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Santa Maria, RS, Brazil

Crônica

Saudades de mim

Lembra quando a gente achou que passaríamos 15 dias em casa dividindo os dias entre pães gostosos, livros que estavam há anos esperando uma chance e horas a fio com os olhos pregados em uma série

O futebol, ou simplesmente a minha vida

O gosto por partidas de futebol é algo que desde pequeno, com meus 9 ou 10 anos, de idade, possuo. Quando pequeno fui influenciado por meu pai e meu avô materno a gostar do esporte, os

Superação e Terra Vermelha

De longa data, vejo o passar do tempo como uma elipse de 24h. Só que, ao invés de um dia, refere-se a anos. A paixão pelo esporte, em específico ao tênis, é de tempos distantes. Algo

O depois da tempestade

Tenho notado certa esperança nesses últimos dias. Muito disso se deve pelo fato de que inúmeras pessoas estão sendo vacinadas contra o novo coronavírus. Se você ver o noticiário, vai notar alguns acontecimentos atípicos, como repórteres

Não nasci amando futebol

  Não nascemos amando tudo, tudo que amamos nos é apresentado pela primeira vez, às vezes vamos amar na hora e, às vezes, vamos construir esse amor. O futebol é assim, eu não nasci com gosto

À espera do abraço

Neste ano que passou, aprendemos a dar sorrisos com os olhos, a sofrermos com a falta de abraços. A distância foi como ferro em brasa que marca a pele, machuca, incomoda por um tempo, mas, aos

Levamos outro gol?

Era uma bela manhã de sol… ou melhor, não seria uma tarde chuvosa? Se bem que poderia estar de noite, né!? O lugar também fica difícil de descrever: pode ser na fila do banco, no cafezinho da padaria,

A Estagiária

Agora só falta mais um integrante para cada time: “Eu escolho o Murilo”, “E eu escolho o Bernardo”, falavam os capitães dos times de futebol da escola que, por sinal, sempre eram os mesmos, por colecionarem

Sonho que vira realidade

Era 2016. Matheus, o colorado apaixonado desde criança pelo seu time do coração, o Sport Club Internacional de Porto Alegre. Matheus morava na pequena e pacata cidade de Dilermando de Aguiar, município com pouco mais de

O convívio com a espera

No início todos contavam. Dez dias de pandemia. Trinta dias. Sessenta dias. E assim por diante. Até que paramos de contar. Agora que ninguém mais conta, já são mais de 400 dias. Grande quantidade deles carregados

Imagem: pexels

Lembra quando a gente achou que passaríamos 15 dias em casa dividindo os dias entre pães gostosos, livros que estavam há anos esperando uma chance e horas a fio com os olhos pregados em uma série qualquer? Lembra quando achamos que seria incrível trabalhar de casa, sem precisar acordar tão cedo para enfrentar o trânsito e livres para usar calças de pijama durante reuniões? 

Mas aquela ilusão de duas semanas se aproxima da marca de 500 mil mortos e  500 dias de isolamento (sem previsão de acabar) e estamos longe de conhecer todos os impactos que essa história terá em nosso futuro, além da óbvia saudade dos que partiram e de quem éramos.

Isolamento social parecia uma experiência que nos levaria de volta a nós mesmos, conectados ao que realmente gostávamos de fazer quando acompanhados de apenas nós mesmo ou das pessoas que vivem conosco. Parecia que seria possível isolar o enfrentamento a pandemia, as máscaras, o álcool em gel e “todos os protocolos de segurança” do lado de fora de casa. Aqui dentro ficaríamos acompanhados das calças de pijama, café quente, pão novo feito em casa, animais de estimação, plantas e pequenos ritos de autocuidado que salvaguardam a sanidade. Não que as expectativas de enfrentar 15 dias de pandemia (ô dó) fossem leves e positivas, havia muito medo e receio do que estava por vir,  mas nós éramos nós mesmos e usamos a memória do que conhecemos como um apoio para aguentar. E agora que quase não nos reconhecemos mais? 

É curioso visitar as memórias das primeiras semanas de isolamento e não conseguir se reconhecer naquilo que esperamos (re)encontrar quando o mundo puder ver a covid-19 como uma crise superada. As rotinas mudaram, as relações não são mais as mesmas, adaptamos o jeito de trabalhar e estudar e inventamos outras formas de celebrar os dias felizes. Diariamente chegam as notificações das redes sociais, “neste dia há 2 anos”, e tanta coisa mudou que é recorrente pensar “que saudades de mim”. 

Que saudades da energia que a gente tinha. Que saudades de mim num bar, que saudades de mim batendo perna por aí, que saudades de mim quando usava maquiagem de festa, que saudades de mim abraçando tanta gente. Que saudades da gente saudável na rua, na praia, nas salas de aula, dançando nas festas e na vida. 

Arcéli Ramos é jornalista, egressa do curso de Jornalismo da UFN e colaboradora da CentralSul.

O gosto por partidas de futebol é algo que desde pequeno, com meus 9 ou 10 anos, de idade, possuo. Quando pequeno fui influenciado por meu pai e meu avô materno a gostar do esporte, os dois fanáticos gremistas que acompanhavam quase todos os jogos do Grêmio.

Em minha casa, meu pai assistia aos jogos do Grêmio e também de várias equipes do interior do Rio Grande do Sul como, por exemplo, o Juventude de Caxias do Sul. Este que, desde aquela época, é meu segundo time do coração.

Ao redor de meu pai, eu ficava de olhos deslumbrados pelas jogadas, passes e gols que aconteciam nas partidas de futebol. A narração da partida e os gols com emoção fizeram com que eu, cada vez mais, gostasse desse esporte fantástico e sensacional.

Foto de Mike no Pexels

Não só de partidas de futebol eu gostava de assistir, gostava também de jogar, tanto em gramado, quadra, ou simples chão batido. O que eu mais queria era jogar, porque jogando futebol me sentia mais feliz e tudo era tão divertido.

O gosto pelo esporte também se passava no meu quadro e times de futebol de botão que ganhei de meu pai e que, muitas vezes, joguei com ele, meu irmão, primos ou, simplesmente, sozinho.

Foi no quadro de jogo de botão que aprendi a narrar partidas e a comentar os gols, e num simples quadro me imaginava em uma partida de verdade, onde eu era o narrador e o comentarista. A cada gol que saia, eu narrava com a emoção de como fosse uma partida real e eu estivesse narrando uma grande final. Quando saia um time de botão campeão, me sentia quase que um Galvão narrando para a televisão.

Com o passar dos anos troquei o quadro de botão por um videogame onde eu, na sala, na frente da televisão, continuei a narrar e comentar as partidas ainda com mais emoção. Mesmo gostando de narrar, meu sonho inicial era ser atleta profissional mas, como minha família não tinha condições,  foi por água abaixo meu plano de ser jogador e passei a pensar em outras profissões.

Ainda no ensino médio decidi fazer jornalismo e seguir meu sonho de trabalhar com esporte, só que de maneira diferente, não seria mais jogador e sim tentaria virar um narrador. Narrador que já era desde pequeno nos quadros de futebol de botão e no videogame em frente à televisão.

No ano de 2018 me inscrevi para o curso de Jornalismo na Universidade Franciscana, com a intenção de trabalhar com futebol e ser um dia um narrador ou comentarista profissional. Ao longo do curso tomei gosto por outras áreas do jornalismo, até pensei em mudar, porém meu gosto pelo esporte, especialmente o futebol, parece não acabar.

Cada vez mais gosto dessa modalidade esportiva. Com um convite de estágio, hoje eu atuo na área, trabalhando como produtor do programa de esportes JoGa Junto, da Rádio Medianeira 102.7, e tenho certeza que esse trabalho é o meu grande teste.

No ano de 2022 vou me formar e espero que, como narrador, comentarista ou repórter, a minha vida ganhar. Quem sabe algum dia serei como minhas inspirações, Glauco Pasa, Fernando Becker, Tino Marcos, Gustavo Berton, Paulo Brito, Galvão Bueno, Marco de Vargas ou um Pedro Ernesto Denardim e trazer muitas informações e fazer narrações.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Foto de cottonbro no Pexels

De longa data, vejo o passar do tempo como uma elipse de 24h. Só que, ao invés de um dia, refere-se a anos. A paixão pelo esporte, em específico ao tênis, é de tempos distantes. Algo que perpassava o deslumbrar dos jogos de Roland Garros e levava-me a entrar dentro de quadra, a ponto de me sentir um Nadal da vida, deslizando sobre o saibro. Difícil um jovem que já foi atleta não ter tido um ídolo para se inspirar. Nadal sempre foi mais que um jogador… um herói, dono de batalhas dentro e fora de quadra, contra adversários físicos e psicológicos. Superação… acredito que possa definir a admiração e o deslumbre acerca do atleta, não só pelo seu jogo, mas por me espelhar nele.

Recordo-me, como se fosse hoje, eu entrando em quadra, fardado de Babolat com a mesma Aero do espanhol, só que na mão direita. Batida no tênis antes do saque e dedos contorcidos antes do disparo. Calos nas mãos e a superstição em quadra, de frente com os passos, posicionamento e o pique da bola. Porém, assim como Nadal, meu adversário não era meu único obstáculo no momento do jogo. Uma das coisas mais complicadas que vivi para aprender a controlar, foram as enxurradas de pensamentos e auto menosprezo, independente de quem estivesse do outro lado da rede. Uma crença que me colocava abaixo, fazia sentir compaixão pelo adversário ao vê-lo triste, o que consequentemente me fazia entregar pontos de graça, para sua felicidade e que, posteriormente, me fariam perder o jogo. É claro que não queria entregar a partida, mas quando o adversário volta pro jogo, ele não terá o mesmo dó de você, eu garanto. Só sabia me sentir mal… com o público esperando algo diferente e a seriedade no rosto de meus pais. Não pela derrota, mas por saber o que passava na minha cabeça. Talvez me faltasse um pouco de ambição… espírito competitivo e autoconfiança, e saber que inimigos só existem dentro da quadra.

Ahh aquele cheiro de terra molhada, chão batido. As canelas e joelhos ardiam, e a terra voava com o vento, a qual fazia jus ao nome de “pé-vermelho”, remetendo ao lugar de onde vim. Sentia-me em casa. Pena que a mente ainda não era 100% minha. Por mais que a concentração existisse, um pensamento levava ao outro. Era um dominó. Além da compaixão pelo oponente, por melhor que eu pudesse ser, por mais torneios vencidos, eu estava por baixo, para mim é claro. Custou trabalhar esta maneira de ver as coisas, pois era uma crença individual, nada que fosse realidade para as outras pessoas. Para quem ouve, pode parecer tranquilo, mas só quem sentiu sabe o quão massacrante a fila de obsessões e falsas crenças perturbam nos momentos mais importantes da vida, seja no esporte, jornada profissional ou pessoal. Ainda não me sentia um Nadal… por mais que o TOC e as superstições viessem à tona, carregadas de um perfeccionismo sem limites ao colocar e tirar os pés do saibro, me faltava a seriedade em tentar me enxergar como o melhor naquele esporte, ao menos, uma vez na vida. Valorizar cada saque e procurar ver os pontos bons que eu fazia. É lógico que hoje sou outro. A superação falou mais alto e o sofrimento se transformou em aprendizado. Sim, aquele garoto da Aero amarela, de 9 anos, conseguiu se moldar dentro das quadras. Aprendizado que o tênis me proporcionou, e a quem sou extremamente grato por me ter levado ao autoconhecimento.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Em direção ao pós pandemia. Foto: Lavignea Witt.

Tenho notado certa esperança nesses últimos dias. Muito disso se deve pelo fato de que inúmeras pessoas estão sendo vacinadas contra o novo coronavírus. Se você ver o noticiário, vai notar alguns acontecimentos atípicos, como repórteres de outros países que agora não precisam mais usar máscaras em determinados lugares públicos. É difícil não criar expectativa de melhora da pandemia com realidades como essa. Já estamos todos ansiosos pelo dia em que essas restrições terão fim. E como será o depois? 

É muito comum ouvir a expressão “antes da pandemia” em conversas sobre atividades que anteriormente eram consideradas normais. Ela confirma que, embora as limitações terminem com o tempo, nada será como antes. É provável que não tenhamos mais tanta liberdade e que as marcas deixadas por esse momento irão mudar as relações pessoais, profissionais, financeiras e etc. Tudo o que éramos e tudo o que vivíamos foi modificado. 

Lembro-me de quando tudo começou. Estava em uma rotina exaustiva. Era uma correria o dia inteiro, vivia no automático. Aí tudo parou! Deixamos um pouco de lado a vida acelerada. A maioria das pessoas começou a dar importância para coisas que consideravam banais. O “tudo bem?” virou o “como está se sentindo?”. Acabamos nos conectando de formas diferentes, sem que fosse algo corriqueiro e instintivo. Entretanto, aprendemos a acelerar novamente. Além disso, estamos tendo — exceto aqueles que nunca pararam de trabalhar de modo presencial — que lidar com o fato de que nossa vida gira em torno da nossa casa, indo e voltando entre cômodos. Muitas pessoas se encontraram no home office enquanto outras vão demorar para superar os transtornos causados por essa mudança. 

Em relação ao vínculo pessoal, ativamos nosso espírito comunitário. No início da pandemia, muitas pessoas ajudaram e foram ajudadas. Mesmo em uma situação ruim, muitos estenderam a mão aos outros. Porém, com o tempo, as coisas foram se modificando. As mesmas ações já não são mais tão comuns e outras que vão na contramão do que se recomenda estão se tornando constância, como as aglomerações, por exemplo. Algumas pessoas deixaram o momento ser tomado pelo egoísmo. Mas, esperamos que colaborações comunitárias continuem ocorrendo, porque sempre existe alguém que precisa de uma ajuda. 

Harper Lee, em seu livro “O sol é para todos”, afirmou: “Você só consegue entender uma pessoa de verdade quando vê as coisas do ponto de vista dela.” Se colocar no lugar do outro, que sempre foi algo difícil, se tornou fundamental durante a pandemia. Não vivemos as mesmas coisas e não temos os mesmos problemas. Ainda assim, muitas pessoas se mostraram empáticas com as realidades alheias, aspecto que espero adiante depois da pandemia. É mais fácil sobreviver à tempestade se temos alguém com quem contar nas horas difíceis. 

E como será o pós pandemia? Apesar das muitas teorias e tendências para o que vem depois, acredito que, pelo menos, alguns aprendizados devem ser levados para essa nova realidade. Um momento atípico e cheio de dificuldades que nos deu a oportunidade de revermos hábitos e desejos da nossa vida. Qualquer oportunidade, seja boa ou ruim, deve ser refletida e apropriada como experiência para as vivências que virão. O depois da pandemia está quase aí. Vivamos! 

Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli. 

 

Foto de JESHOOTS.com no Pexels

Não nascemos amando tudo, tudo que amamos nos é apresentado pela primeira vez, às vezes vamos amar na hora e, às vezes, vamos construir esse amor. O futebol é assim, eu não nasci com gosto pelo esporte e, muito menos, com amor pelo meu time.

Lembro-me que me vendia por qualquer doce quando diziam que deveria ser colorada ou gremista, eu não entendia direito o que era torcer.

Quando pequena, jogos de futebol na TV eram quase que uma tortura e um dos tédios mais prolongados da minha vida. Havia brigas pelo controle da TV com meu irmão toda vez que tinha jogo. E eu nem entendia a raiva e a alegria que ele demonstrava com gritos, xingões e abraços quando seu time estava em campo.

Somente na adolescência eu dei a oportunidade de me sentar no sofá e acompanhar os eternos 90 minutos de bola rolando. Sabe, foi a melhor escolha que fiz! De lá em diante, não perdia um jogo sequer do meu time, sabia o nome de todos os jogadores e já sabia como as regras funcionavam. Mas não foi só isso.

Comecei a ver meu irmão com olhos diferentes nos dias de jogos, entendi a raiva dele quando um passe era dado errado e, ainda mais, sua vibração quando sai um gol ao seu favorito. Essa emoção era tão grande que contagiava, se tornava linda aos meus olhos. Foi com ele que aprendi a amar meu time e a torcer com paixão.

O meu gosto por sentar e assistir um jogo e o meu amor em torcer pelo time nasceram disso, da influência do meu irmão. Aquele com quem eu tanto brigava pelo controle da TV era, então, meu mais novo companheiro de jogo e de vida.

Foi assim que minha família se uniu, em frente à TV nos finais de domingo, acompanhados de uma bacia enorme de pipoca doce e mate, sempre de olho nos jogos.

Meu pai, que não era muito ligado em futebol, também acabou sendo contagiado por nós. Assim que meu irmão se mudou, eu logo adotei meu pai como novo companheiro de jogo.  Às vezes no meio do jogo ele dormia, pois sempre estava cansado, mas eu não ficava chateada porque ele permanecia ao meu lado sempre. Quando tinha jogo da Libertadores, ele me buscava mais cedo no cursinho, sempre me esperando com uma cervejinha e uma carne assada.

Entende o que eu quero dizer? Não é nem tanto pelo jogo que digo tudo isso. É pelo que a paixão de um time e essa vontade de fazer questão em se unir, em esperar a hora do jogo para se sentar com quem gostamos, em volta de uma lareira, na roda do mate ou na beira da churrasqueira, é a “função” que se dá somente para ver nosso time.

E foi nessa “função” que eu tinha um dos meus momentos mais sagrados e amados em família. Todos juntos, criança atrapalhando no meio da sala, barulho de gente conversando, mas aquilo que era mágico, todos ali e no final estaríamos ou comemorando ou se lamentando, mas juntos.

Hoje, infelizmente, esses encontros não vão acontecer mais com tanta frequência e nem com o mesmo sentimento. Nosso pai partiu para outros campos e vamos sentir saudade do churrasquinho que ele fazia na hora do jogo, ou da dormidinha que ele dava no meio da partida. Assistir aos jogos não vai ser a mesma coisa, não vai ter aquela graça das piadas que ele fazia ou dos gritos que ele dava de susto.

Mas sabemos o quanto ele também gostava daquele momento, vamos continuar e, a camisa do grêmio que ele tanto queria e eu dei de Natal, vai estar estendida por ele. Seguiremos com nosso amor pelo futebol, torcendo pelo nosso time e ensinando os que vierem depois de nós o quanto momentos assim são importantes. Meu pai, certamente, desejaria nos ver juntos, assim.

Que todas as famílias, apaixonadas pelo futebol se unissem assim e conseguissem enxergar o quanto esse esporte pode unir as pessoas, torná-las mais próximas e alimentar esse sentimento.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Neste ano que passou, aprendemos a dar sorrisos com os olhos, a sofrermos com a falta de abraços. A distância foi como ferro em brasa que marca a pele, machuca, incomoda por um tempo, mas, aos pouco se torna como parte do nosso ser.

Se olharmos para cima, conseguimos enxergar nosso verdadeiro tamanho. Somos pequenos, ao mesmo tempo complexos, uma galáxia que orbita dentro do nosso universo particular.

Isso é viver, é não saber o que nos espera na próxima esquina, é dormir sem saber se vamos acordar, é acreditar que estamos aqui por um propósito. O ano mais difícil da nossa existência acabou. O Ano Novo chegou como um quarto escuro que adentramos com a luz apagada, sem saber o que vamos encontrar quando a luz se acender.

A única certeza que temos, é que seguiremos em frente, na espera de um abraço de quem se ama e contando os dias para sairmos por aí, livres, felizes, cantando e dançando, eternizando momentos. Como a vida tem que ser, como assim um dia foi, como logo ali voltará a ser.

 

Por Fabian Lisboa, acadêmico da UFN, formando em Jornalismo.

Era uma bela manhã de sol… ou melhor, não seria uma tarde chuvosa? Se bem que poderia estar de noite, né!? O lugar também fica difícil de descrever: pode ser na fila do banco, no cafezinho da padaria, na roda de amigos ou até mesmo no trabalho. O fato é que futebol é assunto universal, basta apenas dois iniciarem a conversa que, em poucos minutos, já encheu de gente comentando sobre o lance de ontem ou a escalação de amanhã. E não precisam nem serem conhecidos.

Mas teve um dia que o assunto ficou meio de lado, com no máximo algumas colocações pontuais do tipo “é hoje, hein!” ou “e essa hora que não passa nunca?”.

Imagem de Rubén Calvo por Pixabay

18 de agosto de 2010. Quem dera se todos os dias do ano fossem como essa quarta-feira ensolarada. Aliás, a melhor parte do sol nesse dia foi quando ele se pôs, sinal que estava mais perto das 22h, quando a bola iria rolar no segundo jogo da final da Libertadores da América, entre Inter e Chivas. Mesmo com apenas 9 anos, lembro-me com perfeição dessa história realmente inesquecível.

Nesse fim de tarde, o restaurante de minha família, conhecido na época como bar dos colorados de Formigueiro (e localizado em frente ao dito bar dos gremistas, apesar desse fato nunca ter proporcionado desavenças), já estava começando a lotar. As mesas da parte interna já tinham “dono”, muitas desde o início da competição. Cadeiras de alumínio de alguma marca de bebida já sendo colocadas no espaço central. Tudo isso para olhar o jogo em uma simples televisão de 21 polegadas.

Mas a maior festa estava marcada para acontecer do lado de fora. A rua, pelo menos ali na frente, virou estacionamento de churrasqueiras: “cada um trás um pedaço e tudo certo”. Mas a essas alturas de ansiedade, a maioria nem fome tinha mais. O telão, pago através de vaquinha dos próprios clientes, reprisava os melhores momentos da conquista do mundial contra o Barcelona, em 2006. Com direito a comemoração no gol do Gabiru, claro.

E finalmente chegou a hora do jogo. A aba lateral externa do restaurante, um legítimo “garajão”, não tinha espaço para mais ninguém. Até nem sabia que existiam tantos colorados em Formigueiro. A alternativa para muitos foi olhar o jogo lá da rua mesmo. Mas eu já tinha garantido o lugar na primeira fileira, quase “dentro” da projeção. A última rápida saída dali havia sido para pintar algumas listras em vermelho e branco no rosto que, após muita insistência, minha mãe fez.

O clima era de estádio, com cantorias, gritos, aplausos e, óbvio, xingamentos ao juiz que, por incrível que pareça, sempre “rouba” contra o nosso time do coração. Era a hora de soltar toda emoção que ficou presa durante aquele demorado dia. E tínhamos motivo para isso, pois o Inter entrou em campo sendo campeão, após a vitória por 2 a 1 no primeiro jogo.

Mas perto final do primeiro tempo, aos 42 minutos, preteou o olho da gataiada: gol dos caras. Mas os deuses do futebol não iriam nos sacanear a essas alturas do campeonato. A classificação nas oitavas contra o Banfield após perder o primeiro jogo por três a um; O milagre de Giuliano em meio a fumaça contra o Estudiantes nas quartas de final; O segurar de resultado contra o São Paulo na semi. Só podiam ser sinais de que o bicampeonato viria.

Sóbis, nosso herói de 2006, devolveu a esperança aos 16 minutos da segunda etapa. Tudo igual. Mas ainda não era o suficiente. Damião corre com a bola, deixa a zaga adversária para trás e faz o segundo, aos 30 minutos. Loucura total. O título realmente viria.

A torcida ficou dividida entre os que assistiam os últimos 15 minutos e os que foram para a rua comemorar. Eu estava nos dois grupos, fazia um pouco de cada. Com uma bandeira do Colorado em uma taquara pesada e bem maior que eu, arrastando pra lá e pra cá. E foi tremulando ela que escutei novos gritos, era a comemoração do gol do Giuliano, aos 44, que só vi depois, no replay.

Que noite! Nem o melhor dos roteiristas conseguiria tramar algo com tanta perfeição.

Ao longo do futuro, certamente tantas novas conquistas virão. Mas nenhuma, nem mesmo outra Libertadores, será tão especial como essa. No dia seguinte, olhando a repercussão na imprensa, uma surpresa: vitória por 3 a 2. Como assim? Levamos outro gol?

Texto de Pablo Milani.

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Imagem de Clker-Free-Vector-Images por Pixabay

Agora só falta mais um integrante para cada time: “Eu escolho o Murilo”, “E eu escolho o Bernardo”, falavam os capitães dos times de futebol da escola que, por sinal, sempre eram os mesmos, por colecionarem medalhas e troféus obtidos em torneios. Eu, como não era boa de bola, passava as manhãs no banco de reserva, jogando stop com os outros colegas que também sobravam. Éramos conhecidos como “pernas de pau”, já tínhamos perdido as esperanças, então, não fazíamos muita questão de prestar atenção no jogo.

Mas em um ano, especificamente no 5º ano do ensino fundamental, tudo mudou. Durante um mês, tivemos aulas de educação física com uma estagiária. Ela mudou nossa percepção sobre o que é o esporte. Nos fez entender o porquê da importância de praticá-lo e suas regras.  Esportes como handebol, basquete e ginástica foram introduzidos a rotina escolar, fazendo com que alunos que não se encaixavam nos esportes “tradicionais” desfrutassem de outras possibilidades. Essa estagiária, despertou o espírito esportivo nos jovens que não tinham o “talento” para o futebol.

O mês passou tão rápido que, quando percebemos, era a última aula de educação física com a estagiária. Existe aquele ditado que diz: o que é bom dura pouco, as aulas com a estagiária passaram rápido, mas mudou o pensamento daqueles que achavam que não levavam jeito para o esporte.

A partir do momento em que a criança entende o motivo pelo qual é importante aprender determinada coisa, aquilo se torna interessante para ela. E isso vale para todas as disciplinas do currículo escolar. Não exclusivamente para a disciplina de educação física. Ah, que saudade daquela estagiária. O engraçado é que, quando paro para pensar nas aulas anteriores as que ela ministrou, não lembro de praticamente nada. Agora aqueles momentos que ela passou conosco, lembro de todos. Já sei, vou procurar ela nas redes sociais, e perguntar se ela lembra de mim, porque nunca vou esquecê-la.

 

Texto de Ana Luiza Deicke

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Imagem de Jossiano Leal por Pixabay

Era 2016. Matheus, o colorado apaixonado desde criança pelo seu time do coração, o Sport Club Internacional de Porto Alegre. Matheus morava na pequena e pacata cidade de Dilermando de Aguiar, município com pouco mais de 3 mil habitantes. Distante 50 quilômetros de Santa Maria e 340 quilômetros da capital gaúcha, Porto Alegre. Matheus sonhava em ir no jogo do Inter mas, pela distância do estádio, era inviável.  Ele morava com seus pais, Dona Rosa e seu João, um casal de agricultores. A “grande” família ainda tinha mais dois integrantes, as irmãs de Matheus, Débora e Monica. Ambas moravam em Santa Maria.

Matheus já havia concluído o ensino médio e ajudava seu pai na lavoura de soja. O fanático colorado tinha uma vida de agricultor. Acordava e dormia cedo, exceto quando chovia. Em dias chuvosos Matheus acordava mais tarde, pois não tinha muitas coisas para fazer. A salvação dele era a internet. Muitas vezes lenta. Ainda piorava com a chuva, mas era o que tinha. Então, Matheus pegava seu notebook e acessava o YouTube. Crente na pesquisa, ele digitava “jogos do Inter no Beira Rio”. E assim se entretia por horas olhando os vídeos da torcida organizada “guarda popular” cantar, pular e torcer para seu time do coração.  A cada jogo que Matheus assistia do Inter na Globo, quartas à noite ou domingos à tarde ele se imaginava dentro do estádio lotado, em um jogo do seu time do coração.

Matheus era primo de Genara que, por sua vez, tinha uma irmã que morava na capital Porto Alegre, casada com Douglas. Ele também colorado fanático, acostumado a ir em jogos decisivos no gigante Beira Rio. Certo dia, Genara convidou Matheus para passar uns dias em Porto Alegre, na casa da casa da irmã dela. Mas, tinha que pagar passagem até a capital. Então, Matheus ligou para sua mãe e pediu autorização para ir viajar. Mas, dona Nair taxativa não estava gostando da ideia. Conversa vai, conversa vem, Matheus convenceu sua mãe.

Matheus com sorriso estampado no rosto, pulava de alegria, pois viajaria à capital gaúcha. Acostumado a ir de Dilermando a Santa Maria, estava incrédulo com a ida a Porto Alegre. Então, ele fez as malas,  pegou suas melhores roupas e, claro, a camiseta do seu time de coração. Chegando na rodoviária da capital, estava lá Douglas para buscar ele e sua prima Genara. No percurso longo e entusiasmado de 45 minutos da rodoviária até a casa de Douglas, Matheus pensava: “poxa, sábado tem jogo do Inter”.  Matheus e Genara então chegaram na casa de Douglas.

De noite, na hora da janta, Douglas perguntou se Matheus não queria ir no jogo do Inter, no sábado, no Beira Rio contra o Sport. Matheus então tentando conter o entusiasmo fala: “bah, seria um sonho!”. Douglas pega seu celular e liga para um amigo, que era sócio do Sport Club Internacional, e pergunta: “Carlos, estou com o primo da Genara aqui em casa, e ele gostaria de ir no jogo sábado. Tu empresta carteirinha de sócio para o Matheus?”.  Douglas então ficou em silêncio por 10 segundos, o que perecia 10 anos para o Matheus e disse: “certo Carlos! Sábado passamos aí e pegamos ela”.

Matheus já não se aguentando de ansiedade escuta de Douglas: “sábado tu vai no jogo!”. Matheus lacrou um sorriso empolgado no rosto. As 40 horas que passaram, até a hora de ir para o jogo, foram as horas mais demoradas na vida de Matheus.

Chega o dia. Matheus toma um banho, coloca sua camiseta vermelha radiante do Inter, arruma o cabelo e, junto com Douglas, vai para o estádio Beira Rio. Mas antes eles teriam que ir até a casa de Carlos, amigo de Douglas, para pegar a carteirinha de sócio. O trajeto durou 60 minutos intermináveis para Matheus. Quando ele está com a carteirinha na mão e nota que a modalidade é de sócio master (entra na melhor área do estádio sem pagar entrada) Matheus quase chora emocionado, mas se contém. Já no estádio, Matheus, que nunca havia visto o magnifico Beira Rio de perto, se impressiona com o tamanho e a beleza. Ao adentrar no estádio, mais entusiasmo, pois Matheus entra na área das cadeiras, atrás do banco de reserva dos jogadores. Ele vê todo aquele campo verde, e olha ao redor do estádio pintado de vermelho, magnífico.

Aos poucos o estádio vai enchendo. Se aproxima a hora do jogo, e quando Matheus menos espera entra a torcida organizada “Guarda Popular” proferindo os cânticos de apoio ao time do Inter. Então, Matheus senta na cadeira e fica admirando incrédulo no que está vivendo. Dia 26 de maio de 2016, o dia em que Matheus foi no primeiro jogo do seu clube do coração, no estádio Beira Rio. A data ficará marcada para sempre na memória do fanático torcedor Matheus.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Perspectiva. Foto: Lavignea Witt.

No início todos contavam. Dez dias de pandemia. Trinta dias. Sessenta dias. E assim por diante. Até que paramos de contar. Agora que ninguém mais conta, já são mais de 400 dias. Grande quantidade deles carregados de angústia, preocupação, ansiedade, medo. A dúvida também fez parte deles. Muitos continuaram trabalhando normalmente, outros não. As aulas presenciais foram suspensas, depois voltaram e foram suspensas de novo. Algumas práticas foram liberadas e depois de algum tempo foram proibidas mais uma vez. As incertezas quanto às atividades presenciais perduram até hoje. 

Esse assunto sempre me lembra uma frase que muitas pessoas já devem ter lido desde que a pandemia começou: “Não estamos todos no mesmo barco, estamos todos sob a mesma tempestade.” Sim, vivemos realidades totalmente diferentes. Alguns precisam sair de casa todos os dias para manter seu sustento, enquanto outros saem em dias específicos para fazer algo que precisam. Agora que algumas escolas estão reabrindo para receber os alunos, fica a incerteza de comparecer às aulas, podendo colocar a saúde de todos no ambiente escolar em risco, ou continuar em casa na tentativa de manter o processo de aprendizagem. Estudantes de algumas faculdades tentam manter suas atividades práticas nas instituições, com vários protocolos sanitários e com o sentimento de que tudo mudou. 

E esse sentimento também reverbera nos encontros pessoais. Visitar amigos e familiares é andar com a insegurança ao lado. É preferível não colocar em risco a vida das pessoas que mais amamos. Então, muitos continuam com as reuniões virtuais, buscando suprir o afeto que antes era algo rotineiro. Pensar que é uma reclusão momentânea promove um certo conforto. É melhor estar em casa do que em um leito de hospital, sem poder receber visitas e com várias incertezas dentro de um quarto. 

Díficil. Árduo. Talvez essas sejam as palavras que mais chegam perto do que é viver essa situação. Conviver com pessoas é essencial, é o que todo ser humano faz. O exercício da vida é a convivência. Somos instantes, momentos, rodeados de pessoas que cruzam o nosso caminho. Pessoas essas que ficamos por anos abraçando, apertando a mão, conversando frente a frente. O que era realidade, se tornou lembrança. Estamos onde devemos estar e querendo algo inviável — por enquanto.  

Nos resta a esperança. Esperança de que estamos a poucos passos de que conviver com muitas pessoas seja algo comum de novo. De juntar toda a família no almoço de domingo. Sair com os amigos no fim do expediente para ir naquele restaurante especial. Comemorar o aniversário com todas as pessoas importantes da nossa vida. Viajar para qualquer lugar sem medo da experiência. Há pessoas que dizem que nada vai voltar a ser igual como antes, mas que bom que podemos sempre recomeçar. O importante agora é realizar o que podemos e esperar por uma nova contagem de dias. 

Este texto faz parte do Projeto Experimental em Jornalismo, do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, realizado pela acadêmica Lavignea Witt durante o primeiro semestre de 2021, com orientação da professora Neli Mombelli.