O silêncio da mídia
A prisão de Eduardo Cunha foi, sem dúvida, um grande marco da política. Um político que representa e defende os interesses da elite e dos fundamentalistas religiosos, preso,é um símbolo de que há, sim, justiça no
A prisão de Eduardo Cunha foi, sem dúvida, um grande marco da política. Um político que representa e defende os interesses da elite e dos fundamentalistas religiosos, preso,é um símbolo de que há, sim, justiça no
A Agência CentralSul de Notícias faz parte do Laboratório de Jornalismo Impresso e Online do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana (UFN) em Santa Maria/RS (Brasil).
A prisão de Eduardo Cunha foi, sem dúvida, um grande marco da política. Um político que representa e defende os interesses da elite e dos fundamentalistas religiosos, preso,é um símbolo de que há, sim, justiça no Brasil. Será?!
É quase unanimidade entre os brasileiros, a satisfação em vê-lo atrás das grades. Mas por que a mídia não abordou a prisão de Cunha da mesma maneira como cobriu a condução coercitiva de Lula ou os outros escândalos do mesmo porte da Lava Jato? Alhures a Lava Jato, Cunha e Lula, foram descobertos outros dois grandes esquemas de corrupção e a mídia abafou. Por quê? Qual o motivo da Zelotes e do Panamá Papers não serem capa de jornal ou manchete na TV? Será que a indignação seletiva da Petrobrás em julgar, a qualquer preço, o PT, cegou o oligopólio da comunicação brasileira?
A parcialidade clara da justiça brasileira começa quando um indiciado em crimes como: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, entre outros crimes, conduz um processo de impeachment a uma presidenta que nunca teve seu nome incluso sequer em B.O de assalto. A não ser, claro, nos anos de chumbo da ditadura. Antes que alguém venha criticar o meu texto, recomendo estudar história e assistir a pelo menos dois filmes: “Batismo de sangue” e “O ano em que meus pais saíram em férias”. Talvez esses dois filmes, aliados a uma aula do que foi a ditadura, possam fazê-los enxergar melhor.
Voltando a falar sobre a parcialidade midiática brasileira, é nítida a discrepância de cobertura da grande mídia sobre os fatos acima mencionados. Se a Zelotes, maior escândalo de sonegação de impostos deste país, não é divulgada, há algo por trás. Segundo as investigações, há indícios de que uma das maiores afiliadas da Rede Globo está envolvida neste esquema, assim como proprietários de um dos maiores jornais diários e online do Brasil.
Já o Panamá Papers, maior caso de sonegação fiscal do mundo, não é divulgado pela mídia porque tem empresários, celebridades, jogadores de futebol, partidos políticos e até presidentes e chefes de Estados na lista de pessoas que lavaram dinheiro. Para quem não sabe, O Panama Papers é um trabalho de investigação jornalística internacional que compreende 107 organizações de mídia, que apuram o vazamento de 11 milhões de documentos. As informações foram vazadas de forma anônima para o jornal Süddeutsche Zeitung, de forma anônima. O veículo alemão compartilhou as informações com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que apura lavagem de dinheiro praticada por grandes empresários e políticos do mundo inteiro a partir de esquema de sonegação com o escritório de advocacia panamenha Mossack Fonseca e clientes. Dentre os clientes brasileiros na lista, aparecem Eduardo Cunha e sete partidos políticos brasileiros: PDT, PMDB, PP, PSB, PSD, PSDB e PTB.
Um escândalo deste porte, que envolve líderes mundiais como Vladimir Putin, presidente da Rússia, Maurício Macri, presidente da Argentina, foi praticamente esquecido pela mídia brasileira, que preferiu cobrir de forma parcial a Lava Jato, dando voz a uma parcela de pessoas, por interesses políticos e econômicos. A seletividade midiática na Lava Jato aconteceu desde o começo do processo, lá em 2014. Em março deste ano, foi divulgada uma lista, com pelo menos 200 deputados que receberam dinheiro de empresa indiciada na Lava Jato nas campanhas de 2014. A lista foi divulgada apenas em alguns sites e em uma emissora aberta, a Record. As demais fizeram vista grossa à lista.
A partir das explanações, mesmo que superficiais sobre as coberturas jornalísticas, é possível entender um pouco das agendas e a separação de assuntos de interesse público e de interesse do público. Os meios de comunicação se pautam a fim de nortear discussões de seus interesses. Pincelam e, às vezes, omitem fatos para que a opinião pública seja direcionada. Após a primeira votação do impeachment, em abril deste ano, o agendamento ficou mais claro ainda, quando as matérias que envolviam a Lava Jato perderam espaço para outras que destoavam do assunto política.
É preciso problematizar dentro da academia e das empresas de comunicação, a função do social dos profissionais de comunicação e dos veículos de mídia como formadores de opinião. Os meios de comunicação detêm o poder de informar, mas não podem usar esse poder a fim de elencar quais notícias a população deve ou não ter acesso. Embora haja filtros de notícias, eles não podem ser feitos a partir de interesses econômicos e ideológicos. Se assim for, a democracia, a liberdade e a sociedade estarão em risco como um todo. A história prova e comprova que a mídia exerceu e exerce função primordial nas mudanças sociais e na conjuntura mundial.