Na hora de comprar um produto ou contratar um serviço, o nome da empresa é fator de peso. Atestar a credibilidade de uma marca significa trazer para ela muitos consumidores atentos às campanhas de publicidade e à concorrência que o mercado oferece. Mas nem sempre a credibilidade de uma empresa está associada a sua competência. Prêmios baseados em pesquisas de opinião pode ser um grande engano para quem escolhe um produto a partir de uma referência falsa.
No próximo mês, uma empresa com histórico no ramo, e atuante em toda a região sul do Brasil, volta a Santa Maria para vender premiações. A Podhium Pesquisas e Publicidades mantém sua matriz em Cascavel, no Paraná, mas atua com dois representantes em diversas cidades da região sul do país.
Empresas e profissionais em cidades como Joinville, Jaraguá do Sul, Gramado, Uruguaiana, Rio Pardo, Rio do Sul e Santa Maria já foram contemplados com um troféu que lhes atribui destaque na sua área de atuação. A premiação garante a divulgação dos premiados na mídia local, e a participação em uma cerimônia de entrega do troféu e de um documento que atesta, com dados gráficos, o resultado da aplicação de questionários de pesquisa na comunidade.
À primeira vista parece ser uma premiação real, já que a Podhium, cadastrada no Conselho Regional de Estatística (Conre 4), afirma aplicar pesquisas de opinião pública, para eleger os melhores em cada categoria. Entretanto, a participação na pesquisa é facultativa, o que questiona a veracidade do resultado. Uma empresa ou uma pessoa física pode ser eleita a melhor entre as concorrentes, sem ter optado por estar inserida na pesquisa.
Representantes da Podhium em busca de clientes que compactuem com a proposta, visitam empresas com a intenção de vender certificações. A venda ocorre da mesma forma que a de um produto qualquer, em que se oferece algo por um determinado valor. Caso a empresa compre o produto, ela automaticamente se torna destaque no setor, e sua marca é colocada na mídia, sustentada pela premiação. Dois empresários locais, de ramos diferentes e que não querem ser identificados, confirmaram a venda da premiação sem a apresentação de documentos que comprovassem a aplicação de pesquisa de opinião pública, para eleger os melhores da categoria.
Nos dois casos, os representantes ofereceram a proposta de premiação com o argumento de que as empresas foram escolhidas as melhores por uma pesquisa realizada em determinado período na cidade. Porém, nenhum documento é apresentado para certificar o contrato. Ambas as empresas também afirmam que não foram procuradas antes, para optar ou não, pela participação na pesquisa, o que reprova a possibilidade da participação ser facultativa, como colocada pela Podhium.
A reportagem entrou em contato com a diretora da Podhium, Loiri Franco, para conhecer os procedimentos adotados pela empresa e ter acesso aos dados dos questionários aplicados em Santa Maria no ano de 2007. Ela confirmou a aplicação de questionários e também a possibilidade das empresas optarem ou não, por participar da pesquisa de opinião pública. Sobre os dados, Loiri disse que a Podhium mantém um arquivo referente aos últimos cinco anos, mas que o acesso a esses relatórios não costumam ser liberados. A diretora indagou o motivo das perguntas e encerrou a ligação dizendo que o Jurídico da empresa seria consultado e após enviaria algum documento, com relação às pesquisas aplicadas. Fato que não se concretizou.
Esse fato fere não apenas a ética do profissional de estatística que deve elaborar e avaliar os questionários para apresentar uma pesquisa verdadeira, como também a moral de quem participa de uma premiação deste tipo. Mas o principal prejudicado com estes acontecimentos é o consumidor comum, que compra uma propaganda enganosa, pelo julgamento equivocado e distorcido.
A legislação brasileira apenas faz referência à pesquisa de opinião pública eleitoral, e não abrange o procedimento vinculado ao ramo empresarial. Já o Código de Defesa do Consumidor atesta que propaganda enganosa é crime, na lei número 8.078, artigo 67, de 11 de setembro de 1990. O artigo 67, do mesmo Código, prevê detenção de três meses a um ano e multa, caso seja promovida publicidade enganosa. Além destes, o Código de Ética Profissional do Estatístico, divulgado pelo Conre (www.conre2.org.br/codigoetica.htm), afirma no artigo 7º, dos Deveres do Estatístico, que “exercer atividade profissional junto a empreendimentos de cunho duvidoso, ou a eles ligar seu nome”, fere a ética profissional.
Em Santa Maria, as empresas de publicidade e propaganda, com credibilidade no mercado, acabam misturadas às ofertas de fora, sem o mesmo valor e profissionalismo. Leandro Alves, diretor de publicidade da Orium, outra empresa do ramo, em Santa Maria, diz que sua empresa realiza uma pesquisa pela Orium Consulting, para verificar como o produto ou o seu cliente é aceito no mercado. A proposta é oposta a da Podhium, a Orium desenvolve pesquisas de mercado, com um caráter interno. Leandro afirma que existe na cidade empresas que vendem premiações, baseadas em pesquisas.
A diretora da empresa Art/Meio, Mara Matiuzzi, afirma que existem muitas empresas sérias no ramo de pesquisa de opinião pública, porém algumas desconsideram as normas legais e o bom senso. “As empresas que fazem isso, não deixam bem claro os objetivos pelos quais elas aplicam as pesquisas”, relata Mara. A Art/Meio não realiza este tipo de pesquisa, nem premiações do mesmo gênero, mas deixa a dica de que as pesquisas devem se basear em critérios e escolhas bem definidas, seguindo um padrão vinculado a entidades de classe.
A prática desse tipo de atividade tem se tornado cada vez mais freqüente na cidade, a busca pela venda de produtos e serviços e o aumento da concorrência dentro dos setores da economia faz surgir propostas de todos os tipos. Algumas delas, entretanto, ferem a ética profissional, a moral dos empresários e a inteligência do consumidor.
Caso haja dúvida, procure o Conre.
Conre 4ª Região
Jurisdição: Rio Grande do Sul e Santa Catarina