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racismo

Sobre histórias a serem contadas

Leguizamo me fez parar para rir, para discordar e para me angustiar ainda mais. Até ontem, ele era, para mim, um ator secundário da indústria de Hollywood, um bom ator coadjuvante. Até ontem. Seu trabalho em

Alunos da UFN realizam ato contra o racismo

Um ato contra o racismo foi realizado nesta terça-feira, 30, no pátio do conjunto III, da Universidade Franciscana. Os acadêmicos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda se mobilizaram  em repúdio a uma declaração racista encontrada no

Lágrimas negras

A noite de 29 de outubro foi, de longe, a mais difícil destes cinco anos. No momento em que abri aquela imagem, fui acometido por uma dor arrebatadora. Difícil acreditar no que estava acontecendo. Ainda mais

UFN repudia e vai investigar atos racistas

A reitoria da Universidade Franciscana divulgou na manhã de hoje,30, uma nota de repúdio à manifestação de cunho racista ocorrida nas dependências de uma sala de aula no conjunto 3. Na noite de ontem, 29, alunos e professores

Questão étnico-racial é tema de palestra do XXI SEPE

Com o tema “Uma abordagem antropológica sobre a diversidade”, Paula Simone Bolzan Jardim, doutora em Antropologia Social pela UFRGS e graduada em História pela UFSM, ministrou palestra na noite desta quinta-feira, no prédio 13 da Unifra.

John Leguizamo

Leguizamo me fez parar para rir, para discordar e para me angustiar ainda mais. Até ontem, ele era, para mim, um ator secundário da indústria de Hollywood, um bom ator coadjuvante. Até ontem. Seu trabalho em criar o teatro/filme/documentário ‘História da América Latina para idiotas’ chamou minha atenção. E começo com algumas ressalvas: ele comete muitos equívocos, cai em estereótipos para criticar outros, todavia há um argumento de fundo que vale a pena pensar. Nessa obra, ele roteiriza e apresenta o momento em que desnuda os sentidos de ser latino-americano nos EUA e esse é um momento crítico. Na peça, Leguizamo assume os papéis de professor, pai, terapeuta para falar sobre os elementos cotidianos e simbólicos que são acionados para compor o ‘ser latino’ como um estigma a partir do bulling que seu filho sofre na escola. Assim, o bulling aparece como um meio de atualizar a linguagem de pretensa superioridade da qual o do racismo é composto.

Gostaria de parar um pouco nessa expressão da ‘pretensa superioridade’ para examiná-la melhor. Essa parada demanda um pedido de ajuda para a psicologia, e de desculpas ao mesmo tempo, pois farei um uso um tanto frouxo dessa área do saber. A psicologia, que ao longo do século XX nos instruir na linguagem e no tratamento que damos a nós mesmos como espaço de saber. Menciono o termo frouxo para dizer que sou apenas uma entusiasta, uma apaixonada pela área e, portanto, não a uso com os critérios dos profissionais. Isso tudo para dizer que é necessário apontar que essa ‘pretensa superioridade’ é construída por esforços contínuos e repetitivos de inferiorizar outras pessoas, ações baseadas em sentimentos do espectro do ciúme ou da inveja. Ou seja, há necessidade de rebaixar o outro para se sentir melhor e esse pode ser um esforço individual contra alguém ou ações coletivas que se somam. É difícil escrever sobre isso. É terrível ser alvo disso.

Imagem de Gustavo Torres por Pixabay

Longe de ser unicamente uma expressão individual, historicamente a ‘pretensa superioridade’ se constituiu numa empresa: a empresa colonial, cujo alimento foi o racismo. Como alvos preferenciais, a empresa colonial atuou nos continentes Americano e Africano, apesar de ter atingido todo o mundo, sempre que um coletivo tentou inferiorizar o outro para constituir um domínio. E o racismo ou a ‘pretensa superioridade’ é uma herança cruel e sorrateira.

E isso parece não ter fim, porque se atualiza em formas mais sofisticadas de truculência. Leguizamo produz um roteiro de teatro/filme/documentário para contar como que ele descobriu esse processo atualizado na política de deportação e rejeição de imigrantes nos EUA atual, bem como, num conflito que seu filho enfrentava na escola. O menino, em brincadeiras bandido e mocinho, foi apontado pelos colegas como alguém que só poderia assumir o papel de bandido devido a sua descendência étnica. E isso completado pela percepção de que não pertencia àquele território e que não tinha direito a ser reconhecido, como os latinos em geral, como um cidadão legitimo daquele local. O objetivo da expressão do preconceito é quebrar o outro, para então poder submetê-lo.

A forma da apresentação do teatro/filme/documentário é a comédia e, apesar de provocar risos na plateia, constrange, vai se tornando mais e mais difícil de ouvi-lo. O ator traz ao palco livros didáticos usados atualmente nas escolas, e o retrato que emerge é de um sistema educacional que não valoriza as suas gentes, à medida que silencia sobre uns e mantém protagonistas outros. Leguizamo se coloca numa cruzada em busca de um herói latino e sente suas tentativas frustradas. É angustiante ver dramatizado o quão árdua é a tarefa de falar a história negligenciada pelos livros didáticos. É aterrorizante ver a associação dessa negligência com as políticas de um Estado democrático contemporâneo.

O gosto amargo ao final é pelo processo violento que se atualiza e se camufla no não reconhecimento do protagonismo do outro na construção da nação que se consubstancia no uso do termo ‘latino-americano’ como um deboche, um xingamento, uma pecha, um traço cultural ao qual os sujeitos são reduzidos e pelo qual são discriminados. O gosto amargo é o de perceber que a sociedade brasileira não está distante desse quadro, pois reafirma traços dessa colonialidade, da presença e o uso de pretensas superioridades para justificar privilégios.

Há muitas histórias a serem contadas, muitos silêncios a serem quebrados.

 

Paula Jardim Bolzan, historiadora e antropóloga, professora na UFN

Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM

Um ato contra o racismo foi realizado nesta terça-feira, 30, no pátio do conjunto III, da Universidade Franciscana. Os acadêmicos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda se mobilizaram  em repúdio a uma declaração racista encontrada no quadro da sala 606, na noite, de segunda-feira, 29. A frase “Da-lhe Capitão, pretos no tronco” ,  foi condenada por professores, técnicos e alunos da Instituição. 

Professores e alunos participaram do ato, que ainda deu espaço para os movimentos de Santa Maria que combatem o racismo e outras formas de preconceito.  

Para coordenadora do curso de Jornalismo, Sione Gomes,  “este é o momento de estarmos juntos nos manifestando contrários e solidários ao respeito com as regras e primarmos por esse espaço dentro da instituição como um lugar de respeito e de liberdade de expressão. Lugar em que, acima de tudo, esteja muito bem definida a abertura ao diálogo e a contrariedade e repulsa a ações que firam a essa construção”.  

O ato ainda contou com a participação da ativista do Movimento Negro, Alice Carvalho, que elucida que “a presença do racismo em todas as esferas e todos os espaços” da vida de uma pessoa negra, e a importância que a Universidade tem de “ser um agente transformador e não de manutenção de uma ordem”.  O manifesto foi apoiado por alunos dos demais cursos e representantes de coletivos de Santa Maria e do DCE da UFSM.

O ato foi legitimado pela fala de alunos negros da instituição, que subiram ao palco contando suas experiências dentro e fora da universidade, a luta diária para cursar um curso de ensino superior e as dificuldade que enfrentam. Uma delas foi a estudante Caroline Ferreira citou a frase da cantora e ativista Nina Simone, “Liberdade para mim é não ter medo”. Ela disse que, “apesar da pouca idade, já cheguei longe, e se hoje tenho espaço para falar é porque houve outras pessoas que vieram antes”.

A instituição também postou em sua página do Facebook uma nota de repúdio. A reitoria da UFN informou que haverá uma investigação interna.

Foto: Mariana Olhaberriet/ LABFEM

A noite de 29 de outubro foi, de longe, a mais difícil destes cinco anos. No momento em que abri aquela imagem, fui acometido por uma dor arrebatadora. Difícil acreditar no que estava acontecendo. Ainda mais ali, em um lugar para onde vou todas as noites. Em uma das salas que costumo ter aula. Sempre pensei que a universidade fosse um lugar para pessoas aprenderem a conviver, superar diferenças e se elevar intelectualmente. Um lugar neutro, longe da maldade do mundo. Um lugar onde as pessoas pensam, se educam e percebem seu semelhante da forma mais correta possível, como um ser humano.

Depois daquela imagem e com ela, só veio dor. Doeu na minha pele, na minha garganta engasgada com o choro de quem não acreditava. Não queria acreditar. Quando não coube mais dentro de mim tamanha tristeza, escorreu pelos meus olhos. Não só pelos meus, mas pelos olhos de todos aqueles que assim como eu, não conseguiram compreender o motivo de uma escrita tão perversa. Tão desumana. Aquelas palavras rabiscadas marcaram uma universidade inteira. Foi dolorido receber o impacto de tamanho preconceito e toda a bagagem negativa que veio com ele.

O racismo é um crime de ódio. Uma manifestação gratuita do que há de pior dentro do coração do homem. Vi muita gente chorando, de raiva, de dor. De um sentimento chamado empatia. Da capacidade de se colocar no lugar do outro e perceber o mal que fora gerado a partir do momento em que o giz foi pego para riscar aquele quadro. Vi rostos brancos, negros, pardos, de todas as cores escorrendo uma dor que a alma não tinha como suportar.

Se você me perguntar o que eu penso de ser negro? Vou te responder que ser negro em um país de brancos não é fácil. Ainda assim, tenho orgulho de minha cor, minha raça e minhas raízes. Este país foi levantado com suor e sangue negro. Pisamos em um solo que carrega a história da negritude. Um país com mais de 54% da população autodeclarada negra, não pode chamar este número tão majoritariamente gigantesco de minoria. Falta coerência nesta fala. Falta dignidade em reconhecer que o negro é discriminado. Que a escravatura foi abolida há 130 anos, mas no pensamento medíocre de uma mente doentia, o negro nunca vai deixar de usar correntes e dormir na senzala.

Não estava escrito meu nome naquele quadro. Estava escrito “Preto” e isso fere minha dignidade, minha tão simples e insignificante existência, enquanto alguém que está aqui de passagem. Não preciso que meu nome esteja lá, o racismo tem alcances muito maiores do que se possa compreender. Só sabe quem é “Preto”.

Vou lhe contar um segredo, sou feito de carne e osso. Assim como você, minha carne vai perecer e de mim só restará a lembrança de quem fui, as pessoas que toquei. Da minha pele negra, não sobrará nada. Da sua branca também não.

No momento em que partimos deste plano, deixamos tudo para trás. As roupas, a casa, o carro, tudo aquilo que conquistamos ao longo de nossa caminhada. O verdadeiro segredo que quero lhe contar é que estamos aqui para aprender. Para ajudar aqueles que precisam. Nossa tarefa não é discriminar, separar ou dividir as pessoas. É ensiná-las sobre o amor, a compaixão. Se você consegue entender o quão grandiosa é esta tarefa, parabéns.

Agora, se você entende que meu tom de pele lhe dá o direito de se ver como melhor que eu ou meus irmãos de cor, se o seu cabelo liso e suas roupas de grife lhe fazem mais importante que eu, ou se o seu olho claro consegue ver o que eu, cego, não posso ver, pois estou atormentado tentando combater meus demônios – e eles são muitos -, aí você certamente não terá aprendido nada nesta oportunidade que lhe foi dada. Vou ficar triste por você, mesmo que não queira. Não aceite! Cada um oferece aquilo que carrega no coração. Por dentro somos todos iguais, a cor da pele não pode ser tão importante assim. E se mesmo depois de tudo que falei nestas linhas, você continuar não entendendo o real significado do racismo, tente compreender então estas palavras: dor, morte, exclusão. Elas falam por si só!

A cultura do racismo precisa acabar. Este preconceito mata inúmeras pessoas todos os anos. Não podemos permitir que o ódio vença. Precisamos construir um mundo de amor. Precisamos dar as mãos uns aos outros, para que a corrente consiga ser mais forte. Mais forte que o racismo. Mais forte que a dor que hoje fala em nosso peito. Hoje é dia de dizer, basta. Racismo nunca mais!

Por Willian Ignácio, estudante de jornalismo na UFN

A reitoria da Universidade Franciscana divulgou na manhã de hoje,30, uma nota de repúdio à manifestação de cunho racista ocorrida nas dependências de uma sala de aula no conjunto 3. Na noite de ontem, 29, alunos e professores constataram que em uma das salas de aula do prédio 14, frases faziam apologia ao racismo. Mobilizados, os alunos marcaram para as 17h da tarde de hoje um ato de protesto e lançaram uma petição on line repudiando o ato.

Comunicada, a reitoria apoiou a mobilização dos estudantes e se comprometeu em investigar internamente o ocorrido, aplicando o que a lei determina nesses casos.  O assunto será retomado também no Conselho Universitário que se reúne hoje à tarde.

Confira a íntegra da nota da reitoria.

Em relação a uma mensagem produzida em ambiente acadêmico de cunho racista, postada em rede social, a Reitoria da Universidade Franciscana, UFN, condena o ato, interpretando-o como violento e inaceitável, repudiando qualquer forma de discriminação na universidade.
A instituição possui entre os seus princípios, que a diversidade representa o maior valor de uma universidade e, por isso, não apoia manifestações que não promovam o diálogo e o conhecimento.
Conforme o Regimento Disciplinar da UFN, praticar atos discriminatórios que infrinjam o respeito à diversidade e às diferenças culturais é passível de punição, com advertência, repreensão, suspensão ou desligamento institucional.
Diante do acontecimento, a Reitoria irá investigar os fatos internamente e, sendo o autor identificado, conforme disposições legais, poderá ser encaminhado as autoridades competentes, conforme Lei nº 7.716, Art. 20, que dispõe a pena para quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Em relação ao ato mobilizatório, previsto para este dia 30 de outubro, a Reitoria apoia e entende a pauta como fundamental para o fortalecimento da capacidade crítica, reflexiva e dialógica em vista da superação de atitudes discriminatórias de qualquer natureza.

 

O racismo ainda permanece em nossa sociedade e faz com que os negros tenham difícil acesso aos direitos que deveriam ser proporcionados a todos. A luta enfrentada por grupos de militantes da causa se torna mais forte e abrangente para apresentar as dificuldades e a falta de representatividade dessa classe em meio à grande massa.

Novembro é o mês da Consciência Negra. E, para dar destaque a esta data, foi realizado nos dias 10 e 11 deste mês, na auditório da Antiga Reitoria da Universidade Federal de Santa Maria, a 6ª edição do debate “Novembro Negro”. Na atividade, alunos de graduação e pós-graduação puderam expor seus trabalhos. Foram debatidos quatro temas, divididos nos seguintes eixos de apresentações: Violência, criminalidade e encarceramento; Migrações e refúgios; Racismo e subjetividade; Religiosidades Afro-Brasileiras: Intolerância Religiosa.

Uma das organizadoras da mesa-redonda, a professora Maria Rita Py Dutra, doutoranda em Educação e mestre em Ciências Sociais, docente há 30 anos, escritora e militante do movimento negro, concedeu à Agência CentralSul entrevista sobre o tema. Confira a seguir os principais momentos da conversa.

Maria Rita Py Dutra foi uma das organizadoras do Novembro Negro (Foto: GT Negros/Divulgação)

Agência CentralSul – Como a senhora avalia  o movimento negro dentro das escolas?

Maria Rita Py Dutra – Uma lei criou a semana nas escolas, porque a lei diz que é obrigado o ensino da história da cultura africana e que é para ter uma Semana da Consciência Negra. Isso foi um problema, porque a escola não faz nada durante todo o ano e quando chega em novembro começa a nos chamar para palestras. Eu acho que semana da consciência negra não deveria ter nas escolas, pois os professores devem trabalhar as questões étnico-raciais durante o ensino. Acho bem problemático, deveríamos ter um currículo antirracista em todas as áreas.

Agência CentralSul – Como a senhora avalia o preconceito das religiões de matriz afro na mídia, existe uma visibilidade ou eles acabam mascarando as coisas?

Maria Rita Py Dutra -Nosso maior problema é a questão da religiosidade, porque essas (igrejas) neopentecostais estão aí e elas possuem o poder. E é aquela coisa do Hitler, uma mentira dita muitas vezes se torna uma verdade. É eles principalmente através da igreja Universal possuem um plano político. Então é claro que muitas coisas não surgem na mídia, existe um desinteresse em mostrar os problemas enfrentados por nossas religiões.

Agência CentralSul – Existe uma preocupação do movimento negro com uma possível volta do Regime Militar?

Maria Rita Py Dutra – Eu não posso te falar em nome do movimento negro em si, porque eu por conta da faculdade estou um pouco afastada das militâncias. Mas nós do GT Negro temos essa preocupação. Meu medo maior é dessa radicalização que já está havendo. Meu medo é de que a bancada evangélica, por exemplo, assume o poder, porque isso está mais próximo e é preocupante demais. Temo até mesmo, daqui uns anos, ver gays, lésbicas e negros na fogueira.

Agência CentralSul – Toda essa desigualdade social é reflexo do racismo e da escravatura?

Maria Rita Py Dutra – Sim. Porque tudo passa pelos bancos escolares. E, por muito tempo depois do fim da escravidão, as crianças negras não ganhavam oportunidade de estudar, não podiam frequentar uma escola. E obviamente o racismo que ainda existe, por exemplo, em uma entrevista de emprego entre um branco e um negro a tendência é que seja escolhido um branco. O racismo influencia diretamente na questão da desigualdade social.  Nós precisamos de justiça social.

Agência CentralSul – Quais medidas a senhora crê que devam ser tomadas para expandir as informações sobre a cultura negra que possam diminuir o preconceito?

Maria Rita Py Dutra – A primeira medida a ser tomada é garantir o acesso e a permanência do estudante negro nas universidades. Depois disso, ele deve conseguir fazer o mestrado e o doutorado. As coisas só vão mudar quando nós tivermos professores negros em todas as universidades públicas e privadas do país. Existem muitos poucos professores negros nas universidades.

Agência CentralSul – Recentemente presenciamos ataques racistas dentro da UFSM. Como essa questão repercutiu na instituição?

Maria Rita Py Dutra– Os professores da universidade ficaram impactados. Não se esperava isso dentro de uma academia do curso de Direito (e de Ciências Sociais). Por isso que a gente entende esse Supremo Tribunal e esse Judiciário todo. As formações são muito retrógradas e conservadoras. O número de negros que frequentam faculdades é extremamente baixo e o ensino superior não foi pensado para a classe popular. Existe invisibilidade dos sujeitos negros, não só como estudantes mas também como professores. Temos relatos de colegas negros que o ônibus estava lotado e ninguém sentava do lado dele. O racismo está nas raízes do capitalismo e está atingindo toda a sociedade. Quem é diferente sofre em todas as localidades.

Caroline Freitas e Elizabeth Lima

Disciplina: Jornalismo Digital 1

Professor: Maurício Dias

Palestra sobre diversidade marca a noite de apresentações do XXI SEPE. Foto: Evelin Bitencourt

Com o tema “Uma abordagem antropológica sobre a diversidade”, Paula Simone Bolzan Jardim, doutora em Antropologia Social pela UFRGS e graduada em História pela UFSM, ministrou palestra na noite desta quinta-feira, no prédio 13 da Unifra. Contemplando o eixo de Direitos Humanos e Diversidade e baseando sua apresentação em estudos pós-coloniais, Paula questionou a criação social de um indivíduo modelo, ressaltando o papel gerador de pluralidades desenvolvido pela diversidade.

A partir de uma pesquisa etnográfica realizada em 2014, a professora relatou o silenciamento dos casos de racismo, grande empecilho no combate e resolução de crimes ligados ao preconceito racial. Como exemplo, pode-se citar o ocorrido no Diretório Livre de Direito da UFSM, no qual injúrias raciais foram escritas nos banheiros, além do nome de alunos do próprio curso; fato esse, desconhecido por grande maioria dos acadêmicos da instituição.

“A questão da mídia falhar, ou não, não é uma pergunta que nos ajuda muito. A gente tem que pensar em que tipos de mídia temos, que tipo de notícia estamos veiculando e que imagem estamos produzindo. Quando você silencia uma discussão e condição social, você não cria a possibilidade de as pessoas saberem e fazerem perguntas”, disse Paula, quando questionada acerca do destaque dado ao caso na mídia.

Segundo ela, a visão etnocêntrica e a política de branqueamento ainda agem como barreiras na tentativa de erradicar comportamentos preconceituosos, gerados, principalmente, pela tentativa de definir um modelo padrão de indivíduo. Essa máxima exclui os preceitos de diversidade presentes nas relações dialógicas humanas, que são fundamentais para a constituição da vida em sociedade.