazio, pessimismo, falta de motivação e outros sintomas que alteram tanto a percepção cognitiva quanto a comportamental  são sintomas de uma pessoa que sofre de ansiedade ou de depressão.

Os índices de depressão e ansiedade no Brasil são alarmantes. No mês de fevereiro a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou dados sobre a incidência de depressão na população mundial. O número de pessoas depressivas aumentou 18% entre 2005 e 2015.

O relatório da OMS mostra que a depressão atinge 5,8% da população brasileira (11.548.577). E distúrbios relacionados a ansiedade afetam 9,3% (18.657.943) das pessoas que vivem no Brasil. Novos dados divulgados em março no site da OMS mostram que nas Américas, em 2015 cerca de 50 milhões de pessoas viviam com depressão, ou seja, 5% da população.

Pessoas que sofrem desses transtornos costumam buscar a solução com terapias e, segundo a psicóloga Vanessa Diefenbach, o tratamento costuma ser feito conforme o direcionamento e a linha terapêutica que é adotado pelo profissional.

– Cada terapeuta tem um foco diferente, por exemplo, observar o comportamento e outras os aspectos inconscientes. Mas, o principal é o olhar diferenciado para o sujeito, seus prejuízos, suas emoções, seus comportamentos, e o que está causando no ambiente, nas atividades que antes costumava fazer e se modificaram,

analisa a terapeuta.

A psicóloga também conta que as causas mudam de indivíduo para indivíduo e de forma bastante singular. Elas variam tanto na intensidade quanto nos fatores desencadeantes. Não há uma causa específica para quem sofre de ansiedade ou depressão, mas o terapeuta observa cada caso na sua singularidade.

A maior preocupação começa quando é preciso encaminhar o paciente para consultas com o psiquiatra e, por consequência, fazer uso de medicamento. Quando se faz uso de um medicamente contínuo é normal que o paciente fique um pouco dependente da medicação. Será que não há outras formas de tratar ansiedade e depressão?

Segundo a psicóloga e psicoterapeuta Samira Turatti Schneider, dependendo da intensidade dos sintomas é sim necessária a avaliação de um psiquiatra para verificar se existe algo químico e a necessidade de medicação.

– Em alguns casos é necessário o uso de medicação para que o paciente consiga ter um bom nível de elaboração dos conteúdos trabalhados em terapia. – avalia

Samira relata que em casos de transtornos avançados não há a possibilidade de um método que não envolva medicação. Porém, só a medicação não resolve, apenas “anestesia”, o que faz com que futuramente o transtorno volte e, muitas vezes, potencializado.

 O estudante de paisagismo Edilon Costa é um dos exemplos. Diagnosticado com depressão há 10 anos, frequenta sessões com psiquiatra e trata o transtorno com medicação. Mas, nunca frequentou psicólogo.

– Sempre achei que a medicação me traria resultados imediatos. Aos poucos, eu notei a minha melhora e nunca procurei fazer o mesmo tratamento com psicólogo. Hoje tenho medo de parar com a medicação. Na verdade, quando diminuo com ela, já noto diferença. – desabafa o estudante.

 Além das terapias e a medicação, também há outros métodos para amenizar ou até mesmo “lidar” melhor com as crises. Alimentação de qualidade, atividade física, trabalhos manuais, sono de qualidade, técnicas de relaxamento e respiração são umas das alternativas que as psicólogas indicam.

Para àqueles que já notam algum dos sintomas de ansiedade e depressão a orientação é procurar um profissional qualificado para que o diagnóstico seja feito. Saúde mental é algo delicado e quando se trata do assunto é preciso ter cautela.

Por Karen Borba, reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Científico