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Santa Maria, RS, Brazil

inclusão social

A Balada da diversidade

A preparação para ir a uma festa começa bem antes de chegar à boate – ou casa de shows, ou salão de festas. Mulheres se perguntam entre um vestido e outro e qual par de sapatos usar,

O que é inclusão social?

Na definição do Wikipédia: é o conjunto de meios e ações que combatem a exclusão aos benefícios da sociedade, provocadas pelas diferenças de classe social, educação, idade, deficiência, gênero, preconceito social ou preconceitos raciais. Inclusão social

Uma atitude vale mais que um gol

Domingo, 8h30, e já é perceptível uma movimentação no Campo do Aliado, no bairro Km 3. É ali que mais de 50 crianças, com idades entre 7 e 16 anos, treinam no Nova Esperança Futebol Clube,

No palco, uma das professoras apresentou coreografia com seus alunos. Foto: Vic Martins

A preparação para ir a uma festa começa bem antes de chegar à boate – ou casa de shows, ou salão de festas. Mulheres se perguntam entre um vestido e outro e qual par de sapatos usar, enquanto os homens — hoje em dia muito vaidosos — tratam do famoso barba, cabelo e bigode. Expectativa: essa é a palavra que antecede cada festa. Com os integrantes desta história não foi diferente. Eles vestiram roupas diferentes das que estão acostumados e, uma semana antes, a ansiedade já fazia seus peitos explodirem.

Algumas semanas após ter uma das experiências mais humanas que tive como estudante de Jornalismo, ainda consigo fechar os olhos e lembrar da expressão de cada um dos jovens e adultos que tive a oportunidade de conhecer na Balada Inclusiva. O ambiente acolheu minorias que, muitas vezes, não têm visibilidade — e isso me emocionou do início ao fim. Uma tarde regada a muita música, luzes e dança fez com que todos interagissem como iguais. Aqueles que diariamente são tidos como pessoas diferentes estavam ali integrados ao ambiente no qual só faziam sorrir, sorrir e sorrir. Aliás, a palavra que mais escutei de todos os entrevistados? Integração.

Na foto, a cantora Raquel Tombesi com uma das participantes do evento.
Foto: Balada Inclusiva/Divulgação

Aproximei-me, então, de uma senhora que estava sentada em uma das cadeiras dispostas pelo salão. Pergunto se posso conversar um pouco com ela que, prontamente e com um sorriso no rosto, me diz que sim. Era Emir Pereira, mãe de Ireno, de 56 anos, aluno na Associação Colibri há 17. Presente em todas as edições da Balada, a mãe conta que “ele se sente muito feliz porque sai sozinho”.

Além de pais, professores e colaboradores das entidades educacionais, teve um dos apoios mais importantes para que o evento acontecesse: os voluntários. Neste ano, a edição foi realizada na boate Moon NigthLife e mais de 20 pessoas dispuseram um pouco do seu dia para ajudar a trazer alegria aos presentes. Uma delas é Luisa Beltrão, de 23 anos, que faz parte do voluntariado na Balada desde a primeira edição. Ela conta que, no início, os pais e responsáveis vinham apenas para acompanhar, mas que, com o passar das edições, eles começaram a participar. “É gratificante demais ser voluntária. Hoje eu cheguei e eles vieram me abraçar, sabe, eles já reconhecem a gente das outras edições” contou ela.

O projeto

Estudante de Publicidade e Propaganda, Renan Beltrão conta que a ideia do projeto surgiu em 2016, a partir da cadeira de Projeto de Extensão em Comunicação Comunitária, ofertada pelo Centro Universitário Franciscano. “Precisávamos dar visibilidade à uma entidade beneficente de Santa Maria e optamos pela APAE. Depois que encerramos a cadeira, eu continuei trabalhando com a APAE e decidimos colocar em prática uma das ideias do projeto que ainda não tinha sido aplicada: a Balada Inclusiva. A primeira edição foi apenas para os alunos e pais que faziam parte da APAE e contou com mais ou menos 180 participantes. Como vimos que deu super certo, decidimos fazer uma segunda edição, só que dessa vez deixaríamos aberto à outras instituições” conta ele, perceptivelmente feliz com a repercussão que teve o projeto.

Segundo a organização do evento, esta quarta edição teve em torno de 800 participantes. Contou também com apresentações de palhaços e uma cabine de fotos, atrações que foram novidade a partir desta edição. Além disso, tiveram auxílio de socorristas e uma exposição de carros e motos para entretenimento.

Atualmente, além de apoio da APAE, a Balada conta com o apoio de diversos patrocinadores e voluntários em sua divulgação — além, é claro, daqueles que são as peças mais importantes para isso acontecer: os alunos e familiares. Diogo dos Santos é fonoaudiólogo na APAE de São Sepé e, nesta quarta edição, levou pela primeira vez os alunos da instituição. “Fizemos até uma camiseta. Eles compraram roupas e quiseram se arrumar. Estão felizes e em interação, porque eles estão acostumados apenas com a gente (professores e outros funcionários) e com os outros alunos. É lindo de ver a felicidade deles aqui”.

Observatório da mídia CS-02Na definição do Wikipédia: é o conjunto de meios e ações que combatem a exclusão aos benefícios da sociedade, provocadas pelas diferenças de classe social, educação, idade, deficiência, gênero, preconceito social ou preconceitos raciais. Inclusão social é oferecer oportunidades iguais de acesso a bens e serviços a todos.

Seria perfeito, se realmente funcionasse. Dia desses, eu estava em um ônibus do transporte coletivo aqui da cidade, quando me deparei com uma cena até então comum. O ônibus parou, o motorista desceu, o cobrador foi até o elevador. Entrou um rapaz de cadeira de rodas. Após o rapaz estar acomodado, seguimos o trajeto. Em determinado ponto o rapaz pergunta: Vai até o Terra Nova? O cobrador responde: Não. O rapaz então diz: Vou ficar na próxima parada. Foi neste exato momento que, o fato deixou de ser comum. A parada e o trajeto que ele deveria fazer, não eram iluminados. Para chegar até sua casa, levaria uns 20 min. No escuro. Um cadeirante indefeso, em um bairro perigoso. Mas não ficou por aí, o rapaz relatou que havia esperado durante mais de uma hora por um ônibus com elevador que chegasse até sua casa. O elevador não passou, e ele continuou esperando. Ficamos todos indignados. O motorista não sabia como proceder, se deixava o rapaz ir sozinho o longo caminho ou se mudava sua rota. Era impossível, pois já estava atrasado em função do trânsito. O rapaz seguiu sozinho.

O sentimento de impotência, em não poder ajudar, me fez ver que estamos muito atrasados no que diz respeito à “inclusão”. Para incluir, é preciso se ver no lugar do outro. Compreender que inclusão social, não pode ficar só no papel, tem que fazer parte da vida das pessoas.

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Texto redigido para a cadeira Legislação e Ética em Jornalismo

 

Crianças que integram o projeto Nova Esperança (Foto: Gabriela Agertt/Laboratório de Fotografia e Memória)

Domingo, 8h30, e já é perceptível uma movimentação no Campo do Aliado, no bairro Km 3. É ali que mais de 50 crianças, com idades entre 7 e 16 anos, treinam no Nova Esperança Futebol Clube, um projeto coordenado por Jocimar Pereira, 33 anos, auxiliar de produção, e por Carlos Fernando Schlenner Montedo, 35 anos, dono de uma eletrônica.

O projeto começou pela carência em jogar futebol, percebida por Jocimar nos filhos e sobrinhos. “Eu via que o meu filho e os meus sobrinhos estavam carentes por jogarem futebol na rua e não terem estrutura e instrução. E então eu tive a ideia de tentar ensinar eles”, conta Jocimar, conhecido como Maninho. E a partir disso, surgiu a oportunidade de melhorar a vida de crianças da comunidade, que se não fosse pelo projeto, estariam nas ruas.

O sonho de realizar o trabalho se concretizou no dia 12 de junho de 2016, com a ajuda de Aldir Renato Vieira da Vega, 62 anos, policial militar reformado, que mora no bairro há 16 anos e cedeu o campo para que os treinos fossem possíveis. “ Acho que sempre tem que ter alguém que faça a frente para colocar essa gurizada em uma linha do bem. Enquanto os meninos estão aqui em um projeto de lazer, ao mesmo tempo eles estão aprendendo, como se comportar entre eles mesmos. Estão trabalhando para ser alguém na vida”.

E quem sabe, não serão jogadores famosos de futebol? Muitos craques saíram de “campinhos”, mas se dar bem em campo não é o maior ganho de projetos como esse. O quanto uma iniciativa dessas pode mudar a vida de uma comunidade? Crianças e jovens que provavelmente estariam nas ruas sem fazer nada ou até mesmo expostos à criminalidade hoje tem um compromisso nos domingos pela manhã.

Na escolinha é feito cadastro e inscrição, além disso o projeto conta com com a ajuda de diversas pessoas da cidade. Uma assistente social produziu um documento com os termos de responsabilidades que enfatiza a importância da criança ou adolescente  estar estudando, nesse documento também contém os dados pessoais do portador, informações adicionais como endereço e telefones, além da autorização dos pais ou responsáveis.

Jogo em andamento (Foto: Gabriela Agertt/Laboratório de Fotografia e Memória)

Por outro lado, os treinadores desses meninos enfrentam várias dificuldades para manter as atividades. Uma delas é a questão financeira, porém a mais destacada durante a conversa foi a falta de tempo. É evidente a vontade dos treinadores em dedicar mais tempo para transmitir seus ensinamentos para os pequenos, que passam parte da semana sem fazer nada, além de estudar.

Apesar das dificuldades, a comunidade abraça o projeto. Os pais incentivam principalmente porque as crianças são carentes, e há uma percepção de que essa era uma iniciativa necessária no bairro. “O meu filho adora, ele acorda cedo para vir jogar, é o sonho dele ser jogador de futebol. Desde pequeno ele sempre quis ser jogador, e o projeto ajuda bastante”, relata Simone Dias da Silva, 33 anos, funcionária de uma empresa de limpeza e mãe de um dos meninos que jogam no projeto. Já Vilson Graciano da Silva, 55 anos, servente, e pai de um dos jogadores, comenta que, “O meu filho estuda e é melhor estar jogando bola do que estar nas ruas”. Existem também quem apoie mesmo de longe, é o caso de um empresário do Rio de Janeiro que fez doações de bolas, cones, entre outros equipamentos, ao projeto.

Os pequenos possuem uma disposição invejável, e chegam ao campo muito antes do início do treino, a maior vontade deles é correr e jogar. “Eu acho que é uma possibilidade, um projeto bem legal para se divertir e sair de casa, brincar com os amigos. E é muito bom para ajudar pessoas que não tem tanto dinheiro para jogar em um time de alto nível” é o relato de um aspirante a jogador de 11 anos. “Eu não fico mais brincando na rua, não fico mais empinando pipa, e me sinto melhor assim”, relata um menino de 10 anos, que faz parte do programa.

Para o futuro, Jocimar e Fernando, pretendem buscar apoio usando os recursos do Governo, pela Lei de Incentivo ao Esporte (lei  11.438/2006), que permite que empresas e pessoas físicas invistam parte do que pagariam de Imposto de Renda em projetos esportivos. O maior desejo deles é conseguir ter uma sede e fazer com que os pais e responsáveis das crianças acreditem ainda mais no projeto e ajudem a fazer acontecer, para que mais meninos se juntem ao time e impactarem mais ainda a vida dessa comunidade.

Talvez o maior ensinamento desse projeto não seja o futebol, mas sim, a chance de poder mostrar um novo caminho para essas crianças, dar um pouco de esperança de um futuro melhor. Fazê-las enxergar que é possível vencer, mesmo sendo da periferia, independentemente de classe social, cor, credo, o que importa mesmo é a determinação e o foco em perseguir os seus sonhos. Os idealizadores do programa, conseguem ver algo importante, a oportunidade de ajudar a formar o caráter desses meninos, que estão numa idade importante e que são tentados a todo o momento a entrar em um ambiente sem perspectiva. A mensagem mais bonita que esse trabalho deixa, é fazer com que essas crianças queiram ser melhores e entendam que podem fazer o mesmo por outras pessoas.

Se esse projeto chamou a sua atenção e você quer ajudar, entre em contato com Jocimar Pereira e Fernando Montedo, pelos telefones 99175-1520 ou 98402-3057.

Por Ariel Portes  e Mariama Granez para o Jornal Abra

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