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As consequências do desemprego para além do social e do econômico

Fonte: Image by 1820796 from Pixabay

Sustentar uma família, mantendo as contas básicas em dia, é um dos maiores desafios para mais de 12 milhões de brasileiros hoje. Eles estão desempregados. No cenário atual, três a cada dez pessoas encontram-se em estado de desocupação no país, o que corresponde a aproximadamente 12% da população nacional economicamente ativa. Só no Rio Grande do Sul, são mais de 440 mil pessoas nessa condição, conforme dados do IBGE.

Para o economista Mateus Frozza, diversos fatores colaboram para esse fenômeno e estão ligados à crise de crédito e à precariedade de atividade econômica. “A crise significa que os juros aumentaram em consequência da escassez de dinheiro, fazendo com que os bancos se mantenham restritos a financiamentos e empréstimos.’’, explica o economista.

Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), encerrada no último trimestre de 2018, mais de 5,3 milhões de pessoas estão na busca por emprego há quase um ano e 3,1 milhões de pessoas há mais de dois anos. Esta ausência de emprego reflete em problemas sociais e econômicos graves, que se intensificam ainda mais em economias emergentes e em épocas de crises econômicas e políticas.

Grupos mais afetados: mulheres, jovens e pessoas entre 25 e 39 anos

Na corrida em busca do emprego efetivo, jovens, mulheres e pessoas com faixa-etária entre 25 e 39 anos têm sido os mais desfavorecidos. Apesar da taxa de desocupação feminina ter tido uma queda significante em relação ao 1º trimestre de 2017, os dados ainda são preocupantes. Quase 6 milhões de pessoas desocupadas no Brasil são mulheres, correspondendo a 52% da população nacional desempregada. Essa taxa é resultado de diversos fatores que englobam o universo feminino e o machismo ainda instalado na sociedade. “As mulheres, por vezes, não são contratadas devido a sua dupla jornada e por serem mães em tempo integral. Em situações de necessidade de demissão, as mulheres acabam se tornando um alvo fácil.‘’, acrescenta Frozza.

A juventude – apesar de todo esforço e condições para ingressar no mercado do trabalho – é uma das classes que mais sofrem com o desemprego. Este cenário, que engloba 3,9 milhões de pessoas, tem se agravado devido à baixa na escolaridade e à fragilidade da formação educacional de que sofre grande parte da população. “Após o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, os investimentos, principalmente em educação, cessaram; houve uma queda nas bolsas de estudos e nos financiamentos educacionais”, aponta o economista.

Desempregados na faixa etária entre 25 e 39 compõem um montante de 4,1 milhões de pessoas e são considerados a classe mais vulnerável quando o assunto é condições de trabalho. Devido às dificuldades de inserção no mercado, tendem a encontrar ocupações mais precárias ou a buscar trabalho na informalidade.

Desemprego como gerador de problemas psicossociais

O trabalho, além de ser fonte de renda ou de apoio financeiro, também é considerado crucial para o bem-estar e equilíbrio psicológico e social das pessoas. Porém, quando os trabalhadores se deparam com a condição de desemprego – tanto aquele que procura emprego pela primeira vez, quanto os que trabalharam durante anos e se veem de repente nessa situação – podem acabar experimentando uma série de transformações emocionais, psicológicas e sociais. O descontentamento com o estado de desocupação, as expectativas frustradas e a ânsia na busca pela estabilidade financeira são fatores que acarretam em distúrbios psicossociais, como isolamento, baixa autoestima, prejuízos no funcionamento social e relações abaladas ou enfraquecidas. Em casos mais graves, o desemprego pode gerar ansiedade e até depressão.

Conforme a psicóloga Lisiane Cassales, que atua com psicoterapia e orientação profissional, os efeitos dessa condição podem ultrapassar o emocional, gerando complicações que migram para dimensão física. ‘’É o que chamamos de somatização, fenômeno que transforma algo muito intenso em sua mente, em dor ou desconforto no corpo’’, esclarece a psicóloga.

É indicado que o tratamento seja feito com psicólogo, em que o primeiro passo se dá pela escuta, deixando o paciente livre para falar sobre suas frustrações sem qualquer tipo de julgamento. Essa fase é muito importante para entender a raiz do problema, pois em alguns casos existem questões anteriores que não foram enfrentadas ou reconhecidas no momento certo, gerando a famosa ‘’bola de neve’’ que acaba tomando uma proporção maior do que deveria.

É importante ter em mente que o desemprego é um contratempo que pode vir a acontecer com qualquer pessoa e certamente algo irá acrescentar de aprendizado na vida do indivíduo, mas que – no momento – é de difícil percepção. ‘’É indispensável que o indivíduo se pergunte: o que eu aprendi com isso? Eu estava dando o meu melhor? Como posso melhorar no meu próximo emprego? Isso torna mais clara a ideia de que o ocorrido contribuiu para o crescimento pessoal e profissional’’, finaliza Lisiane.

Impactos econômicos e as expectativas para o futuro

Retomada lenta e crescimento pouco satisfatório são expressões que definem as análises dos economistas sobre futuro da economia brasileira. Durante este ano, a probabilidade de melhora com relação ao desemprego é pouca, pois o Produto Interno Bruto (PIB), que mede a atividade econômica do país apresenta números pouco otimistas. Um exemplo disso é o fato de o Brasil ter encerrado o ano de 2018 com um crescimento de 1,1%, totalizando R$ 6,8 trilhões, conforme dados do IBGE. Para Frozza, o desemprego é uma tendência e a geração de emprego terá evolução, mas será de forma lenta e com resultados a longo prazo.

Uma agenda governamental para a geração de emprego é urgente. No entanto, conforme dados do IBGE, até o momento presente não houve melhoras significativas com relação à situação econômica e política do país.

A não realocação no mercado de trabalho força as pessoas a se inserirem na informalidade, tornando-se empreendedoras por necessidade e não por oportunidade. ‘’Essa condição leva muitos trabalhadores a se tornarem microeemprendedores individuais, na busca de fugir da condição de desemprego’’, acrescenta Mateus Frozza. É um aspecto positivo, mas, pensando no crescimento da economia nacional como um todo e o estímulo à geração de emprego, a alta da informalidade pode ser um grande empecilho. Esse fenômeno tende a emperrar uma reação mais vigorosa do crédito. A situação preocupa porque, no Brasil, o crédito serve de estímulo fundamental ao consumo que, por sua vez, é o grande motor da economia. Sem carteira de trabalho, tende a ficar mais difícil para o consumidor – em especial o de baixa renda – apresentar garantias para tomar empréstimo, mesmo que haja predisposição para negócio de ambas as partes. Para os economistas, não é um diagnóstico preciso, mas tudo que move a economia de forma negativa ou positiva tende a influenciar no desemprego.

 

Texto de Andriele Hoffmann, produzido na disciplina de Jornalismo Especializado, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, durante o 1º semestre de 2019. Orientação: professora Carla Torres.

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Sustentar uma família, mantendo as contas básicas em dia, é um dos maiores desafios para mais de 12 milhões de brasileiros hoje. Eles estão desempregados. No cenário atual, três a cada dez pessoas encontram-se em estado de desocupação no país, o que corresponde a aproximadamente 12% da população nacional economicamente ativa. Só no Rio Grande do Sul, são mais de 440 mil pessoas nessa condição, conforme dados do IBGE.

Para o economista Mateus Frozza, diversos fatores colaboram para esse fenômeno e estão ligados à crise de crédito e à precariedade de atividade econômica. “A crise significa que os juros aumentaram em consequência da escassez de dinheiro, fazendo com que os bancos se mantenham restritos a financiamentos e empréstimos.’’, explica o economista.

Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), encerrada no último trimestre de 2018, mais de 5,3 milhões de pessoas estão na busca por emprego há quase um ano e 3,1 milhões de pessoas há mais de dois anos. Esta ausência de emprego reflete em problemas sociais e econômicos graves, que se intensificam ainda mais em economias emergentes e em épocas de crises econômicas e políticas.

Grupos mais afetados: mulheres, jovens e pessoas entre 25 e 39 anos

Na corrida em busca do emprego efetivo, jovens, mulheres e pessoas com faixa-etária entre 25 e 39 anos têm sido os mais desfavorecidos. Apesar da taxa de desocupação feminina ter tido uma queda significante em relação ao 1º trimestre de 2017, os dados ainda são preocupantes. Quase 6 milhões de pessoas desocupadas no Brasil são mulheres, correspondendo a 52% da população nacional desempregada. Essa taxa é resultado de diversos fatores que englobam o universo feminino e o machismo ainda instalado na sociedade. “As mulheres, por vezes, não são contratadas devido a sua dupla jornada e por serem mães em tempo integral. Em situações de necessidade de demissão, as mulheres acabam se tornando um alvo fácil.‘’, acrescenta Frozza.

A juventude – apesar de todo esforço e condições para ingressar no mercado do trabalho – é uma das classes que mais sofrem com o desemprego. Este cenário, que engloba 3,9 milhões de pessoas, tem se agravado devido à baixa na escolaridade e à fragilidade da formação educacional de que sofre grande parte da população. “Após o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, os investimentos, principalmente em educação, cessaram; houve uma queda nas bolsas de estudos e nos financiamentos educacionais”, aponta o economista.

Desempregados na faixa etária entre 25 e 39 compõem um montante de 4,1 milhões de pessoas e são considerados a classe mais vulnerável quando o assunto é condições de trabalho. Devido às dificuldades de inserção no mercado, tendem a encontrar ocupações mais precárias ou a buscar trabalho na informalidade.

Desemprego como gerador de problemas psicossociais

O trabalho, além de ser fonte de renda ou de apoio financeiro, também é considerado crucial para o bem-estar e equilíbrio psicológico e social das pessoas. Porém, quando os trabalhadores se deparam com a condição de desemprego – tanto aquele que procura emprego pela primeira vez, quanto os que trabalharam durante anos e se veem de repente nessa situação – podem acabar experimentando uma série de transformações emocionais, psicológicas e sociais. O descontentamento com o estado de desocupação, as expectativas frustradas e a ânsia na busca pela estabilidade financeira são fatores que acarretam em distúrbios psicossociais, como isolamento, baixa autoestima, prejuízos no funcionamento social e relações abaladas ou enfraquecidas. Em casos mais graves, o desemprego pode gerar ansiedade e até depressão.

Conforme a psicóloga Lisiane Cassales, que atua com psicoterapia e orientação profissional, os efeitos dessa condição podem ultrapassar o emocional, gerando complicações que migram para dimensão física. ‘’É o que chamamos de somatização, fenômeno que transforma algo muito intenso em sua mente, em dor ou desconforto no corpo’’, esclarece a psicóloga.

É indicado que o tratamento seja feito com psicólogo, em que o primeiro passo se dá pela escuta, deixando o paciente livre para falar sobre suas frustrações sem qualquer tipo de julgamento. Essa fase é muito importante para entender a raiz do problema, pois em alguns casos existem questões anteriores que não foram enfrentadas ou reconhecidas no momento certo, gerando a famosa ‘’bola de neve’’ que acaba tomando uma proporção maior do que deveria.

É importante ter em mente que o desemprego é um contratempo que pode vir a acontecer com qualquer pessoa e certamente algo irá acrescentar de aprendizado na vida do indivíduo, mas que – no momento – é de difícil percepção. ‘’É indispensável que o indivíduo se pergunte: o que eu aprendi com isso? Eu estava dando o meu melhor? Como posso melhorar no meu próximo emprego? Isso torna mais clara a ideia de que o ocorrido contribuiu para o crescimento pessoal e profissional’’, finaliza Lisiane.

Impactos econômicos e as expectativas para o futuro

Retomada lenta e crescimento pouco satisfatório são expressões que definem as análises dos economistas sobre futuro da economia brasileira. Durante este ano, a probabilidade de melhora com relação ao desemprego é pouca, pois o Produto Interno Bruto (PIB), que mede a atividade econômica do país apresenta números pouco otimistas. Um exemplo disso é o fato de o Brasil ter encerrado o ano de 2018 com um crescimento de 1,1%, totalizando R$ 6,8 trilhões, conforme dados do IBGE. Para Frozza, o desemprego é uma tendência e a geração de emprego terá evolução, mas será de forma lenta e com resultados a longo prazo.

Uma agenda governamental para a geração de emprego é urgente. No entanto, conforme dados do IBGE, até o momento presente não houve melhoras significativas com relação à situação econômica e política do país.

A não realocação no mercado de trabalho força as pessoas a se inserirem na informalidade, tornando-se empreendedoras por necessidade e não por oportunidade. ‘’Essa condição leva muitos trabalhadores a se tornarem microeemprendedores individuais, na busca de fugir da condição de desemprego’’, acrescenta Mateus Frozza. É um aspecto positivo, mas, pensando no crescimento da economia nacional como um todo e o estímulo à geração de emprego, a alta da informalidade pode ser um grande empecilho. Esse fenômeno tende a emperrar uma reação mais vigorosa do crédito. A situação preocupa porque, no Brasil, o crédito serve de estímulo fundamental ao consumo que, por sua vez, é o grande motor da economia. Sem carteira de trabalho, tende a ficar mais difícil para o consumidor – em especial o de baixa renda – apresentar garantias para tomar empréstimo, mesmo que haja predisposição para negócio de ambas as partes. Para os economistas, não é um diagnóstico preciso, mas tudo que move a economia de forma negativa ou positiva tende a influenciar no desemprego.

 

Texto de Andriele Hoffmann, produzido na disciplina de Jornalismo Especializado, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, durante o 1º semestre de 2019. Orientação: professora Carla Torres.