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Lava Jato: vazamentos podem ter envolvimento de ex-procurador

Há uma semana, publiquei aqui uma hipótese improvável. Os vazamentos da Lava Jato, no site The Intercept Brasil, poderiam ser obra de alguém que esteve presente nas conversas ou teve acesso a elas, mas estava insatisfeito. Agora, um grupo

O silêncio da mídia

A prisão de Eduardo Cunha foi, sem dúvida, um grande marco da política. Um político que representa e defende os interesses da elite e dos fundamentalistas religiosos, preso,é um símbolo de que há, sim, justiça no

A Organização internacional Repórteres sem Fronteiras(RSF)  divulgou o Chamado, publicado hoje, quarta-feira, 31, e assinado pelas principais organizações internacionais e brasileiras de defesa da liberdade de expressão. O documento dá apoio à redação do site de jornalismo investigativo The Intercept Brasil que vem sendo alvo, desde 9 de junho último, do que denominam “uma violenta campanha de intimidação e desestabilização”.

Após o The Intercept  ter publicado uma série de reportagens sobre possíveis irregularidades ocorridas durante a operação Lava Jato, os editores e a redação do site passaram a sofrer ameaças e tentativas de desestabilização. Entre os ataques mais graves e recentes estão as ameaças de prisão contra Glenn Greenwald, fundador e diretor de redação do The Intercept Brasil, proferidas publicamente pelo presidente do país, Jair Bolsonaro, no último sábado, 27 .

A inciativa endossa o movimento da sociedade civil em defesa do trabalho dos jornalistas e da liberdade de imprensa no país. Desde sábado,  após as declarações da presidência da república, acontece uma série de manifestações públicas em diferentes cidades do país, em prol do The Intercept e da democracia.

O chamado também está disponível em inglêsespanhol e francês. Confira a íntegra do Chamado.

31 de julho de 2019

Chamado internacional em defesa da liberdade de imprensa no Brasil em meio aos ataques contra jornalistas do The Intercept

As 26 organizações defensoras da liberdade de imprensa e dos direitos humanos que assinam abaixo repudiam veementemente a onda de ataques e ameaças contra os jornalistas da agência de notícias The Intercept Brasil. Pedimos às autoridades que garantam o estrito respeito da proteção do direito ao sigilo da fonte, assegurado pela Constituição Federal. 

As ameaças e ataques começaram no dia 9 de junho de 2019, após a publicação de uma série de reportagens que apontam aparentes irregularidades ocorridas durante a operação Lava Jato, investigação que revelou um dos maiores escândalos de corrupção na história do país. Na publicação dessas revelações, baseadas em documentos obtidos por uma fonte anônima, o The Intercept Brasil firmou parcerias com diversos grandes veículos da imprensa nacional, como o jornal Folha de São Paulo e a Revista Veja. 

Desde então, os integrantes do The Intercept Brasil, e em particular seu cofundador, Glenn Greenwald, são alvos de inúmeros insultos, denúncias caluniosas e ameaças de morte, alimentados por notícias falsas que têm por objetivo descredibilizar o trabalho jornalístico realizado pela redação. O caso do The Intercept Brasil é simbólico e sintomático das dificuldades encontradas pela imprensa que investiga temas sensíveis no país, onde campanhas de intimidação e perseguição contra jornalistas se tornaram frequentes. 

Nós, que assinamos esse chamado, consideramos que as tentativas de desestabilizar e atingir a credibilidade do The Intercept Brasil e dos veículos parceiros nessas publicações, independente de sua origem, constituem uma grave ameaça para a liberdade de informação. Estas têm por efeito não somente desviar a atenção da opinião pública sobre o conteúdo das revelações, mas reforçam sobretudo o grau de hostilidade do ambiente em que atua a imprensa, em especial os jornalistas investigativos. 

Nós lembramos que o Estado brasileiro tem a obrigação de garantir a proteção dos comunicadores, assim como de investigar as graves ameaças recebidas pelos jornalistas do The Intercept Brasil e por veículos parceiros nessas revelações.

A liberdade de imprensa e de informação são os pilares da democracia, elas transcendem diferenças políticas e devem ser a garantidas e protegidas a todo custo.

Assinam:

Agência Pública de Jornalismo Investigativo
Amnesty International Brazil
Article 19 Brasil
Asociación de la Prensa de Madrid (APM)
Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)
Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE) de São Paulo
Committee to Protect Journalists (CPJ)
Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ)
Federación de las Asociaciones de Periodistas de España (FAPE)
Freedom House
Freedom of the Press Foundation
Global Editors Network (GEN)
Human Rights Watch
IFEX
Index on Censorship
Instituto Vladimir Herzog
Interamerican Press Association (IAPA/SIP)
International Press Institute
Intervozes
Mediapart
Observatório da Imprensa
PEN International
Reporters sans frontières (RSF)
The Guardian
Witness Brasil

Há uma semana, publiquei aqui uma hipótese improvável. Os vazamentos da Lava Jato, no site The Intercept Brasil, poderiam ser obra de alguém que esteve presente nas conversas ou teve acesso a elas, mas estava insatisfeito.

Agora, um grupo fechado no WhatsApp revela um nome. Diogo Castor de Mattos, paranaense de 32 anos, seria o ex-procurador da República descontente, homem que teria (até onde se sabe) a confiança de Deltan Dallagnol, acesso às importantes informações e aos chats.

Diogo Castor de Mattos ao lado de Deltan Dallagnol em foto publicada no dia 6 de março no Facebook do, então, procurador da Lava Jato. A saída seria por estafa física e mental. Foto: Reprodução/Facebook.

Seus irmãos, os advogados Analice e Rodrigo Castor de Mattos, donos de um escritório, estariam sendo investigados por extorsão, em casos de delações premiadas. Só um dos clientes de seu irmão Rodrigo teria pago 30 milhões de reais à banca. Diogo, por tabela, também estaria sob a lupa.

Em abril, o Conselho Nacional do Ministério Público aceitou pedido do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, para instaurar reclamação disciplinar contra ele. Mas não consta, até agora, algo ilegal que tenha sido comprovado contra o procurador.

“Trata-se de fake news o conteúdo que vem sendo compartilhado por meio de grupos de WhatsApp e publicados em alguns blogs que mencionam a atuação do procurador da República Diogo Castor de Matos como suposto autor de hackeamento de mensagens atribuídas à força-tarefa Lava Jato em Curitiba”, afirma nota da Lava Jato divulgada hoje.

O assunto Diogo Castor Mattos foi tratado de forma isolada em pelo menos nove reportagens e artigos de diversas fontes diferentes, como o ConjurO Estado de S.PauloO GloboFolha de S. PauloDiário do Centro do Mundo, entre outros. Mas o quebra-cabeça tem muitas peças soltas ou que não se encaixam totalmente.

O esquema, que chegaria ao TRF-4, envolveria ainda Maurício Gotardo Gerum, subprocurador e primo dos advogados. Diogo teria pedido afastamento da operação, também em abril deste ano, por “estafa física e mental“. Em nota, a força-tarefa “agradece a Diogo Castor pelos cinco anos em que se dedicou, com excepcional esforço, às investigações da Lava Jato.”

No dia 11 de abril de 2018, no plenário do STF, o ministro Gilmar Mendes chegou a falar em corrupção na Lava Jato, o que fez a força tarefa emitir nota, defendendo o procurador da República.

Ricardo Mendes é jornalista investigativo e consultor internacional. Autorizou que a ACS reproduzisse seus textos publicados originalmente na sua página na plataforma Medium.

Não vou escrever um texto de muitos parágrafos, porque o que há para ser dito pode ser resumido em algumas poucas palavras. Haverá muito que ler hoje e surgirá muito mais nos próximos dias, como nos revela o jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do The Intercept Brasil.

O pacote que ele publica das conversas entre procuradores da Lava Jato e Moro saiu de um aplicativo chamado Telegram, inventado por Nikolai e Pavel Durov. Ele é uma espécie de WhatsApp menos popular aqui no Brasil, embora muito mais potente. Um dos destaques da ferramenta russa é a sua capacidade de autodestruir mensagens em chats secretos.

Pavel Durov, inventor do Telegram, em evento de tecnologia em Berlim, 2013. Foto: CC BY 2.0, Wikipedia.

O autor das mensagens pode, por exemplo, programar quantos segundos o texto ficará ativo antes de virar “pó” na internet. As mensagens também são encriptadas. O foco do Telegram é privacidade e segurança e isto já gerou problemas legais na Rússia, no Irã e em outros lugares do mundo. Mas não há relatos de que o aplicativo, ou algum hacker, tenha vazado informações de conversas.

Uma possibilidade bastante concreta, é que um dos participantes dos grupos tenha documentado os chats por algum motivo e os entregou ao The Intercept. Outra, menos provável, é que os usuários não tenham conversado em um chat secreto nem destruído as mensagens. Mas, ainda assim, restaria a dificuldade de extraí-las do app.

Pergunta: quem entregou as mensagens para o The Intercept? Resposta provável: uma pessoa que estava em todos os chats.

Moro, Dallagnol e D’artagnan

O Ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Moro, assim como Deltan Dallagnol, procurador da Lava Jato, transformaram um sistema jurídico que deveria investigar e julgar (separadamente) em um rito sumário de condenação. A questão é que um precedente assim, tão explícito, coloca todos os brasileiros em risco de ir para a guilhotina. Quem serão os próximos?

Se não há verdade possível, sobra a mentira com todas as suas variáveis e dissimulações. Os chats vazados, pela riqueza de detalhes, colocam a Justiça no lugar que não deveria estar, sob uma desconfortável lupa. As conversas entre procuradores não só são imorais como também demonstram a falta de ética e, pior, a esculhambação generalizada.

As autoridades e organizações da sociedade civil têm um desafio enorme pela frente. Cobrar dos envolvidos explicações e a exemplar punição, tanto quanto possível. Ministros do Supremo Tribunal Federal já acreditam na anulação de sentenças de Moro. Seria o mínimo necessário para restabelecer algum fiapo de credibilidade.

Celebrado como o quarto mosqueteiro da obra de Alexandre Dumas, D’Artangn não deve ser confundido com o homem de carne osso Charles de Batz-Castelmore. Capitão da guarda de Luís XIV, ele que cuidou do cárcere de Nicolas Fouquet, espécie de ministro das finanças do rei — nos castelos de Angers, de Vincennes, na Bastilha e em Pignerol. Moro e Dallagnol , definitivamente, não são heróis.

Ricardo Mendes é jornalista investigativo e consultor internacional. Autorizou que a ACS reproduzisse seus textos publicados originalmente na sua página na plataforma Medium.

Observatório da mídia CS-02A prisão de Eduardo Cunha foi, sem dúvida, um grande marco da política. Um político que representa e defende os interesses da elite e dos fundamentalistas religiosos, preso,é um símbolo de que há, sim, justiça no Brasil. Será?!

É quase unanimidade entre os brasileiros, a satisfação em vê-lo atrás das grades. Mas por que a mídia não abordou a prisão de Cunha da mesma maneira como cobriu a condução coercitiva de Lula ou os outros escândalos do mesmo porte da Lava Jato? Alhures a Lava Jato, Cunha e Lula, foram descobertos outros dois grandes esquemas de corrupção e a mídia abafou. Por quê? Qual o motivo da Zelotes e do Panamá Papers não serem capa de jornal ou manchete na TV? Será que a indignação seletiva da Petrobrás em julgar, a qualquer preço, o PT, cegou o oligopólio da comunicação brasileira?

A parcialidade clara da justiça brasileira começa quando um indiciado em crimes como: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, entre outros crimes, conduz um processo de impeachment a uma presidenta que nunca teve seu nome incluso sequer em B.O de assalto. A não ser, claro, nos anos de chumbo da ditadura. Antes que alguém venha criticar o meu texto, recomendo estudar história e assistir a pelo menos dois filmes: “Batismo de sangue” e “O ano em que meus pais saíram em férias”. Talvez esses dois filmes, aliados a uma aula do que foi a ditadura, possam fazê-los enxergar melhor.

Voltando a falar sobre a parcialidade midiática brasileira, é nítida a discrepância de cobertura da grande mídia sobre os fatos acima mencionados. Se a Zelotes, maior escândalo de sonegação de impostos deste país, não é divulgada, há algo por trás. Segundo as investigações, há indícios de que uma das maiores afiliadas da Rede Globo está envolvida neste esquema, assim como proprietários de um dos maiores jornais diários e online do Brasil.

Já o Panamá Papers, maior caso de sonegação fiscal do mundo, não é divulgado pela mídia porque tem empresários, celebridades, jogadores de futebol, partidos políticos e até presidentes e chefes de Estados na lista de pessoas que lavaram dinheiro. Para quem não sabe, O Panama Papers é um trabalho de investigação jornalística internacional que compreende 107 organizações de mídia, que apuram o vazamento de 11 milhões de documentos. As informações foram vazadas de forma anônima para o jornal Süddeutsche Zeitung, de forma anônima. O veículo alemão compartilhou as informações com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que apura lavagem de dinheiro praticada por grandes empresários e políticos do mundo inteiro a partir de esquema de sonegação com o escritório de advocacia panamenha Mossack Fonseca e clientes. Dentre os clientes brasileiros na lista, aparecem Eduardo Cunha e sete partidos políticos brasileiros: PDT, PMDB, PP, PSB, PSD, PSDB e PTB.

Um escândalo deste porte, que envolve líderes mundiais como Vladimir Putin, presidente da Rússia, Maurício Macri, presidente da Argentina, foi praticamente esquecido pela mídia brasileira, que preferiu cobrir de forma parcial a Lava Jato, dando voz a uma parcela de pessoas, por interesses políticos e econômicos. A seletividade midiática na Lava Jato aconteceu desde o começo do processo, lá em 2014. Em março deste ano, foi divulgada uma lista, com pelo menos 200 deputados que receberam dinheiro de empresa indiciada na Lava Jato nas campanhas de 2014. A lista foi divulgada apenas em alguns sites e em uma emissora aberta, a Record. As demais fizeram vista grossa à lista.

A partir das explanações, mesmo que superficiais sobre as coberturas jornalísticas, é possível entender um pouco das agendas e a separação de assuntos de interesse público e de interesse do público. Os meios de comunicação se pautam a fim de nortear discussões de seus interesses. Pincelam e, às vezes, omitem fatos para que a opinião pública seja direcionada. Após a primeira votação do impeachment, em abril deste ano, o agendamento ficou mais claro ainda, quando as matérias que envolviam a Lava Jato perderam espaço para outras que destoavam do assunto política.

É preciso problematizar dentro da academia e das empresas de comunicação, a função do social dos profissionais de comunicação e dos veículos de mídia como formadores de opinião. Os meios de comunicação detêm o poder de informar, mas não podem usar esse poder a fim de elencar quais notícias a população deve ou não ter acesso. Embora haja filtros de notícias, eles não podem ser feitos a partir de interesses econômicos e ideológicos. Se assim for, a democracia, a liberdade e a sociedade estarão em risco como um todo. A história prova e comprova que a mídia exerceu e exerce função primordial nas mudanças sociais e na conjuntura mundial.

Pedro Correa é estudante  no curso de Jornalismo na Unifra.
Pedro Correa é estudante no curso de Jornalismo na Unifra.