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Brasil

É difícil ser mulher e falar de esporte

Foi durante a infância que criei relação com o esporte. Dentro de casa o assunto futebol sempre foi muito presente, no entanto, nunca tive influência familiar por qual time torcer, ou por qual esporte me interessar.

Créditos: LABFEM- UFN

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Foi durante a infância que criei relação com o esporte. Dentro de casa o assunto futebol sempre foi muito presente, no entanto, nunca tive influência familiar por qual time torcer, ou por qual esporte me interessar. Percebia uma certa resistência ao falar de futebol por parte dos homens com os quais eu convivia e escutava coisas do tipo:

– O que que tu sabe? Me diz a escalação do time então!

E sem me dar conta do que realmente estava acontecendo, dizia toda a escalação da dupla Gre-Nal, como se eu tivesse que provar, principalmente, para os meus colegas de escola, que eu sabia sobre o assunto e só assim eles iriam me respeitar. Todos os dias eu buscava informações e lia sobre a temática. Me informar era uma das maneiras de mostrar que o esporte não era apenas um mero interesse, mas a minha futura profissão.

Desde o início da vida acadêmica me interessei por uma das editorias que é composta majoritariamente por homens. Não foi fácil e não é fácil. O meu lugar de fala sempre foi abafado pelos meus colegas ou homens em que discutia esporte, principalmente futebol.

No país pentacampeão mundial no futebol masculino, o respeito e o reconhecimento para o público feminino tem muito a amadurecer. A presença de mulheres no futebol, seja praticando ou comentando, ainda busca uma maior afirmação no país do futebol. E uma das maiores dificuldades, dentre tantas, é desconstruir aos poucos o machismo tão predominante na nossa cultura.

Dentro da história do futebol mundial um ponto que chama atenção é primeira edição da copa do mundo feminina, que teve início 61 anos depois início do torneio masculino.

A falta de incentivo, de apoio e o preconceito presente na sociedade, vindos da cultura machista construída ao decorrer das décadas dificulta a vida de inúmeras mulheres que buscam seguir a carreira profissional dentro do futebol e de tantos outros esportes.

No Brasil,  a falta de visibilidade e patrocínio prejudicam o crescimento do futebol feminino. Sem falar na desigualdade de gênero presente no esporte e no jornalismo esportivo. Não será de um dia para o outro que o preconceito vai acabar, mas diariamente a luta por espaço e reconhecimento ajudam a desconstruir a ideia machista de que mulheres não podem gostar, praticar ou comentar esportes.

Um fato curioso e triste ao mesmo tempo aconteceu nas Olimpíadas de Londres, em 2012, ano em que pela primeira vez na história tivemos a participação de mulheres em todas as modalidades olímpicas.
As mulheres são diminuídas, criticadas, questionadas e suas opiniões e conhecimentos são colocados à prova diariamente. A união e a sororidade dentro do esporte sustentam a luta por igualdade de espaço, de fala e de direitos.

Meu interesse pelo esporte não diminui a cada questionamento ou preconceito que sofro, seja como jornalista ou torcedora, mas sim, aumenta cada vez mais. É claro que as brincadeiras e piadinhas que nos diminuem incomodam e causam repulsa por desconhecidos, colegas e até amigos. No entanto, precisamos cada vez mais refletir e debater dentro da sociedade o machismo e a conduta de inúmeros jornalistas e atletas que tentam esconder por trás de suas imagens a desigualdade de gênero presente em suas falas e atitudes.

[dropshadowbox align=”center” effect=”curled” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ] É difícil ser mulher, em todas as esferas da sociedade, é difícil ser mulher no esporte, é difícil ser mulher no jornalismo esportivo.[/dropshadowbox]

As equipes femininas precisam de espaço apropriado para treinar e desenvolverem seus trabalhos. O futebol feminino precisa de uniformes específicos e feitos sob medida para elas e não ficar com os restos dos times masculinos. As mulheres precisam de salários equivalentes aos homens para se manter e viver do esporte.

E foi pensando nisso que a Nike apresentou na última quinta-feira (14) em São Paulo, em um evento no Estádio do Pacaembu, um uniforme completo, desenvolvido especialmente para a seleção feminina de futebol…pela primeira vez na história. E além disso, a marca mostrou que se preocupa com o público feminino e anunciou suas principais iniciativas para romper barreiras e elevar o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil.

O projeto chamado Nike Futebol Clube, idealizado pela marca esportiva irá reunir jogadoras amadoras de futebol com três encontros semanais no Parque do Ibirapuera, com jogos e treinos para as atletas e amantes do esporte. E uma vez por mês, a empresa usará o Pacaembu para fazer a ação. O projeto é gratuito, todas estão convidadas e as inscrições poderão ser feitas através do site Nike.com/SP.

A iniciativa tem como sede a cidade de São Paulo, mas em todo o país mulheres praticam o esporte e lutam por espaço e igualdade. Esperamos que este seja o pontapé inicial para o crescimento do futebol feminino no país, junto do apoio de grandes empresas para a difusão do esporte no Brasil.

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias.

 

Wander Schlottfeldt é acadêmico de jornalismo na Universidade Franciscana e tem um talento nato para a charge! É dele a ilustração do texto de hoje.

Em 2016, o Brasil foi considerado o país mais transfóbico do mundo. Arte: Deivid Pazatto

Em 2016, a ex-presidenta Dilma Rousseff assinou um decreto que permite a travestis e transexuais usarem o nome social em todos os órgãos públicos, autarquias e empresas estatais federais. O nome social é nome escolhido por essas pessoas de acordo com o gênero ao qual se identificam, independentemente do nome com que foram registrados no nascimento, como forma de legitimar a sua existência de acordo com a identidade que expressam na sociedade. Porém, esse decreto muitas vezes não é cumprido, o que leva ao constrangimento dessas pessoas ao serem chamadas pelo nome de nascimento em algumas instituições.

Um dos grandes fatores que acometem esse desrespeito é a transfobia, e está muito ligado à estrutura machista da sociedade – e aqui podemos frisar a brasileira. O Brasil desponta como o país mais transfóbico do planeta, com altos índices de homicídio contra a população trans.

Segundo a ONG europeia, a Transgender Europe (TGEu), em nenhuma outra nação há tantos registros de homicídios de pessoas transgêneras como no Brasil. O Grupo Gay da Bahia (GGB), em seu relatório anual, aponta que em 2017, 42,9% das LGBT assassinadas eram travestis ou transexuais – em número, foram 191 vítimas de transfobia, dos 445 homicídios registrados no ano passado.

Ser travesti ou transexual no país que mais mata essa população é uma tarefa de resistência diária. No levantamento feito pela Transgender Europe, que traz os números de transfobia entre 2008 e 2016, revela o quão assustador é pertencer à população trans e morar no Brasil. Os números levantados mostram que o Brasil teve 868 mortes durante o período de oito anos, liderando o ranking. Em seguida aparecem México, com 259; Estados Unidos, com 146 e; Colômbia e Venezuela, empatadas, com 109. O Brasil registrou 3,5 vezes mais mortes que o segundo colocado. Além disso, a expectativa de vida da população trans é de 35 anos, metade da média nacional.

Imagem: Projeto Transformar

O nome é a nossa primeira identidade. É através dele que nos apresentamos e o que nos diferencia em público. Em nossa cultura, os nomes possuem uma binaridade de gênero que nos é atribuído logo no nascimento, após o reconhecimento do sexo. Muitas vezes não gostamos do nome que nos é dado ao nascer, mas essa situação se torna muita mais complexa quando se trata de travestis e transexuais. Ao perceber que o sexo atribuído ao nascer e sua identidade são opostas, transgêneros travam diversos conflitos internos, começando pela utilização de um nome social que é desrespeitado. Algo que parece tão simples, porém, é uma questão de dignidade humana.

Sexo e gênero estão ligados à construção da identidade. O sexo é um atributo biológico, que nos classifica como feminino, masculino ou intersexo. O gênero representa como nos reconhecemos na sociedade e aí entram diversos fatores para a sua construção. Segundo a filósofa Judith Butler, o gênero é uma construção cultural, no sentido de que vamos nos apropriando de diferentes significados culturais para a construção de nossa identidade. Mas há uma associação cultural padrão entre o sexo e gênero. Essa expectativa nos limita logo ao nascer, e está muito ligada ao sexo biológico – órgão masculino = homem; órgão feminino = mulher. Essa construção cisgênera acaba caindo por terra quando os transgêneros se diferem desse padrão binário. O sexo acaba sendo o oposto do gênero vivenciado. E ter recebido um nome que não condiz com o gênero o qual se identifica, é muito difícil para travestis e transexuais.

Ao se perceber e entender com uma identidade diferente, o nome civil de travestis e transexuais representa uma pessoa que elas não são mais. A utilização e reafirmação desse nome gera diferentes conflitos internos e o que configura uma violência, seja no momento em que o outro pronuncia esse nome ou quando uma travesti ou transexual é obrigada a escrever o nome civil.

Essa autoagressão também é um dos fatores de provocam a depressão dessas pessoas. Por sofrerem violência, a população trans está mais suscetível a desenvolver quadros depressivos, levando muitas vezes ao suicídio. A transfobia vivenciada no dia-a-dia de transgêneros perpassa o âmbito familiar e está presente em diversos setores da comunidade. A violência institucional em relação a travestis e transexuais é a que mais fere quando se fala em respeito ao nome social. Universidades, hospitais e delegacias provocam diferentes tipos de constrangimento a essa população, começando pelo desrespeito ao nome social.

Após ataques transfóbicos e ao recorrerem às delegacias para prestar um boletim de ocorrência, transgêneros não tem seu nome social respeitado. Nesse sentido surge a necessidade de delegacias especializadas no atendimento a pessoas LGBT em todo Brasil. No que confere às travestis e transexuais, algumas delegacias das mulheres no país acabam direcionando o seu foco de atendimento também para essa população, como é o caso das delegacias especializada de Atendimento à Mulher (Deam) do Acre e na Paraíba, que desde 2017 garantem o direito de travestis e mulheres transexuais.

Após ouvirem e obrigadas a fazer o boletim de ocorrência com o nome de batismo nas delegacias, se agredidas, muitas vezes travestis e transexuais recorrem aos hospitais e a história se repete. O constrangimento retorna quando, para o atendimento, os profissionais da saúde utilizam o nome civil para cadastros. Em muitos casos, alguns profissionais negam atendimento, como foi o caso de uma travesti de Canela (RS), que após passar mal foi até o Hospital de Caridade de Canela. Ao se deparar com a travesti usando roupas ditas femininas, uma enfermeira omitiu socorro e ameaçou chamar o segurança. O caso aconteceu em 2011, mas só em novembro do ano passado o hospital foi condenado a pagar R$ 30 mil reais por omitir atendimento à travesti.

Bandeira arco-íris, símbolo dos homossexuais e também do movimento LGBT. Foto: internet

Uma pesquisa conjunta realizada em 2012 pela professora Martha Souza, doutora em Ciências pela USP, e pelo professor  Pedro Paulo Pereira, doutor em Antropologia pela UNB, acompanhou a trajetória de 49 travestis residentes em Santa Maria em busca de cuidados com a saúde. Intitulada Cuidado com saúde: as travestis de Santa Maria, Rio Grande do Sul, a pesquisa traz diversos relatos dessa população, entre eles a posição de marginalização que as travestis são colocadas. Durante a pesquisa, os autores contam que ocorreu uma tentativa de homicídio com travestis gêmeas. As irmãs relataram que após saírem com dois homens e eles perceberem que as duas eram travestis, foram agredidas com chave de fenda e alicate. Após pedirem socorro para um segurança de uma boate, foram todos para a delegacia. “Mesmo com testemunha, acabamos como bandidas. Ninguém acredita em travesti. Depois, precisamos ir até o serviço de saúde. […] Mesmo explicando que estava doendo muito, não deram remédio”, conta Whitney, uma das irmãs, com 22 anos na época.

Felizmente as irmãs gêmeas de Santa Maria se salvaram. Mas essas agressões se repetem dia após dia. A forma como a vida de travestis e transexuais são assassinadas é muito cruel. Facadas, pedradas, tiros. Mutiladas, dilaceradas, torturadas. Dandara é o maior exemplo da crueldade que a população trans está suscetível. Em fevereiro de 2017 ela foi torturada, agredida com socos, chutes, e golpes de pedra e pau em praça pública na cidade de Fortaleza, no Ceará. A exposição na qual Dandara foi submetida não ficou apenas em praça pública, mas foi parar nas redes sociais. 12 homens foram acusados de tirar a vida da travesti – até o mês de outubro desse ano, seis agressores foram condenados e estão presos.

O uso das redes sociais facilitou a comunicação e ampliou que mais informações pudessem circular e que esses casos viessem a conhecimento público. Essas mortes não são contabilizadas por delegacias e cabe às ONG’s fazer esse registro. O Grupo Gay da Bahia, criado em 1980, a mais antiga associação em defesa dos direitos LGBT, colhe todas essas informações, anualmente, através da internet, amigos ou outras redes que vão se fortalecendo para que eles possam contabilizar a proporção da LGBTfobia no país. A Rede Trans Brasil e a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) também são duas associações que fazem esse monitoramento, voltado apenas para a população trans. Até novembro desse ano, a ANTRA já registrou 149 assassinatos contra pessoas trans no Brasil.

Toda a vulnerabilidade a qual travestis e transexuais estão submetidas vem da transfobia que está impregnada nas raízes culturais do nosso país, muito ligada ao machismo, que acaba por refletir na população trans pelo fato de elas transpassarem os padrões heteronormativos. Não podemos esquecer dos homens transexuais, que por vezes são invisibilizados. Em casos de homicídios, os homens trans não são contabilizados nas estatísticas, por serem registrados com o nome de batismo nas ocorrências, novamente ferindo a identidade dessas pessoas. As mortes desses homens muitas vezes não são investigadas ou passam a ser enquadradas na lei do feminicídio, não configurando como um ato de transfobia.

Na luta pelo reconhecimento dos direitos da população LGBT, membros do Coletivo Voe posam frente ao público da 4ª Parada LGBT. Foto: Denzel Valiente

Os reflexos da transfobia ferem todos os campos da sociedade que são por direito de travestis e transexuais. A população trans é marginalizada em todos os setores da sociedade e essa exclusão reflete no grande número de travestis e transexuais que trabalham na prostituição. Devido a falta de oportunidade, essa acaba sendo a única opção de sobrevivência para a população trans, já que a oportunidade de outros empregos são muito pequenas, e se restringe a poucas empresas dispõem dessas políticas. Uma estimativa feita pela ANTRA, aponta de 90% da população trans recorre a prostituição ao menos em algum momento da vida.

Entre os motivos para a exclusão e marginalização da população trans, estão os grandes níveis de violência no contexto histórico do país – e aqui podemos citar a ditadura militar, onde travestis e transexuais eram perseguidas e mortas. A falha do Estado em investigar os crimes contra essa população, também é um dos motivos que leva ao aumentos desses números de violência. A vulnerabilidade da população trans na prostituição também é uma falha do Estado. Existem pouquíssimas políticas públicas que inserem essas pessoas seja nas universidades ou empregos.

A inclusão de travestis e transexuais nas universidade permite a oportunidade de entrarem no mercado de trabalho. O respeito ao nome social nesses espaços, pode representar uma importante condição de permanência dessa população nas faculdades, pois ali elas passarão a ser respeitadas e incluídas. Hoje, diversas universidades respeitam o nome social no Brasil. Em janeiro desse ano, o Ministério da Educação (MEC) autorizou o uso do nome social na educação básica para travestis e transexuais.

No Brasil não há legislações que garantam os direitos básicos de travestis e transexuais. Das poucas iniciativas nacionais, só constam o decreto sancionado pela ex-presidenta Dilma Rousseff que determina o uso do nome social em órgão públicos. Com isso travestis e transexuais também passam a ter o nome social respeitado, por exemplo, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), onde são reconhecidos pelo nome que escolheram e nas eleições, a partir desse ano, onde mais de 6 mil eleitores votaram com o nome social. Também há uma portaria (nº 2.803, de 19 de novembro de 2013,) que determina a oferta do processo transexualidor (processo de hormonioterapia e cirurgia de adequação do corpo biológico à identidade de gênero e social), pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Essa decisões são frágeis, devido a falha do Estado e as diversas repressões que as pautas LGBT sofrem no Congresso Nacional. Reflexo disso é a não criminalização da LGBTfobia no país que mais mata LGBT. Em 2006, o projeto da ex-deputada Iara Bernardi chegou a ser aprovado na câmara, mas ao chegar ao Senado foi adiado e arquivado em 2014. Desde o início do mês de outubro desse ano, o site do Senado Federal está realizando uma consulta pública sobre o projeto de Lei do Senado nº 515/2017 que criminaliza a LGBTfobia, com autoria da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa. A consulta dá direito de votar sobre a alteração da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, e o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, para punir a discriminação ou preconceito de origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero.

Mesmo com mais de 400 mil votos a favor e quase 7 mil contra a alteração, as bandeiras que envolvem a comunidade LGBT sofrem ataques e não seguem em discussão no Congresso devido aos parlamentares da bancada BBB (do boi, da bala e da bíblia) que vão contra os direitos dessa população. Todos os processos de transfobia citados, são reafirmados por lideranças conservadoras, que buscam a invisibilização do movimento e a exclusão de LGBT em todos os espaços.

O que ainda garante esses direitos, são as poucas lideranças representativas eleitas e algumas iniciativas estaduais e municipais. Uma dessas iniciativas é o Transcidadania, criado em 2015 pelo então prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, que tem o objetivo de promover os direitos humanos e oferecer melhores condições de vida a uma parcela tão marginalizada da sociedade, como as travestis e transexuais. O programa concede bolsas de estudo e transferência de renda à população trans, levando educação, capacitação e garantia de direitos.

O nome social frente às diversas violências contra a população trans é um direito a dignidade humana.

O nome social frente às diversas violências contra a população trans é um direito a dignidade humana. Ser reconhecida ou reconhecido com o nome o qual se identifica é uma forma de existir e legitimar a sua existência enquanto cidadãs(os). O uso do nome social auxilia a população em tarefas que parecem corriqueira para pessoas cisgêneras, mas que são um problema para quem é transgênero, como a simples tarefa de abrir uma conta em um banco ou se candidatar a uma vaga de emprego. O uso da aceitação do nome social deveria ser obrigatório em todas as instituições e estabelecimentos para evitar os diferentes tipos de constrangimentos já mencionados quando utilizado o nome de batismo.

Ter o nome social reconhecido é o passo inicial na luta contra a transfobia, por isso a extrema importância para que a aceitação desse nome seja ampliada a todos os setores da sociedade. Um processo que era burocrático, hoje está mais acessível. Para obtenção da Carteira do Nome Social, a pessoa precisa ter no mínimo 16 anos e levar a Certidão de Nascimento no local onde feita a Carteira de Identidade na sua cidade. Após solicitar a Carteira de Nome Social, leva cerca de 10 dias para ficar pronta. Em fevereiro desse ano, o presidente Michel Temer sancionou o decreto nº 9.278/18 que regulamenta a lei nº 7.116 de 29 de agosto de 1983, para que as carteiras de identidade possam abranger o nome social de pessoas transgêneras. Para emitir a Carteira de Identidade com o nome social, basta que o interessado manifeste sua vontade através de um requerimento escrito e apresentar a Certidão de Nascimento. Junto com o nome civil, a identificação no novo documento virá acompanhada de “nome social”. A partir de 2019, todos os órgãos identificação deverão obedecer o novo decreto.

Desse modo, com a nova norma, não é mais necessário contratar advogados e passar por processos na Justiça para conseguir o nome social. O decreto articulado pelo Ministério do Direitos Humanos, é uma homenagem a João W. Nery, um dos maiores ativistas transgêneros do país. João, que faleceu em 26 de outubro desse ano, foi o primeiro homem trans no Brasil a passar por uma cirurgia de redesignação sexual (mudança de gênero). O projeto que leva o nome do ativista, parado há anos no Congresso, visa que a pessoa trans não precisará se submeter a cirurgia ou hormonização caso deseje alterar os documentos.

A nova carteira que trará o nome civil e o nome social juntos, pode não ser o suficiente para evitar situações constrangedoras, já que ela sugere os dois nomes e isso ainda permite ataques transfóbicos. As falhas do Estado são muito grandes é de extrema urgência políticas públicas para uma população que é dizimada no país. O desrespeito ao nome social é apenas a ponta do iceberg em um país que omite, esconde, máscara a transfobia em todos os setores da sociedade. Ser travesti e transexual no Brasil, é resistir e lutar pela vida todos os dias.

Artigo produzido para a disciplina de Jornalismo Humanitário, no segundo semestre de 2018, sob a orientação da professora Rosana Cabral Zucolo

Empatia no dicionário significa ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando a cumplicidade com o outro. É o ato de agir e pensar do mesmo modo, nas mesmas circunstâncias. Porém, pode-se dizer que empatia é uma palavra rara na sociedade atual, ainda mais quando se trata de se colocar no lugar de uma mulher, de sentir na pele como é ser mulher em meio a tantas pressões sociais, políticas e religiosas.

A cada um minuto uma mulher faz aborto no Brasil – de acordo com a Pesquisa Nacional do Aborto de 2016. O trabalho revela que uma em cada cinco mulheres até 40 anos já fez, pelo menos, um aborto no país. Mesmo assim, nenhuma ação política eficaz é feita em prol da questão. As mulheres já conquistaram o direito ao voto, ganharam voz, mas ainda buscam pela autonomia sobre seu próprio corpo e por espaço em uma sociedade machista e conservadora.

As lembranças das mulheres que vivenciaram um aborto, transformam-se em luta ao longo dos tempos. Petúnia e Bromélia são codinomes escolhidos para identificar as vozes anônimas dessa reportagem. Os codinomes representam flores, a escolha se deu pela delicadeza inerente elas, pelas particularidades que cada uma possuí e pelos significados das flores, a primeira simboliza resistência e é muito usada para demonstrar força, a segunda refere-se as palavras ressentimentos, transformações e recomeço.

A dor das mulheres expressa nos traços de um desenho. Ilustração: Mateus Ferreira

“Eu não tenho muita certeza de que a
descriminalização ou legalização do aborto vai salvar muitas mulheres.  Ninguém faz um ‘abortinho’ como método anticoncepcional. É horrível. É um trauma. Por mais de boa que tu leve a situação, é péssimo. É um fardo que tu carrega.  A gente nunca tem total ideia do que é um aborto até passar por aquilo, porque militar ou ser a favor é muito distante, é defender uma causa DELAS, das mulheres. Mas tu não se inclui nisso. Tu entende porque tanta mulher morre, porque tanto relato horrível na internet, mas não vivência. NENHUMA mulher tinha que passar por isso sozinha e essa PEC (…), ela é horrorosa, simplesmente anulam o fato da mulher ser um humano”. – Bromélia, 21 anos.

 

 

O aborto é interrupção de uma gravidez pela remoção de um feto ou embrião, pondo fim no desenvolvimento dentro do útero. Existem dois tipos de aborto, o espontâneo que ocorre naturalmente e o aborto induzido, aquele que acontece quando a gestação é interrompida por meio da ingestão de remédios ou da curetagem – procedimento cirúrgico em que há a raspagem da parede uterina para a retirada do embrião ou feto.

No Brasil, o aborto é considerado crime contra a vida humana – conforme o Código Penal de 1984. O aborto no país só é direito da mulher quando existe risco de vida para a gestante, quando a gravidez é resultado de estupro ou quando o feto é anencéfalo. No caso de estupro, a vítima deve denunciar numa delegacia e fazer o exame de corpo delito. Só após estes procedimentos o aborto é liberado em caso de violação do corpo da vítima. Sabe-se que, por vezes, esses processos demoram longos períodos já que em determinadas situações o caso é encaminhando a um juiz e este analisa o processo, julga e indica a medida que deve ser tomada.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) anualmente, 25 milhões de abortos ilegais são realizados no mundo. Segundo este levantamento 97% dos abortos ilegais que colocam a vida da mulher em risco, ocorrem em países em desenvolvimento como África, Ásia e na América Latina. E é na América do Sul que existe a segunda maior taxa de gravidez na adolescência no âmbito mundial, sendo que 18% de todos os partos são de mulheres com menos de 20 anos de idade – segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Muitos abortos induzidos ocorrem justamente na adolescência, fazer um aborto induzido, aqui, no Brasil pode desencadear de um a três anos de prisão para a gestante que induzir o aborto e para todas as pessoas que o provocarem, mesmo com o consentimento da gestante, como médicos, enfermeiros ou qualquer pessoa envolvida no caso.

Remédios Abortivos

O nome mais conhecido quando o assunto é remédios abortivos é o Cytotec, nome comercial, cujo composto farmacológico é o Misoprostol. De acordo com a médica clínica geral Fernanda Dorneles, o medicamento tem como efeito a dilatação do colo do útero e promove contrações semelhantes as dores do parto. Isso quer dizer que o composto contribui para a expulsão do feto de dentro do organismo. O medicamento é usado via oral, sublingual e vaginal. “Dependendo do tempo de gestação que a mulher se encontra a dilatação do colo do útero pode significar uma indução ao trabalho de parto ou um aborto”, explica a médica. Em países onde o aborto é legalizado, o medicamento é utilizado e tem 95% de eficácia. Já no Brasil, como o aborto não é legalizado (somente em casos previstos por lei), o remédio não deve ser comercializado ao público no geral, mas não é isso que acontece.

É visto que a cada dia clínicas e mais clínicas clandestinas surgem e atuam realizando abortos fora da lei. Para a remoção do feto, nesses locais são utilizados diversos métodos, não apenas o Cytotec. Há o uso de utensílios nada seguros como agulhas de tricô e cabides, além de tentativas de rasgar o útero com algum objeto de ferro. A partir destas questões a reportagem saiu às ruas de Santa Maria/RS e buscou por métodos abortivos ilegais, houve a descoberta comercialização do Cytotec em nosso município. O remédio é comercializado livremente em um ponto central da cidade, especificamente, a banca fica localizada no Shopping Popular de Santa Maria.

De acordo com a investigação das acadêmicas para ter acesso ao remédio a pessoa interessada deve fazer o pedido e mediante ao pagamento de metade do valor a encomenda é feita. O vendedor marca um horário no mesmo local para a entrega do medicamento. O valor total é de R$800,00 e a única forma de pagamento é em dinheiro.

O aborto e o que pode mudar com a PEC 181

Está em andamento no Congresso Nacional a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 181, o projeto de lei visa proibir todas as formas de aborto no Brasil, inclusive em casos de estupro ou risco de morte a gestante, tornando o ato um crime. A proposta de emenda constitucional praticamente inviabiliza a questão do aborto no Brasil, tornando ilegal a interrupção da gravidez mesmo nos casos permitidos hoje pela lei. Caso a PEC seja aprovada haverá a criminalização do aborto em qualquer situação.

Uma proposta de emenda constitucional só entra em vigor a partir de quatro votações no Congresso Nacional: na primeira etapa o texto é avaliado por uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados, em seguida passa por uma votação entre todos os deputados no plenário; na segunda etapa o texto é encaminhado para uma comissão, depois para uma votação no plenário com os senadores. Então em cada casa legislativa, são feitos dois turnos de votação. Se houver mudança na proposta quando passar pelo senado, o texto volta para análise da Câmara. A PEC 181 aguarda ser votada no senado. No gráfico abaixo percebe-se a opinião das mulheres residentes em Santa Maria, a respeito do projeto de lei 181.

A comissão formada inicialmente tinha outro intuito, o de discutir a proposta de maneira diferente, ela visava aumentar o tempo de licença-maternidade no caso de bebês prematuros. A PEC 181/2015, aqui em questão, foi pautada e apresentada pelo senador Aécio Neves, sendo avaliada em conjunto com a PEC 58/2011, de conteúdo parecido. O propósito era estender o período da licença-maternidade pela quantidade de dias em que o bebê recém-nascido ficasse internado no hospital. A licença de 120 dias poderia aumentar até 240 dias, tudo estabelecido de acordo com o tratamento da criança. No entanto, ao longo das análises da proposta houve uma alteração que parece mero detalhe, mas que faz uma diferença significativa na problemática do aborto.

Em novembro de 2017, o texto aprovado pela comissão foi alterado, para assim incluir na constituição a ideia de que a vida deve ser respeitada desde a sua concepção, não só depois do nascimento. E é essa mudança que pode tornar qualquer caso de aborto crime, mesmo os que hoje em dia são permitidos pela Lei, como já dito.

No banco de dados da pesquisa feita pelas estudantes concluiu-se que a maioria da população de mulheres participantes da pesquisa defende a não aprovação da PEC 181.

A voz das mulheres

Uma pesquisa foi feita com 100 mulheres de Santa Maria, de 18 a 60anos de idade. As questões foram feitas para saber como as mulheres lidam com a temática do aborto nos dias de hoje e qual a posição delas em relação a PEC 181, que visa anular o aborto no país.

Entre os dados extraídos, concluiu-se que 85% das mulheres entrevistadas conhecem outra mulher que já passou pela situação do aborto, seja ele espontâneo ou induzido. Isso quer dizer que a cada 5 mulheres, 4 delas conhecem alguém ou já tiveram contato com o aborto, como mostra o gráfico número 4. Sendo que dentre as que já induziram o aborto, mais da metade das mulheres tomou remédios abortivos, botando a própria vida em risco.

 

A falta de informação em relação ao aborto, principalmente nos casos permitidos por lei, no exercício do direito das mulheres é uma realidade no país, a ausência de informações predomina e revela um cenário de negligência. As mulheres buscam por alternativas que colocam a vida em perigo, segundo a Pesquisa Nacional do Aborto de 2016, cerca de metade das mulheres que fizeram aborto recorreram ao sistema de saúde e foram internadas por complicações relacionadas ao aborto, pelo uso de medicamentos ou outras formas de interromper a gravidez. Um pouco dessa realidade você pode conferir em números abaixo, a partir da pesquisa feita pelas repórteres:

 

 

Quando tinha 20 anos Bromélia abortou. “Descobrir foi muito bizarro porque simplesmente não passava pela minha cabeça que uma coisa dessas ia acontecer, ainda mais do jeito que aconteceu. Eu fiz o teste de gravidez muito brincando. E a sensação de quando o teste deu positivo, nossa, eu me senti muito suja eu só conseguia sentir muito nojo e vergonha. Eu fiz mais dois exames de sangue e um ultrassom porque eu simplesmente não acreditava que aquilo era real.” A semana da realização do aborto e as consequências deixadas no corpo físico e psicológico são marcas que ficam para toda vida de uma mulher.

Segundo a psicóloga Regina Silva os traumas podem surgir em qualquer pessoa que vivencie uma perda, porém, “o modo como cada pessoa reage depende muito de sua estruturação psíquica e das estratégias que ela vai desenvolver para elaborar essa perda. O mesmo se aplica a uma mulher que sofre ou induz um aborto; não é possível mensurar quem sofre mais. Divulga- se muito a informação de que as mulheres que optam pelo aborto sofrem mais de quadros depressivos e acabam se arrependendo, mas se tu fores buscar na literatura especializada no assunto vais ver que isso não é uma verdade”,
afirma a psicóloga Regina.

Bromélia conta que a ideia de ter um filho nunca nem passou pela sua cabeça, sempre teve bastante certeza do que queria – não seguir uma gravidez. Na semana que antecedeu o aborto se enxergava como uma mulher fisicamente e psicologicamente exausta.

“Lembro do dia antes de fazer, eu cheguei do
trabalho muito enjoada e nervosa, só tive força pra
chegar em casa e chorar. Isso foi numa sexta-feira e
eu só levantei no domingo de tarde. É tudo muito
esquisito. Todo o tabu que gira em torno, tudo que
as pessoas falam. Tu nunca acha que vai passar por
uma coisa dessas. Tu se questiona se tu ta certa
sobre aquilo, se de fato é só sobre o teu corpo. E é
assim. Vivi toda situação do aborto estando no ápice
dos privilégios, por ser mulher branca, universitária,
e com muito apoio emocional, sei que podia ter sido
muito pior. Meus amigos me apoiando foi essencial,
não sei nem explicar, mas o próprio ato de ir
comprar o remédio é duro, não saber se tu ta
tomando um remédio falsificado é duro. E eu ainda
tive essa opção de tomar o remédio. Não é qualquer
mulher que tem quase 1000 reais pra comprar meia
dúzia de comprimidos e realizar exames. Enquanto
eu fazia o procedimento eu sentia muita raiva por
estar passando por aquilo, podia ser muito mais
simples, eu não precisava estar sentindo tanta dor e
sangrando. Tinha horas que eu achava que não ia
aguentar” – desabafa Bromélia.

Bromélia não teve a chance de um tratamento humano e tranquilo quando sentiu a necessidade de abortar, assim como milhares de mulheres. Na pesquisa feita na internet, muitas não entendem o Sistema Único de Saúde como uma solução eficaz para a problemática.

O assédio e a revolta

“É meio louco falar em assédio, estupro, o abuso… parece que isso não condiz com a minha realidade ou com a realidade dele. Porque ele é o “amigão” da galera, mas foi e é difícil aceitar isso. Uma das poucas coisas que eu lembro é de um certo momento pedir muito pra ele parar, mas acordei sem nem saber onde eu tava.” – Bromélia, 21 anos.

A outra flor de nossa história chama-se Petúnia – significa transformação e ressentimentos. A idade da flor é também de 21 anos, encontrava-se com 17 quando toda dor começou. “Quando eu acordei depois de tudo falei com o agressor e ele me garantiu, disse que tinha plena certeza que eu não estaria grávida. Não estava assimilando as coisas que aconteceram e não tinha como eu saber tudo que tinha acontecido sabe? Mas o que eu sabia era que nunca ia querer ter um filho, uma lembrança de uma coisa traumatizante, e eu nunca cheguei a saber se de fato eu estava grávida, ou não porque eu não tomava anticoncepcional, mas assim que eu pude eu tomei a pílula do dia seguinte”, relata a jovem.

Petúnia era muito nova quando foi abusada, e não estava em sã consciência na hora do ato. Mas teve o apoio e ajuda de amigas que lutam pelos direitos das mulheres e então foi orientada a denunciar o estupro, e perceber que o que tinha acontecido era errado. Passaram-se cinco anos desde então, e na delegacia nada foi feito a respeito do caso.

“Eu acordei no susto mesmo, com dor e
sangrando, eu era virgem. Foi assim o
momento que voltei um pouco para mim,
recuperei minha consciência. Eu
provavelmente teria levado adiante um aborto.
Minha mãe é muito religiosa, não sei como ela
reagiria, mas provavelmente ela teria me
apoiado nessa decisão. A minha primeira
atitude depois de tudo isso, foi ir na delegacia,
não foi uma atitude pensada por mim, não foi
uma atitude que eu tomei sozinha, porque no
momento tu fica muito assustada e pensa,
não ta acontecendo comigo, ta?”

– Petunia, 21
anos.

Culturalmente a mulher sempre foi induzida e direcionada a atender as exigências construídas pela sociedade machista e pouco favorável a mudanças – uma das reflexões acerca do tema, de Regina Silva, psicóloga. A profissional explica que em determinado momento histórico as mulheres foram convencidas a darem mais atenção aos filhos, como se a mulher tivesse como única função: o ser mãe. “O amor incondicional ao filho, na verdade não passa de algo moldado, trabalhado nas mulheres, que ao longo das décadas foi se tornando cada vez mais presente e visto como natural”, aponta Regina. Petúnia
desabafa e compartilha da mesma visão da psicóloga “O mais natural é tu te culpar na hora, se tu falar sobre isso com a tua mãe ou com alguém da tua família um pouco mais conservador, eles vão te julgar por pensar no aborto, vão te julgar por ser estuprada, vão te julgar por não querer ser mãe. Mas eu entendo as mulheres, existem muitos fatores que fazem com que a pessoa não queira ter um filho, não queira vivenciar todo processo de gerar uma criança. Eu acredito que cada um tem seu livre arbítrio para escolher se quer ou não ter um filho”, afirma a jovem flor.

Foram os amigos, as rodas conversas na universidade, as trocas em grupos feministas que ampliaram a visão de Petúnia a respeito do assunto aborto. Já para Regina Silva foram os livros. A leitura da obra de Elisabeth Bandinter “O mito do Amor Eterno” foi principal chama para a tomada de consciência de Regina Silva. Ela mulher, militante e feminista passou a acreditar e a defender a descriminalização do aborto, percebeu que muito do que pensava sobre a maternidade na realidade sobre o desejo de não ter filho – estava descrito e embasado no livro de acordo com os momentos históricos e culturais. Na academia Regina estudou o aborto realizando o trabalho final de graduação com ênfase nessa temática e tendo como título: “Filho é fruto do desejo, o resto é feto!”- uma análise dos discursos produzidos nas redes sociais sobre o aborto, durante o ano de 2016. Regina por fim ressalta: “muitas pessoas argumentam ah, mas existem tantos métodos se engravidou foi porque quis, não existe acidente. Será que não existe mesmo? Será que essas pessoas já ouviram histórias de mulheres que tomavam seu anticoncepcional rigorosamente, e por conta do uso de algum outro medicamento, o primeiro teve seu efeito reduzido e com isso uma gravidez? E então, será que toda mulher vai ter o desejo e dispor de estrutura física e emocional para arcar com uma gestação? A questão é muito mais complexa que simplesmente apontar e dizer que “ah, você não se cuidou porque não quis”.

Reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Investigativo, sob orientação da professora Carla Torres.

Texto: Agnes Barriles e Tayná Lopes

O Brasil vive um dos processos eleitorais mais conturbados de sua curta história democrática. Líder nas pesquisas, Jair Messias Bolsonaro, representante da extrema direita à Presidência da República pelo Partido Social Liberal (PSL) também detém um dos maiores índices de rejeição da história do país, o que levou milhares de manifestantes às ruas por todo Brasil no último sábado, 29, e em Santa Maria não foi diferente.

O ato “Mulheres Contra Bolso.na.ro” reuniu entre 7 e 9 mil pessoas na Praça Saldanha Marinho. Aos gritos de “quem não pula é fascista”, dentre tantos outros, a marcha iniciou às 17h, percorrendo as ruas do centro como Acampamento, Pinheiro Machado, Professor Braga, Floriano Peixoto, retornando à praça pelo Calçadão da cidade.

Os manifestantes denunciaram o presidenciável por racismo, incitação ao ódio e violência, homofobia, xenofobia e misoginia. Flertar com os ideais de Bolsonaro, é flertar com o que há de mais reacionário, fascista e antidemocrático dentro da atual conjuntura política brasileira. Afirmações preconceituosas como: “Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar porque não merece” (em discurso na Câmara, em 2003), ou ainda “eu sou favorável à tortura, tu sabe disso” (em entrevista no rádio, em junho de 2016) são comuns na carreira do político. Blindado por seus seguidores contra toda e qualquer acusação, sob o pretexto de ser “mero barulho da esquerda”, Jair Bolsonaro e seu vice, o General Hamilton Mourão, bebem da fonte do antipetismo e da inconformidade social para com a classe política, aliado à disseminação de notícias falsas – fakenews –  lideram as intenções de voto com 32%, segundo pesquisa divulgada hoje, 02, pelo Datafolha.

Enquanto os eleitores da esquerda brigam entre si, dividindo-se entre Fernando Haddad, Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL), os adeptos de Jair Bolsonaro seguem firmes. Em meio a isso o Brasil caminha a passos largos rumo ao retrocesso, à intolerância, rumo à 1964.

Por Luiz Gustavo Mousquer de Oliveira, jornalista.

O cenário político que se apresenta é controverso e, pode-se dizer, um tanto violento. Faltam poucos dias para as eleições de 2018, e  o Brasil se tornou um campo de hostilidade, disseminação de ódio e preconceitos de todos os lados. Para entender melhor esse cenário, a equipe da ACS foi às ruas buscar  a opinião popular acerca deste momento que gera discussões, desentendimentos e até aversão à política.

Thieser Farias, estudante de direito. Fotos: Thayane Rodrigues/LABFEM.

“Tenho mais medo da política atual brasileira do que quando eu assisto a um filme de terror”, afirma Thieser Farias de 24 anos, estudante de direito. Farias diz ver um cenário polarizado e desolador, de extremo radicalismo, onde há uma esquerda corrupta, segundo ele, com um “”discurso fraco e incoerente” e, do outro lado, a direita que quer resolver os problemas do Brasil na “bala”.  Thieser pensa que o centro e a moderação são o caminho para resolver os problemas do país, como a saúde, educação  segurança.

Diego Miranda, artesão.

O artesão Diego Miranda de 30 anos, diz estar preocupado com o que virá, pois há uma guerra entre as posições políticas de direita e esquerda. Miranda afirma estar pesquisando há tempos seus candidatos para saber quais são suas propostas. Acredita que as pessoas precisam  ter consciência e buscar se informar sobreelas, porque essas eleições vão mudar muitas coisas e fazer a diferença.

Stephanie Rocha, estudante.

A estudante Sthephanie Rocha de 18 anos, pensa diferente. Ela acha que poucas pessoas são representativas e que, quando o fazem, fazem mal. ” Mostram uma sociedade muito preconceituosa em todos os sentidos, racista, homofóbica, o que a maior parte é”, diz. A estudante afirma que isso lhe dá medo e raiva, pois não vê pautas importantes sendo representadas, como a saúde e segurança.

Já Indiara Nogueira, vendedora autônoma de 40 anos, tem o seu candidato definido e afirma não confiar no IBOPE. Indiara pensa que a situação no país está complicada, que precisa de algo novo e  de mudanças radicais, pois é mãe e diz não saber o que esperar para o futuro quando pensa na questão da violência e da situação financeira. “Eu voto pela mudança mesmo, por um cara novo. Se ele fizer alguma coisa boa, parabéns, vamos viver bem. Se continuar a mesma coisa, a gente vai ter que batalhar por algo melhor”, finaliza.

Helen Maciel, aposentada.

Aposentada, Helen Maciel, 70 anos,  tem muita expectativa sobre as eleições e acredita que as coisas possam mudar. Para ela  isso depende de cada um, principalmente da juventude que é a esperança para os idosos, diz. Sobre a violência que Helen percebe no Brasil hoje, afirma ser a falta da educação e opções para os jovens, afetados também pelo desemprego. “As pessoas querem demonstrar a indignação, então fazem esses ataques, vão para o rumo errado”.

Gabriel Pizarro, estudante de direito.

O cenário do Brasil é indescritível, ressalta Gabriel Pizarro, estudante de direito. Ele conta que na política hoje há muitas propostas, mas que a maioria não são cumpridas, e que os candidatos se aproveitam da ignorância da população para se elegerem. Também afirma que falta imparcialidade, e percebe que realmente não há em quem votar.

Todos conhecem as pesquisas que são informadas pelos veículos de comunicação. Mas você já se perguntou de que maneira as pesquisas chegam a estes números, quantas pessoas foram entrevistadas para isso, e quais critérios levados em consideração para a entrevista dessas pessoas?  Para entendermos essa medição, utilizamos dados do IBOPE, órgão responsável pela realização das pesquisas eleitorais.

Como são feitas essas pesquisas?

É importante saber que as pesquisas eleitorais não são feitas somente no período das eleições. De tempos em tempos, são feitas pesquisas sobre a popularidade de candidatos e partidos. No período eleitoral essas avaliações são mais frequentes.

As pesquisas ajudam aos partidos políticos a avaliarem o desempenho das suas campanhas e auxiliam o eleitor a analisar as chances de seu candidato vencer nas eleições. Diferente de um censo, onde toda uma população é ouvida, as pesquisas eleitorais são realizadas levando em conta uma amostragem, isto é, um grupo de pessoas que representará toda a população.

As pessoas escolhidas para compor esse grupo são selecionadas levando em conta características que representam o conjunto de todos os eleitores. Estas características podem ser idade, gênero, escolaridade, distribuição de renda, entre muitos outros. A localidade costuma ser um fator muito importante. Não existe um número exato de pessoas entrevistadas.

O perfil dos eleitores que responderam à pesquisa é selecionado a partir de um banco de dados. As principais fontes utilizadas para essa coleta são o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Justiça Eleitoral.

Margem de Erro

Ainda que as pesquisas sejam feitas com vários critérios, dados confiáveis e a supervisão de um estatístico, elas não se baseiam em valores absolutos, mas, sim, em estimativas. Além disso, a validade dessas pesquisas depende da opinião pública, que varia constantemente.

A margem de erro é o índice que determina a estimativa máxima de erro que o resultado de uma pesquisa pode ter. Ela também determina quantas pessoas deverão ser entrevistadas. Quanto mais pessoas forem ouvidas, menos a margem de erro. A única maneira de uma pesquisa não apresentar margem de erro é com a realização de um censo, em que toda a população seja entrevistada.

Eleições 2018

Para as eleições de 2018, as pesquisas de intenção de voto para presidente  tem evidenciado as oscilações contextuais da conjuntura brasileira. Nos dias 17 e 19 de agosto de 2018 foi realizada a última pesquisa eleitoral antes do fim do prazo para a candidatura oficial.  A margem de erro estimada pelo IBOPE é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra. Para isso, foram entrevistados 2.002 votantes. O nível de confiança utilizado é de 95%. Isso quer dizer que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral.  A pesquisa foi realizada apresentando dois cenários diferentes. Um, se o ex Presidente Luís Inácio Lula da Silva, do PT, pudesse concorrer oficialmente à presidência e, outro, em que Fernando Haddad aparecia como opção do partido.

No cenário com Lula, ele estava à frente das pesquisas com 37%, seguido por Jair Bolsonaro com 18%. Já, no cenário com Haddad, quem lidera as pesquisas é Jair Bolsonaro com 20%, seguido por Marina Silva com 12% das intenções de voto.

Fonte: Dados Ibope
Fonte: Dados Ibope

E, em outro cenário, os entrevistados foram questionados apenas em quem pretendiam votar, sem serem apresentados a nomes de candidatos; essa é a chamada Pesquisa Espontânea. Nessa pesquisa, Lula lidera com 28%, seguido por Bolsonaro com 15% das intenções de voto.

 

Pesquisas recentes

Fonte: Dados Ibope

Uma pesquisa recente feita durante os dias 08 e 10 de setembro revelou que Jair Bolsonaro cresce 4 pontos percentuais e vai a 26% das intenções voto. Ciro Gomes oscila e tem 11%. A candidata Marina Silva oscila negativamente para 9%. Geraldo Alckmin tem 9%, Fernando Haddad oscila dentro da margem de erro da pesquisa e atinge 13% das intenções de voto.

Estes quatro candidatos aparecem tecnicamente empatados considerando a margem de erro. Os demais candidatos, variam de 0% até 3% das intenções de voto. Intenções de voto em branco ou nulo caíram e agora oscilam para 19%. Aqueles que não sabem ou não respondem se mantêm em 7%.

 

Reportagem  da acadêmica Gabriele Braga produzida para a Disciplina de Jornalismo Investigativo, durante o segundo semestre de 2018, sob orientação da professora Carla Torres.

Cada disco representando três décadas diferentes e estilos diferentes, e contendo altas doses de singularidade em sua sonoridade.

Gal Costa – Gal (1969)

   Em 1969 o AI-5 estava em alta. Caetano e Gil, presos, logo se exilaram em Londres. Sem seus dois membros fundadores e mais importantes, o tropicalismo estava fadado ao fim. Gal, sua protegida, se viu sozinha. Era a única figura de maior renome do movimento em seu país. Os Mutantes já haviam tomado independência e pulado fora. Nessas circunstâncias, Gal, capitaneando o tropicalismo, gravou seu disco mais lisérgico, experimental e agressivo. Com composições de Caetano, Gil, Jorge Ben, Roberto e Erasmo Carlos e Jards Macalé, o disco é repleto de groove e loucura. O disco já abre com uma guitarra berrando. Influenciado por Jimi Hendrix e Janis Joplin, o trabalho foge da brasilidade típica dos discos tropicalistas. A única veia meramente tropicalista aqui é a versão de País Tropical, um dos bilhões de hinos de Jorge Ben Jor, aqui num arranjo de samba rock lisérgico com participação de Gil e Caetano festejando pela faixa. No disco, Gal deixa seu lado mais doce de lado e taca o louco. Se esguela e ruge como uma leoa dominando todo o território. Um grito de liberdade, fúria e feminismo em épocas opressoras. Conta também com o auxílio de seu clã, em especial o guitarrista Lanny Gordin, seu mais fiel escudeiro naqueles tempos. Com sua guitarra de timbres por vezes cristalinos e limpos, por ora ácidos e distorcidos, soa como se fosse o segundo protagonista de todo o disco. Gal e Gordin parecem dialogar durante toda sua meia hora de duração. O contrabaixo também, para falar a verdade. Num timbre limpo e ressonante, as linhas dançam pelo disco inteiro, num ritual de celebração à beleza da música. Esse é um dos maiores prazeres que os discos brasileiros daquela época nos proporcionam, sua extrema preocupação com os graves. O contrabaixo nos trabalhos daquele período pulsam na mente. A sonoridade suja, psicodélica e feia de Gal instaura em nossos ouvidos o ambiente de angústia e raiva da época, e de sua intérprete. Mas é claro que também há momentos de calma e beleza em meio ao caos. Um disco fundamental.

Destaque: The Empty Boat – Uma composição tranquila de Caetano Veloso transformada num monstro lisérgico. Começa na leveza dos dias de glória e termina na loucura diária de um paranóico suicida. Mas tudo controlado, é claro. Jards Macalé participa berrando e se contorcendo junto a Gal, como se estivessem numa orgia de mortos, celebrando em meio a um groove irresistível. A guitarra cuspindo ácido e as linhas de baixo dançando sobre os corpos.

Jards Macalé (1972)

 Macalé foi um dos colaboradores menores do movimento tropicalista, sempre nos bastidores, compondo em parceria com os letristas Capinam e Wally Salomão. São eles os responsáveis por hinos de uma geração, como Gotham City, gravada pelos Brazões e Camisa de Vênus, e defendida por Macalé no IV Festival Internacional da Canção em 1969, numa apresentação caótica e malfadada. Na letra, a cidade violenta e sombria do Batman é usada como metáfora daqueles tempos estranhos. E também há Vapor Barato, gravada por Gal e O Rappa, resumindo toda a angústia de uma geração com desejo de fugir de toda aquela opressão militar. Em 1972, acompanhado de Lanny Gordin no baixo e Tutty Moreno na bateria, foi sua vez de entrar de vez na cena, com seu homônimo disco de estreia. Pós-tropicalista, até hoje não superado pelo próprio músico e por nada que veio depois, é um disco estranho e único na história. Não há como definir exatamente este trabalho. De uma inigualável beleza triste, Macalé mistura diversos estilos, às vezes em uma única música. Há samba, rock and roll, jazz e bossa nova só na faixa de abertura, Farinha do Desprezo. O disco soa orgânico devido a sua produção crua. Os arranjos apresentam quebras de ritmo dinâmicas e progressivas. Tudo muito paranoico e pertinente à época. As letras, escritas na maioria pelos seus dois colaboradores recorrentes já citados, seguem o desespero e melancolia de suas composições anteriores. A poética aqui é de uma beleza estonteante. Preste atenção em Meu Amor Me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata e diga se estou errado. O clima pesado e mórbido domina o álbum, exalando a melancolia dos tempos mais pesados da ditadura. As melodias passeiam pelo deprimido e pelo faceiro, este último devido mais uma vez à força do contrabaixo, que dança pelas músicas. Lanny também gravou os solos de violão, exibindo uma outra faceta de sua musicalidade. E assim temos mais uma obra-prima fundamental. Infelizmente (ou seria felizmente?), o disco não teve repercussão nenhuma, forçando Macalé a realizar trabalhos mais tradicionais, mas nada comerciais. E nosso herói maldito até hoje segue na ”periferia da música brasileira”. Um autêntico artista cult em terras tupiniquins.

Destaque: Mal Secreto – Uma das composições mais simples do disco, com poucas quebras de ritmo. Ainda sim complexa. Um samba-bossa-jazz de andamento calmo e emoção neutra como pano de fundo para uma letra, de autoria de Wally Salomão, que representa a maior característica dos brasileiros, de acordo com Macalé: nossa aparente alegria em momentos de tristeza. Mesmo na pior, seguimos em frente. Apesar disso, a dor permanece, mascarada em nossas entranhas. O baixo de Lanny dá toda a vivacidade à faixa. E há uma rápida quebra de ritmo, aumentado durante o trecho em que o eu-lírico se mostra vulnerável na solidão de todos os dias. Ao final, Tutty acrescenta uma leve ginga em meio à dor cotidiana.

Lobão e os Ronaldos – Ronaldo Foi Pra Guerra (1984)

 Após sair da Blitz e lançar seu primeiro disco solo, sem sucesso nenhum, Lobão se viu na necessidade de criar outra banda. Assim surgiram os Ronaldos e o melhor disco da cena roqueira brasileira dos anos 80. O ”Lobão” foi acrescentado por pressão da gravadora, com olhos centrados na grana, aproveitando o renome de nosso ser mais odiado. O trabalho é influenciado pela new wave da época, mas ainda sim altamente único, sem dever nada às suas influências. É um disco bem daquela época, e muito diferente também. A sonoridade não é tão pasteurizada quanto trabalhos relativos. Para os meus ouvidos, pelo menos, soa bastante atual, apenas com uma produção mais precária. Ou talvez eu esteja louco. Há uma leve crueza no som que me agrada bastante. Adoro os timbres dos instrumentos nesse disco. Sem aquelas baterias eletrônicas, moda nos anos 80, altamente datadas que abusavam do mal gosto da época. Fuja disso. Já o disco em si, é uma coleção de petardos pop. A angústia adolescente em seus melhores momentos. Há alegria, melancolia, ganchos, ganchos e mais ganchos. É também um disco simples, estúpido, bobo, jovem, chiclete e que ainda conta com Alice Pink Pank, a holandesa que conquistou o Brasil naquela década tão amada e odiada ao mesmo tempo. O leve sotaque gringo em seus vocais é um verdadeiro paraíso na Terra. Mais uma vez, perdão pela repetição. Também tocou os teclados, aqui discretos e nada poluídos. Alice foi o George Harrison dos Ronaldos, uma artesã em seu instrumento, acrescentando muito fazendo pouco. Toda vez que escuto Ronaldo Foi Pra Guerra, roda pela minha cabeça um filme adolescente dos anos 80. Aqueles de colegiais fazendo bobagem. Aliás, o disco inteiro poderia muito bem ser a trilha perfeita de um filme assim. Ou então nossos filmes bobos adolescentes da década de 80, como Areias Escaldantes. Sem pé nem cabeça, trilha repleta de bandas emergentes na época e altamente divertido. Na verdade, poderia muito bem virar um filme, todo baseado na sua sonoridade e temática melancólica e estúpida. Fica aí a dica de um revival oitentista nos nossos cinemas.

Destaque: Teoria da Relatividade – O single perfeito que nunca foi. Tem todo apelo radiofônico e nem sequer foi cogitado pra isso. Uma puta falta de sacanagem. Uma perfeita tradução do que podemos chamar por música pop, é um rock and roll animado com melodia das mais agradáveis, arranjos cheios de gancho e uma letra que descreve as típicas frustrações adolescentes. O cara lá, sozinho em sua cama, lendo, enquanto sua garota tá na cama com outro rapaz. E ele continua lá, lendo. Um verdadeiro ser humano tolerante esse. Os toques de teclado também fazem toda a diferença, com sabor de goma de mascar de tutti-frutti açucarado.

 

O jornalista Lucas Amorim em um dos centros de acolhimento da FSF. Fotos: arquivo pessoal

A ONG Fraternidade Sem Fronteiras (FSF) atua na implantação de centros de acolhimento nas regiões mais pobres do mundo, onde a fome, a miséria e o desamparo fazem vítimas inocentes todos os dias.

Fundada em 2009 e com sede localizada em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, a FSF começou seu trabalho na África e, atualmente, conta com 26 centros de acolhimento localizados na região entre Moçambique e Madagascar. Tais locais recebem aproximadamente 12 mil crianças, sendo que 9 mil são órfãs.

O santa-mariense Lucas Leivas Amorim, graduado pelo curso de jornalismo da Universidade Franciscana, está hoje(10) voltando de seus 10 dias na África. Amorim confessa que sempre teve o sonho de viajar para fora do Brasil para doar um pouco de si. Quando descobriu que com a FSF tinha essa possibilidade, soube na hora ser isso o que queria fazer.

Amorim participando de atividades recreativas com as crianças.

Junto com mais 15 brasileiros, Lucas ficou hospedado em alojamentos dos centros de acolhimento das aldeias de Moçambique. A caravana da educação da qual faziam parte tem o objetivo de levar materiais escolares, treinamento para os monitores da aldeia e atividades recreativas para as crianças.

O jornalista relata que as dificuldade são muitas. As aldeias que visitou são miseráveis, em situação que nunca presenciou no Brasil. “O melhor é ver que a instituição está fazendo sua parte e ajudando de alguma forma, mesmo que não mude o mundo, vai modificar a vida de muitos”, afirma Amorim.

Moradores da aldeia retirando água do poço.

Nos centros de acolhimentos as crianças, jovens e idosos da aldeia recebem comida, água potável, atendimento de saúde e higiene, atividades recreativas e culturais, aulas diárias e material escolar. Esse amparo se dá por meio do apadrinhamento feito por voluntários no Brasil e em várias partes do mundo. Os padrinhos escolhem os projetos no site e contribuem mensalmente. Cada vez que uma nova pessoa apadrinha, uma nova criança pode entrar no centro de acolhimento.

Amorim ressalta que o que mais chamou sua atenção nessa experiência. Observou que embora o povo seja sofrido demais, eles nunca deixam de sorrir. “Estão sempre alegres celebrando a vida e agradecendo por ela com orações, canções e muita dança”, relembra.

Por conta do trabalho significativo durante todos esse anos, a FSF recebeu o Prêmio Você e a Paz, em 2016, na categoria “Instituição que Realiza”.

Na América Latina, número de pessoas contaminadas pelo vírus da AIDS aumentou entre 2015 e 2016. O RS apresenta a segunda maior taxa de detecção de aids no país, com 38,3 casos para cada 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional aopontada em 19,7 casos por 100 mil habitantes.Imagem: Pixaby

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença de origem infecciosa, causada pelo vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Reconhecida como uma nova doença em 1981, os Estados Unidos da América presenciaram um boom de mortes em decorrência de infecções oportunistas incomuns e de neoplasias raras, sendo as vítimas, em sua grande maioria, homens homossexuais. Com o passar dos anos, houve uma heterossexualização da doença e, atualmente, as mulheres representam metade das pessoas portadoras do vírus em todo o mundo.

A transmissão da doença ocorre através de sangue e secreções humanas contaminadas e, verticalmente, de mãe para filho durante a gravidez e/ou o parto. O compartilhamento de seringas contaminadas com o vírus, como é caso de usuários de drogas injetáveis, foi uma das principais formas de transmissão na década de 1980 no Brasil. Hoje, 80% dos adultos contraem o vírus por via sexual.

Em um formulário respondido por 62 habitantes de Santa Maria, 8,1% das pessoas afirmaram que não usam preservativo em suas relações sexuais; 29% declaram que “depende da situação”; 30,6% protegem-se quando não estão em relações monogâmicas, e 32,3% usam camisinha em todas as relações sexuais. Se o número de pessoas que tem ou já tiveram relações sexuais sem camisinha é de 67,7%, qual a justificativa para um percentual de quase 50% que nunca realizou um teste de HIV? Medo? Vergonha? O velho pensamento de que “não vai acontecer comigo”?  

Desde o seu surgimento, a AIDS é uma doença acompanhada de rótulos. Se os efeitos físicos costumavam ser extremamente agressivos, as consequências psicológicas não ficavam para trás. No Brasil, o tabu em relação à doença diminuiu quando figuras públicas, como o cantor e compositor Cazuza, mostraram, na cara e na coragem, as consequências de ser soropositivo. Cazuza faleceu em 1990 e, ainda em 1996, quando o Brasil estava com 25 mil casos diagnosticados no Brasil, a taxa de mortalidade representava, em média, 60%, ou seja, 15 mil pessoas vieram a falecer em consequência da AIDS em apenas um ano.

A revolução em relação ao número de mortes surge com os inibidores de protease em 1997, onde, inacreditavelmente, pessoas hospitalizadas começaram a ganhar peso e “voltaram à vida”, como relata o médico Drauzio Varella no vídeo “História da AIDS no Brasil”, disponível em seu canal no YouTube.

A quebra de patente ampliou o tratamento

A farmacêutica bioquímica e mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Renata Soccal, explica que, quando o tratamento contra o vírus HIV surgiu, somente uma determinada parcela de pessoas contaminadas tinha acesso à medicação. Era necessário estar com menos de 500 linfócitos CD4 no organismo, ou seja, com a doença avançada e com uma carência de células eficientes atuando no sistema imune. Quem estava vulnerável às infecções, iniciava o tratamento com os retrovirais. Algum tempo depois, pacientes com menos de 350 linfócitos também passaram a receber a medicação – crescia, assim, o número de pessoas amparadas pelo tratamento. [dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O que são linfócitos? Linfócitos são os glóbulos brancos responsáveis por manter o sistema imune funcionando.[/dropshadowbox]

Hoje, em termos de diagnóstico e tratamento, o Brasil se equipara aos países de primeiro mundo. Segundo o Portal Saúde do Governo Federal, o total de brasileiros com acesso ao tratamento com antirretrovirais no país mais do que dobrou entre 2009 e 2015, passando de 231 mil pacientes (2009) para 455 mil (2015). Atualmente, o SUS oferece, gratuitamente, 22 medicamentos para os pacientes soropositivos. Desse total, 11 são produzidos no Brasil.

Em maio de 2007, o Brasil quebrou a patente do Efavirenz, um anti-retroviral consumido por 75 mil pacientes de Aids na rede pública brasileira, à época.  Imagem: Pixabay

Todas as pessoas contaminadas com o vírus HIV podem e devem realizar o tratamento imediatamente. Embora o portador do vírus ainda não sinta a necessidade de ser medicado, ele evita que o vírus se prolifere e que outras pessoas sejam contaminadas, pois à medida que o organismo responde bem ao tratamento, o paciente consegue zerar a carga viral. “A maioria das pessoas que responde bem ao tratamento consegue eliminar o vírus circulante. É como se o paciente fosse negativo para o HIV – mesmo contaminado, ele não passa o vírus”, explica Renata.[dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O que é vírus circulante? Vírus circulante é a quantidade de vírus HIV presente na circulação sanguínea do paciente.[/dropshadowbox]

Quanto mais precoce o diagnóstico, menor o risco de contaminação em rede. Foto: Pixabay

É importante esclarecer que nem todo o portador do vírus HIV vai desenvolver a AIDS ao longo da vida. As consequências dependem da demora em diagnosticar o vírus e, principalmente, da responsabilidade do paciente com o tratamento. A síndrome retroviral; período de febre, tontura e vômito que ocorre em torno de duas semanas após a contaminação, é um dos momentos em que ocorre a busca pelo teste de HIV. Em casos onde o resultado é positivo, a pessoa já pode começar o tratamento. A farmacêutica atua no LAC, o Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), que recebe gaúchos de diversas cidades do Estado, desde Uruguaiana até Venâncio Aires. O HUSM conta com um equipamento único na região, capaz de visualizar a carga viral de cada indivíduo portador do vírus, ou seja, a quantidade de linfócitos e de vírus circulantes.

Foco na prevenção

A política de quebra de patentes de remédios e a fabricação de genéricos  durante o governo de Luis Inácio Lula da Silva diminuiu em 50% o número de casos fatais desde 1996. O “pós-contaminação” está, em teoria, bem encaminhado. Agora, os holofotes estão – ou deveriam estar – focados na “não-contaminação”.

A médica infectologista dra. Liliane Pacheco afirma que as políticas de prevenção ainda são falhas e deixam uma parcela considerável da população de fora: “Acredito que centros de testagem funcionais, assim como os de aconselhamento, deveriam ser amplamente disponíveis”.

A farmacêutica Renata concorda: “Nós vivemos em um mundo paralelo! A questão de extensão é falha. O ideal seria que tivéssemos uma melhor e mais ampla comunicação entre os lados, por exemplo, levando médicos para conversar com os jovens sobre AIDS dentro das escolas”.

A falta de atenção da mídia também é apontada por ambas. Falar sobre AIDS apenas no dia 1º de dezembro, no Dia Internacional do Combate à AIDS, ainda é pouco. “Acredito que a mídia deve deixar bem claro que a prevenção é a melhor alternativa. Embora tenhamos avanços reais em termos de terapia antirretroviral, o aumento de casos de infecção existe e o vírus continua levando consequências danosas para a saúde física e emocional das pessoas contaminadas”, observa a médica Liliane.

Abandono do tratamento

É preciso ampliar a compreensão em torno dos fatores que afetam o paciente. Não se trata apenas de medicar. Imagem: Pixabay

Para além das questões de prevenção e de tratamento, uma das problemáticas no Brasil é o abandono da intervenção. Esse abandono é o resultado de uma soma de fatores, como depressão, falta de disciplina com as consultas e medicamentos e problemas financeiros. Como, então, convencer os pacientes a não desistirem do tratamento? Para Renata, é preciso existir, acima de tudo, respeito com os pacientes: “É possível perceber que a relação médico-paciente é mais pessoal do que padronizada, ou seja, pode existir preconceito por parte dos médicos.”

Mesmo que, de uma forma geral, os currículos dos cursos de medicina contenham disciplinas que abordam a bioética na relação médico-paciente, Liliane afirma que o enfoque realmente depende muito da experiência dos professores. Em uma situação tão vulnerável, onde qualquer motivo pode ser o suficiente para fazer um paciente abandonar a medicação, as políticas públicas de suporte às pessoas portadoras de HIV também são essenciais. Somente remédios não garantem uma “vida normal”, é preciso sentir-se inserido no espaço.

A AIDS não tem classe, gênero, idade ou orientação sexual. Ela atinge pessoas que trabalham com sexo, assim como surpreende casais que estão juntos há mais de 30 anos, onde um dos envolvidos está em uma relação extraconjugal. Assim como é preciso educar a população para que conheça os próprios direitos – inclusive o direito ao respeito -, deve-se acabar com o estigma de que existe um “grupo de risco”. Para estar no grupo de risco, basta ter uma relação sexual sem preservativo.

Os especialistas explicam que o aumento no número de pessoas contaminadas com o vírus HIV se dá, em parte, em função da atual qualidade dos medicamentos. Isso mesmo. Renata explica que, no passado, a medicação alterava até a cor da pele dos pacientes. A doença era visível. Hoje, o HIV não tem cara e, no momento da relação sexual, ninguém imagina que uma pessoa que aparentemente está com a saúde perfeita possa oferecer algum risco – mas pode. [dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]Onde eu posso fazer o teste de HIV em Santa Maria? Os testes rápidos, que apresentam o diagnóstico em 15 minutos, podem ser feitos nas unidades básicas de saúde. Na Casa Treze de Maio, o exame rápido é oferecido de segunda à sexta-feira, das 8h às 11h30min, e o teste tradicional pode ser feito de segunda à sexta-feira, das 8h15min às 11h15min, ou nas terças-feiras e quintas-feiras, das 15h15min às 17h30min. [/dropshadowbox] [dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O que eu preciso levar? Para fazer o teste, é necessário levar documento de identificação e cartão do SUS. A Casa Treze de Maio fica na Rua 13 de maio, 35, no bairro Centro. Esclareça as suas dúvidas pelo número (55) 3921 – 1263. [/dropshadowbox]

O futuro da AIDS

Em março deste ano, a maior agência sem fins lucrativos para pesquisa sobre HIV, a Fundação amFAR, afirmou que o ano de 2020 será marcado pela descoberta da cura da AIDS. Para alcançar o objetivo, 100 milhões de dólares serão direcionados à pesquisa. A farmacêutica Renata explica que, até hoje, o vírus HIV consegue se esconder em locais aonde o medicamento não chega. Mesmo quando a carga viral está zerada, por exemplo, é possível que o vírus esteja “dormindo”, ou seja, torne-se indetectável. Essa é a grande questão da cura: encontrar um medicamento que chegue ao sítio onde está o vírus latente. [dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O que é vírus latente? É o vírus adormecido, aquele que não está na circulação sanguínea. [/dropshadowbox] [dropshadowbox align=”center” effect=”raised” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]O que é sítio? Sítio é um local do corpo, por exemplo, os linfonodos, onde o vírus fica escondido, ou seja, a medicação não consegue atingi-lo. Atualmente, quando o paciente zera a carga viral, ele consegue não transmitir o vírus, porém, em situações onde de baixa imunidade, os vírus latentes “acordam” e vão para a corrente sanguínea. Na possibilidade de cura, nenhum vírus “acordaria” com a baixa da imunidade, pois o medicamento controlaria, também, os vírus latentes. É o vírus adormecido, aquele que não está na circulação sanguínea. [/dropshadowbox]

A médica Liliane afirma que é inquestionável que se está caminhando ao encontro da cura, mas apostar em uma data é otimismo demasiado, uma vez que os estudos ainda estão em andamento e podem sofrer diversas alterações até a aprovação.

Mercado farmacêutico brasileiro deve atingir US$ 48 bilhões em 2020. Cientistas colocam em dúvida o interesse do setor em medicamentos que efetivamente curem a AIDS. Foto: Pixabay

Questionada sobre possíveis interesses da indústria farmacêutica em controlar pesquisas e/ou divulgá-las, Renata diz que é difícil posicionar-se. “As doenças crônicas, onde o paciente precisa ser medicado durante toda a vida, geram muito dinheiro para a indústria farmacêutica. Isso é inquestionável, por isso, eu não me arrisco a dizer se existe algum tipo de interesse envolvido. Infelizmente, não temos como saber”, lamenta a farmacêutica.

O fato é que repercussões mundiais resultaram em ações locais que transformaram o cenário da doença, entretanto, o ano de 2016 mostrou que a América Latina pode estar caminhando em direção oposta ao restante do planeta – o número de pessoas contaminadas aumentou de 2015 para 2016. A torcida para que a cura da AIDS seja encontrada é antiga e, cada vez mais, embasada em possibilidades concretas, porém, não se pode perder o foco: existiam, em 2015, cerca de 37 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo, incluindo crianças e adultos. Dessas, em torno de 827 mil estavam no Brasil, sendo 13% ainda não diagnosticadas. Segundo um estudo divulgado pela revista “The Lancet HIV” em agosto de 2016, cerca de 2,5 milhões de pessoas ainda são infectadas por HIV todos os anos.

“Tudo em nome do amor. Essa é a vida que eu quis!”, cantou Cazuza. Aqui, na América Latina, o amor continua sendo a resposta perfeita para a fome, para a miséria, para a corrupção e para o medo. Que seja, também, a resposta para a AIDS: tudo em nome do amor, mas usando camisinha, por favor!

Por Manuela Fantinel para a disciplina de Jornalismo Científico

Legenda: Doze artistas visuais participam da mostra (Imagem: Divulgação)

A Sala Monet Plaza Arte inaugura, nesta quinta-feira,08, a mostra “Orixás: Totem de Poder”. Com curadoria e expografia de Márcio Flores, a exposição busca divulgar e promover a cultura afro-brasileira através do batuque no Rio Grande do Sul, com seus orixás e toda a simbologia que carregam, mostrando seus signos, significados, elementos, cores e formas. A exposição segue até 30 de junho.

São 12 peças assinadas por 12 artistas visuais que utilizam sua própria linguagem, percepções, elementos da cultura africana com diferentes materiais.

ARTISTAS E DIVINDADES REPRESENTADAS

Rogério Lima (Bará) / Helena Macedo (Ogum) / Cristiane Ziegler (Xangô) / Círia Moro (Obá) / Jane Z (Oiá) / Marcia Tomasi Vendrusculo (Ossâe) / Cirlene Ereno (Xapanã) / Debora Irion (Odé) / Deniyàmi (Otim) / Elzi Mezzomo (Oxum) / Ive Flores (Iemanjá) / Luciano Santos (Oxalá).

 

A mostra “Orixás: Totem de Poder” é realizada pelo Sesc Santa Maria, com apoio do Museu de Arte de Santa Maria (MASM), Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer e Prefeitura Municipal e integra a programação da 7ª Aldeia Sesc Imembuy. 

 

Fonte: Superintendência de Comunicação da Prefeitura Municipal de Santa Maria.