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Santa Maria, RS, Brazil

Idosos são vítimas de seus próprios familiares

Em uma década, o número de idosos brasileiros cresceu 17%. Com o envelhecimento populacional, a tendência tem sido o aumento no caso de registros de maus tratos.

Os idosos constituem 8,6% da população total do Brasil, ou seja, são 14,5 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseado no Censo 2000.

Grande parte das denúncias de agressões contra idosos é realizada para acusar os próprios filhos da vítima (39,6%) e 9,3%, outros familiares ou pessoas próximas, como vizinhos e amigos, segundo estudos feitos pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM).

A família tem papel fundamental na proteção constitucional do idoso, quando não é esta mesma que pratica a violência. “A família é a base da sociedade e merece atenção especial do Estado, que deverá assegurar assistência a cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência em suas relações”, analisa a graduada em Serviço Social, Lucia Carvalho.

CARE

Segundo um dos artigos do Estatuto do Idoso, todos os casos suspeitos ou confirmados de maus tratos devem ser informados a profissionais da saúde, autoridades policiais ou a órgãos como Ministério Público, Conselho Municipal, Estadual ou Nacional do Idoso. Em Santa Maria, a Delegacia do Idoso funciona na Rua Duque de Caxias.

Desde 2004, está em funcionamento o  Centro de Apoio e Referência ao Idoso (CARE), que presta serviço jurídico, psicológico e social a pessoas maiores de 60 anos. O Centro visa dar atendimento e orientação para que os idosos de Santa Maria e região tenham assegurados seus direitos, promovendo sua cidadania, coibindo e denunciando agressões. Entende-se por maus tratos a idosos o abuso físico e psicológico, a negligência, a exploração financeira e a violação de direitos. 

No primeiro ano de funcionamento do CARE, foram atendidos 157 idosos e, em 2005, 151. A maioria dos que procuram o centro é formada por mulheres, totalizando 62,99% dos atendimentos. Sabe-se que as mulheres, em média, vivem mais que os homens. No Brasil, como na grande maioria dos países, o aumento da taxa de expectativa de vida ao nascer tem sido mais significativo no sexo feminino. “A mulher é mais solitária na velhice que o homem. Ela vive mais, casa-se mais jovem e, uma vez viúva, tem menor taxa de segundo casamento que o homem”, analisa Lucia Carvalho.

Os motivos pela procura ao CARE, segundo o responsável, Patrick Costa Meneghetti, vão desde solicitações de remédios e exames, aposentadoria, empréstimos e, principalmente, agressões. Há casos, ainda, de não recebimento de aluguéis. “Muitos idosos acabam alugando domicílios de forma informal, não registram em cartório e acabam não sendo pagos”, comenta Meneghetti, que realiza estágio pelo curso de Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma).

Como já foi falado anteriormente, a maioria das agressões parte da própria família. “Há uma incoerência porque aquela pessoa, que foi criada pelo pai, mãe, avó, depois que vira adulta, é a primeira a rejeitá-los, porque estão velhos”, fala o responsável pelo CARE, que funciona no Shopping Santa Maria.

Por se localizar no centro da cidade e ser gratuito, a procura parte de todas as classes sociais. Meneghetti observa que “isso prova que o problema é educacional, pois não importa a classe econômica, depois que envelhece, sofre problemas”. Explicando a frase inicial, complementa dizendo que é de extrema importância que ocorra uma educação para conscientizar as crianças, desde a pré-escola, de que um dia ela irá envelhecer também. “A realidade de agressão só vai ser mudada quando se começar a investir em educação”, complementa.

 

Trabalho voluntário
O acadêmico do curso Técnico em Enfermagem, da Universidade de Cruz Alta, Dorival Pereira Simões Neto, 23 anos, realiza trabalho voluntário em um centro que presta atendimento médico, fisioterápico e psicológico a pacientes idosos. Ele prefere não revelar o nome do local onde trabalha.

Pereira relata a trajetória da paciente L. B. S., de 80 anos, que reside com sua família e passa o dia no centro, retornando somente à noite para sua casa. No ano passado, L. B. S. sofreu um acidente e foi obrigada a fazer um implante total de quadril. Era necessário que tivesse feito sessões de fisioterapia, o que não aconteceu, havendo uma negligência por parte de sua família. A paciente relatou que o acontecido foi causado por ela mesma, pois estava lustrando o chão de sua casa. “Tem dias em que ela chega com cortes nas mãos ou no rosto e diz que se machucou sozinha, mas desconfiamos que esses machucados sejam feitos pelos próprios familiares”, conta Dorival.

O voluntário comenta, também, que a aposentadoria da paciente é em torno de 600 reais e que a família se nega a pagar a pequena mensalidade exigida pelo centro, onde já está incluso o pagamento de remédios e médicos. Acredita-se que os parentes fiquem com o dinheiro e não prestem a assistência necessária.

O acadêmico relata, ainda, que quando a idosa chegou ao centro estava muito magra e mal higienizada. Foi feito, então, o tratamento fisioterápico desde o início e fornecidos a ela os remédio antes já solicitados. “As necessidades dela foram supridas aqui no centro”, comenta Dorival, que diz, também, que houve proposta para a idosa ficar morando no centro, mas ela própria não quis, justificando que não quer deixar a família. L. B. S. sofre de depressão também, o que, segundo Dorival, aumenta o seu receio de denunciar seus familiares.

“Ficamos perplexos com o que acontece, mas temos o sentimento de que estamos fazendo o melhor que podemos para ajudar essas pessoas que, na maioria das vezes, necessitam apenas de companhia”, finaliza o voluntário.

 

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Os idosos constituem 8,6% da população total do Brasil, ou seja, são 14,5 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseado no Censo 2000.

Grande parte das denúncias de agressões contra idosos é realizada para acusar os próprios filhos da vítima (39,6%) e 9,3%, outros familiares ou pessoas próximas, como vizinhos e amigos, segundo estudos feitos pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM).

A família tem papel fundamental na proteção constitucional do idoso, quando não é esta mesma que pratica a violência. “A família é a base da sociedade e merece atenção especial do Estado, que deverá assegurar assistência a cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência em suas relações”, analisa a graduada em Serviço Social, Lucia Carvalho.

CARE

Segundo um dos artigos do Estatuto do Idoso, todos os casos suspeitos ou confirmados de maus tratos devem ser informados a profissionais da saúde, autoridades policiais ou a órgãos como Ministério Público, Conselho Municipal, Estadual ou Nacional do Idoso. Em Santa Maria, a Delegacia do Idoso funciona na Rua Duque de Caxias.

Desde 2004, está em funcionamento o  Centro de Apoio e Referência ao Idoso (CARE), que presta serviço jurídico, psicológico e social a pessoas maiores de 60 anos. O Centro visa dar atendimento e orientação para que os idosos de Santa Maria e região tenham assegurados seus direitos, promovendo sua cidadania, coibindo e denunciando agressões. Entende-se por maus tratos a idosos o abuso físico e psicológico, a negligência, a exploração financeira e a violação de direitos. 

No primeiro ano de funcionamento do CARE, foram atendidos 157 idosos e, em 2005, 151. A maioria dos que procuram o centro é formada por mulheres, totalizando 62,99% dos atendimentos. Sabe-se que as mulheres, em média, vivem mais que os homens. No Brasil, como na grande maioria dos países, o aumento da taxa de expectativa de vida ao nascer tem sido mais significativo no sexo feminino. “A mulher é mais solitária na velhice que o homem. Ela vive mais, casa-se mais jovem e, uma vez viúva, tem menor taxa de segundo casamento que o homem”, analisa Lucia Carvalho.

Os motivos pela procura ao CARE, segundo o responsável, Patrick Costa Meneghetti, vão desde solicitações de remédios e exames, aposentadoria, empréstimos e, principalmente, agressões. Há casos, ainda, de não recebimento de aluguéis. “Muitos idosos acabam alugando domicílios de forma informal, não registram em cartório e acabam não sendo pagos”, comenta Meneghetti, que realiza estágio pelo curso de Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma).

Como já foi falado anteriormente, a maioria das agressões parte da própria família. “Há uma incoerência porque aquela pessoa, que foi criada pelo pai, mãe, avó, depois que vira adulta, é a primeira a rejeitá-los, porque estão velhos”, fala o responsável pelo CARE, que funciona no Shopping Santa Maria.

Por se localizar no centro da cidade e ser gratuito, a procura parte de todas as classes sociais. Meneghetti observa que “isso prova que o problema é educacional, pois não importa a classe econômica, depois que envelhece, sofre problemas”. Explicando a frase inicial, complementa dizendo que é de extrema importância que ocorra uma educação para conscientizar as crianças, desde a pré-escola, de que um dia ela irá envelhecer também. “A realidade de agressão só vai ser mudada quando se começar a investir em educação”, complementa.

 

Trabalho voluntário
O acadêmico do curso Técnico em Enfermagem, da Universidade de Cruz Alta, Dorival Pereira Simões Neto, 23 anos, realiza trabalho voluntário em um centro que presta atendimento médico, fisioterápico e psicológico a pacientes idosos. Ele prefere não revelar o nome do local onde trabalha.

Pereira relata a trajetória da paciente L. B. S., de 80 anos, que reside com sua família e passa o dia no centro, retornando somente à noite para sua casa. No ano passado, L. B. S. sofreu um acidente e foi obrigada a fazer um implante total de quadril. Era necessário que tivesse feito sessões de fisioterapia, o que não aconteceu, havendo uma negligência por parte de sua família. A paciente relatou que o acontecido foi causado por ela mesma, pois estava lustrando o chão de sua casa. “Tem dias em que ela chega com cortes nas mãos ou no rosto e diz que se machucou sozinha, mas desconfiamos que esses machucados sejam feitos pelos próprios familiares”, conta Dorival.

O voluntário comenta, também, que a aposentadoria da paciente é em torno de 600 reais e que a família se nega a pagar a pequena mensalidade exigida pelo centro, onde já está incluso o pagamento de remédios e médicos. Acredita-se que os parentes fiquem com o dinheiro e não prestem a assistência necessária.

O acadêmico relata, ainda, que quando a idosa chegou ao centro estava muito magra e mal higienizada. Foi feito, então, o tratamento fisioterápico desde o início e fornecidos a ela os remédio antes já solicitados. “As necessidades dela foram supridas aqui no centro”, comenta Dorival, que diz, também, que houve proposta para a idosa ficar morando no centro, mas ela própria não quis, justificando que não quer deixar a família. L. B. S. sofre de depressão também, o que, segundo Dorival, aumenta o seu receio de denunciar seus familiares.

“Ficamos perplexos com o que acontece, mas temos o sentimento de que estamos fazendo o melhor que podemos para ajudar essas pessoas que, na maioria das vezes, necessitam apenas de companhia”, finaliza o voluntário.