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Santa Maria, RS, Brazil

Jornalismo Cultural

O lugar da produção musical independente na região

Desde a invenção do fonógrafo, criado em 1877 por Thomas Edison, até a simplicidade que um aparelho reprodutor de áudio possui atualmente, a música passou por diversos processos evolutivos em sua distribuição e execução. Mesmo assim,

O minimalismo como filosofia de vida

O movimento minimalista é um estilo encontrado no design, com a ideia de que “menos é mais”. Com origem em um conjunto de movimentos do século XX, o minimalismo tem como lema fazer coisas simples –

O show não pode parar

Final dos anos 1950. Jogos da Primavera. Em frente ao Colégio Centenário, 200 componentes da Banda do Maneco, assim carinhosamente chamada, se preparavam para marchar na Rua do Acampamento. Na sacada dos edifícios mais altos da

Desde a invenção do fonógrafo, criado em 1877 por Thomas Edison, até a simplicidade que um aparelho reprodutor de áudio possui atualmente, a música passou por diversos processos evolutivos em sua distribuição e execução. Mesmo assim, um componente sempre apareceu na emissão das obras musicais: o selo fonográfico. Selos fonográficos são marcas usadas no lançamento de músicas gravadas em fonogramas, que podem ser discos de vinil, fitas cassete, cd’s ou videoclipes e mp3. Esses selos representam organizações como editoras, gravadoras ou produtoras, que são empresas dedicadas a trabalhar em conjunto com artistas na construção de suas carreiras.

Com dez anos de caminhada na produção cultural, Gadea Produções é a empresa que reúne o portfólio das produções realizadas pelo produtor cultural Leonardo Gadea. Recentemente, ele lançou o Selo Gadea, que oferece curadoria para distribuição digital a artistas independentes e bandas do Rio Grande do Sul e arredores. Hoje, Gadea se reconhece como um ativista na cultura, atuando no cenário da música produzida no Sul do Brasil, em atividades como direção de produção para gravações até espetáculos, webséries, documentários e videoclipes.

O produtor Leonardo Gadea entra em detalhes sobre a produção cultural:

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=mZCYZwh2d64″ playlist=”https://www.youtube.com/playlist?list=PLVEVSVMMtzNXbjaQEpHRs-sjOQz54cXXPhttps://www.youtube.com/playlist?list=PLVEVSVMMtzNXbjaQEpHRs-sjOQz54cXXP” title=”Entrevista%20sobre%20produção%20cultural” autohide=”1″]

Editoras, gravadoras e produtoras

A editora é a empresa responsável por registrar e administrar obras musicais. Assim, sua obrigação é garantir a geração de receita pela divulgação e promoção das músicas, assim como realizar a distribuição da receita dos valores recebidos pelo ECAD, devido aos direitos autorais das pessoas envolvidas nas composições lançadas pela firma. Enquanto esse trabalho é feito pela editora, a gravadora é a empresa que transforma a obra musical em um fonograma para a publicação posterior. Uma gravadora pode ter seu próprio estúdio ou contratar uma produtora de áudio para realizar a produção.

Ao envolver profissionais como artistas, produtores musicais, compositores e instrumentistas, gravadoras são empresas que produzem e lançam músicas e/ou videoclipes com atenção voltada aos processos de captação, mixagem e masterização. Além desses serviços, as gravadoras também podem ser responsáveis pela promoção dos lançamentos, pelos serviços de publicidade e da efetuação de vendas dos fonogramas, assim como a resolução de questões jurídicas.

A produtora de áudio é a empresa que realiza serviços como jingles e trilhas sonoras para filmes, jogos ou séries. Tanto em uma gravadora como em uma produtora de áudio, quem arca com os custos para a fixação da obra musical em um fonograma, além do trabalho de gravar a obra musical em um fonograma e/ou audiovisual, é o produtor.

Nas grandes gravadoras –  protagonistas no cenário mainstream – os selos são subdivisões de uma matriz, com foco em nichos musicais específicos para  facilitar o desenvolvimento dos trabalhos. Enquanto isso, selos independentes transformam editoras, gravadoras e produtoras em uma mesma empresa, que se torna responsável pela captação, produção, mixagem e masterização das músicas, com o mesmo nome para o selo, a editora, a gravadora e a produtora.

Selos independentes no Brasil.

Selos independentes

Como empresas autônomas, todo ou maior parte do capital está nas mãos da pessoa dona do selo. No caso de artistas autônomos, há maior liberdade para a criação das composições, além da possibilidade de escolha de em quais gêneros e estilos se aventurar, assim como produzir e gravar suas músicas com o exercício da licença poética.

Com a redução dos custos dos materiais necessários para se criar um estúdio, muitos artistas se tornam produtores musicais, assim como produtores musicais se tornam artistas. Esse é o caso do Marcus Manzoni, que já lançou quatro álbuns e dois singles como cantor e compositor, e participou de uma coletânea internacional de um selo da Itália.

Em conversas no estúdio com os integrantes da banda Aerogramas chegou-se ao consenso de que faltava um meio de divulgação das bandas que eram produzidas na cidade e na região. “Faltava algo que levasse essas bandas adiante, e que as gravações daquele estúdio ou gravações em geral do meio independente da região, fossem levadas adiante, não parassem após a banda gravar e publicar para as pessoas. Naquele momento a gente se deu conta de que faltava um espaço a mais, que tivesse uma assessoria de imprensa, que levasse as músicas para as rádios e meios de comunicação, que fizesse a mídia social, etc. Foi a partir daquele momento que a gente viu que devia ser criado um selo fonográfico”, explica.

Manzoni fundou o selo independente Ué Discos em 7 de julho de 2014, reunindo os serviços oferecidos por editoras e gravadoras na mesma empresa. O selo musical Ué Discos hoje já conta com mais de cinquenta lançamentos e mais de vinte artistas lançados do Brasil e de alguns países do exterior também, como da Argentina, Itália, Portugal e Uruguai. Entre artistas e bandas autorais, estão Aerogramas, Bombo Larai, Matungo, San Diego e Vespertinos.

Marcus desenvolve uma história dos lançamentos da Ué, mencionando que em 2015, a gravadora lançou uma banda chamada Weird, da Itália, e  uma artista mulher , Armaud, que canta e também é da Itália; em 2016, o selo lançou o disco Vamo Matungá!, de Vandré La Cruz  de Porto Alegre, mas atualmente mora em Montevidéo, no Uruguai. A banda El Sonidero & Fanfarria Insurgente, uma banda da Argentina, localizada em Buenos Aires, entrou na equipe da gravadora em 2017.

Marcus divulga mais um artista lançado pela Ué Discos, o cantor e compositor de Portugal chamado Jass Carnival. “Hoje ele reside em Porto Alegre, está fazendo um doutorado na capital”, Manzoni menciona. Ele continua dizendo que foi através dessa estadia dele aqui no Rio Grande do Sul que ele conheceu a música dele, conversou com ele e lançou as suas músicas pela Ué Discos.

A Ué Discos possui com a parceria do Zás Estúdio Criativo, produtora de áudio de Marcus em que são realizadas as produções de artistas de Santiago e região. Como produtor musical, Manzoni é responsável por realizar as gravações, coordenar os músicos e cantores no processo criativo, fazer a supervisão da mixagem e também da masterização.

Segundo Manzoni, que trabalha há quinze anos com áudio em Santiago, o papel do produtor musical é guiar o artista para onde ele deseja ir com suas músicas. “O artista tem a ideia e o produtor musical faz a ideia acontecer, da forma que o artista imagina. Eu sempre peço um briefing antes do trabalho, para que eu possa saber o que ele está pensando e onde ele quer chegar no resultado final”, declara.

Ricardo Pereira é um dos membros do coletivo e selo musical independente 907Corp, onde atua como mestre de cerimônia, beatmaker e produtor musical. Assim como Manzoni, Pereira acredita que o papel do produtor seja induzir o que vai ser da música, desde o início no processo da criação do som até os processos finais, de edição, mixagem e masterização. “No cenário do RAP, o produtor é quem cria a história para o MC escutar o instrumental e escrever a letra. Ele vai escutando a música e o que está sendo cantado para ter uma ideia do que pode ser feito no processo de finalização da obra”, declara.

Um dos membros do coletivo é Eduardo Rodrigues, MC conhecido como VDNV ou VIDANOVA. Questionado sobre o início de sua trajetória no rap, declara que começou através da poesia, a parte que mais o interessou até que encontrar o ritmo. “Depois se formou o ritmo e a poesia foi quando deu aquele baque, sabe? Quando tu sente a emoção, a energia daquilo que tu tá fazendo, que tu sente que tu ama. E aí consegui ver que era isso que eu tava almejando”, relata Rodrigues.

Em referência a quais os motivos para trabalhar com música, afirma que vai mais pela questão do amor. “Acaba sendo como uma forma de trabalho porque a gente tem que sobreviver no mundo, mas é mais pelo amor”, esclarece. Segue o depoimento dizendo que prefere buscar sua forma de sobrevivência fazendo o que ama do que fazendo algo que não sinta prazer, que não sinta tesão. É a gente tentar correr atrás do nosso sonho, seja ele qual for.

Outro MC da 907Corp, Lucas Martins, conhecido pelo nome artístico Lilhouse, declara que escreve com o livre arbítrio, de compor, de que as suas letras sempre vão mudar alguém. Ele relata que a música salvou sua vida, e acredita que pode salvar a vida de outras pessoas também. Lucas diz ter sido muito depressivo e viu que poderia sair dessa escrevendo, compondo. Viu também que não era o único a passar pela depressão, e que a música pode mudar muita vida, então se jogou nisso. “Comecei a rimar pros outros, comecei a mostrar para os outros e sempre me apoiaram, diziam que era massa, que gostavam de ouvir aquele tipo de rima, aquele tipo de mensagem”, afirma.

Questionado sobre o trabalho de um MC, garante: “É sempre tá junto com a música, sempre tá presente com aquilo… Tu tá jogando tua vida naquilo, não é um trabalho muito fácil mas é um trabalho que leva tempo, e sempre tem alguém que vai tá ali contigo, vai tá te ouvindo, vai curtir o teu trabalho, então acho válido isso”.

Dentro do coletivo, a estudante de publicidade Camilla Xavier é responsável pela cobertura fotográfica e audiovisual, além de fazer a assessoria de comunicação da equipe. Além da Camilla, há o Yuri Marques que auxilia no marketing, através da fabricação de ilustrações para a equipe, de cuidar das edições e da distribuição digital.

Segundo Camilla, o trabalho de assessoria requer referências para a execução do trabalho. “Quando fui começar a fazer a assessoria do selo, procurei bastante referência musical no cenário do rap nacional, que eu achei que se encaixava no estilo dos guris. A partir daí, pensei em uma estratégia e montei o cronograma, organizando a agenda com shows, lançamentos de clipes e de músicas”. Além disso, a estudante também organiza a programação para fazer posts nas redes sociais, como Facebook, Instagram e Twitter, e pensa em uma estratégia para fazer os patrocínios, que tipo de patrocínio fazer e qual valor investir, assim como pensar em que público atingir”.

Os mestres de cerimônia (MC’s) e beatmakers da 907Corp falam sobre suas trajetórias, vivências e os motivos para fazer música no vídeo a seguir:

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Tratando da distribuição dos lançamentos da Ué Discos, Manzoni explica: “A distribuição é feita através da nossa parceira com a Tratore, uma empresa de São Paulo que é especializada em distribuição digital”. Segundo ele, depois que o artista gravou o álbum, é realizada a masterização e são enviados os arquivos com a melhor qualidade para a Tratore, empresa responsável pela distribuição em mais de 150 plataformas.

Em relação à divulgação e promoção dos lançamentos, Marcus afirma que a distribuição dos discos se desenvolve com o envio do press release para uma lista de contatos da comunicação da empresa, que contém blogs, influencers, sites, jornais, zines, etc.

Um cantautor

Vandré La Cruz. Foto: arquivo pessoal

Vandré La Cruz, o cantautor conhecido Matungo, descreve que faz música mestiça –  uma mistura de ritmos da região com ritmos populares. “O mágico da mestiçagem musical, desse rótulo, é que um boliviano e uma italiana podem estarem fazendo música mestiça, mesmo apresentando coisas completamente diferentes, desde que estejam ali coisas do seu chão misturado a outras”, assegura.

Questionado sobre porque decidiu trabalhar com música, contesta que nunca decidiu atuar na área. O cantautor afirma que trabalhar com música dá muito trabalho, girar por aí dá muito trabalho, assim como convencer as pessoas a te escutar dá muito trabalho.

Ele esclarece que, há muitos anos, decidiu que a música não lhe daria gastos. Sua vivência na música banca a si mesma, possibilita viagens, possibilita conhecer pessoas e lugares. “Gosto muito de fazer música. É uma necessidade física, mental e sentimental minha seguir fazendo música. Então sigo fazendo, do meu jeito, no meu tempo”, conta.

Respondendo sobre a ligação com a Ué Discos, Vandré relata: “Alguém me mostrou o disco do Marcus Manzoni. Ouvi, gostei e escrevi. Ele tinha um selo, conhecia a Bombo Larai, eu estava por gravar meu disco, conversamos e a coisa foi”. Afirma que recomendaria a qualquer artista independente uma parceria com um selo. Conclui que a Ué Discos foi importante em seu caso, pois colocaram as músicas nas plataformas de um jeito bonito e profissional.

Em relação ao seu projeto Matungo, Vandré afirma que começou com a necessidade de dizer coisas que não havia espaço na Bombo Larai, seu projeto anterior. “Na Bombo eu compunha para um grupo. A música tinha que falar por todos. E tinham coisas que eu queria falar. Então num primeiro momento foi isso. Depois somou-se a oportunidade e a vontade de morar no Uruguai. Então botei o Matungo na mochila e me fui. De lá pra cá tem o disco, uma ida até a Bolívia para receber um prêmio e muitas outras coisas. Atualmente estou com um segundo disco para ser gravado, e estamos estudando com algumas parcerias a melhor forma de fazer acontecer”, relata.

João Antônio Feijó é um músico integrante da banda San Diego. Descreve que é vocalista e compositor, e encontrou na música uma forma de expor as suas vivências e suas angústias, dentro da banda San Diego. Indagado sobre o que o levou a trabalhar com música, diz que não foi uma escolha, mas sim algo que o acompanhou durante toda a vida. “A partir do final da adolescência, tive vontade de externar isso por meio de uma banda autoral, que eu sempre pensei que fosse a melhor maneira ou a forma mais legítima de se fazer música”, conta. Sobre a banda, Feijó elucida que a San Diego começou sem a intenção de tocar as músicas compostas posteriormente.

Feijó declara que a composição dos sons começou de maneira despretensiosa, com as gravações das músicas ocorrendo em um quarto. O apanhado de músicas compostas se tornou o ep Full Storage, lançado pela Ué Discos em 24 de agosto de 2016. Conforme Feijó, a banda começou como uma expressão artística ao vivo em 2017. A partir daí a banda amadureceu, músicas de bandas anteriores dos integrantes que não tinham destino foram reutilizadas pela banda. Essas músicas foram aproveitadas na composição do segundo EP do conjunto, “Oito Anos”, lançado em 22 de agosto de 2018.

Em relação a produção das músicas da San Diego, Feijó afirma que quem tem mais visão de produção é o Guilherme, é a pessoa que lidera. “Nos dois discos, foi ele que puxou o carro da produção e que sabia o que a gente tinha que fazer. Claro que haviam discussões, mas ele mostrou um caminho bem certo do que a gente deveria seguir nas gravações”, expressa.

O músico afirma que a banda é bem calma, sem pressa e sem ambição, são trabalhos introspectivos e calmos, feitos emseu próprio tempo, mas que os membros da San Diego gostam muito e as pessoas que ouvem também se identificam. “Como todo mundo é cheio dos afazeres, é bem difícil tu se dedicar exclusivamente para a música, assim como é difícil arranjar um tempo para se dedicar ao processo criativo da música”, explica.

João afirma que a conexão com a Ué Discos é uma relação bem familiar, uma amizade que resultou no lançamento dos dois discos da banda pelo selo. Desde antes do surgimento da San Diego, a ligação com a gravadora já estava desenvolvida. “A Ué Discos se tornou um caminho muito apropriado pelo fato de que o Manzoni é amigo de longa data do Guilherme Brum, e a Aerogramas, banda do Rodrigo Nenê, também trabalha com o selo”, acrescenta.

Sobre o trabalho de um cantor, Feijó relata que seria tentar ser o mais verdadeiro possível no que se canta. Na opinião do vocalista, é o trabalho mais fácil. Mesmo com a questão de ter que se aproximar do público para fazer a frente, ele acredita que o trabalho do compositor é muito mais difícil, por depender de um estado mental de criatividade. Isso é a parte mais difícil de qualquer banda que dependa de composições, segundo Feijó. Sobre o processo de composição, ele afirma que só consegue criar em um estado de ócio, em um momento que não tenha que se preocupar com trabalho ou com a universidade. “A criação tem que ser uma coisa totalmente espontânea”, afirma.

Quanto ao trabalho de um cantor e compositor, ou cantautor, Vandré acredita que assim como todo e qualquer artista, é uma pessoa com a sensibilidade para absorver os sentimentos e angústias do seu tempo e transformá-las em arte, para devolver para a sociedade uma ferramenta para ajudar na compreensão do que somos e para que servimos como ser humano e como sociedade.

Dados sobre a distribuição digital via streaming

Pete Linforth por Pixabay

De acordo com o relatório da International Federation of the Phonografic Industry (IFPI), a média mundial de crescimento de vendas em 2018 em comparação com 2017 foi de 9,7%, enquanto a média brasileira chegou aos 15,4%, superando o crescimento mundial. Segundo a pesquisa, o Brasil está na décima posição em comparação com o mercado mundial, alcançando um montante de vendas de US$298,8 milhões.

O relatório feito pela organização engloba vendas físicas, qualquer faturamento gerado por meio da distribuição dos fonogramas em meios digitais, os direitos de execução pública para os produtores fonográficos e intérpretes, além dos valores gerados pela sincronização das músicas gravadas em obras audiovisuais ou publicitárias.

No Brasil, o relatório da federação é divulgado pela Pro-Música Brasil Produtores Fonográficos Associados, uma associação que reúne as gravadoras em atividade no Brasil. Conforme o presidente da associação Pro-Música, Paulo Rosa, o mercado brasileiro de músicas gravadas segue a tendência que iniciou em 2015 no mundo, do crescimento e recuperação das receitas fonográficas pelo streaming digital de áudio e vídeos musicais.

Em relação a 2017, o ano de 2018 teve um aumento de 46%, enquanto o crescimento mundial foi registrado em 34%. O número de assinantes de streaming de música subiu 45%, e alcançou 255 milhões de usuários. No Brasil, em relação com o ano de 2017, esse mesmo número era de 176 milhões de usuários. No ano de 2018, foram gerados US$ 207,8 milhões no setor de streaming. Enquanto US$ 151,6 milhões são originários das assinaturas mensais, US$ 18,8 milhões são da publicidade nas plataformas de streaming de áudio operantes no país.

Com planos em conjunto como, por exemplo, um para várias pessoas de uma mesma família e um para universitários, o Spotify oferece serviços com redução de custo para pessoas que queiram assinar o serviço. Além dessa possibilidade no Spotify, também temos a mesma opção no Deezer, enquanto o TIDAL não oferece esse serviço.

As assinaturas estão com crescimento de 53% enquanto a publicidade nas plataformas está com crescimento de 25%. Em contrapartida, as vendas físicas caíram -69% e os downloads pagos -39%. Esse crescimento das assinaturas mensais dos serviços de streaming demonstra o aumento do interesse do consumo musical via meios digitais, que pode ser explicado devido a facilidade de consumir música sem ocupar espaço nos aparelhos utilizados – o caso de quando são realizados downloads pagos.

 

Menos é mais! Foto: Pixabay

O movimento minimalista é um estilo encontrado no design, com a ideia de que “menos é mais”. Com origem em um conjunto de movimentos do século XX, o minimalismo tem como lema fazer coisas simples – mas não simplórias. Entre essas características, está o uso de menos elementos nas peças, para evitar poluição visual pelos excessos, como em ilustrações, por exemplo.

Aplicado tanto na arte como no design para a resolução de problemas, o movimento busca a essência no encontro com a simplicidade, para chegar na completude da vida. “O minimalismo é uma filosofia para que se mantenha consigo o que é mais importante”, descreve José Façanha. Designer gráfico há dois anos e seguidor do movimento, ele conheceu o estilo no design há um ano. Posteriormente, por meio do site The Minimalists, descobriu a vertente como uma filosofia de vida.

O designer José Façanha. Foto: arquivo pessoal

O desenvolvimento da filosofia do minimalismo é subjetivo, sendo pessoal a interpretação de quem for seguir os princípios. Sem regras para obedecer, a ideia é de que a pessoa mantenha consigo o que realmente faz sentido para sua vida, tanto objetos quanto hábitos e associações interpessoais, procurando mais relações com profundidade do que em grande número.

“O intuito simplesmente é manter aquilo que faz sentido e que agrega valor para tua vida”, elucida Façanha. Ele conclui que as práticas “menos é mais” ajudam muito em todas as áreas de seu trabalho, tanto na organização quanto na execução dos processos, no passo a passo da maneira como organiza seu dia, e que é influenciado pelos princípios do minimalismo em todo seu cotidiano.

Na rotina do designer, o minimalismo se apresenta pelo consumo consciente, evitando comprar por impulso ou apenas porque algum pertence está na promoção, ao pensar no impacto que cada compra poderá ter não apenas na sua vida, mas também na sociedade.

Rafael Miranda, jornalista especialista em marketing e músico, também segue a filosofia do minimalismo. “Quando comecei a trabalhar com marketing digital, iniciei uma busca por ferramentas que trouxessem resultados. Então me deparei com um mar de informações que não conseguia classificar. Para definir uma estratégia a longo prazo, percebi que precisava encontrar soluções”, declara Rafael.

Rafael Miranda, músico e marketing digital. Foto: arquivo pessoal

O músico conheceu o minimalismo por acaso, em uma pesquisa por literatura sobre foco, organização e planejamento, quando encontrou o documentário ‘Minimalismo’, realizado pelos criadores do site The Minimalistsde Joshua Fields Millburn e  Ryan Nicodemus. Para Rafael, muitos conceitos podem ser abordados no minimalismo, mas o núcleo principal é viver com aquilo que é essencial, ao procurar significado com maior profundidade, deixando de lado o que é supérfluo.

Em contrapartida ao consumismo exagerado, o minimalismo prega o consumo consciente e sustentável, conforme relata Façanha: “Sempre fui contra o consumo descontrolado, e nunca vi isso como uma forma de atingir a felicidade”. Ele acrescenta: “Ao aprender sobre o minimalismo como uma forma de viver com menos, achei fantástico. Era a explicação elaborada da filosofia de vida que eu estava tentando desenvolver”.

Em conexão com a arte e o design, Façanha percebe a influência do minimalismo hoje na maneira como a tecnologia se apresenta para as pessoas. “A experiência de usuário tem forte influência do minimalismo na maneira como os aplicativos são desenvolvidos, como as interfaces são desenvolvidas para serem intuitivas, sem gerar atrito no uso”, analisa.

João Vitor Generali, acadêmico de Medicina, conheceu o minimalismo na internet e pelo convívio com amizades que seguem a vertente. Ele diz que se tornou um adepto do movimento devido ao viés de desapego relacionado tanto a bens materiais quanto em relação a hábitos comportamentais. Segundo Generali, as práticas do minimalismo se desenvolvem através de uma filosofia, que permeia tanto o comportamento como a arte. Ele conclui que “se trata do uso de menos elementos em peças artísticas para dar margem a maiores interpretações subjetivas, dando liberdade para a reflexão de cada pessoa”.

Arthur Vanz, artista e estudante de Publicidade, Foto: arquivo pessoal

Outra pessoa que segue os princípios do minimalismo é Arthur Dalmaso Vanz, um artista em ascensão e estudante de Publicidade e Propaganda. “Minhas artes têm como objetivo exercer um impacto pequeno, para que algo pequeno no mundo mude”, conta ele.

Além de focar em sua faculdade, ele dedica boa parte do tempo para o projeto a ilha, no qual produz desenhos para serem tatuados. Ele relata que, desde a infância, teve grande interesse em desenho, como uma expressão de seus sentimentos e para cativar outras pessoas. Sobre o minimalismo, ele acredita que a vertente sempre esteve ali, em algum lugar, mas ele não sabia que nome dar ao movimento. Arthur conta que conheceu o minimalismo e se aprofundou nos conceitos quando entrou na universidade, percebendo que o estilo é interessante para a criação de suas peças publicitárias.

“O minimalismo como uma filosofia de vida é algo bem interessante, que eu defendo sempre que posso. O movimento prega que, em tese, você deve usar o mínimo de recursos possíveis, então eu evito o desperdício e trato a vida de forma objetiva. As coisas devem ser funcionais, não há porque ter uma abundância quando eu consigo me virar com o mínimo”, comenta. O artista conclui que, com a realidade atual do consumismo, gera-se um impacto negativo para a sociedade, e o minimalismo seria uma forma de impactar positivamente.

Quanto ao impacto, Generali é mais modesto, pois para ele o minimalismo é um ponto de partida para uma filosofia, um estilo de vida que traz a ideia de dar prioridade para valores humanos, desapegando de valores materiais para valorizar o importante – a vida.

Confira o minidoc com os depoimentos de Arthur e Rafael sobre a influência do minimalismo na arte: [youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=eRJvTIc1qwc” title=”A%20influência%20do%20minimalismo%20na%20vida,%20em%20desenhos%20e%20na%20música” autohide=”1″ fs=”1″]

Banda Marcial Manoel Ribas em desfile no final da década de 1950 na Rua do Acampamento. (Foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

Final dos anos 1950. Jogos da Primavera. Em frente ao Colégio Centenário, 200 componentes da Banda do Maneco, assim carinhosamente chamada, se preparavam para marchar na Rua do Acampamento. Na sacada dos edifícios mais altos da avenida, entre eles o Taperinha, dezenas de alunos, do Colégio Manoel Ribas, esperavam para jogar papéis picados. “Maneco! Maneco!”, ao descer a avenida, assim era recebida a banda comandada pelo mestre Binatão, relembra James Pizarro, ex-componente, que nos contou diversas história numa tarde chuvosa.

Pizarro se emociona ao falar da Banda. (Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM).

Pizarro, 76 anos, se emociona ao falar a história da Banda do Maneco, a qual ingressou no ano de 1957 e permaneceu por seis anos. O ex-componente relembra os momentos em que tocou flauta pífaro na banda que pertence ao colégio de mesmo nome. Pizarro começou a estudar no Colégio Manoel Ribas, quando ele ainda se chamava Grupo Escolar João Belém.

A Banda Marcial Manoel Ribas, foi fundada em 20 de outubro de 1956, a mais antiga em atividade no Rio Grande do Sul. Para participar da banda naquela época, era exigido que os alunos tivessem boas notas. O ex-componente da banda, conta que o então diretor, Padre Rômulo Zanchi, conferia o boletim dos integrantes e em caso de notas abaixo da média, o aluno deixava a banda.

Pizarro relembra um desfile na Rua do Acampamento. Na banda, ele tocava pífaro. (Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM).

Em 62 anos de história, já trouxe muita alegria para a cidade de Santa Maria em seus tempos áureos. Durante muito tempo foi considerada a banda referência no Estado. Pizarro relembra que, o diretor, Padre Rômulo Zanchi, entrou em contato com dois componentes da Banda dos Fuzileiros Navais (RJ) , a maior do país, para que viessem até Santa Maria ensaiar com a Banda do Maneco.

Além de ensaiar com os componentes da Banda do Maneco, a Banda dos Fuzileiros Navais também era referência. Pizarro conta que a evolução que mais agradava ao público, era a mesma tocada pela banda do Rio de Janeiro. Além disso, a Banda do Maneco desfilava formando uma grande âncora, que ocupava uma quadra inteira na rua.

A Banda Marcial Manoel Ribas se tornou referência no Rio Grande do Sul e era convidada para viajar por diversas cidades do estado. Em Santa Maria, era presença confirmada em qualquer festividade. Ao relembrar um momento marcante, Pizarro conta a primeira vez que a banda formou a palavra “Maneco”, no campo de futebol do Riograndense. “As arquibancadas estavam lotadas e aquele momento comoveu a todos. Alunos, pais, professores, todo mundo amava a Banda do Maneco”, diz Pizarro. O ex-componente acompanha até hoje os desfiles da banda e se emociona a cada vez que vê uma apresentação.

A Banda ainda faz bonito

Os anos passaram e a tradicional Banda do Maneco não parou no tempo. Após viver seus tempos áureos com grandes apresentações, começou a participar de campeonatos de bandas marciais e de fanfarras, onde fez, e ainda faz bonito. Referência no Rio Grande do Sul, o grupo vem colecionando premiações em diferentes concursos disputados pelo estado, brigando sempre pelas primeiras colocações.

Composta por 140 instrumentistas e 30 balizas, maior corporação do estado, a banda se prepara para uma competição em casa – o 27º Campeonato Estadual de Bandas e Fanfarras, em novembro deste ano. E para dar conta de um grande grupo, a Banda do Maneco conta do quatro coordenadores. José Paulo Rorato é o coordenador geral da banda, junto dele estão outros três, que fazem trabalho voluntário, Geison Nielsen, Daniel Santos e Nátura Mayer.

A Banda chegou a desfilar com 200 componentes no fim da década de 1950. (Foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

No início de cada ano, os coordenadores se reúnem para escolher o enredo da banda, com o intuito de formar um alinhamento perfeito e tornar o resultado final agradável para todas as categorias. Daniel Santos, professor de sopro, evidencia o que poderá dar mais destaque no repertório. De forma geral, as músicas são escolhidas para contemplar a totalidade.

Nátura, além de fazer parte da coordenação, também é coreógrafa das balizas, e acredita que o concurso na cidade seja a oportunidade de ganhar visibilidade diante da comunidade santamariense. Ela, que passou de aluna à professora, viveu diferentes momentos junto à banda.

A coreógrafa entrou no Colégio Manoel Ribas no ano de 2003, e seu interesse pela dança fez com que escolhesse o clube nas aulas de Educação Física. Ainda como caloura, se tornou Mór – integrante responsável pelas balizas. Anos depois, entrou na faculdade de Educação Física, e durante seu primeiro estágio, voltou às origens para coordenar as coreografias da banda – onde trabalha de forma voluntária até hoje.

Seu trabalho junto às balizas rendeu sete prêmios desde 2010. Referência quando se trata de novidades, no último ano Nátura deixou sua apresentação às escuras, sem nenhuma divulgação na internet e surpreendeu a cada novo passo. “Se um dia a gente lança uma menina no ar, no outro dia está nas redes sociais, e quando chegamos nos concursos sempre tem alguma coisa parecida, por isso, tentamos guardar segredo e chegar com muitas surpresas”, declara a coreógrafa, que pretende usar a mesma tática para o campeonato desde ano.

Apesar de ser considerada uma banda tradicional, a Banda do Maneco abre espaço para novas possibilidades. O grupo das balizas, que sempre foi composto por meninas, agora abriu espaço para dois meninos. Depois de três anos tentando essa inclusão no corpo coreográfico, esta é a primeira vez que o grupo participará de um campeonato de forma mista. Marcelo Dorneles, 18 anos, um dos balizas, contou que sempre recebeu convites para entrar no  time da dança, no entanto, o receio de sofrer preconceito por parte de outros meninos nunca deixaram com que ele tomasse coragem. Durante seus dois primeiros anos com a banda, o estudante participou do grupo de percussão.

Desfile na Avenida Medianeira em 2015. (foto: Arquivo pessoal de James Pizarro).

Depois que começou a ensaiar com as meninas, o estudante percebeu que nada mudou no comportamento dos outros colegas. “Não to nervoso para participar desse concurso, já havia me apresentado junto à banda. Apesar de não ter tanto tempo nas balizas como as meninas, eu sempre estava assistindo os ensaios, então já sabia as coreografias de cor e estou bem tranquilo”, declara Marcelo.

A Banda do Maneco além de formar músicos, também atrai os que já tem essa formação. Fernando Trindade, Mór do Sopro, conta que está na banda desde de 2014. Ele relembra como momento marcante, o campeonato vencido pela banda em Quaraí, no ano de 2015. Trindade, que conheceu a banda ainda como aluno do Maneco, toca trompete e auxilia os novos integrante na execução das músicas.

Por já ter passado por vários momentos com a banda, Nátura se incomoda quando é abordada por pessoas que já estudaram no Maneco, e afirmam “que no tempo delas, era muito melhor”. Como ex-aluna, ela reconhece as evoluções da banda todos os anos. “Sempre fomos muito além que outras corporações do estado. Somos exemplo, muito visados, e hoje concorremos na categoria musical porque mudamos nosso instrumental para melhorar o arranjo. Colocamos saxofones e outros instrumentos que não são mais da categoria marcial, justamente pra continuar melhorando”, explica a professora.

“Precisamos de ajuda!”

Com os olhos cheio de esperança, Nátura afirma que naquele cantinho de Santa Maria, há uma grande potência, que muita pessoas não conhecem. A escola conta com o projeto da Lei Rouanet, enviado a aprovado pelo Ministério da Cultura, com captação de R$ 295 mil. No entanto, ainda não conseguiram uma empresa da cidade que converta a dedução de imposto de renda em forma de doação para a banda. Para a professora, algumas pessoas não sabem que podem contribuir, ou acreditam que o processo possa ser muito burocrático.

Para ajudar a banda a arrecadar contribuições, um vídeo foi produzido pela Pastel Store Filmes e postado no Facebook da Banda do Maneco, pedindo o engajamento da sociedade santamarienses.

 

 

Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Cultural, no primeiro semestre de 2018, sob orientação do profº Carlos Alberto Badke.

Texto: Camila Fogliarini e Deivid Pazatto