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Que país é este?

Observatório da mídia CS-02“Nas favelas, no Senado. Sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a constituição. Mas todos acreditam no futuro da nação”. Os versos compostos por Renato Russo em 1987 continuam atuais quase 30 anos depois. Neste ano, em especial, vivemos intensamente, no cenário político, cada trecho desta música do Legião Urbana.

Nem todas as favelas são as mesmas. Muitas foram ‘pacificadas’ e se tornaram atrativos turísticos no Rio de Janeiro. Mas nem tudo são flores. A criminalidade, antes coordenada por narcotraficantes, também pode ser praticada por quem deveria assegurar o bem-estar nas  Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Basta lembrar de Amarildo, que, só por ser negro e pobre, foi morto e ‘desovado’ por policiais. O caso ocorreu em 2013 e se tornou símbolo da violência policias nas UPPs.

O que falar do Senado? O ‘irmão mais velho’ da Câmara dos Deputados. Não basta ter o nome na Lava Jato ou no Panama Papers. É preciso ser hipócrita, negar os próprios atos, esconder a sujeira debaixo do tapete, para julgar e condenar os da presidente Dilma Rousseff. Ela foi a segunda a sofrer impeachment. Ao contrário de Collor, cujas evidências do esquema de corrupção eram nítidas, Dilma caiu por ter praticado ‘pedaladas fiscais’, que, aliás, foram autorizadas pelo próprio Senado.

Ninguém respeita a constituição, com ‘c’ minúsculo mesmo, pois como já satirizava a TV Pirata, em 1989, ela só serve pela sua forma – densa e pesada – não pelo seu conteúdo – as leis. E o que dizer do título de eleitor? Não houve respeito algum com os mais de 54 milhões de eleitores de Dilma desde o resultado das majoritárias em 2014. Como a vlogueira Gleice Duarte postou, a forma retangular do título de eleitor facilita a maquiagem. E o conteúdo, que deveria ser uma espécie de ‘passe da cidadania’, está longe de valer algo.

O Partido da Imprensa Golpista (PIG), como muito bem cunhou o jornalista Paulo Henrique Amorim, teve papel decisivo no agendamento da crise e do impeachment. Um exemplo bem simples: quando falamos em ‘pedalada fiscal’ quem não lembra da presidente andando de bicicleta sorridente? Repetida à exaustão, assim como a caminhada matinal de Collor no entorno da Casa da Dinda.

As diferenças entre 1991 e 2016 não são apenas dos denunciados e dos tipos de denúncias, mas também da credibilidade da imprensa e do ecossistema midiático. Hoje, felizmente, temos atores sociais com visibilidade suficiente para denunciar os equívocos da Veja, da Globo, da Folha, do Estadão, da Isto É, de Zero Hora e de tantos outros representantes dos PIGs. Apesar do desgaste da credibilidade – vide “o povo não é bobo, fora Rede Globo”, “Falha de S. Paulo” e “Veja e suas Vejices” -, a influência dos porta-vozes dos barões das mídias e de seus interesses continua existindo. Se não fosse essa influência, não teríamos tantos haters, alguns deles tão ou mais boçais que o Olavo de Carvalho ou o Reinaldo Azevedo. Nesta semana, por exemplo, foi lamentável presenciar a mobilização dos internautas a partir da provocação de Azevedo para o #boicoteaquarius – referência à equipe do filme brasileiro que protestou em Cannes contra o impeachment de Dilma. Na minha humilde opinião, o ponto mais nefasto desta mobilização foi ver gente apoiando o fim da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, da cultura como um todo e a vazão a preconceitos contra qualquer tipo de artista.

Esse é o ‘futuro’! Esse é o (des)governo Temer, que elimina a cultura, deixa as mulheres, os negros, os indígenas, os homossexuais e todos os demais de lado. Somente quem tem espaço é a velha oligarquia, envolvida, vejam só, na Lava Jato.

Falando em ‘futuro da nação’, para coroar este momento, o que vocês acharam da escolha da nova marca do Brasil feita pelo Michelzinho? É de um cuidado tão grande que tem apenas 22 estrelas, o mesmo desenho usado durante os anos de chumbo. Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantis não existem para Temer.

Que país é este? Que país é este? Desculpa, querido leitor, mas tive a vontade de escrever o mesmo que gritei durante o show do Legião Urbana, aqui em Santa Maria, em dezembro do ano passado.Mauricio

 

Maurício Dias é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria (2011). Atualmente é  professor assistente no Centro Universitário Franciscano e jornalista na UFSM.

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Observatório da mídia CS-02“Nas favelas, no Senado. Sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a constituição. Mas todos acreditam no futuro da nação”. Os versos compostos por Renato Russo em 1987 continuam atuais quase 30 anos depois. Neste ano, em especial, vivemos intensamente, no cenário político, cada trecho desta música do Legião Urbana.

Nem todas as favelas são as mesmas. Muitas foram ‘pacificadas’ e se tornaram atrativos turísticos no Rio de Janeiro. Mas nem tudo são flores. A criminalidade, antes coordenada por narcotraficantes, também pode ser praticada por quem deveria assegurar o bem-estar nas  Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Basta lembrar de Amarildo, que, só por ser negro e pobre, foi morto e ‘desovado’ por policiais. O caso ocorreu em 2013 e se tornou símbolo da violência policias nas UPPs.

O que falar do Senado? O ‘irmão mais velho’ da Câmara dos Deputados. Não basta ter o nome na Lava Jato ou no Panama Papers. É preciso ser hipócrita, negar os próprios atos, esconder a sujeira debaixo do tapete, para julgar e condenar os da presidente Dilma Rousseff. Ela foi a segunda a sofrer impeachment. Ao contrário de Collor, cujas evidências do esquema de corrupção eram nítidas, Dilma caiu por ter praticado ‘pedaladas fiscais’, que, aliás, foram autorizadas pelo próprio Senado.

Ninguém respeita a constituição, com ‘c’ minúsculo mesmo, pois como já satirizava a TV Pirata, em 1989, ela só serve pela sua forma – densa e pesada – não pelo seu conteúdo – as leis. E o que dizer do título de eleitor? Não houve respeito algum com os mais de 54 milhões de eleitores de Dilma desde o resultado das majoritárias em 2014. Como a vlogueira Gleice Duarte postou, a forma retangular do título de eleitor facilita a maquiagem. E o conteúdo, que deveria ser uma espécie de ‘passe da cidadania’, está longe de valer algo.

O Partido da Imprensa Golpista (PIG), como muito bem cunhou o jornalista Paulo Henrique Amorim, teve papel decisivo no agendamento da crise e do impeachment. Um exemplo bem simples: quando falamos em ‘pedalada fiscal’ quem não lembra da presidente andando de bicicleta sorridente? Repetida à exaustão, assim como a caminhada matinal de Collor no entorno da Casa da Dinda.

As diferenças entre 1991 e 2016 não são apenas dos denunciados e dos tipos de denúncias, mas também da credibilidade da imprensa e do ecossistema midiático. Hoje, felizmente, temos atores sociais com visibilidade suficiente para denunciar os equívocos da Veja, da Globo, da Folha, do Estadão, da Isto É, de Zero Hora e de tantos outros representantes dos PIGs. Apesar do desgaste da credibilidade – vide “o povo não é bobo, fora Rede Globo”, “Falha de S. Paulo” e “Veja e suas Vejices” -, a influência dos porta-vozes dos barões das mídias e de seus interesses continua existindo. Se não fosse essa influência, não teríamos tantos haters, alguns deles tão ou mais boçais que o Olavo de Carvalho ou o Reinaldo Azevedo. Nesta semana, por exemplo, foi lamentável presenciar a mobilização dos internautas a partir da provocação de Azevedo para o #boicoteaquarius – referência à equipe do filme brasileiro que protestou em Cannes contra o impeachment de Dilma. Na minha humilde opinião, o ponto mais nefasto desta mobilização foi ver gente apoiando o fim da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, da cultura como um todo e a vazão a preconceitos contra qualquer tipo de artista.

Esse é o ‘futuro’! Esse é o (des)governo Temer, que elimina a cultura, deixa as mulheres, os negros, os indígenas, os homossexuais e todos os demais de lado. Somente quem tem espaço é a velha oligarquia, envolvida, vejam só, na Lava Jato.

Falando em ‘futuro da nação’, para coroar este momento, o que vocês acharam da escolha da nova marca do Brasil feita pelo Michelzinho? É de um cuidado tão grande que tem apenas 22 estrelas, o mesmo desenho usado durante os anos de chumbo. Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantis não existem para Temer.

Que país é este? Que país é este? Desculpa, querido leitor, mas tive a vontade de escrever o mesmo que gritei durante o show do Legião Urbana, aqui em Santa Maria, em dezembro do ano passado.Mauricio

 

Maurício Dias é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria (2011). Atualmente é  professor assistente no Centro Universitário Franciscano e jornalista na UFSM.