Não bastasse o fechamento dos cinemas de Santa Maria, a cidade volta a sofrer com a falta de investimentos na cultura. Há treze dias o Theatro 13 de Maio e a Casa de Cultura interromperam suas atividades por falta de energia elétrica. A expectativa é de que o fornecimento de luz seja normalizado até o final do dia de hoje.
No Theatro foram cancelados nove espetáculos. As demais contas, de responsabilidade da Associação de Amigos que mantém o prédio, estão pagas. O sentimento era de frustração e indignação porque, além da luz, também não havia água. O assessor de comunicação do local, Josias Ribeiro, 39, comenta da dificuldade de fazer cultura na cidade. ‘‘Encontramos várias dificuldades de produção, de locais, de incentivo, de patrocínio e, quando se consegue fazer alguma coisa, temos uma situação como essa’’, relata.
A Casa de Cultura também foi prejudicada. Suas oficinas foram canceladas e o espetáculo Outros Amores Talvez… , que estava programado para o dia 11 de agosto, foi transferido em virtude da falta de energia.
Diante deste caos ainda existem opções culturais. No Santa Maria Shopping, térreo da Pasqualini, o fotógrafo Janio Seeger apresenta a mostra ‘‘Pedaços do Sul’’. Nas suas fotos, Seeger retrata as paisagens e os costumes gaúchos. Por entre os que passam, a exposição chama a atenção pelos detalhes. ‘‘Eu acho que é uma oportunidade de apreciar, principalmente essas coisas que temos acesso sem pagar, porque qualquer pessoa que entra no shopping pode ter acesso a coisas bonitas. Pode apreciar o que é feito.’’, afirma a aposentada Rosita Silva, 57, que encantou-se pela modernidade das obras, que alia fotografia à molduras rústicas.
Já o Monet Plaza Shopping oferece de 1° a 31 de agosto a exposição de esculturas em cerâmicas "Formas", de Gracia Campos, na loja 79 (ao lado da Gang). No mesmo mês, de 02 a 31 é exposto o trabalho de Geovane Vianna,"Decoração e Arte em Ferro", na loja 38 (ao lado da Hangar) e de 05 a 31 a "I Mostra de Shodô e Sumi-ê de Santa Maria", em comemoração aos 50 anos de imigração japonesa em Santa Maria , na loja 91 (ao lado da Danielle Rocha).
No Centro, na 2º quadra da Bozano, a ab Galeria de Arte, trabalha, há 28 anos, divulgando obras de artistas nacionais e principalmente locais. Entre seu acervo estão pinturas, esculturas e artesanato, que variam de 20 a 6 mil reais. Para quem quiser prestigiar, seu funcionamento é de segunda a sexta, das 14h às 18h30, e nos sábados, das 9h às 12h30, ou pode conferir no site www.abgaleria.com.br
A Câmara de Vereadores de Santa Maria incentiva a cultura disponibilizando espaços para estudantes e artistas mostrarem seus trabalhos. As exposições são temáticas de acordo com o calendário da Câmara, tendo duração de aproximadamente duas semanas. Na Sala Eduardo Trevisan, no térreo, a expositora Vera Garcez Jardim apresenta ‘‘Círculos Mágicos – Mandalas’’. Já no segundo andar, o Espaço Novos Talentos, reservado para estudantes mostrarem suas criações, expõem os desenhos em nanquim feitos por Vinícius Oliveira.
Para quem gosta de história, o Museu Memorial Mallet, inaugurado em 1995, remonta guerras e conflitos que envolveram o exército e as tropas santa-marienses, além da trajetória de vida do Marechal Emílio Luiz Mallet e sua família. A visitação está aberta ao público de terça à domingo, das 8h às 17h.
Aos órfãos das salas de cinema o Cineclube Lanterninha Aurélio oferece sessões todas as quartas, às 19h, na CESMA. Já o Cineclube Unifra funciona todos os sábados, às 16h, no Campus I da Unifra. Encerrando o Ciclo de (a)normalidades, exibirá, dia 25, Bicho de Sete Cabeças. O professor Carlos Alberto Badke, 44, idealizador do projeto, comemora o sucesso do trabalho realizado por ele e seus alunos: "todos os sábados do ano letivo, de março a início de dezembro, sem falta, a gente apresenta filme de graça e, cada vez mais, o nosso público tem aumentado. Tínhamos uma média de 3 a 5 pessoas por sessão há dois anos atrás, hoje nossa média é 40, para filmes que nós jamais imaginávamos. (…) Tu ir compartilhar de uma obra com mais de 40 pessoas, é completamente diferente de ver em casa, deitado na frente da televisão, comendo pizza, com o celular tocando e com o controle remoto que podes tocar pra frente, para trás e parar. Perde completamente a magia."
Sobre o apagão cultural, Badke mostra-se revoltado com o descaso da Prefeitura santa-mariense. ‘‘Para mim o governo Valdeci selou com uma caveira, enterrou a cultura. Eu jamais pensei que pudesse ver isso em Santa Maria , e eu particularmente me sinto muito frustrado porque trabalhei na Secretaria de Cultura. (…) Então eu tenho vergonha, hoje, de estar nessa cidade sendo administrada por essas pessoas’’, conclui.
Diante desse episódio, os santa-marienses torcem para que não se repita tamanho descaso, e que o título de Cidade Cultura seja valorizado por parte dos governantes.