Interessados em games, computadores, televisão… Com todas essas atividades, sobra pouco tempo para as crianças se dedicarem ao hábito da leitura. Para lembrar o quanto ela é necessária para um país, como escreveu Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros”, hoje, também dia do aniversário do autor, comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil. Além de ser o maior incentivador da leitura para crianças, produziu não apenas histórias infantis moralizadoras, mas também ilustrou a realidade brasileira.
O Colégio Franciscano Sant’Ana de Santa Maria e a equipe da coordenadora pedagógica do ensino fundamental, Sandra Freitas, organizaram uma semana especial sobre literatura na escola. Entre os convidados esteve a escritora de Porto Alegre, Jane Tutikion, que tem em sua bibliografia 14 títulos individuais. “O contato com os autores possibilita quebrar a barreira idealista da coisa. Os alunos se sentem capazes de participar desse mundo, e até mesmo de escreverem seus próprios livros” comenta Sandra.
Ainda jovem, Jane escreveu uma peça de teatro e o fato de ter visto que os seus personagens podiam ter vida própria a fez começar a procurar e a escrever mais. Em 1981, lançou seu primeiro livro, “Batalha Naval”, com 17 pequenos contos que falam da vida de qualquer pessoa. Um livro, segundo ela, onde é fácil nos identificarmos. O segundo livro tratou da temática infanto-juvenil: “entrei no mundo adolescente sem querer, isso virou paixão e nunca mais sai dele” destaca.
Para ela, o autor não deve mais ficar naquela velha torre de marfim. A escritora diz que é com o contato que aprende sobre os assuntos a serem escritos. Como é o caso do seu novo livro, Fica Ficando. “Eu tenho 54 anos e não sei o que é ficar, isso não faz parte do meu mundo”, brinca. O livro será lançado pela Editora Edelbra durante a XIII Bienal do Rio de Janeiro em setembro deste ano. Jane afirma não ser uma contadora de histórias, mas sim de emoções: “gosto de escrever sobre o que as pessoas sentem”.
O problema da falta de leitura no país, segundo Jane, precisa ser desmistificado. Ela aponta que, em primeiro lugar, crer que todas as pessoas devem gostar de ler, é bobagem. “Tenho dois filhos, um advogado e outra engenheira, os dois tiveram a mesma educação e conviveram com uma mãe que é escritora. No entanto, a parte do cérebro da minha filha para as ciências duras é muito mais desenvolvida, diferente dele, que é a parte das humanas. Então, não podemos formar todos leitores e nem devemos”, ressalta. Ainda, para ela, temos o problema de divulgação e de distribuição no estado. “Tanto que um livro publicado aqui não chega nem em Santa Catarina, já um livro lançado em São Paulo é distribuído para todo o país” expõe. Assim, fica mais difícil as pessoas lerem.
Outra questão assinalada por ela é que a maioria dos professores não lê, há apenas algumas exceções e a maioria está dentro das escolas particulares. “A leitura precisa de paixão. Quando o mediador, que já faz tempo que deixou de ser a família – que está desestruturada – não incentiva, abre-se um buraco, e o mercado acaba preenchendo-o” finaliza, questionando sobre esta geração capaz de criar tudo, mas que ainda está longe de refletir sobre suas “criaturas”.
Foto: Núcleo de Fotografia e Memória (Joseana Stringini)