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Tiago Teixeira Ferreira

Tiago Teixeira Ferreira

Desde a invenção do fonógrafo, criado em 1877 por Thomas Edison, até a simplicidade que um aparelho reprodutor de áudio possui atualmente, a música passou por diversos processos evolutivos em sua distribuição e execução. Mesmo assim, um componente sempre apareceu na emissão das obras musicais: o selo fonográfico. Selos fonográficos são marcas usadas no lançamento de músicas gravadas em fonogramas, que podem ser discos de vinil, fitas cassete, cd’s ou videoclipes e mp3. Esses selos representam organizações como editoras, gravadoras ou produtoras, que são empresas dedicadas a trabalhar em conjunto com artistas na construção de suas carreiras.

Com dez anos de caminhada na produção cultural, Gadea Produções é a empresa que reúne o portfólio das produções realizadas pelo produtor cultural Leonardo Gadea. Recentemente, ele lançou o Selo Gadea, que oferece curadoria para distribuição digital a artistas independentes e bandas do Rio Grande do Sul e arredores. Hoje, Gadea se reconhece como um ativista na cultura, atuando no cenário da música produzida no Sul do Brasil, em atividades como direção de produção para gravações até espetáculos, webséries, documentários e videoclipes.

O produtor Leonardo Gadea entra em detalhes sobre a produção cultural:

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Editoras, gravadoras e produtoras

A editora é a empresa responsável por registrar e administrar obras musicais. Assim, sua obrigação é garantir a geração de receita pela divulgação e promoção das músicas, assim como realizar a distribuição da receita dos valores recebidos pelo ECAD, devido aos direitos autorais das pessoas envolvidas nas composições lançadas pela firma. Enquanto esse trabalho é feito pela editora, a gravadora é a empresa que transforma a obra musical em um fonograma para a publicação posterior. Uma gravadora pode ter seu próprio estúdio ou contratar uma produtora de áudio para realizar a produção.

Ao envolver profissionais como artistas, produtores musicais, compositores e instrumentistas, gravadoras são empresas que produzem e lançam músicas e/ou videoclipes com atenção voltada aos processos de captação, mixagem e masterização. Além desses serviços, as gravadoras também podem ser responsáveis pela promoção dos lançamentos, pelos serviços de publicidade e da efetuação de vendas dos fonogramas, assim como a resolução de questões jurídicas.

A produtora de áudio é a empresa que realiza serviços como jingles e trilhas sonoras para filmes, jogos ou séries. Tanto em uma gravadora como em uma produtora de áudio, quem arca com os custos para a fixação da obra musical em um fonograma, além do trabalho de gravar a obra musical em um fonograma e/ou audiovisual, é o produtor.

Nas grandes gravadoras –  protagonistas no cenário mainstream – os selos são subdivisões de uma matriz, com foco em nichos musicais específicos para  facilitar o desenvolvimento dos trabalhos. Enquanto isso, selos independentes transformam editoras, gravadoras e produtoras em uma mesma empresa, que se torna responsável pela captação, produção, mixagem e masterização das músicas, com o mesmo nome para o selo, a editora, a gravadora e a produtora.

Selos independentes no Brasil.

Selos independentes

Como empresas autônomas, todo ou maior parte do capital está nas mãos da pessoa dona do selo. No caso de artistas autônomos, há maior liberdade para a criação das composições, além da possibilidade de escolha de em quais gêneros e estilos se aventurar, assim como produzir e gravar suas músicas com o exercício da licença poética.

Com a redução dos custos dos materiais necessários para se criar um estúdio, muitos artistas se tornam produtores musicais, assim como produtores musicais se tornam artistas. Esse é o caso do Marcus Manzoni, que já lançou quatro álbuns e dois singles como cantor e compositor, e participou de uma coletânea internacional de um selo da Itália.

Em conversas no estúdio com os integrantes da banda Aerogramas chegou-se ao consenso de que faltava um meio de divulgação das bandas que eram produzidas na cidade e na região. “Faltava algo que levasse essas bandas adiante, e que as gravações daquele estúdio ou gravações em geral do meio independente da região, fossem levadas adiante, não parassem após a banda gravar e publicar para as pessoas. Naquele momento a gente se deu conta de que faltava um espaço a mais, que tivesse uma assessoria de imprensa, que levasse as músicas para as rádios e meios de comunicação, que fizesse a mídia social, etc. Foi a partir daquele momento que a gente viu que devia ser criado um selo fonográfico”, explica.

Manzoni fundou o selo independente Ué Discos em 7 de julho de 2014, reunindo os serviços oferecidos por editoras e gravadoras na mesma empresa. O selo musical Ué Discos hoje já conta com mais de cinquenta lançamentos e mais de vinte artistas lançados do Brasil e de alguns países do exterior também, como da Argentina, Itália, Portugal e Uruguai. Entre artistas e bandas autorais, estão Aerogramas, Bombo Larai, Matungo, San Diego e Vespertinos.

Marcus desenvolve uma história dos lançamentos da Ué, mencionando que em 2015, a gravadora lançou uma banda chamada Weird, da Itália, e  uma artista mulher , Armaud, que canta e também é da Itália; em 2016, o selo lançou o disco Vamo Matungá!, de Vandré La Cruz  de Porto Alegre, mas atualmente mora em Montevidéo, no Uruguai. A banda El Sonidero & Fanfarria Insurgente, uma banda da Argentina, localizada em Buenos Aires, entrou na equipe da gravadora em 2017.

Marcus divulga mais um artista lançado pela Ué Discos, o cantor e compositor de Portugal chamado Jass Carnival. “Hoje ele reside em Porto Alegre, está fazendo um doutorado na capital”, Manzoni menciona. Ele continua dizendo que foi através dessa estadia dele aqui no Rio Grande do Sul que ele conheceu a música dele, conversou com ele e lançou as suas músicas pela Ué Discos.

A Ué Discos possui com a parceria do Zás Estúdio Criativo, produtora de áudio de Marcus em que são realizadas as produções de artistas de Santiago e região. Como produtor musical, Manzoni é responsável por realizar as gravações, coordenar os músicos e cantores no processo criativo, fazer a supervisão da mixagem e também da masterização.

Segundo Manzoni, que trabalha há quinze anos com áudio em Santiago, o papel do produtor musical é guiar o artista para onde ele deseja ir com suas músicas. “O artista tem a ideia e o produtor musical faz a ideia acontecer, da forma que o artista imagina. Eu sempre peço um briefing antes do trabalho, para que eu possa saber o que ele está pensando e onde ele quer chegar no resultado final”, declara.

Ricardo Pereira é um dos membros do coletivo e selo musical independente 907Corp, onde atua como mestre de cerimônia, beatmaker e produtor musical. Assim como Manzoni, Pereira acredita que o papel do produtor seja induzir o que vai ser da música, desde o início no processo da criação do som até os processos finais, de edição, mixagem e masterização. “No cenário do RAP, o produtor é quem cria a história para o MC escutar o instrumental e escrever a letra. Ele vai escutando a música e o que está sendo cantado para ter uma ideia do que pode ser feito no processo de finalização da obra”, declara.

Um dos membros do coletivo é Eduardo Rodrigues, MC conhecido como VDNV ou VIDANOVA. Questionado sobre o início de sua trajetória no rap, declara que começou através da poesia, a parte que mais o interessou até que encontrar o ritmo. “Depois se formou o ritmo e a poesia foi quando deu aquele baque, sabe? Quando tu sente a emoção, a energia daquilo que tu tá fazendo, que tu sente que tu ama. E aí consegui ver que era isso que eu tava almejando”, relata Rodrigues.

Em referência a quais os motivos para trabalhar com música, afirma que vai mais pela questão do amor. “Acaba sendo como uma forma de trabalho porque a gente tem que sobreviver no mundo, mas é mais pelo amor”, esclarece. Segue o depoimento dizendo que prefere buscar sua forma de sobrevivência fazendo o que ama do que fazendo algo que não sinta prazer, que não sinta tesão. É a gente tentar correr atrás do nosso sonho, seja ele qual for.

Outro MC da 907Corp, Lucas Martins, conhecido pelo nome artístico Lilhouse, declara que escreve com o livre arbítrio, de compor, de que as suas letras sempre vão mudar alguém. Ele relata que a música salvou sua vida, e acredita que pode salvar a vida de outras pessoas também. Lucas diz ter sido muito depressivo e viu que poderia sair dessa escrevendo, compondo. Viu também que não era o único a passar pela depressão, e que a música pode mudar muita vida, então se jogou nisso. “Comecei a rimar pros outros, comecei a mostrar para os outros e sempre me apoiaram, diziam que era massa, que gostavam de ouvir aquele tipo de rima, aquele tipo de mensagem”, afirma.

Questionado sobre o trabalho de um MC, garante: “É sempre tá junto com a música, sempre tá presente com aquilo… Tu tá jogando tua vida naquilo, não é um trabalho muito fácil mas é um trabalho que leva tempo, e sempre tem alguém que vai tá ali contigo, vai tá te ouvindo, vai curtir o teu trabalho, então acho válido isso”.

Dentro do coletivo, a estudante de publicidade Camilla Xavier é responsável pela cobertura fotográfica e audiovisual, além de fazer a assessoria de comunicação da equipe. Além da Camilla, há o Yuri Marques que auxilia no marketing, através da fabricação de ilustrações para a equipe, de cuidar das edições e da distribuição digital.

Segundo Camilla, o trabalho de assessoria requer referências para a execução do trabalho. “Quando fui começar a fazer a assessoria do selo, procurei bastante referência musical no cenário do rap nacional, que eu achei que se encaixava no estilo dos guris. A partir daí, pensei em uma estratégia e montei o cronograma, organizando a agenda com shows, lançamentos de clipes e de músicas”. Além disso, a estudante também organiza a programação para fazer posts nas redes sociais, como Facebook, Instagram e Twitter, e pensa em uma estratégia para fazer os patrocínios, que tipo de patrocínio fazer e qual valor investir, assim como pensar em que público atingir”.

Os mestres de cerimônia (MC’s) e beatmakers da 907Corp falam sobre suas trajetórias, vivências e os motivos para fazer música no vídeo a seguir:

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Tratando da distribuição dos lançamentos da Ué Discos, Manzoni explica: “A distribuição é feita através da nossa parceira com a Tratore, uma empresa de São Paulo que é especializada em distribuição digital”. Segundo ele, depois que o artista gravou o álbum, é realizada a masterização e são enviados os arquivos com a melhor qualidade para a Tratore, empresa responsável pela distribuição em mais de 150 plataformas.

Em relação à divulgação e promoção dos lançamentos, Marcus afirma que a distribuição dos discos se desenvolve com o envio do press release para uma lista de contatos da comunicação da empresa, que contém blogs, influencers, sites, jornais, zines, etc.

Um cantautor

Vandré La Cruz. Foto: arquivo pessoal

Vandré La Cruz, o cantautor conhecido Matungo, descreve que faz música mestiça –  uma mistura de ritmos da região com ritmos populares. “O mágico da mestiçagem musical, desse rótulo, é que um boliviano e uma italiana podem estarem fazendo música mestiça, mesmo apresentando coisas completamente diferentes, desde que estejam ali coisas do seu chão misturado a outras”, assegura.

Questionado sobre porque decidiu trabalhar com música, contesta que nunca decidiu atuar na área. O cantautor afirma que trabalhar com música dá muito trabalho, girar por aí dá muito trabalho, assim como convencer as pessoas a te escutar dá muito trabalho.

Ele esclarece que, há muitos anos, decidiu que a música não lhe daria gastos. Sua vivência na música banca a si mesma, possibilita viagens, possibilita conhecer pessoas e lugares. “Gosto muito de fazer música. É uma necessidade física, mental e sentimental minha seguir fazendo música. Então sigo fazendo, do meu jeito, no meu tempo”, conta.

Respondendo sobre a ligação com a Ué Discos, Vandré relata: “Alguém me mostrou o disco do Marcus Manzoni. Ouvi, gostei e escrevi. Ele tinha um selo, conhecia a Bombo Larai, eu estava por gravar meu disco, conversamos e a coisa foi”. Afirma que recomendaria a qualquer artista independente uma parceria com um selo. Conclui que a Ué Discos foi importante em seu caso, pois colocaram as músicas nas plataformas de um jeito bonito e profissional.

Em relação ao seu projeto Matungo, Vandré afirma que começou com a necessidade de dizer coisas que não havia espaço na Bombo Larai, seu projeto anterior. “Na Bombo eu compunha para um grupo. A música tinha que falar por todos. E tinham coisas que eu queria falar. Então num primeiro momento foi isso. Depois somou-se a oportunidade e a vontade de morar no Uruguai. Então botei o Matungo na mochila e me fui. De lá pra cá tem o disco, uma ida até a Bolívia para receber um prêmio e muitas outras coisas. Atualmente estou com um segundo disco para ser gravado, e estamos estudando com algumas parcerias a melhor forma de fazer acontecer”, relata.

João Antônio Feijó é um músico integrante da banda San Diego. Descreve que é vocalista e compositor, e encontrou na música uma forma de expor as suas vivências e suas angústias, dentro da banda San Diego. Indagado sobre o que o levou a trabalhar com música, diz que não foi uma escolha, mas sim algo que o acompanhou durante toda a vida. “A partir do final da adolescência, tive vontade de externar isso por meio de uma banda autoral, que eu sempre pensei que fosse a melhor maneira ou a forma mais legítima de se fazer música”, conta. Sobre a banda, Feijó elucida que a San Diego começou sem a intenção de tocar as músicas compostas posteriormente.

Feijó declara que a composição dos sons começou de maneira despretensiosa, com as gravações das músicas ocorrendo em um quarto. O apanhado de músicas compostas se tornou o ep Full Storage, lançado pela Ué Discos em 24 de agosto de 2016. Conforme Feijó, a banda começou como uma expressão artística ao vivo em 2017. A partir daí a banda amadureceu, músicas de bandas anteriores dos integrantes que não tinham destino foram reutilizadas pela banda. Essas músicas foram aproveitadas na composição do segundo EP do conjunto, “Oito Anos”, lançado em 22 de agosto de 2018.

Em relação a produção das músicas da San Diego, Feijó afirma que quem tem mais visão de produção é o Guilherme, é a pessoa que lidera. “Nos dois discos, foi ele que puxou o carro da produção e que sabia o que a gente tinha que fazer. Claro que haviam discussões, mas ele mostrou um caminho bem certo do que a gente deveria seguir nas gravações”, expressa.

O músico afirma que a banda é bem calma, sem pressa e sem ambição, são trabalhos introspectivos e calmos, feitos emseu próprio tempo, mas que os membros da San Diego gostam muito e as pessoas que ouvem também se identificam. “Como todo mundo é cheio dos afazeres, é bem difícil tu se dedicar exclusivamente para a música, assim como é difícil arranjar um tempo para se dedicar ao processo criativo da música”, explica.

João afirma que a conexão com a Ué Discos é uma relação bem familiar, uma amizade que resultou no lançamento dos dois discos da banda pelo selo. Desde antes do surgimento da San Diego, a ligação com a gravadora já estava desenvolvida. “A Ué Discos se tornou um caminho muito apropriado pelo fato de que o Manzoni é amigo de longa data do Guilherme Brum, e a Aerogramas, banda do Rodrigo Nenê, também trabalha com o selo”, acrescenta.

Sobre o trabalho de um cantor, Feijó relata que seria tentar ser o mais verdadeiro possível no que se canta. Na opinião do vocalista, é o trabalho mais fácil. Mesmo com a questão de ter que se aproximar do público para fazer a frente, ele acredita que o trabalho do compositor é muito mais difícil, por depender de um estado mental de criatividade. Isso é a parte mais difícil de qualquer banda que dependa de composições, segundo Feijó. Sobre o processo de composição, ele afirma que só consegue criar em um estado de ócio, em um momento que não tenha que se preocupar com trabalho ou com a universidade. “A criação tem que ser uma coisa totalmente espontânea”, afirma.

Quanto ao trabalho de um cantor e compositor, ou cantautor, Vandré acredita que assim como todo e qualquer artista, é uma pessoa com a sensibilidade para absorver os sentimentos e angústias do seu tempo e transformá-las em arte, para devolver para a sociedade uma ferramenta para ajudar na compreensão do que somos e para que servimos como ser humano e como sociedade.

Dados sobre a distribuição digital via streaming

Pete Linforth por Pixabay

De acordo com o relatório da International Federation of the Phonografic Industry (IFPI), a média mundial de crescimento de vendas em 2018 em comparação com 2017 foi de 9,7%, enquanto a média brasileira chegou aos 15,4%, superando o crescimento mundial. Segundo a pesquisa, o Brasil está na décima posição em comparação com o mercado mundial, alcançando um montante de vendas de US$298,8 milhões.

O relatório feito pela organização engloba vendas físicas, qualquer faturamento gerado por meio da distribuição dos fonogramas em meios digitais, os direitos de execução pública para os produtores fonográficos e intérpretes, além dos valores gerados pela sincronização das músicas gravadas em obras audiovisuais ou publicitárias.

No Brasil, o relatório da federação é divulgado pela Pro-Música Brasil Produtores Fonográficos Associados, uma associação que reúne as gravadoras em atividade no Brasil. Conforme o presidente da associação Pro-Música, Paulo Rosa, o mercado brasileiro de músicas gravadas segue a tendência que iniciou em 2015 no mundo, do crescimento e recuperação das receitas fonográficas pelo streaming digital de áudio e vídeos musicais.

Em relação a 2017, o ano de 2018 teve um aumento de 46%, enquanto o crescimento mundial foi registrado em 34%. O número de assinantes de streaming de música subiu 45%, e alcançou 255 milhões de usuários. No Brasil, em relação com o ano de 2017, esse mesmo número era de 176 milhões de usuários. No ano de 2018, foram gerados US$ 207,8 milhões no setor de streaming. Enquanto US$ 151,6 milhões são originários das assinaturas mensais, US$ 18,8 milhões são da publicidade nas plataformas de streaming de áudio operantes no país.

Com planos em conjunto como, por exemplo, um para várias pessoas de uma mesma família e um para universitários, o Spotify oferece serviços com redução de custo para pessoas que queiram assinar o serviço. Além dessa possibilidade no Spotify, também temos a mesma opção no Deezer, enquanto o TIDAL não oferece esse serviço.

As assinaturas estão com crescimento de 53% enquanto a publicidade nas plataformas está com crescimento de 25%. Em contrapartida, as vendas físicas caíram -69% e os downloads pagos -39%. Esse crescimento das assinaturas mensais dos serviços de streaming demonstra o aumento do interesse do consumo musical via meios digitais, que pode ser explicado devido a facilidade de consumir música sem ocupar espaço nos aparelhos utilizados – o caso de quando são realizados downloads pagos.

 

Um assunto recorrente no atual contexto político do Brasil é, sem dúvida, a problemática ambiental. Desde o final das eleições, as redes sociais e outros meios de divulgação de notícias foram bombardeados por declarações polêmicas de alguns assessores e ministros do presidente eleito Jair Bolsonaro, que assumirá o executivo no início de 2019, sobre o futuro das discussões ambientais. Em um dos seus depoimentos ao jornalista José Luiz Datena, por exemplo, Bolsonaro já havia avisado que, no que dependesse dele, não existiriam mais demarcações para terras indígenas no Brasil.  Essas discussões levantaram alguns assuntos específicos sobre a agricultura, como os malefícios de se utilizar a monocultura como meio principal de cultivo.

As monoculturas são sistemas em que apenas uma espécie é produzida em uma área de campo e, assim, a biodiversidade animal e o solo são prejudicados, pois falta renovação. Há uma escassez de nutrientes na região onde ela é utilizada, gerando maior contaminação pelo acúmulo de inseticidas, o que torna o terreno acessível a pragas que se tornam mais resistentes, devido a ausência de biodiversidade no ecossistema. Conforme relata Matheus Gazzola, 21 anos, estudante de Engenharia Florestal na Universidade Federal de Santa Maria, “Por que a agricultura convencional é fácil? Porque é um pacote tecnológico, é uma receita de bolo”, afirma Matheus. Ele continua: “Tu faz uma análise do teu solo, recomenda adubação, pega o pacote de semente na agropecuária, consegue a máquina e o combustível, vai lá e vira aquele solo, pulveriza tudo, destrói tudo… É mais fácil ser destrutivo”.

Em contrapartida, apresentando outros modelos mais sustentáveis de cultivo, como os da agrofloresta, que seria uma prática da agroecologia, Gazzola explica que “a agrofloresta seria basicamente uma espécie de consórcio, onde você coloca componentes agrícolas junto com alguns componentes florestais, tendo como objetivo o nascimento de árvores frutíferas, sejam elas nativas ou exóticas, associando espécies anuais com espécies bianuais e também espécies perenes que se mantém de cinco a dez anos em um ciclo.” Para Matheus, é importante ressaltar que a construção da agrofloresta não é moda ou inovação, ela demora anos para ser cultivada e vem sendo feita pelos povos das florestas há séculos.

Mais do que pesquisas e experimentos, a agroecologia tem sido adotada como filosofia de vida. Foto: Matheus Gazzola.

 

A importância da agroecologia como uma opção sustentável

A agroecologia é um conceito desenvolvido pelo pesquisador Sir Albert Howard, em 1934. No período entre as décadas de 1960 e 1980, com as reivindicações por práticas de agricultura sustentável, o termo “agroecologia” passou a ser utilizado para representar a agricultura que incorpora as dimensões sociais, culturais, éticas e ambientais. Ela é uma ciência que pretende superar os danos causados à biodiversidade e à sociedade como um todo devido a prática da monocultura, do emprego dos transgênicos, dos fertilizantes industriais e dos agrotóxicos.

Conforme declara Camila Andrzejewski, estudante de Pós graduação em Engenharia Florestal na UFSM, “o que a gente vê durante o curso sobre agrofloresta é que acontece uma tentativa de reprodução dos processos da natureza, como se fosse uma imitação da floresta, ou seja, uma quantia múltipla de diferentes culturas, com biodiversidade presente”.

Ela continua o relato dizendo que onde se tem interação entre plantas, entre diferentes culturas em uma área de vegetação, também há uma relação de interação com a fauna, o que gera uma melhor qualidade no solo, por meio da adubação natural – sem agrotóxicos e insumos industrializados. Após a plantação das árvores, a poda é realizada e o material verde vindo da poda aduba as próximas culturas que serão plantadas na área do sistema agroflorestal.

A opção sustentável da agrofloresta se faz importantíssima para a reparação do ambiente e também para o resgate de algumas espécies que, com a monocultura, acabam correndo um maior risco de extinção pela perda de habitat, Gazzola assegura que “é sempre bom manter a biodiversidade, o solo coberto e também manter sempre uma diversificação de espécies, entendendo o papel que cada uma apresenta no ecossistema.” Em suas pesquisas sobre a agroecologia, o suíço Ernst Göstch já alertava que o consórcio de espécies pode fornecer diversos alimentos para o solo, confirmando o que foi explicado por Matheus.

Conforme nos contou a estudante de engenharia florestal, Bruna Mazzaro, alguns estudiosos da agroecologia tem uma consideração um pouco mais profunda sobre a Agroecologia, “muitas pessoas veem a Agroecologia como uma “filosofia de vida”, e não como ciência e campo tecnológico. Os princípios básicos da ciência agroecológica são baseados no respeito.”

A estudante ainda complementa que, “levando em conta o respeito e outros princípios das Agroflorestas, elas também favorecem a autogestão na comunidade e na unidade produtiva, de forma que as práticas utilizadas e as técnicas empregadas sejam culturalmente sensíveis, socialmente justas, ambientalmente corretas e economicamente viáveis, de maneira que a comunidade produtora tenha sua cultura e dinâmica social respeitada, assim como seus direitos assegurados”.

Texto de Tiago Ferreira, para a disciplina de Jornalismo Especializado do Curso de Jornalismo da UFN, ministrada pela professora Carla Torres, durante o 2º semestre de 2018.

Menos é mais! Foto: Pixabay

O movimento minimalista é um estilo encontrado no design, com a ideia de que “menos é mais”. Com origem em um conjunto de movimentos do século XX, o minimalismo tem como lema fazer coisas simples – mas não simplórias. Entre essas características, está o uso de menos elementos nas peças, para evitar poluição visual pelos excessos, como em ilustrações, por exemplo.

Aplicado tanto na arte como no design para a resolução de problemas, o movimento busca a essência no encontro com a simplicidade, para chegar na completude da vida. “O minimalismo é uma filosofia para que se mantenha consigo o que é mais importante”, descreve José Façanha. Designer gráfico há dois anos e seguidor do movimento, ele conheceu o estilo no design há um ano. Posteriormente, por meio do site The Minimalists, descobriu a vertente como uma filosofia de vida.

O designer José Façanha. Foto: arquivo pessoal

O desenvolvimento da filosofia do minimalismo é subjetivo, sendo pessoal a interpretação de quem for seguir os princípios. Sem regras para obedecer, a ideia é de que a pessoa mantenha consigo o que realmente faz sentido para sua vida, tanto objetos quanto hábitos e associações interpessoais, procurando mais relações com profundidade do que em grande número.

“O intuito simplesmente é manter aquilo que faz sentido e que agrega valor para tua vida”, elucida Façanha. Ele conclui que as práticas “menos é mais” ajudam muito em todas as áreas de seu trabalho, tanto na organização quanto na execução dos processos, no passo a passo da maneira como organiza seu dia, e que é influenciado pelos princípios do minimalismo em todo seu cotidiano.

Na rotina do designer, o minimalismo se apresenta pelo consumo consciente, evitando comprar por impulso ou apenas porque algum pertence está na promoção, ao pensar no impacto que cada compra poderá ter não apenas na sua vida, mas também na sociedade.

Rafael Miranda, jornalista especialista em marketing e músico, também segue a filosofia do minimalismo. “Quando comecei a trabalhar com marketing digital, iniciei uma busca por ferramentas que trouxessem resultados. Então me deparei com um mar de informações que não conseguia classificar. Para definir uma estratégia a longo prazo, percebi que precisava encontrar soluções”, declara Rafael.

Rafael Miranda, músico e marketing digital. Foto: arquivo pessoal

O músico conheceu o minimalismo por acaso, em uma pesquisa por literatura sobre foco, organização e planejamento, quando encontrou o documentário ‘Minimalismo’, realizado pelos criadores do site The Minimalistsde Joshua Fields Millburn e  Ryan Nicodemus. Para Rafael, muitos conceitos podem ser abordados no minimalismo, mas o núcleo principal é viver com aquilo que é essencial, ao procurar significado com maior profundidade, deixando de lado o que é supérfluo.

Em contrapartida ao consumismo exagerado, o minimalismo prega o consumo consciente e sustentável, conforme relata Façanha: “Sempre fui contra o consumo descontrolado, e nunca vi isso como uma forma de atingir a felicidade”. Ele acrescenta: “Ao aprender sobre o minimalismo como uma forma de viver com menos, achei fantástico. Era a explicação elaborada da filosofia de vida que eu estava tentando desenvolver”.

Em conexão com a arte e o design, Façanha percebe a influência do minimalismo hoje na maneira como a tecnologia se apresenta para as pessoas. “A experiência de usuário tem forte influência do minimalismo na maneira como os aplicativos são desenvolvidos, como as interfaces são desenvolvidas para serem intuitivas, sem gerar atrito no uso”, analisa.

João Vitor Generali, acadêmico de Medicina, conheceu o minimalismo na internet e pelo convívio com amizades que seguem a vertente. Ele diz que se tornou um adepto do movimento devido ao viés de desapego relacionado tanto a bens materiais quanto em relação a hábitos comportamentais. Segundo Generali, as práticas do minimalismo se desenvolvem através de uma filosofia, que permeia tanto o comportamento como a arte. Ele conclui que “se trata do uso de menos elementos em peças artísticas para dar margem a maiores interpretações subjetivas, dando liberdade para a reflexão de cada pessoa”.

Arthur Vanz, artista e estudante de Publicidade, Foto: arquivo pessoal

Outra pessoa que segue os princípios do minimalismo é Arthur Dalmaso Vanz, um artista em ascensão e estudante de Publicidade e Propaganda. “Minhas artes têm como objetivo exercer um impacto pequeno, para que algo pequeno no mundo mude”, conta ele.

Além de focar em sua faculdade, ele dedica boa parte do tempo para o projeto a ilha, no qual produz desenhos para serem tatuados. Ele relata que, desde a infância, teve grande interesse em desenho, como uma expressão de seus sentimentos e para cativar outras pessoas. Sobre o minimalismo, ele acredita que a vertente sempre esteve ali, em algum lugar, mas ele não sabia que nome dar ao movimento. Arthur conta que conheceu o minimalismo e se aprofundou nos conceitos quando entrou na universidade, percebendo que o estilo é interessante para a criação de suas peças publicitárias.

“O minimalismo como uma filosofia de vida é algo bem interessante, que eu defendo sempre que posso. O movimento prega que, em tese, você deve usar o mínimo de recursos possíveis, então eu evito o desperdício e trato a vida de forma objetiva. As coisas devem ser funcionais, não há porque ter uma abundância quando eu consigo me virar com o mínimo”, comenta. O artista conclui que, com a realidade atual do consumismo, gera-se um impacto negativo para a sociedade, e o minimalismo seria uma forma de impactar positivamente.

Quanto ao impacto, Generali é mais modesto, pois para ele o minimalismo é um ponto de partida para uma filosofia, um estilo de vida que traz a ideia de dar prioridade para valores humanos, desapegando de valores materiais para valorizar o importante – a vida.

Confira o minidoc com os depoimentos de Arthur e Rafael sobre a influência do minimalismo na arte: [youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=eRJvTIc1qwc” title=”A%20influência%20do%20minimalismo%20na%20vida,%20em%20desenhos%20e%20na%20música” autohide=”1″ fs=”1″]