
Projeto de lei em discussão prevê a proibição do uso de celulares nas escolas
O Congresso e o Ministério da Educação (MEC) buscam aprovar até o final do ano o projeto de lei que proíbe o uso de celulares nas escolas, tanto públicas quanto privadas.
O Congresso e o Ministério da Educação (MEC) buscam aprovar até o final do ano o projeto de lei que proíbe o uso de celulares nas escolas, tanto públicas quanto privadas.
Para a psicologia, o termo “nomofobia” indica uma espécie de dependência digital, isto é, a dificuldade em estar longe de aparelhos digitais e de tecnologia, seja celular, computador ou videogame. O sufixo “fobia” se refere à
A Agência CentralSul de Notícias faz parte do Laboratório de Jornalismo Impresso e Online do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana (UFN) em Santa Maria/RS (Brasil).
O Congresso e o Ministério da Educação (MEC) buscam aprovar até o final do ano o projeto de lei que proíbe o uso de celulares nas escolas, tanto públicas quanto privadas. Os envolvidos acreditam que o tema já está bem encaminhado e não enfrentará grandes obstáculos. Especialistas afirmam que o uso de celulares nas escolas prejudica o desenvolvimento dos alunos e a capacidade de concentração. Alguns países como Finlândia, Holanda, Portugal, Espanha e Estados Unidos já implementaram restrições ou proibições em relação ao uso desses dispositivos. Uma pesquisa revelou que 62% da população brasileira é favorável à proibição do uso de celulares nas escolas.
O projeto de lei que está sendo discutido na Câmara dos Deputados já havia sido apresentado em 2015 e sugere que alunos da educação infantil até o 5º ano não possam portar celulares. Já para os estudantes do 6º ao 9º ano e do ensino médio, a proposta permite a posse do aparelho, mas proíbe o uso durante as aulas e recreios, exceto em atividades pedagógicas supervisionadas. O MEC tem adotado uma abordagem cautelosa, evitando a demonização da tecnologia e buscando incluir diretrizes sobre educação midiática e uso responsável de celulares no projeto de lei. Se aprovada, a nova legislação será aplicada em todo o Brasil, com as redes de ensino, públicas e privadas, definindo a implementação.
Ainda que não haja uma determinação nacional, 28% das instituições de ensino urbanas e rurais já implementam restrições rígidas em relação aos smartphones, segundo a pesquisa TIC Educação 2023, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil em agosto deste ano.
Letícia Shio, professora de história e coordenadora pedagógica da Escola Básica Estadual Cicero Barreto, analisa o impacto da lei que, se aprovada, regulamentará o uso de celulares nas escolas. “Enquanto no ensino fundamental os alunos raramente trazem celulares e a falta desse recurso não causa problemas, nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio a situação é diferente. Os alunos frequentemente usam os dispositivos para fins pedagógicos, mas há reclamações sobre distrações e a gestão inadequada do uso do aparelho, o que afeta o desempenho escolar e o bem-estar dos estudantes”, afirma Letícia.
Letícia destaca que muitos alunos não conseguem administrar o tempo de uso do celular, resultando em noites mal dormidas e até conflitos online entre colegas, que se manifestam fora do ambiente escolar. Embora algumas escolas proíbam totalmente o uso de celulares, ela observa que isso pode levar a um aumento na interação entre os alunos, e garantir melhorias no aprendizado. “No entanto, a resistência à proibição é esperada, especialmente entre aqueles que já estão acostumados a ter acesso aos dispositivos durante a jornada escolar”, complementa a professora.
Tiago Machado, de 17 anos, estudante do segundo ano, comenta sobre a proibição de celulares nas escolas que “alguns alunos usam o celular para emergências, como contatar os pais. Por outro lado, muitos se distraem, utilizando os dispositivos para tarefas não escolares, ouvindo música alta ou jogando durante as aulas, o que pode atrapalhar o aprendizado”. Para Tiago, falta um limite e um controle do uso dos celulares.
Educadores enfrentam desafios crescentes com o uso de celulares em sala de aula, que têm afetado a concentração dos alunos. O professor de Matemática Davi Homercher ressaltou que “muitos estudantes não conseguem controlar o uso dos dispositivos, que deveriam ser ferramentas pedagógicas, mas acabam causando distrações. A situação se torna ainda mais complicada quando os alunos se perdem nas redes sociais, exigindo que os professores interrompam as aulas para retomar a atenção da turma. Além de prejudicar o aprendizado, o uso excessivo do celular tem impactado a socialização dos jovens, que se tornam cada vez mais solitários e desconectados de interações sociais. A proposta de limitar o uso de celulares em escolas públicas é vista como uma medida benéfica para o desenvolvimento social e educacional dos alunos”. O docente sugere que as escolas adotem regras mais rigorosas sobre o uso de celulares, citando exemplos de instituições no Rio de Janeiro e em Porto Alegre que já implementaram restrições com sucesso.
Os especialistas afirmam que a hiperconexão pode afetar a aprendizagem e a saúde mental dos alunos. O uso excessivo dos aparelhos também ocorre dentro de casa. Portanto, é fundamental que educadores e pais estejam atentos a esses impactos, buscando estratégias para promover um uso equilibrado da tecnologia.
Para a psicologia, o termo “nomofobia” indica uma espécie de dependência digital, isto é, a dificuldade em estar longe de aparelhos digitais e de tecnologia, seja celular, computador ou videogame. O sufixo “fobia” se refere à palavra grega “phóbos”, que significa “medo”. Logo, a nomofobia é um termo que denota o medo ou o descontrole em qualquer situação que separe o sujeito de algum objeto tecnológico, sendo que esse termo parece se configurar enquanto um sintoma de algum tipo de patologia psíquica ou a própria patologia em si.
Mais da metade da população brasileira não consegue ficar sem usar o celular durante um dia inteiro. Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) Conecta. De acordo com os dados, entre as duas mil pessoas entrevistadas das classes A B e C, 52% afirmaram que não conseguem ficar sem usar o celular por um dia. Entre a outra metade da população, 18% afirmou que podem, sim, ficar cerca de 24 horas sem o aparelho e outros 30% declararam que podem ficar seu seus smartphones por até mais tempo do que um dia. Dentro do grupo que disse conseguir ficar sem utilizar o celular, 8% afirmaram que aguentam no máximo uma hora, 11% falaram que é possível ficar longe por duas ou três horas e outros 11% disseram que até seis horas é um número alcançável. Apenas 7% informou que consegue ficar 12 horas longe do aparelho. No entanto, 15% dos entrevistados revelaram que não conseguem ficar sem smartphone em momento algum.
Segundo a pesquisa, três em cada dez brasileiros (31%) disseram que os smartphones não afetam suas vidas negativamente. Outros, no entanto, citaram as más influências do aparelho em suas vidas: 27% das pessoas afirmaram que se sentem atingidas pelo dispositivo na hora de dormir; 23% indicaram que o aparelho afeta seus relacionamento com terceiros; 23% também apontaram distração nas tarefas diárias; 16% disseram que o uso atrapalha no âmbito profissional e familiar; 12% revelaram ser atrapalhados com ligações e mensagens enquanto dirigem; 9% disseram que sua saúde é afetada de maneira negativa; 8% se sentem afetados no ambiente escolar e 6% apontam que o smartphone atrapalha na vida sexual.
A psicóloga Larissa Goya Pierry define: “É muito amplo o escopo que engloba o uso excessivo de celulares como um catalisador para processos depressivos/ansiosos, mas uma das questões mais relevantes, acredito que seja a das redes sociais enquanto propagadoras de modelos de vidas perfeitas e inalcançáveis, por exemplo, através dos digitais influencers”. A tentativa obsessiva de se adequar a determinados padrões irreais pode, sim, ser algo que provoque uma sensação de ansiedade, relacionados à autoimagem e à desvalorização da própria realidade, pela sensação de “não ser suficiente”.
Larissa ainda ressalta que essa própria sensação de nunca ser suficiente é o que está sendo vendida pelo modelo capitalista, ao incentivar a obsolescência programada de diversos dispositivos tecnológicos, cada vez em maior nível, em excesso, enquanto o sujeito e sua singularidade vão se apagando.
“O uso excessivo do celular e das redes sociais pode se configurar como um grave problema na vida da pessoa se isso estiver lhe trazendo sofrimento e a impedindo de viver como antes, de manter relações sociais e se envolver com seus projetos pessoais, trabalho ou estudo. Afinal, trata-se de algo que remete a uma espécie de narcisismo, estabelece-se uma relação apenas da pessoa com seu celular, excluindo qualquer outro elemento”, destaca Larissa.
“Muitas vezes fico no celular em vez de estudar ou passar um tempo com minha família e amigos. Não consigo ficar sem o celular, fico muito ansiosa e nervosa”, desabafa Juliana Vargas, acadêmica de Enfermagem da UFN. A psicóloga esclarece que é importante que cada um se pergunte de que forma a tecnologia está sendo utilizada em suas vidas, pois, não se trata de abolir redes sociais ou excluir a tecnologia, mas sim, de se apropriar dessa tecnologia de forma que complemente nossas vidas e nossas experiências, e não que as substituam.
“Antigamente, quando usava direto o celular, perdia um bom tempo do meu dia vendo redes sociais que não melhoravam em nada meu relacionamento com amigos, minhas notas na universidade ou mesmo minha produtividade no grupo de pesquisa”, confessa Rudimar Spannemberg, acadêmico de Engenharia Elétrica UFSM. Ele admite que passava horas vendo o que os outros estavam fazendo enquanto a vida ficava parada.
Larissa Goya destaca que caso essa situação de dependência digital esteja alcançando um nível insustentável e trazendo muito sofrimento psíquico, é importante que a pessoa ou sua família busquem ajuda profissional com um profissional da Psicologia, que está habilitado a realizar essa escuta qualificada.
Texto produzido na disciplina de Jornalismo III, no 2º semestre de 2019, e supervisionado pela professora Glaíse Palma.