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Julia Trombine

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Fotos: Julia Trombine

Essa semana tivemos muitos cortes. Novamente. Mas, em específico, esses além de simbólicos também tiveram uma forma física aqui em Santa Maria. No domingo, o bairro Rosário perdeu a metade de suas árvores. Em seguida, moradores, grupos de estudantes, e pessoas da nossa cidade movimentaram as redes sociais com questionamentos e indignações. Outras pessoas também demonstraram afetação de não entendimento, de anarquismo e também de ignorância. Isto dito, me nego acreditar que alguém concorde com os cortes sem devida observação ou justificativa para serem feitos. Todos sabemos que algumas árvores realmente podem “prejudicar” o trânsito, a fiação da rua, enfim, outros tantos motivos que poderiam justificar tais atos se estes considerassem o espaço e respectivamente sua existência. Porém, não vejo o fato como um divisor de ideias, pelo contrário. Acredito que nunca estivemos tão perto desses cortes, morando no Rosário ou não.

Afinal, foram tantos cortes. O país vive um colapso inegável em diferentes contextos e realidades. Está em chamas aqui, e em todos os lugares. E 2019 está sendo um ano que todo mundo sente as mudanças no ar. Nos olhares que não se encontram no caminho. No próprio caminhar na rua. No pulso que acelera ao ler mais uma notícia “inacreditável”. Na batida do peito com a incerteza das próximas falácias que virão. Mas não podemos ver apenas as coisas negativas. Existem ações boas, momentos bons, como a senhora que parou ao me observar fotografando e disse “o verde pode ser também esperança”, ou nos movimentos que coletivos culturais fazem, as iniciativas de conscientização, as campanhas de prevenção as vezes silenciadas. Mas, caso não tenhamos muitos feitos bons, acredito que a soma é sempre melhor que a desinformação e o desconhecimento.

Aprendemos a importância das árvores diante da existência. Talvez não no mesmo ano de escola, nem no mesmo lugar, mas desde quando esquecemos a associação de natureza com a vida? As pesquisas científicas em todas as áreas do conhecimento apontam apenas para uma perspectiva: a  arborização urbana como uma necessidade das cidades. Não somente pelas questões estéticas que as árvores trazem as vias, mas atrelado a esse benefício é pensado também perante o bem-estar e sobre a qualidade do ar oferecido para a vida humana, consequentemente o que reflete na nossa qualidade de vida. Podemos não ter lado algum. Não comentar sobre a rua que teve esses cortes. Mas, na situação atual, que a natureza nos pede socorro na nossa cara de tantas maneiras, não acredito que podemos, ainda, estar dentro e somente na zona de conforto. Afinal, apenas uma grande árvore pode providenciar muitas necessidades de oxigênio. E isso tem ligação direta para com nossa existência.

As mesmas árvores que possuem papel de dar “sombra” para o ser humano, e ajudam a reduzir em até 10% o consumo de energia por meio do efeito de moderação climática local. As mesmas que podem reduzir a incidência de asma, câncer de pele e doenças relacionadas ao estresse, pois ajudam a diminuir a poluição do ar, promovendo a possibilidade de um ambiente mais bonito e adequado para animais, como pássaros. Árvores reduzem poluição sonora e os ventos, mantendo umidade do ar e chuvas regulares, fornecem base para produtos como medicamentos e chás, além de frutas, flores, sementes. Também promovem saúde dos solos e evitam erosão com suas raízes. Desenvolvem um papel importantíssimo no ecosistema pois são elas as responsáveis por manter mais de 50% da biodiversidade. Apesar dessa ser uma realidade local e também factual, esse momento de corte bruto representa a perda de quanto a cidade já não se preocupa em mudar as ruas e espaços que não possuem muita arborização, e quem acaba perdendo isso dentro da cidade somos nós.

Julia Trombini é jornalista escorpiana egressa da UFN. Fez parte da equipe do LabFem (Laboratório de Fotografia e Memória) como repórter fotográfica. Trabalhou também com diagramação, assessoria de imprensa e produção de conteúdo. Tem interesse em fotografia, audiovisual e temas de resistência política.

Patrimônio público e valor cultural: preservação e acesso

Vagão de Trem histórico – incêndio aconteceu na noite de domingo (14). Para delegado, trata-se de incêndio criminoso e Polícia aguarda resultados de perícia e busca testemunhas do caso. Fotos: Julia Trombini

A construção da cidade de Santa Maria fomentou a formação do principal meio ferroviário no interior do Estado. Por toda a sua história, a existência da Vila Belga causou impacto na vida econômica e social local, devido a sua expansão, à medida que a cidade também se desenvolveu. Mas, pensar nessa questão Férrea possibilita repensar diversos movimentos que marcaram a vida socioeconômica e cultural da cidade. A Vila Belga que é esse conjunto residencial construído inicialmente para funcionários de uma empresa, ao longo dos anos sofreu acréscimos, como demais habitações próximas. Ela ainda representa o período fundamental na história de Santa Maria, considerado um monumento digno de ser preservado e reconhecido pela população. Do mesmo modo, o conjunto onde está inserida,  conhecido como a “Mancha Ferroviária de Santa Maria”, e que engloba a Estação Férrea, as construções de apoio, as oficinas, o largo da estação até a Escola Manoel Ribas, entre outros pontos.

O início da construção da Vila Belga foi em 1901 e sobre sua conclusão e inauguração há divergências quanto à data. Já na década de 1980, houve uma diminuição significativa da atividade ferroviária e o tráfego de passageiros foi praticamente extinto. Por isso, a região em torno à estação entrou em decadência, processo que só começou a ser revertido nos últimos anos, com alguns projetos públicos para o local, algumas iniciativas privadas pontuais e o tombamento do sítio ferroviário, que incluiu a Vila Belga, no ano 2000.

O que restou do vagão incendiado.

Somente em 1982, o Município estabeleceu a lei de proteção do Patrimônio Histórico e Cultural do Município de Santa Maria(01) que em sequência, em 1996 ao tombamento provisório da vila(02) e ao projeto considera o complexo da Viação Férrea de Santa Maria como patrimônio histórico e cultural (03). Em 1997 é feito o tombamento municipal da Vila Belga(04) e, em setembro do mesmo ano, as casas são vendidas em leilão público pela Rede Ferroviária Federal S.A para os moradores que adquirem a maioria das casas. Em 1998, o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Maria entrega à prefeitura a nova regulamentação sobre a vila, especificando os atos legais e os ilegais a partir de então.

Porém, agora estamos em 2019. Essa semana todo mundo assistiu ao vídeo que mostra duas pessoas incendiando o vagão histórico, na Estação Férrea. E a Vila Belga ainda é um conjunto significativo de memória e que vai além disso, pois as transformações do espaço público revelam também a experiência urbana. Antigamente apenas ferroviários residiam no lugar devido às condições da estruturais da cidade, mas hoje é uma região que mostra essas relações mundanas sociais, pois as pessoas ainda residem na localidade. A Vila em questão trata da memória social e da preservação do patrimônio, que compõe-se de 80 unidades residenciais agrupadas duas a duas -um conjunto arquitetônico importante não apenas para a cidade, mas para a região como um todo.

É muito triste pensar que alguém (mesmo que seja um número pequeno de indivíduos) enxerga esse local apenas como um número da idade do tempo que passa, ou como um sinônimo de abandono (das pessoas, do interesse, do poder público) em si, e que deixa essa possibilidade de prioridade dos usos cotidianos e públicos dos espaços de patrimônio da cidade jogado, esquecendo que são justamente nesses espaços há uma conscientização de preservação, de valorização e de troca de conhecimentos e atrações culturais, e da democratização de acesso de todos os indivíduos que aqui residem, ou, então, daqueles que podem ocupar estes lugares.

(01) Lei Municipal nº 2.255 de 25 de maio de 1982. Dispõe sobre a proteção do Patrimônio Histórico e Cultural do Município de Santa Maria.

(02) PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA MARIA: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. 1996. Processo de Tombamento da Vila Belga. Santa Maria.

(03) Lei Municipal nº 4.009 de novembro de 1996. Considera Patrimônio Histórico e Cultural Municipal o complexo da Viação Férrea de Santa Maria.

(04) Decreto Executivo nº 161 de 8 de agosto de 1997. Tombamento Municipal da Vila Belga.

Julia Trombini é jornalista escorpiana egressa da UFN. Fez parte da equipe do LabFem (Laboratório de Fotografia e Memória) como repórter fotográfica. Trabalhou também com diagramação, assessoria de imprensa e produção de conteúdo. Tem interesse em fotografia, audiovisual e temas de resistência política.

Praça do Mallet foi repaginada nesta semana após longo período de abandono. Foto: Julia Trombini

Já é triste pensar que a nossa cidade não possui muitos espaços públicos. E os poucos que existem, às vezes, não são adequados para o uso da população. Não estou generalizando, pelo contrário, acredito que as pessoas podem e devem utilizar os locais para lazer, esporte ou qualquer atividade ao ar livre. Afinal, o espaço público é considerado como aquele que é de uso comum e posse de todas as pessoas. Ao entender a cidade como um local de encontros, o espaço público, geralmente representado pelas praças, tem um papel muito importante para os cidadãos.

Moro no bairro Passo D’Areia há alguns anos e foram poucas as vezes que vi algum trabalho de melhoria feito pelo poder público nesse aspecto. O bairro tem uma praça que é conhecida pela quantidade de assaltos e violência na cidade, mesmo estando em frente a um lugar de segurança, que tem guardas 24 horas. Aos domingos, essa mesma praça reúne a comunidade de Santa Maria. As crianças brincam na pracinha, alguns idosos fazem atividades, as pessoas caminham, correm, jogam, outras levam seus animais de estimação para passear.  Todas essas atividades realizadas com atenção para não cair em um buraco. Mas eu não to querendo só falar do lado ruim de morar perto de uma praça e saber que muitas pessoas deixam de utilizar o seu espaço por medo de assaltos, ou porque não está adequada, que às vezes parece um matagal ou  que, quando chove, mesmo que pouco, a quadra parece uma piscina, ou então, que os brinquedos são quebrados ou somem. Ou, ainda porque já ficou muito conhecida e estereotipada como um um ponto da cidade que mostra a violência a luz do sol do meio-dia.

 A praça General Osório, conhecida como Praça do Mallet, amanheceu totalmente revitalizada  nesta semana. A grama foi cortada. Os brinquedos estão em boa condição de uso. A pintura da praça, realizada pela Sulclean, terceirizada pela Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos, é notada rapidamente por qualquer pessoa que passa pelo local. Para um morador é ainda mais evidente, tendo em vista que é uma praça marcada pelo abandono. O branco das calçadas clareou esse trecho da Avenida Liberdade e eu não questiono o feito, mas me pergunto por qual motivo ela simplesmente amanheceu assim? Até que lembrei que o atual presidente do Brasil chega amanhã na cidade, em sua primeira visita ao Estado após a posse, para prestigiar a Festa Nacional da Artilharia no 3º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado, o Regimento Mallet, que fica em frente à praça.

Julia Trombini é jornalista escorpiana egressa da UFN. Fez parte da equipe do LabFem (Laboratório de Fotografia e Memória) como repórter fotográfica. Trabalhou também com diagramação, assessoria de imprensa e produção de conteúdo. Tem interesse em fotografia, audiovisual e temas de resistência política.

As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estão abertas até amanhã, dia 17 de maio. Mesmo que a incerteza seja algo muito presente nas provas de vestibular, esse ano ela ronda mais que vestibulandos e atinge desde os estudantes da pré-escola até mestrandos e doutorandos das universidades públicas do Brasil. O Enem é atualmente a prova que permite o ingresso de alunos ao ensino superior e, no ano passado, teve o menor número de inscritos confirmados desde 2011 – o que já é assustador refletir sobre a redução de 18% do número de participantes, e se torna ainda mais preocupante diante dos cortes de verbas da educação pública no país.

Protesto contra os cortes do governo federal que atinge universidades federais mobilizou milhares de pessoas no centro de Santa Maria ontem. Foto: Julia Trombini

No final de abril, o Ministério da Educação anunciou um corte de 30% nos repasses de verbas destinadas às universidades federais, em razão de um contingenciamento de R$ 5,9 bilhões no orçamento. Essa medida, denominada pelo secretário de Educação Superior como “bloqueio preventivo”, vai ao encontro das decisões do governo Bolsonaro em relação aos professores e a ao projeto denominado Escola sem Partido. Além disso, o presidente já declarou que pretende retirar verbas dos cursos de Filosofia e Sociologia.

Com esse objetivo posto, segundo ele, seria possível focar em áreas que gerem “retorno imediato”, como veterinária, engenharia e medicina, por exemplo. “A função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta”, aponta o presidente em um segundo tweet.

Em um palco de muitas contradições, a educação não parece ser um assunto que vá para os bastidores. O Ministério da Educação (MEC) também cortou 36% da verba da única escola federal de ensino básico nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói e Duque de Caxias. O Colégio Pedro II, fundado em 1837 e que possui cerca de 13 mil alunos, teve um corte de 36,37% do orçamento de custeio previsto para este ano, o que ultrapassa R$ 18,5 milhões, e “terá implicações devastadoras”, segundo os diretores.

Aos se referir às universidades federais como balbúrdia, o Ministro da Educação desencadeou uma série de protestos em diversas cidades do país. Foto: JuliaTrombini

Mobilizar-se e ir para as ruas é o recurso último que a população tem para defender seus direitos e lutar contra retrocessos. Desta vez, a luta é pela educação. Sobretudo pela educação pública de qualidade! Um agente de transformação inegável. Por isso, não esqueçamos que a finalidade da educação é a de construção do ser social. Desde as criações humanas, das descobertas, das reflexões e dos aprendizados às gerações posteriores. Mais do que cortes que se apresentem como redução de gastos e não de investimentos, é provável que isso tudo custe caro em um futuro breve, em um país que diz não caber em seu orçamento algo tão primordial quanto a educação. Um país onde  115 milhões de brasileiros ainda não sabe ler e outros tantos milhões serão privados de estudar e de desenvolver as suas potencialidades. Afinal, diante do talho nas verbas do ensino público, talvez seja necessário um espetáculo de “balbúrdia” em âmbito nacional para que possamos conseguir lutar e garantir nossos direitos.

Julia Trombini é jornalista, escorpiana, egressa da UFN. Fez parte da equipe do LabFem (Laboratório de Fotografia e Memória) como repórter fotográfica. Trabalhou também com diagramação, assessoria de imprensa e produção de conteúdo. Tem interesse em fotografia, audiovisual e temas de resistência política.

São mais 12 mil variações de substâncias medicamentosas vendidas no Brasil. Mas, nem sempre esses remédios são uma opção para tratamento: podem causar complicações aos pacientes com o uso indevido/incorreto.

 

Ninguém gosta de ficar doente. Tem gente que reclama do amargo dos remédios. Outros de ter que tomar tanta sopa. E ainda há o desconforto, a dor, a angústia que se sente. Mas existem pessoas que tem uma preocupação constante com doenças. Além do medo de adoecerem, os hipocondríacos, como são chamados, muitas vezes se automedicam para curar um sintoma que não é de fato o que se manifesta. E eles chegam a 8% da população brasileira.

Os “Drs Google” do século XXI, apresentam hipóteses para sintomas como dores de cabeça, dor no corpo, fadiga, associadas a doenças graves como câncer, aneurisma, infarto, entre outros. Essas pessoas têm a impressão, quase constante, que estão com uma doença. A ansiedade alimenta essas convicções terríveis e as preocupações se tornam irremediáveis, uma vez que, quando sentem uma simples dor acreditam que isso pode significar um tumor, por exemplo.

[dropshadowbox align=”none” effect=”lifted-both” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]Lucas Souza, tem 18 anos, no mês de fevereiro começou a sentir dores na barriga, e então pesquisou na internet o que poderia ser, “achei na pesquisa câncer de colorretal, e na hora, entrei em desespero. Fiquei a noite toda em claro preocupado e chorando, já estava até pesquisando quanto tempo de vida eu teria”.[/dropshadowbox]

 

Gabriela Schramm, psicóloga, afirma que hipocondria é um mal psicológico. Foto: arquivo pessoal

Parece um exagero ou uma paranoia. Mas, as sensações fisiológicas que são normais do corpo humano para os hipocondríacos representam um sintoma de algo muito ruim que está por vir. Além da doença ser de difícil diagnóstico, geralmente aparece no início da vida adulta, mas pode se desenvolver em qualquer idade. No Brasil, são cerca de 150 mil casos por ano, de ambos os sexos. Ainda não se sabe o que causa a hipocondria. Este mal psicológico ainda é pouco conhecido e menos ainda admitido pelos que sofrem com o problema, segundo psicóloga Gabriela Schramm. Ainda afirma que, “o paciente, na maioria dos casos, não percebe que se trata de um transtorno mental e costuma procurar médicos que tratam de somatopatologias”.

A Hipocondria não é uma doença relacionada ao corpo físico. E isto é problemático porque o paciente vai de médico em médico e nenhum deles suspeita da doença. São feitos diversos exames para nenhum problema. Não existe um exame capaz de diagnosticar a hipocondria, então o diagnóstico é feito baseado nos sintomas e no histórico do paciente, quando feito por especialistas em saúde mental, como psicólogos e psiquiatras.

A hipocondria é um tipo de transtornos somatoformes (DSM-IV) que são doenças mentais causadoras de sintomas corporais, incluindo a dor. Os sintomas não podem ser rastreados até qualquer causa física. Segundo a biomédica e mestranda em Bioquímica Toxicológica na UFSM, Larisa Marafigas, os DSM-IV se caracterizam pela manifestação repetida de sintomas físicos, que uma avaliação clínica não revela doença física. “O paciente se mostra preocupado, requisita a avaliação médica e fica reticente quando lhe reasseguram que não sofre de doença física, ainda que seja detectado algum problema clínico”, afirma. Mesmo assim, “isso não explica a extensão da inquietação do paciente, que resiste em estabelecer uma relação causal com dificuldades ou conflitos emocionais ou eventos desagradáveis, mesmo quando há uma clara relação temporal entre eles”, relata Larissa.

A Psicologia da Saúde é baseada na perspectiva biopsicossocial e fornece respostas para a compreensão de doenças que não mais se explicam somente pelo modelo biomédico. Por exemplo, como explicar o fato de um tratamento ter alta eficácia em algumas pessoas e em outras não? Essa suscetibilidade de uma espécie ocorre quando um indivíduo está sujeito a determinada infecção ou doença. Segundo a mestranda, “dentro da mesma espécie, há indivíduos resistentes e suscetíveis a uma infecção, assim a suscetibilidade individual, e o estado de qualquer pessoa (ou animal) que não apresenta defesa ou resistência contra o agente infeccioso, pode adoecer ou não”. Ou seja, alguns indivíduos podem ficar expostos por muito tempo a um determinado fator de risco em altas concentrações e não adoecer enquanto outros em exposições com pequenas concentrações e/ou pouco tempo, adoecem.

Medicamentos são comprados e utilizados sem consulta prévia ao médico. Foto: arquivo ACS

O mesmo acontece com as pessoas que tomam demasiadamente o mesmo remédio. Algumas apresentam melhora significativa, outros, entretanto, causam mais danos ao organismo. Para a farmacêutica Jéssica Brandão, a população confunde as farmácias com um estabelecimento comercial. “É uma via de mão dupla, porque apesar de existir um controle de legislação vigente, a nomenclatura de farmácia e drogaria tem diferenças”, afirma ela. A farmácia  pode preparar fórmulas receitadas por médicos, dentistas, e veterinários – bem como as farmácias de manipulação. As drogarias, por sua vez, vendem apenas medicamentos industrializados, alguns exigindo prescrição médica. E embora seja inegável a eficácia do paracetamol como um medicamento analgésico e antitérmico, o uso indevido pode trazer sérios danos ao corpo.

A farmacêutica Jéssica explica que o “paracetamol tem potencial hepatotóxico, quando administrado em doses superiores a 4 g/dia, o medicamento é ainda é considerado seguro para utilização em doses terapêuticas.”

[dropshadowbox align=”none” effect=”lifted-both” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]Thais Hoerlle tem enxaqueca crônica e evita tomar medicamentos. Ela afirma que ingerir remédios prejudica o organismo. Por isso, a alternativa de tratamento que encontrou foi na acupuntura e ingerindo medicamentos homeopáticos, os quais ajudam a diminuir a dor causada pela enxaqueca.[/dropshadowbox]

O livre acesso da população à compra de medicamentos é como o acesso à internet sobre os sintomas das doenças. Existe um avanço muito grande, mas, ao mesmo passo disseminou-se a cultura de que se serviu para uma pessoa, funciona para as demais.  Farmacêuticos relatam que na população idosa é comum ouvir “o meu vizinho, parente, conhecido tomou tal remédio e fez bem, quero comprar também”. Jéssica Brandão, farmacêutica, alerta que se automedicar “leva a combater um sintoma mesmo tendo mais problemas.” Os anti-inflamatórios, por exemplo, ingeridos constantemente causam danos renais, entre outros problemas graves de saúde.

H.F, trabalhador, de 59 anos, ainda não foi diagnosticado como hipocondríaco. Há mais de 2 anos ele sente constantes dores estomacais. Acreditava que poderia ser pedra nos rins ou pedra na vesícula. “Sentia fraqueza, indisposição e irritação causado pelas dores que não melhoraram, mesmo que tomasse diferentes remédios”, diz ela.

 O uso abusivo de anti-inflamatórios pode estar associado a problemas como gastrite, úlceras, insuficiência renal e hepatite medicamentosa. No caso dos analgésicos, o paracetamol, por exemplo, é seguro quando seu consumo não ultrapassa 3g por dia. Consumir uma dose um pouco acima, como HF fazia diariamente não é recomendado, pois por um longo período de tempo pode causar danos especificamente no fígado.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 50% de todas as drogas receitadas no planeta são dispensáveis ou vendidas de forma inadequada. Além disso, aproximadamente 1/3 da população não tem o necessário acesso aos medicamentos essenciais e metade dos pacientes de todo o mundo tomam os medicamentos de forma incorreta. 

Para Ana Carolina Bragança, psicóloga, há excesso de medicalização. Foto: arquivo pessoal

Qualquer informação pode ser obtida instantaneamente e de qualquer parte do mundo, a visibilidade dos fatos se tornou maior e mais rápida, na qual os dados são atualizados a todo segundo. Porém por outro lado, se torna um problema quando a facilidade de acesso às informações médicas possibilitou o surgimento dos chamados “pacientes especialistas”, ou “pacientes do Dr. Google’’. Para a Biomédica Larissa, “sem acesso fácil à informação tecnológica não há como desenvolver o conhecimento científico.” Sendo assim, qualquer diagnóstico é uma questão que engloba muitos aspectos.

Para a psicóloga Ana Carolina Bragança, “alguns sintomas da hipocondria são conhecidos, como o excesso de medicalização pela crença de que está sempre doente. Mas, com certeza, há mais coisas no sujeito que apresente indícios deste caso que ele está manifestando e tendo estes sintomas.” O melhor caminho, segundo a psicóloga é realizar a escuta e o processo psicoterapêutico para saber de que forma a este paciente relata suas queixas, ou, então, apresenta indícios de hipocondria.

As causas podem ser de vários fatores, incluindo genéticos e ambientais. As hipóteses do porquê alguém desenvolve hipocondria são:

– ALTERAÇÕES PERCEPTIVAS – pessoas que sentem sintomas “normais” de forma intensa do que realmente são. Um leve enjôo é interpretado como uma náusea extremamente grave.

– FALTA DE INFORMAÇÃO – pessoas com pouco acesso à informação podem não entender direito o que um sintoma significa e, por isso, acreditam estar doentes quando têm um simples sintoma de indigestão (dispepsia), por exemplo.

– CRENÇAS  quem acredita que merece uma doença como um castigo por conta de alguma coisa que fez no passado. Nesses casos, a pessoa fica à espera da doença, prestando atenção a cada sinal diferente que o corpo dá.

– BENEFÍCIOS parece um paradoxo, mas ficar doente traz benefícios, como: atenção, afeto, possibilidade de faltar na escola ou no trabalho. Por isso, os médicos estimam que pode ser uma das causas da hipocondria, uma espécie de condicionamento, especialmente se ela começa durante a infância. Uma criança com os pais muito ausentes, por exemplo, pode começar a se sentir mal mais frequentemente para chamar atenção. Nesse estado, a criança recebe mais afeto e cresce com essa ideia gravada em seu inconsciente.

– OUTROS TRANSTORNOS MENTAIS a hipocondria está associada a outros transtornos mentais, como a ansiedade e a depressão. Estima-se que de 75 a 85% dos hipocondríacos sofre de outro transtorno. Pode ser um sinal de alguma dessas condições, ou pode se desenvolver a partir delas. Já alguns depressivos costumam conviver com sintomas físicos decorrentes de seu transtorno, como fadiga e dores sem explicação, como o caso de Lucas que teve diagnóstico de depressão e síndrome do pânico, segundo neurologista. Lucas, assim como muitas pessoas, trata ansiedade, depressão e síndrome do pânico ao mesmo tempo. A depressão, conforme a OMS, afeta 322 milhões de pessoas no mundo e menos da metade recebe tratamento adequado. Entre as barreiras enfrentadas, estão a falta de recursos e o estigma social que ainda cerca o quadro.

Os especialistas que podem diagnosticar um caso de hipocondria são: Clínicos Gerais, Psiquiatras e Psicólogos. Os critérios de diagnóstico da hipocondria, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), são: dificuldades na vida social, trabalho e na rotina diária, por conta dessa preocupação ou sintomas; preocupação por cerca de seis meses ou mais em ter uma doença série, baseada em sintomas corporais; além da ansiedade com essa preocupação.

 As complicações possíveis da hipocondria são, principalmente os riscos à saúde, decorrentes de procedimentos médicos desnecessárias, depressão, transtornos de ansiedade, raiva e frustração excessivas, o abuso de substâncias, problemas em relacionamentos, no trabalho ou escola e até mesmo altos gastos com procedimentos e consultas médicas.

Reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Científico

 

Reitora Irmã Iraní Rupolo. Foto: Lucas Linck/ LABFEM

Na crença popular, a chuva traz bons frutos. E foi justamente ela que marcou presença neste Vestibular de Inverno2018. A primeira edição da prova como Universidade representa um momento importante para Santa Maria e região. Em entrevista coletiva,  concedida nesta sexta-feira, 29, a reitora Ir. Iraní Rupolo afirma que “vários aspectos da organização e do pensamento institucional mudaram”.

A transformação da instituição modificou a organização da grade curricular dos cursos de graduação e pós-graduação. A reitora destaca  “que a reorganização dos currículos iniciou ano passado, mas, principalmente, neste semestre decidimos que todos os nossos cursos  precisam atender melhor o momento do conhecimento da ciência, do ensino, da metodologia e dos conteúdos abordados”. Os professores, que compõe o colegiado, realizaram o estudo curricular, segundo Ir. Iraní “trabalharam unicamente e produziram a reforma de currículo que sera implementada ao longo 2019”.

Para o segundo semestre há previsão que os estudos e a organização da reforma curricular sejam aprofundados. A reitora afirma que esta reforma já faz parte da cultura na academia, uma vez que “estamos mudando uma instituição em funcionamento, então,  a novidade já está acontecendo”, salienta a Irmã.

Outro ponto de destaque durante a coletiva foi a abrangência do concurso. A edição de inverno conta com estudantes de 24 estados do país, com a região Sul apresentando o maior número de candidatos/vaga. O grande alcance é atrelado, conforme Ir. Iraní, pelo estabelecimento de relações com diferentes regiões por meio do diálogo. “Temos fortalecido pela comunicação com as Prefeituras, secretarias de saúde, educação, desenvolvimento, os próprios gabinetes dos prefeitos, relação com os hospitais da região e policlínicas. Esta interação é da graduação, mas também dos mestrados”, afirma.

O Vestibular de Inverno da UFN marca o encerramento do primeiro semestre avaliado positivamente por Ir. Iraní. “Durante a reunião do Conselho Universitário verificamos que o final do semestre letivo foi fechado com louvor, tanto pelo engajamento dos estudantes, quanto pelo comprometido e integrado”, destaca. A reitora  acredita que dentre as demais edições do vestibular ” a chuva de hoje, como diz biblicamente, é uma benção”.

Texto: Julia Trombine e Paola Saldanha

Lauro Lima, professor de português e redação. Fotos: Thaís Trindade/LABFEM

A presença dos cursos pré-vestibulares já é uma tradição nos vestibulares franciscanos. A Universidade tem uma prova identificada como conteudista, pela maioria dos professores que acreditam na marca da identidade da UFN. É um vestibular de 50 questões de múltipla escolha e uma redação, no modelo argumentativo-dissertativo. A Universidade oferece 40 vagas para graduação neste segundo semestre de 2018. Mesmo com a chuva, os diversos cursinhos da cidade estão presentes no vestibular para apoiarem seus alunos na realização da prova.

O professor de Português e Redação, Lauro Rafael Lima, coordenador do Challenger Desafia, salienta as características linguísticas da prova que já é uma característica desse vestibular. Já sobre a temática da redação, como nas últimas três provas, pode “pedir para os alunos uma intervenção social, semelhante ao Enem”, aponta o professor. A também professora de redação, Vanessa Paznussat, do cursinho Riachuelo, conta que “é difícil enquanto texto e temas pensar nas possibilidades que podem ser tratadas.” O tema depende do tema integrador, “geralmente a banca é atual, comprometida e traz um eixo temático”, afirma Vanessa.

Cleber Tramasoli, também professor de Português.

Para o professor de língua portuguesa, Cleber Tramasoli, do Fleming Medicina, “a questão do tempo pode ser uma dificuldade para os alunos. “Já que são 4h pra realizar toda a prova, e às vezes não é suficiente, porque o aluno em média leva 1h pra fazer a redação”, destaca o professor. Ele ainda revela que “a UFN utiliza as temáticas contemporâneas, é uma prova tranquila e o os jovens não tem dificuldades nas temáticas”, aponta o professor.

Há uma aposta sobre “a estrutura da prova que será tradicional, mantendo a identidade da UFN”, destaca o professor de física, Fernando Friedrich, do Totem Vestibulares. Para Aline Machado, professora de Língua Estrangeira, do Doctor pré-vestibulares, “é uma prova difícil, a formatação da prova mudou bastante, tem textos extensos, então é uma incógnita, porque não se sabe o que vem nessa prova de Espanhol”.  A professora destaca que as disciplinas estrangeiras ajudam muito no desempenho tanto quanto as demais e “não é uma prova fácil, mas acredito que os alunos possam resolver porque estão a par do conteúdo”.