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Santa Maria, RS, Brazil

Amanda Souza

Eu tenho medo de viajar à noite. Sinto pavor de ver só o pedaço iluminado da estrada e ter que esperar para ver o que vem a seguir (mesmo que isso seja questão de milésimos de segundos). Acho que isso define como me sinto com ansiedade, quando negligencio o cuidado com a minha saúde mental. 

“O mal do século” está presente onde quer que olhemos, em jovens e adultos e, principalmente, nas redes sociais – e por causa delas também. Não acredito no poder supremo que a internet toda tem para desencadear ansiedade, acredito mais na pressão, na indignação, no poder da repressão abstrata e estrutural. É ingênuo pensar que em meio ao contexto político que vivemos há alguns anos, as redes sociais são as únicas potencializadoras da ansiedade. Isso não quer dizer que a internet não seja um dos fatores que podem causar, por exemplo, o FoMO (Fear of missing out) é real, e youtubers já abordaram o tema

Inclusive, as redes sociais disseminam notícias tão prejudiciais quanto assistir o jornal do almoço da Rede Globo. Diversos usuários estão optando por desativar as redes, ou, ainda, tentar diminuir o tempo de uso delas, já que a maioria dos canais, Instagram, Twitter e Facebook, também são palco de discussões políticas. O período eleitoral de 2018 foi uma amostra da toxicidade da internet – para além da utilidade do meio online como ferramenta de potencialização dos movimentos sociais e comunidades sociais -, já que o anonimato e a falta de contato face a face pode ser determinante na agressividade dos diálogos. A polarização política também se acirrou no processo eleitoral, no 2º turno, e foi visível nas redes sociais. Eu mesma excluí o aplicativo do Facebook do meu celular e parei de usar a rede desde o resultado das eleições.  Porém, como a internet pode ser maravilhosa, perfis e portais, em sua maioria feito por mulheres, estão auxiliando de forma coletiva na diminuição da ansiedade. O Instagram da agência Obvious (@obviousagency) lançou uma série de postagens em maio. Com a hashtag Segunda sem ansiedade, o perfil postou durante todas as semanas, na segunda-feira, dicas e formas que podem melhorar nossa relação com nós mesmas e com o mundo que nos cerca. 

Passar menos tempo no celular, atividades artesanais presenciais, dicas de autocuidado, passos para falar com o Centro de Valorização da Vida, exercícios mentais, entre outros conteúdos, são disponibilizados para ajudar a nos concentrarmos no agora e deixar a sensação vir e passar. Além do episódio da playlist (agora também em podcast) Bom dia, Obvious, #1 Tá todo mundo ansioso, em que a diretora criativa da agência, Marcela Ceribelli, trouxe convidadas para falar sobre. 

A comunicadora e ativista política, Debora Baldin, também aborda o autocuidado e a inteligência emocional como forma de militância, já que é preciso estarmos bem e preparadas para lidar com a carga energética que demanda atuar politicamente. Dentre os vários conteúdos, o vídeo Como mudei minha vida com inteligência emocional, ela fala sobre processos que foram necessários (e, mais importante, constantes) no reconhecimento de nossas falhas emocionais, vícios e hábitos que prejudicam o caminho que nossa mente percorre ao lidar com determinadas situações. 

O vídeo Autocuidado como estratégia política também é um vídeo que vale ouro, para entendermos a importância do amor com nós mesmas diariamente para nos mantermos de pé em contextos extremos, que vai muito além de skincare! 

A playlist Autonomia Intelectual, da youtuber Nátaly Neri, mostra alguns dos processos e práticas que auxiliam na recuperação de nós mesmas para cumprir nossas obrigações, trabalhos, e saber respirar, fazer uma pausa, entender que o autoconhecimento não é linear e nem tão rápido quanto aparenta ser. 

São diversas as pessoas que se unem e compartilham seus processos, nos mostrar que todo mundo passa por fases e a evolução é constante, assim como o cuidado com nossa mente, nosso ser, e elas têm me ajudado nesses dias meio esquisitos, espero que ajude vocês também. 

 

Amanda Souza é jornalista egressa da UFN, e colaboradora do site Todas Fridas e da Revista New Order