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Agência Central Sul

2020-2021

Que país é este?

“Nas favelas, no Senado. Sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a constituição. Mas todos acreditam no futuro da nação”. Os versos compostos por Renato Russo em 1987 continuam atuais quase 30 anos depois. Neste ano, em

O Vestibular de Inverno 2022 conta com a cobertura de professores, técnicos e acadêmicos do curso de Jornalismo da UFN através da Agência CentralSul, do Laboratório de Fotografia e Memória, LABFEM, da RádioWeb UFN e da UFN TV.

Equipe da RádioWeb UFN na cobertura do vestibular. Imagem: Caroline Freitas

Pablo Milani é âncora da RádioWeb UFN e está fazendo reportagens para a rádio. Ele conta que não é o primeiro vestibular em que participa, “desde que entrei no curso de Jornalismo tenho tentado participar o máximo possível dessas atividades. O vestibular é sempre um dia especial porque a gente vê algumas etapas que nós mesmos já passamos, fazendo a prova, encontramos professores, alunos, familiares, tem um misto de expectativas para o vestibular”. Para ele trabalhar neste dia na rádio é “levar a todos que nos acompanham de forma sonora as emoções e sensações de um dia tão único como esse”.

Os alunos do primeiro semestre de Jornalismo também se engajaram na participação da cobertura. Felipe Perosa é repórter da RádioWeb e tem como função entrevistar as pessoas. Não é a primeira vez dele cobrindo um evento, “já havia feito a cobertura da Feira do Livro, mas essa é uma experiência nova, cobrir um vestibular em que pessoas da minha idade, que eu conheço, participam, e é diferente poder entrevistar eles”. Miguel Cardoso também  é repórter da Rádio,  é a primeira vez que ele trabalha em algo que necessita de sua agilidade, ” é um trabalho que tem que ser bem feito, mas está sendo legal até agora. Estou conseguindo dar conta e os professores estão ajudando bastante”.

LABFEM trabalhando na edição de fotos. Imagem: Caroline Freitas

Caroline Freitas e Ian Lopes também estão participando pela primeira vez. Caroline é monitora do LABFEM e para ela “é legal trocar experiências com os professores, ganhamos um aprendizado nessa época de correria, ter que vir, tirar as fotos, baixar as fotos, ver o momento da entrada dos alunos. É uma experiência de como é a área de trabalho”. Ian Lopes é repórter da Agência CentralSul e conta que “é sempre um prazer participar das atividades, estar aqui é agradável”.

Repórteres e professores da Agência CentralSul. Imagem: Caroline Freitas

A estagiária da UFN TV Gabriela Flores está participando pela segunda vez, “fiz  parte da cobertura em 2019 no Vestibular de Inverno, porém, com a pandemia, não pude mais participar e agora está sendo muito diferente porque na primeira vez estava no primeiro semestre do curso de Jornalismo, e não conhecia muito o pessoal. Agora estou mais engajada e é totalmente diferente, tenho um olhar diferente para cobertura jornalística e estou mais madura”. Ela conta que agora está desenvolvendo muito mais a profissão, “fiz algumas entrevistas, gravei offs e uma passagem. Também vou aparecer no próximo Universo Acadêmico, contando o que o pessoal achou do vestibular e como está sendo para eles”.

Gabriela Flores faz estágio na UFN TV. Imagem: Caroline Freitas

Para a coordenadora do curso de Jornalismo, Sione Gomes, é muito importante participação dos acadêmicos na cobertura, “por ter a possibilidade de estar desenvolvendo o que é a natureza do nosso curso, entrevistando, observando, coletando informações do que está acontecendo. Durante esta tarde  temos uma oportunidade muito feliz  que é a realização de um evento do cotidiano da vida acadêmica da Instituição, onde podemos desenvolver nossas atividades que estão, ao mesmo tempo, contribuindo em um dia tão especial para a Instituição e a oportunidade  de fazer jornalismo, conversar com as pessoas,  construir as matérias. Então é um momento  de vivência muito especial para os alunos de jornalismo. Sempre aproveitamos esse momento para essa grande aula”.

 

Observatório da mídia CS-02

O papel do jornalista é buscar e tornar públicas informações que são de importância e de interesse para a sociedade. O jornalismo tem o compromisso com a verdade, e sabemos que a verdade é relativa, principalmente quando se trata de assuntos políticos. Segundo o Relatório da Violência Contra os Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil , só no ano de 2015, foram registrados 137 casos de violência. Em 2014 foram três assassinatos de jornalistas no Brasil. Já em 2015 houve duas mortes, sendo uma de jornalista estrangeiro. No mesmo ano, radialistas, comunicadores populares e blogueiros foram vítimas de nove casos de homicídio.

Ainda segundo o Relatório, na maioria dos casos, desde 2013, a violência partiu de policiais militares devido às manifestações de rua. Como foi possível acompanhar em 2013 e 2014, durante as principais manifestações políticas pelo país, tanto manifestantes quanto jornalistas foram agredidos pela PM. Por serem facilmente identificáveis, os repórteres cinematográficos e fotográficos são as maiores vítimas. E são justamente eles que tem o poder, tem as armas, capazes de identificar os responsáveis pelas injustiças do momento e divulgá-las.

Em 2013 o país estava em 10ª posição no ranking de países mais perigosos para o trabalho de jornalista segundo pesquisa do Committee to Protect Journalists (Comitê de Proteção aos Jornalistas). Nos dados de 2015 o país aparece empatado com o Iraque em terceiro lugar.

Não é fácil sentir-se seguro para trabalhar em um país tão corrupto como o Brasil, que quase todo dia é descoberto algum “podre” de políticos. O medo de ter uma morte encomendada também é real. Além de outras questões, a insegurança também prejudica a liberdade de imprensa. É uma questão óbvia, o jornalista sente medo, acredita que não vale a pena, então não vai atrás de apurar ou publicar uma matéria que possa causar algum perigo para ele ou sua família. Por ser a região que mais concentrou manifestações, o Sudeste também representa a região do país com maior registro de agressões, sendo 55,81% em 2014 e 41,6% em 2015.

É necessário tomar medidas que amparem o jornalista, para que ele possa realizar seu trabalho e desempenhar seu papel social com segurança, sem ser prejudicado e sem correr riscos. E para que a sociedade também não seja prejudicada, deixando de ser informada sobre a realidade do país, pois de prejudicial já basta a manipulação de informações.

arceli

Arcéli Ramos, acadêmica do quarto semestre de Jornalismo da Unifra, santa-mariense, apaixonada por Jornalismo Literário. Texto originalmente produzido para a cadeira de Legislação e Ética em Jornalismo

Observatório da mídia CS-02“Nas favelas, no Senado. Sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a constituição. Mas todos acreditam no futuro da nação”. Os versos compostos por Renato Russo em 1987 continuam atuais quase 30 anos depois. Neste ano, em especial, vivemos intensamente, no cenário político, cada trecho desta música do Legião Urbana.

Nem todas as favelas são as mesmas. Muitas foram ‘pacificadas’ e se tornaram atrativos turísticos no Rio de Janeiro. Mas nem tudo são flores. A criminalidade, antes coordenada por narcotraficantes, também pode ser praticada por quem deveria assegurar o bem-estar nas  Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Basta lembrar de Amarildo, que, só por ser negro e pobre, foi morto e ‘desovado’ por policiais. O caso ocorreu em 2013 e se tornou símbolo da violência policias nas UPPs.

O que falar do Senado? O ‘irmão mais velho’ da Câmara dos Deputados. Não basta ter o nome na Lava Jato ou no Panama Papers. É preciso ser hipócrita, negar os próprios atos, esconder a sujeira debaixo do tapete, para julgar e condenar os da presidente Dilma Rousseff. Ela foi a segunda a sofrer impeachment. Ao contrário de Collor, cujas evidências do esquema de corrupção eram nítidas, Dilma caiu por ter praticado ‘pedaladas fiscais’, que, aliás, foram autorizadas pelo próprio Senado.

Ninguém respeita a constituição, com ‘c’ minúsculo mesmo, pois como já satirizava a TV Pirata, em 1989, ela só serve pela sua forma – densa e pesada – não pelo seu conteúdo – as leis. E o que dizer do título de eleitor? Não houve respeito algum com os mais de 54 milhões de eleitores de Dilma desde o resultado das majoritárias em 2014. Como a vlogueira Gleice Duarte postou, a forma retangular do título de eleitor facilita a maquiagem. E o conteúdo, que deveria ser uma espécie de ‘passe da cidadania’, está longe de valer algo.

O Partido da Imprensa Golpista (PIG), como muito bem cunhou o jornalista Paulo Henrique Amorim, teve papel decisivo no agendamento da crise e do impeachment. Um exemplo bem simples: quando falamos em ‘pedalada fiscal’ quem não lembra da presidente andando de bicicleta sorridente? Repetida à exaustão, assim como a caminhada matinal de Collor no entorno da Casa da Dinda.

As diferenças entre 1991 e 2016 não são apenas dos denunciados e dos tipos de denúncias, mas também da credibilidade da imprensa e do ecossistema midiático. Hoje, felizmente, temos atores sociais com visibilidade suficiente para denunciar os equívocos da Veja, da Globo, da Folha, do Estadão, da Isto É, de Zero Hora e de tantos outros representantes dos PIGs. Apesar do desgaste da credibilidade – vide “o povo não é bobo, fora Rede Globo”, “Falha de S. Paulo” e “Veja e suas Vejices” -, a influência dos porta-vozes dos barões das mídias e de seus interesses continua existindo. Se não fosse essa influência, não teríamos tantos haters, alguns deles tão ou mais boçais que o Olavo de Carvalho ou o Reinaldo Azevedo. Nesta semana, por exemplo, foi lamentável presenciar a mobilização dos internautas a partir da provocação de Azevedo para o #boicoteaquarius – referência à equipe do filme brasileiro que protestou em Cannes contra o impeachment de Dilma. Na minha humilde opinião, o ponto mais nefasto desta mobilização foi ver gente apoiando o fim da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, da cultura como um todo e a vazão a preconceitos contra qualquer tipo de artista.

Esse é o ‘futuro’! Esse é o (des)governo Temer, que elimina a cultura, deixa as mulheres, os negros, os indígenas, os homossexuais e todos os demais de lado. Somente quem tem espaço é a velha oligarquia, envolvida, vejam só, na Lava Jato.

Falando em ‘futuro da nação’, para coroar este momento, o que vocês acharam da escolha da nova marca do Brasil feita pelo Michelzinho? É de um cuidado tão grande que tem apenas 22 estrelas, o mesmo desenho usado durante os anos de chumbo. Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantis não existem para Temer.

Que país é este? Que país é este? Desculpa, querido leitor, mas tive a vontade de escrever o mesmo que gritei durante o show do Legião Urbana, aqui em Santa Maria, em dezembro do ano passado.Mauricio

 

Maurício Dias é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria (2011). Atualmente é  professor assistente no Centro Universitário Franciscano e jornalista na UFSM.