Santa Maria, RS (ver mais >>)

Santa Maria, RS, Brazil

manifestações

Transição de governo começa hoje

Com 50,90% dos votos, ou 60 milhões, 345 mil e 999 votos, foi eleito o novo Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva no último domingo. O atual presidente, Jair Bolsonaro, contou com 49,10%, ou

Com 50,90% dos votos, ou 60 milhões, 345 mil e 999 votos, foi eleito o novo Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva no último domingo. O atual presidente, Jair Bolsonaro, contou com 49,10%, ou 58 milhões, 206 mil e 354 votos. Uma diferença de dois milhões, 139 mil 645 votos. Já para o governo do estado, Eduardo Leite saiu vitorioso com 57,1% dos votos válidos, contra seu oponente Onyx Lorenzoni, que recebeu 42,90% dos votos. No Rio Grande do Sul, houve um comparecimento às urnas de 80,22% da população, tendo o índice de 19,78% de abstenções.

O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, e equipe durante entrevista coletiva após reunião para tratar da transição. Crédito Marcelo Camargo/agência Brasil

Após a disputa apertada para a presidência do Brasil, segunda a Agência Brasil, hoje começa o período de transição, em que o governo deve disponibilizar à nova equipe informações referentes às contas públicas, aos programas e aos projetos do governo federal. De acordo com Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito, a partir de segunda-feira (7) começarão uma série de reuniões de trabalho. De acordo com a legislação, até 50 pessoas podem ser nomeadas para atuar no período de transição, grupo que pode ter ainda servidores federais e voluntários.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a diplomação dos candidatos eleitos deve ocorrer até 19 de dezembro, conforme a legislação eleitoral, embora a posse ocorra apenas em 1º de janeiro de 2023.

Desde segunda-feira, manifestações ocorrem em diversas partes do Brasil, de cidadãos contrários à vitória de Lula. No entanto, o ministro Alexandre de Moraes, em sessão do Tribunal Superior Eleitoral ocorrida hoje, garantiu que “não há como contestar um resultado com movimentos criminosos e os responsáveis apurados e responsabilizados. A democracia venceu novamente no Brasil.” Moraes ainda parabenizou o Tribunal Superior Eleitoral e os eleitores que estão cumprindo seu papel e respeitando a democracia.

Em Santa Maria, manifestantes contrários à decisão das urnas estão desde ontem, quarta-feira, 2 de novembro, em frente à 6ª Brigada, na avenida Borges de Medeiros, entre as ruas Venâncio Aires e Coronel Niederauer. Às 19h de quinta-feira, 3 de novembro, quando do fechamento deste texto, ainda havia manifestantes e o trânsito apresentava lentidão no local. Equipes de jornalismo relatam dificuldades para fazer a cobertura das diversas mobilizações pois estão sofrendo ameaças dos manifestantes.

 

Alex Monaiar, coordenador do DCE da UFSM, foi entrevistado pela ACS. Foto:arquivo.

Alex Barcelos Monaiar tem 24 anos e é estudante de psicologia. Ele também é coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e um dos organizadores dos protestos que aconteceram em Santa Maria na quinta-feira (20) e no sábado (22). Pâmela Matge da ACS conversou com ele sobre como o movimento adquiriu a proporção que atingiu.  

ACS Como é que o protesto começou a se articular em Santa Maria? 

Alex: Iniciou depois que a ATU propôs reavaliar o preço da tarifa (entende-se aumento) na reunião do Conselho Municipal de Transporte (CMT) dia 10 de junho. Sou representante do DCE nesse conselho, levei o relato da reunião para o grupo. Após, nos reunimos com os Diretórios Acadêmicos da UFSM no Conselho de DA’s e propomos uma agenda de mobilizações (panfletagem, debate e marcha) na cidade sobre a qualidade do transporte público e mobilidade urbana, para começar um diálogo com a cidade para que no momento que fossem aumentar o preço todos já estivessem cientes do que estava acontecendo. Após, nos reunimos com movimentos sociais, sindicatos e outras entidades da cidade que sempre foram nossas parceiras nessa luta pelo transporte público e acertamos a construção do debate que depois acabou virando um ato, na quinta, e da marcha, tendo o apoio desses grupos. Nesse meio tempo estouraram as manifestações no Brasil. A ATU ficou com medo das mobilizações e divulgou nota dizendo que não iria pedir o aumento. Diversas cidades no país reduziram a tarifa. Se antes era contra o aumento, agora é pela redução da tarifa. Junto a isso queremos um controle efetivo da prefeitura e da e da população sobre o transporte público, queremos a licitação para que possamos dizer o que queremos para o transporte público e aí as empresas que disputem para ver quem oferece a melhor proposta para prestar o serviço. 

 

Bandeiras do Brasil presentes nas manifestações. Foto: I. Branco

ACS – Tu esperavas tamanha adesão e tanta gente na rua? A quê esse expressivo número de pessoas pode ser atribuído? 

Alex – Quando nos propomos a construir essa marcha no Conselho de DA’s jamais imaginaríamos. Manifestos por um transporte público de qualidade tem quase todo ano. Os últimos “só” davam algumas centenas de pessoas. A má qualidade do transporte público e a ganância do empresariado do setor foi o estopim para desencadear diversas outra manifestações. O povo está cansado de estar à par das discussões dos rumos do país. As políticas sociais dos últimos 10 anos ajudaram muito a melhorar a vida do povo. Porém, essas mudanças estão chegando a um limite dentro da atual estrutura do país. As reformas de base (tributária, agrária, urbana, política, previdência) são essenciais para continuarmos avançando. Historicamente nos encontramos em um momento parecido com 1964, com movimentos de massa nas ruas e a urgência de reformas estruturais.

 

Manifestantes ocuparam as ruas de Santa Maria. Foto: I. Branco

ACS – Muito tem se falado da confusão entre o protesto ser ora um apartidário, ora um protesto com lideranças bem claras e ora um protesto com várias bandeiras, várias reivindicações. Como tu avalias isso?

Alex – É um protesto por direitos. Na democracia que temos hoje, que muitos lutaram e morreram para construir, temos a liberdade de expressão como um direito constitucional. Os partidos fazem parte dessa democracia. A última vez que não teve partidos foi na ditadura.

ACS – Durante a manifestação muitas vozes entoavam diferentes reivindicações. Como foi “puxar” e administrar tudo isso de forma organizada?

Alex  – O DCE da UFSM, junto com outras entidades e organizações da cidade, tem bastante experiência em organização de atos, pois essa é uma importante forma de luta e de expressão. Primamos pela democracia e pela defesa do Estado democrático de direito. Todas formas de expressão e reivindicações que vão nesse sentido são justas. Tentamos dar um foco maior para a redução da tarifa do transporte público, pauta originária dessa manifestação e algo bem concreto de ser conquistado muito em breve. Nos dividimos em comissões para organizar a agitação, saúde, segurança e metodologia do ato. 

ACS – Houve resistência ou divergências em relação a algum grupo que estava na manifestação?

Alex – Sim, sempre há. Por isso, a importância da organização para que possamos discutir e nos unir em torno de uma pauta maior. Há pessoas que discordam de bandeiras de partidos nos atos, porém os partidos fazem parte da democracia, goste ou não eles estão aí e precisamos entender o que cada um representa, afinal, ano que vem tem eleições, precisamos fazer com que essa força do povo nas ruas se expresse também nas urnas. Porém, a participação democrática e cidadã não pode se resumir somente ao voto, embora esse também seja importante. É preciso ter em conta também que o sistema político eleitoral atual possui diversos problemas estruturais, como o financiamento privado de campanha, esse e outros são problemas que afetam a todos os partidos, daí a importância da Reforma Política, não basta ser contra a corrupção, é preciso combater ela na raiz. Por último, gostaria de falar sobre a pichação na câmara, antes de qualquer julgamento sobre essa forma de expressão, sugiro que leiam o que foi escrito: “242”, “Justiça”, “Pizzaria do Schirmer”. Isso é a pichação em sua essência: resistência, expressão, luta política.

 

 ACS – Qual foi a maior dificuldade durante as manifestações e o que pode ser considerado gratificante?

Megafone à rua. Foto: I. Branco

Alex – Aprofundar a pauta do transporte público e mobilidade urbana. Ter acesso à cidade é uma questão direitos. A grande maioria depende do transporte público para trabalhar, estudar, se divertir, se encontrar, viver. Santa Maria está em uma situação calamitosa, diferente de outras cidades aqui não há licitação, soma-se à isso uma relação de favorecimento do grande empresariado com o poder público e temos uma festa de quem lucra às custas da população com a conivência daqueles que deveriam nos representar e defender (mesmo com o caso da Kiss, pouco se fala sobre os agentes públicos corruptos). Outra dificuldade, porém compreensível pelas limitações de uma marcha, foi compreender a diversidade das reivindicações, algumas são até contraditórias, por isso precisam ser discutidas e debatidas.

De positivo é a possibilidade de transformação social, todos estão querendo ir para as ruas agora, porém essa disposição de ir às ruas deve estar aliada à disposição para organização e discussão sobre os rumos do país. Se tem muito o que mudar, que mudança vamos propor? Não basta ser contra ou a favor, o momento é para propostas, precisamos ser protagonistas dessa mudança. Somente discutindo, nos unindo, e nos organizando é que poderemos realmente mudar esse país. Que a mudança venha das nossas mãos.

ACS – O que tu esperas a partir de agora?

Alex – O povo foi pra rua. Todos unidos pela redução da tarifa, mas compreendendo também que muitas outras coisas precisam mudar na cidade e no país. Está voltando um gosto pelo protesto, se espalhando pela população. É muito importante e espero que comece ser discutido mais profundamente.

Entrevista: Pâmela Rubin Matge, jornalismo Unifra

Fotos: I. Branco

A multidão tomou a rua Floriano Peixoto. Foto: Renan Mattos

Estudantes, famílias, movimentos sociais e entidades em geral, saíram mais uma vez às ruas de Santa Maria aderindo a onda de protestos que se espalharam de norte a sul do Brasil. A concentração iniciou às 10h na Praça Saldanha Marinho. Em seguida, um caminhão de som abriu caminho para as cerca de 30 mil pessoas participaram da manifestação que terminou em frente à Câmara de Vereadores por volta das 14h30, deste sábado (22).

Ora considerado um protesto apartidário, ora um protesto de várias bandeiras, o fato é que diferentes reivindicações estamparam cartazes e motivaram os gritos dos participantes. Foram criticados os gastos com a Copa do Mundo, a PEC 37, a precariedade da saúde e educação do país. Entre as principais reivindicações estavam a redução das tarifas do transporte público, o fim da corrupção, o veto do Ato Médico e o pedido de justiça às famílias das vítimas e sobreviventes da tragédia de 27 de janeiro.

Protestos pediram justiça para a tragédia da boate Kiss. Foto: Renan Mattos.

A administração municipal e a CPI da Boate Kiss foram, novamente, alvos de protesto.

Uma das inúmeras faixas que faziam menção à tragédia trazia o recado: “Nada será arquivado na nossa memória.” Em outra: “ E se fosse um filho teu?”

No meio da multidão um dos cartazes ironizava: “O Ministério da Saúde Adverte: em caso de suspeita de estar gay procure um médico antes de um psicólogo. #naoaoatomedico #naoacuragay.”

Não ao ato médico. Foto: Renan Mattos.

O responsável pela confecção da peça, Dione Gonçalves Lemos, de 24 anos desabafou: “É um retrocesso à saúde, pois sofrem os profissionais e sofrem ainda mais, os pacientes.” Dione é estudante de psicologia.

Já o grupo de ciclistas que se juntou a passeata carregava a faixa: “Esporte não é só futebol” Um senhor de cabelos brancos e passos lentos, erguia bem alto o cartaz: “ Aposentado também protesta!”

Segundo o comandante da Brigada Militar, coronel Jaime Machado Garcia a manifestação foi organizada e pacífica: “Foi tudo muito tranquilo e não houve nenhum incidente. Foi cumprido o itinerário de forma organizada, conforme o acordo que fizemos na reunião com o DCE da UFSM, o CEPRS e demais representantes sindicais.”

Movimento foi pacífico na tarde de hoje. Foto: I.Branco

Cartazes foram colados nas portas do prédio da SUCV. Foto: Renan Mattos

No fim protesto foram colados cartazes na fachada do prédio da SUCV, onde está localizado o Gabinete do Prefeito.  Já na Câmara de Vereadores, um pequeno grupo de manifestantes fez pichações na porta da casa dos edis, escrevendo as palavras: “justiça”, “242 motivos”, entre outras.

Os  motivos que levaram os manifestantes à rua:

Apesar da presença ostensiva do BOE, não houve atritos. Foto: Renan Mattos

“As manifestações são oportunas para que tem algo a reivindicar. Minha motivação é para que o Brasil se torne um país melhor em todos os sentidos: transporte educação, saúde e cultura.” (Fábio Prado Lima, 40 anos – Arquiteto)

“Eu fui lá muito mais para ver sobre o que o pessoal iria se manifestar, para fazer uma análise crítica sobre o que estavam falando. Achei muito fraco e vi que muitos também não gostaram das lideranças. Tinha tanta gente lá, com múltiplas reclamações, não gostei desse direcionamento. O movimento poderia ser mais forte elegendo temas de mais repercussão, ou que atingem mais pessoas. Os caras estavam reclamando das passagens e sequer pararam na frente da ATU [Associação dos transportadores Urbanos] para fazer barulho.” (Felipe Ceretta De Gregori, 27 anos – Advogado)

Manifestantes lotaram as ruas de Santa Maria. Foto: I.Branco

“Eu estava indignada com o que andava acontecendo e triste por ninguém se mobilizar. Sempre participei de marchas e eu não poderia estar fora desta. É um momento histórico contra a injustiça, contra o preconceito.” (Fernanda Beck Moro, 23 anos – Estudante de Artes Visuais)

O prefeito Schimer foi alvo dos protestos. Foto: I.Branco.

“É uma manifestação correta, para melhorar as coisas. O problema é que deixam vândalos entrarem e aí acho que deveriam se organizar melhor e a polícia deveria baixar o cacete.” (Daran Dorneles, 60 anos – Engenheiro Agrônomo)

“O que me motivou foi a possibilidade de divulgar uma ideia destoante do Movimento Passe Livre mostrando que o real problema é a intervenção estatal através de concessões que acabam por gerar oligopólios, estes, por impedirem a livre concorrência estimulam o aumento dos preços e a estagnação da qualidade do serviço prestado.” ( Quelen Garlet, 22 anos – Farmacêutica)

 

Manifestantes defendem a dignidade dos professores. Foto: I. Branco

“A força do povo sempre ajuda. Estamos aqui segurando cartazes porque perdemos muitos amigos, muitos. Quem deveria estar preso não está. Há muita impunidade.” (Leônidas Pinheiro, 23 anos – Estudante de Ciências Sociais)

“Todos nós [do Shopping Popular Independência] apoiamos e esperamos que o protesto seja pacífico. Somos 204 e todos aderiram, pois nossa história sempre foi marcada por manifestações.”(Magaiver Mello, 39 anos – Vendedor)

 

Reportagem: Pâmela Rubin Matge

Fotos: Renan Mattos e I. Branco