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Mídia e poder: Marilena Chauí

Filósofa denuncia a tentativa de manipulação de informações para tentar direcionar o eleitor   

    Faixas, carros de som, panfletos, bandeiras, políticos… Até parecia um showmício do PT. Não era. Na noite de ontem, milhares de pessoas se acotovelavam às portas da Faculdade Visconde de Cairu, na cidade de Salvador, Bahia,  para assistir a palestra da filósofa Marilena Chauí.    

    Com o tema ‘Mídia e Poder’, Marilena conseguiu atrair principalmente intelectuais e estudantes, mas o estabelecimento se mostrou despreparado para receber as três mil pessoas que compareceram ao evento. Espremidos nas grades, os alunos gritavam: “Queremos entrar”, como quem espera o show de um grande ídolo.    Faltando 24 dias para as eleições majoritárias e para cargos do legislativo, muitos candidatos tentaram pegar carona na fama, credibilidade e visibilidade de umas das mais respeitadas fundadoras do PT.  É tempo de eleição e, diante das discussões políticas que antecedem o período e das denúncias que questionam a estrutura do sistema, jovens estudantes e até mesmo professores de diferentes áreas do conhecimento se mostraram interessados em entender de uma forma um pouco mais profunda a relação entre a mídia e o poder – tema central da palestra da filósofa. “Eu me preparei para 50, 60 pessoas e aconteceu isso. Receber esse carinho diante de tantos ataques me faz perguntar o que aconteceu quando eu nasci”, brinca Marilena.    

    Com discurso voltado para as eleições, a filósofa destacou a importância da mídia na construção da opinião pública e conseqüentemente a influência desta no período eleitoral. Durante uma hora e meia, falou, dentre outros temas, sobre a atual situação do PT, que, segundo Chauí, “sofreu com a abordagem da mídia em suas problemáticas”. Para a palestrante, a postura adotada por jornais, revistas e emissoras está conseguindo afastar a mídia da população. “O Povo está contra a Opinião Pública (leia aqui a opinião gerada a partir das informações veiculadas nos jornais e revistas)”, diz. Para ela, a prova desta tese é que, após tantas denúncias de corrupção contra o governo federal, as pesquisas ainda apontam o presidente Lula como favorito nas intenções de voto. “A opinião pública brasileira vence a mídia brasileira e fará Lula ganhar no primeiro turno”, completa.  

    Para Marilena Chauí, a sociedade brasileira é violenta, hierárquica, vertical, autoritária e oligárquica. O clientelismo bloqueia a prática democrática de representação. O representante não é visto como prestador de mandato dos representados, mas como um prestador de favores. “E se estende o chapéu para pedir favores” diz Chauí, “Há uma inversão de valores”, completa.     A escritora ressaltou a importância do cidadão no momento do voto. “As eleições não significam alternância no poder. Assinalam que o poder esta sempre vazio. O detentor do poder é a sociedade. Os governantes ocupam o poder temporariamente. Eleger significa não só exercer o poder mas, manifestar a origem do poder”, afirma. 

    A filosofa falou ainda da dificuldade para a democracia no Brasil. “A mídia faz com que o cidadão reconheça a sua ignorância. Acredite que a sua participação política se reduza ao voto. A mídia bloqueia a democracia”, afirma Marilena. 

    À beira das eleições, a filósofa afirma que o cidadão não sabe votar. A abdicação de lutas de classes  atingiu a dimensão da política. “As pessoas acham que são de esquerda e pensam em termos liberais”, conclui Marilena.

 

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Filósofa denuncia a tentativa de manipulação de informações para tentar direcionar o eleitor   

    Faixas, carros de som, panfletos, bandeiras, políticos… Até parecia um showmício do PT. Não era. Na noite de ontem, milhares de pessoas se acotovelavam às portas da Faculdade Visconde de Cairu, na cidade de Salvador, Bahia,  para assistir a palestra da filósofa Marilena Chauí.    

    Com o tema ‘Mídia e Poder’, Marilena conseguiu atrair principalmente intelectuais e estudantes, mas o estabelecimento se mostrou despreparado para receber as três mil pessoas que compareceram ao evento. Espremidos nas grades, os alunos gritavam: “Queremos entrar”, como quem espera o show de um grande ídolo.    Faltando 24 dias para as eleições majoritárias e para cargos do legislativo, muitos candidatos tentaram pegar carona na fama, credibilidade e visibilidade de umas das mais respeitadas fundadoras do PT.  É tempo de eleição e, diante das discussões políticas que antecedem o período e das denúncias que questionam a estrutura do sistema, jovens estudantes e até mesmo professores de diferentes áreas do conhecimento se mostraram interessados em entender de uma forma um pouco mais profunda a relação entre a mídia e o poder – tema central da palestra da filósofa. “Eu me preparei para 50, 60 pessoas e aconteceu isso. Receber esse carinho diante de tantos ataques me faz perguntar o que aconteceu quando eu nasci”, brinca Marilena.    

    Com discurso voltado para as eleições, a filósofa destacou a importância da mídia na construção da opinião pública e conseqüentemente a influência desta no período eleitoral. Durante uma hora e meia, falou, dentre outros temas, sobre a atual situação do PT, que, segundo Chauí, “sofreu com a abordagem da mídia em suas problemáticas”. Para a palestrante, a postura adotada por jornais, revistas e emissoras está conseguindo afastar a mídia da população. “O Povo está contra a Opinião Pública (leia aqui a opinião gerada a partir das informações veiculadas nos jornais e revistas)”, diz. Para ela, a prova desta tese é que, após tantas denúncias de corrupção contra o governo federal, as pesquisas ainda apontam o presidente Lula como favorito nas intenções de voto. “A opinião pública brasileira vence a mídia brasileira e fará Lula ganhar no primeiro turno”, completa.  

    Para Marilena Chauí, a sociedade brasileira é violenta, hierárquica, vertical, autoritária e oligárquica. O clientelismo bloqueia a prática democrática de representação. O representante não é visto como prestador de mandato dos representados, mas como um prestador de favores. “E se estende o chapéu para pedir favores” diz Chauí, “Há uma inversão de valores”, completa.     A escritora ressaltou a importância do cidadão no momento do voto. “As eleições não significam alternância no poder. Assinalam que o poder esta sempre vazio. O detentor do poder é a sociedade. Os governantes ocupam o poder temporariamente. Eleger significa não só exercer o poder mas, manifestar a origem do poder”, afirma. 

    A filosofa falou ainda da dificuldade para a democracia no Brasil. “A mídia faz com que o cidadão reconheça a sua ignorância. Acredite que a sua participação política se reduza ao voto. A mídia bloqueia a democracia”, afirma Marilena. 

    À beira das eleições, a filósofa afirma que o cidadão não sabe votar. A abdicação de lutas de classes  atingiu a dimensão da política. “As pessoas acham que são de esquerda e pensam em termos liberais”, conclui Marilena.