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Fabian Lisboa

À espera do abraço

Neste ano que passou, aprendemos a dar sorrisos com os olhos, a sofrermos com a falta de abraços. A distância foi como ferro em brasa que marca a pele, machuca, incomoda por um tempo, mas, aos

Livre para voar

Não sei muito bem sobre o que vou escrever, acho que a pandemia faz isso com as pessoas, nos deixa sem saber. Tento escrever algumas palavras, liberdade é a primeira que me vem à cabeça, mas nada

Um dente siso e uma lição

Sempre quando alguém fala sobre o dente do siso, mais conhecido como terceiro molar ou “o dente do juízo”, uma pergunta sempre surge no ar. Para quê ele serve? A resposta quase unânime das pessoas é

Belinha e a saudade

Quando eu tinha cinco anos ganhei de presente um cachorro. Seu nome era Hulk, em homenagem ao gigante verde da Marvel. Hulk era um vira lata da cor preta com uma mancha branca entre os olhos.

Neste ano que passou, aprendemos a dar sorrisos com os olhos, a sofrermos com a falta de abraços. A distância foi como ferro em brasa que marca a pele, machuca, incomoda por um tempo, mas, aos pouco se torna como parte do nosso ser.

Se olharmos para cima, conseguimos enxergar nosso verdadeiro tamanho. Somos pequenos, ao mesmo tempo complexos, uma galáxia que orbita dentro do nosso universo particular.

Isso é viver, é não saber o que nos espera na próxima esquina, é dormir sem saber se vamos acordar, é acreditar que estamos aqui por um propósito. O ano mais difícil da nossa existência acabou. O Ano Novo chegou como um quarto escuro que adentramos com a luz apagada, sem saber o que vamos encontrar quando a luz se acender.

A única certeza que temos, é que seguiremos em frente, na espera de um abraço de quem se ama e contando os dias para sairmos por aí, livres, felizes, cantando e dançando, eternizando momentos. Como a vida tem que ser, como assim um dia foi, como logo ali voltará a ser.

 

Por Fabian Lisboa, acadêmico da UFN, formando em Jornalismo.

Não sei muito bem sobre o que vou escrever, acho que a pandemia faz isso com as pessoas, nos deixa sem saber. Tento escrever algumas palavras, liberdade é a primeira que me vem à cabeça, mas nada mais aparece. Fico olhando aquela palavra por alguns segundos, quando algo do lado de fora me chama a atenção.

Através das grades da janela da minha sala vejo pássaros voando, aos poucos diminuem a velocidade até fazer uma aterrissagem perfeita em alguns galhos das árvores que ficam nos fundo aqui de casa.

Outros pássaros preferem seguir o seu voo em silêncio, acompanhados pelos ventos frios dos primeiros dias de inverno. Eu olho do meu sofá com inveja e digito no meu texto: Para onde vão? De onde vêm?

Vou até a janela, olho para rua, sinto saudade de caminhar por aí sem ter um destino certo ou não saber quem vou encontrar. Saudade de viver livre. Meus pensamentos são interrompidos por um João de Barro que me observa com curiosidade, enquanto se equilibra em cima do muro.

Não sei quando isso vai passar ou o que vai mudar, mas nesse tempo em casa, quando olho o mundo pela janela da minha sala, percebo o quanto a vida é simples e bonita.

A chuva começa a cair lá fora, já vi que não vou conseguir escrever nada… melhor chamar meu velho amigo Gabo para me contar uma de suas histórias.

Pondero por um momento e então digito: “Livre para voar.” Olho mais uma vez pela janela e fecho meu notebook.

 

Por Fabian Lisboa, acadêmico de jornalismo da UFN

Reimund Bertrams por Pixabay

Sempre quando alguém fala sobre o dente do siso, mais conhecido como terceiro molar ou “o dente do juízo”, uma pergunta sempre surge no ar. Para quê ele serve? A resposta quase unânime das pessoas é a de que ele não serve para nada.
Depois de passar uma noite infernal, sentindo uma dor excruciante, eu descobri que ele serve para algo: nos mostrar o quanto somos insignificantes.
Entendi o papel daquele dente que, para muitos, devido à nossa “evolução” como seres humanos mudamos fisicamente, ele ficou obsoleto, sem uma função. Mas o siso tem o papel de nos mostrar nosso real tamanho, nosso lugar no universo. Acreditamos ser maiores do que realmente somos. Temos que ter humildade e reconhecer o quanto somos frágeis. Sejamos humildes e gentis gentileza faz bem, apesar de ser algo raro nos dias de hoje.
Temos que olhar para o meio em que vivemos, não o mundo que criamos atrás de uma tela. Esse não é real, não podemos tocar, não podemos sentir, como a dor de um siso, que é real e incomoda.
Devemos nos incomodar sempre, com tudo, com a dor, nosso momento atual, a violência, fome, intolerância, e o que estamos nos tornando enquanto humanidade. Também com esse lugar onde pessoas tiram fotos transparecendo felicidade plena mas que, na verdade, por trás daquele momento, são vazias e infelizes.
Não é necessário mostrar as 24 horas do nosso dia. Melhor aproveitar aquele momento estando presente de corpo e alma, curtir cada segundo, guardar na memória, no coração e não em um ambiente virtual. Precisamos do toque, do cheiro, do beijo, precisamos de tudo isso, precisamos nos sentir vivos, não ser apenas um algoritmo ou um like.
Necessitamos sentir o frio na barriga que só um grande amor pode nos proporcionar. Bater na porta da casa de um amigo, para perguntar como ele está, olhando nos seus olhos. Tomar banho de chuva e caminhar na rua de pés descalços. Talvez, depois dessa lição, arranque esse dente, ou deixe aqui na minha boca para, às vezes, me causar incômodo, lembrando que estou vivo e posso sair caminhando por aí.

Por Fabian Lisboa, acadêmico de jornalismo na UFN. 

Quando eu tinha cinco anos ganhei de presente um cachorro. Seu nome era Hulk, em homenagem ao gigante verde da Marvel. Hulk era um vira lata da cor preta com uma mancha branca entre os olhos. Foi meu fiel escudeiro durante muitos anos. Quando ele morreu, fiquei muito triste e prometi a mim mesmo que nunca mais ia ter cachorro.

Os anos passaram e ela apareceu. Chegou de mansinho e, sem esforço nenhum, arrebatou meu coração. Seu nome Belinha, uma lhasa apso, branca com o focinho despigmentado e um rosto extremamente expressivo para um cachorro. Minha filha de quatro patas, que quando a veterinária falou: “Se ela não for operada urgentemente, vai morrer”, cheguei à conclusão que não estava preparado para perdê-la.

Confesso que nunca me imaginei passando por essa situação, mas a vida tem das suas. Eu, agora, me via sentado na sala de espera do hospital veterinário, onde escrevi um pouco desse texto. Ao meu lado um cachorro hiperativo que, em pé, devia ter uns dois metros de altura, puxava a sua dona de um lado para o outro – uma senhora de um metro e cinquenta de altura e uns sessenta anos. À minha frente um gato preto dentro de um cesto de roupas improvisado como gaiola. Cercado de todos os tipos de cachorros, me olhava aterrorizado com aquela situação, tentando puxar na memória qual travessura tinha feito para a sua dona o estar  punindo daquele jeito. E eu ali, no meio daquele caos, pensando em como ia ser minha vida sem minha cadelinha dormindo todas as noites aos meus pés, ou me esperando chegar do trabalho.

Hoje, sentado aqui no sofá e terminando de escrever esse texto, que comecei  há um mês, com a Belinha deitada aos meus pés, lambendo uma pata, fico pensando: –  A vida é um grande filme feito de momentos editados por nós ao longo dos anos, e dos quais só nós vemos o resultado final. E um dos momentos que vou colocar no meu filme é esse: a imagem dela entre uma lambida e outra na pata, me olhando, sem imaginar no quanto é importante para mim.  Espero que a Belinha ainda fique comigo por muitos e muitos anos, que siga no seu sofá velho, amarelo e desbotado, latindo para o mundo.

PS: este texto foi escrito no dia 9 de maio de 2018. No dia 29 de maio do mesmo ano ela morreu. O sofá amarelo continua no mesmo lugar, junto com a saudade que nunca vai passar.

Fabian Lisboa é acadêmico de jornalismo da UFN