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Santa Maria, RS, Brazil

Camelôs comercializam anabolizantes

Os padrões de beleza mudaram com o passar do tempo. O que está em alta agora é ter corpo definido e malhado, mas para alcançar essa meta, o trabalho é árduo. Muitas pessoas cuidam da alimentação e se esforçam nas academias. Porém, existe quem escolha o caminho considerado mais fácil: o uso de anabolizantes. Para constatar se há em Santa Maria a venda ilegal de anabolizantes, a equipe de reportagem foi até camelôs e farmácias.

A venda de anabolizantes só é permitida nas farmácias e estabelecimentos autorizados através da apresentação de receita médica porque a maioria desses remédios são portadores de um princípio ativo designado para o tratamento de doenças como anemia, câncer e atrofias musculares. O medicamento Hemogenin, por exemplo, é usado no tratamento de anemias e em alguns estágios avançados de Aids.

Durante uma semana, a equipe percorreu farmácias do centro da cidade com intuito de comprar sem receita médica o Hemogenin. Em todos os estabelecimentos visitados, a resposta foi unânime: era necessário apresentar receita médica para adquiri-lo.

Outra opção foi recorrer ao comércio clandestino, no Camelódromo. Ao serem questionados sobre a venda do produto, muitos vendedores sequer conheciam o nome dos remédios solicitados – Hemogenin e Decadurabolin. Entretanto, numa das bancas, uma vendedora indicou um possível vendedor do Hemogenin, mas alertou que era para falar num tom mais baixo porque a venda acontece “por baixo dos panos”.

Logo em seguida, já com o número da banca, a equipe perguntou sobre o produto e o ambulante confirmou que vendia o medicamento, afirmando que geralmente tem para pronta entrega várias caixas. Porém, naquele momento, não tinha à disposição o anabilizante porque havia muita fiscalização: “Eu vendo sim, mas essa semana tá ruim porque os homens estão em cima”, disse.

O anabolizante é ofertado pelo camelô ao preço de R$ 20,00 e, para adquiri-lo, foi preciso fazer uma encomenda.  Com uma semana de atraso da data que havia sido combinada na primeira visita ao camelô, a equipe conseguiu uma cartela do medicamento Hemogenin apenas no dia 3 de julho. Depois de receber os R$ 20,00, o vendedor ressaltou que se houvesse interesse ele ainda dispunha de mais quatro cartelas para comercialização do mesmo medicamento. Além do anabolizanate ter sido comercializado de forma irregular, o esteróide foi entregue em uma cartela separada, sem a embalagem e sem a bula que indica a posologia dos comprimidos.

No caso da compra em camelôs, existe a irregularidade pela venda ilegal. Segundo o advogado Bruno Menezes, o responsável pela banca está exercendo ilegalmente a profissão. No caso da venda de anabolizantes, os camelôs respondem por falsificação. Mas, se o produto é original, respondem por sonegação. No código penal, não existem leis específicas para punir o comércio clandestino de remédios, especifica o advogado.

 
Venda facilitada na Internet

Para aqueles que não querem se envolver pessoalmente, é possível encontrar esteróides à venda na internet. Redes de relacionamento contam com comunidades destinadas a venda desses produtos. Sites e blogs sobre fisiculturismo, como musculacaoecia.com e corpoperfeito.com.br, oferecem anúncios de suplementos e anabolizantes e links que direcionam o internauta para outros sites.
 
Os preços variam de R$35,00 a R$255,00. Para adquirir os produtos, é necessário pagar um frete, que para Santa Maria é de R$46,00 e o prazo de entrega é de três dias. Para finalizar a compra, é preciso ser cadastrado no site e efetuar o depósito da quantia da compra. Existem, ainda, sites falsos, que não enviam os produtos depois do pagamento do pedido.

         
Venda apenas com receita médica

A venda de remédios controlados, drogas e esteróides anabolizantes é regulada pela Lei N.º 9.965, de 27 de abril de 2000. A lei determina que a venda só deve ser feita mediante apresentação e retenção, por cinco anos, da receita emitida por médico devidamente registrado no conselho profissional.


Caso a venda seja efetuada sem receita, a farmácia ou drogaria poderá sofrer as penalidades previstas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na Lei N.º 6.437, de 20 de agosto de 1977, que prevê advertência, multa, interdição parcial ou total do estabelecimento e cancelamento do alvará de funcionamento da empresa.


Anabolizantes podem causar até infertilidade

Mesmo sabendo dos perigos do uso de anabolizantes sem receita, muitas pessoas se sujeitam ao risco, e fazem uso sem recomendação médica. Na medicina, remédios para aumento da massa muscular são recomentados em casos não muito comuns, mas, mesmo assim, existe a chance da indicação para casos extremos de algumas doenças, como a Aids e a doença pulmonar obstrutiva crônica.

Segundo a endocrinologista santa-mariense Maristela Beck, anabolizantes não devem ser usados sem receita médica porque a pessoa se expõe a sérios riscos de saúde, já que o medicamento age na massa muscular. Alguns dos riscos que a pessoa corre ao usar anabolizante sem recomendação médica são: acne, inchaço facial, insônia, agressividade. No caso dos homens, pode ocorrer até redução dos testículos e infertilidade.

Professor de Educação Física há 13 anos, César Belloli, 41 anos, trabalha como instrutor em uma academia do centro da cidade e argumenta que o uso de esteróides anabolizantes se tornou bastante freqüente e que, cada vez mais, desperta o interesse dos jovens. Segundo ele, às vezes, aqueles que procuram um corpo perfeito se sentem desmotivados porque se trata de um processo demorado. Para acelerar o ganho de musculatura, alguns utilizam esses medicamentos para atingir maior índice de massa corporal em menor tempo.

O instrutor conta que, na maioria das vezes, usar anabolizantes parte de iniciativa dos próprios alunos. Os mais experientes e mais fortes que têm o hábito de usar acabam dando dicas de como tomar e o que tomar. Ele ressalta que a internet também é uma fonte muita rica em informações de como adquirir e de como fazer o uso dos esteróides. Quando questionado sobre como o produto é comprado pelos alunos, o professor explica que existem pessoas que têm acesso à receita, seja por “amizade ou parceria com médicos, conseguindo comprar facilmente os anabolizantes nas farmácias”, menciona.

Pela experiência e convívio em academias e escolas, Belloli ainda fala sobre a indicação dessas substâncias nas academias de musculação e centros de treinamentos por parte dos próprios instrutores. Segundo ele, a falta de formação profissional de muitas pessoas que trabalham nesta área contribui diretamente para este agravante. “Como em qualquer outra área, existem muitos profissionais que atuam sem formação. Eles não têm o conhecimento teórico, só prático, e não estudaram, por exemplo, fisiologia. São geralmente com estes profissionais que acontecem casos de indicação dessas substâncias”, conclui o professor.

 
O que diz a lei
 
No Rio Grande do Sul, a Lei N.º 12.542, de 29 de junho de 2006, obriga as academias de ginástica, clubes desportivos e estabelecimentos similares, a exibir em suas dependências placas de advertência sobre as conseqüências do uso de anabolizantes. A placa deve ter 30 centímetros de largura por 20 centímetros de altura e conter os seguintes dizeres: "O uso de anabolizantes prejudica o sistema cardiovascular, causa lesões nos rins e no fígado, degrada a atividade cerebral e aumenta o risco de câncer".

Uso veterinário 

Existe ainda quem tome drogas de uso veterinário, ou seja, anabolizantes para cavalos. O remédio mais conhecido é o Equipoise, que aumenta a massa muscular humana ainda mais rápido que os hormônios de uso humano. Porém, os riscos também são maiores, segundo alerta o próprio Ministério da Saúde: até mesmo a primeira dose pode ser letal.

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Os padrões de beleza mudaram com o passar do tempo. O que está em alta agora é ter corpo definido e malhado, mas para alcançar essa meta, o trabalho é árduo. Muitas pessoas cuidam da alimentação e se esforçam nas academias. Porém, existe quem escolha o caminho considerado mais fácil: o uso de anabolizantes. Para constatar se há em Santa Maria a venda ilegal de anabolizantes, a equipe de reportagem foi até camelôs e farmácias.

A venda de anabolizantes só é permitida nas farmácias e estabelecimentos autorizados através da apresentação de receita médica porque a maioria desses remédios são portadores de um princípio ativo designado para o tratamento de doenças como anemia, câncer e atrofias musculares. O medicamento Hemogenin, por exemplo, é usado no tratamento de anemias e em alguns estágios avançados de Aids.

Durante uma semana, a equipe percorreu farmácias do centro da cidade com intuito de comprar sem receita médica o Hemogenin. Em todos os estabelecimentos visitados, a resposta foi unânime: era necessário apresentar receita médica para adquiri-lo.

Outra opção foi recorrer ao comércio clandestino, no Camelódromo. Ao serem questionados sobre a venda do produto, muitos vendedores sequer conheciam o nome dos remédios solicitados – Hemogenin e Decadurabolin. Entretanto, numa das bancas, uma vendedora indicou um possível vendedor do Hemogenin, mas alertou que era para falar num tom mais baixo porque a venda acontece “por baixo dos panos”.

Logo em seguida, já com o número da banca, a equipe perguntou sobre o produto e o ambulante confirmou que vendia o medicamento, afirmando que geralmente tem para pronta entrega várias caixas. Porém, naquele momento, não tinha à disposição o anabilizante porque havia muita fiscalização: “Eu vendo sim, mas essa semana tá ruim porque os homens estão em cima”, disse.

O anabolizante é ofertado pelo camelô ao preço de R$ 20,00 e, para adquiri-lo, foi preciso fazer uma encomenda.  Com uma semana de atraso da data que havia sido combinada na primeira visita ao camelô, a equipe conseguiu uma cartela do medicamento Hemogenin apenas no dia 3 de julho. Depois de receber os R$ 20,00, o vendedor ressaltou que se houvesse interesse ele ainda dispunha de mais quatro cartelas para comercialização do mesmo medicamento. Além do anabolizanate ter sido comercializado de forma irregular, o esteróide foi entregue em uma cartela separada, sem a embalagem e sem a bula que indica a posologia dos comprimidos.

No caso da compra em camelôs, existe a irregularidade pela venda ilegal. Segundo o advogado Bruno Menezes, o responsável pela banca está exercendo ilegalmente a profissão. No caso da venda de anabolizantes, os camelôs respondem por falsificação. Mas, se o produto é original, respondem por sonegação. No código penal, não existem leis específicas para punir o comércio clandestino de remédios, especifica o advogado.

 
Venda facilitada na Internet

Para aqueles que não querem se envolver pessoalmente, é possível encontrar esteróides à venda na internet. Redes de relacionamento contam com comunidades destinadas a venda desses produtos. Sites e blogs sobre fisiculturismo, como musculacaoecia.com e corpoperfeito.com.br, oferecem anúncios de suplementos e anabolizantes e links que direcionam o internauta para outros sites.
 
Os preços variam de R$35,00 a R$255,00. Para adquirir os produtos, é necessário pagar um frete, que para Santa Maria é de R$46,00 e o prazo de entrega é de três dias. Para finalizar a compra, é preciso ser cadastrado no site e efetuar o depósito da quantia da compra. Existem, ainda, sites falsos, que não enviam os produtos depois do pagamento do pedido.

         
Venda apenas com receita médica

A venda de remédios controlados, drogas e esteróides anabolizantes é regulada pela Lei N.º 9.965, de 27 de abril de 2000. A lei determina que a venda só deve ser feita mediante apresentação e retenção, por cinco anos, da receita emitida por médico devidamente registrado no conselho profissional.


Caso a venda seja efetuada sem receita, a farmácia ou drogaria poderá sofrer as penalidades previstas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na Lei N.º 6.437, de 20 de agosto de 1977, que prevê advertência, multa, interdição parcial ou total do estabelecimento e cancelamento do alvará de funcionamento da empresa.


Anabolizantes podem causar até infertilidade

Mesmo sabendo dos perigos do uso de anabolizantes sem receita, muitas pessoas se sujeitam ao risco, e fazem uso sem recomendação médica. Na medicina, remédios para aumento da massa muscular são recomentados em casos não muito comuns, mas, mesmo assim, existe a chance da indicação para casos extremos de algumas doenças, como a Aids e a doença pulmonar obstrutiva crônica.

Segundo a endocrinologista santa-mariense Maristela Beck, anabolizantes não devem ser usados sem receita médica porque a pessoa se expõe a sérios riscos de saúde, já que o medicamento age na massa muscular. Alguns dos riscos que a pessoa corre ao usar anabolizante sem recomendação médica são: acne, inchaço facial, insônia, agressividade. No caso dos homens, pode ocorrer até redução dos testículos e infertilidade.

Professor de Educação Física há 13 anos, César Belloli, 41 anos, trabalha como instrutor em uma academia do centro da cidade e argumenta que o uso de esteróides anabolizantes se tornou bastante freqüente e que, cada vez mais, desperta o interesse dos jovens. Segundo ele, às vezes, aqueles que procuram um corpo perfeito se sentem desmotivados porque se trata de um processo demorado. Para acelerar o ganho de musculatura, alguns utilizam esses medicamentos para atingir maior índice de massa corporal em menor tempo.

O instrutor conta que, na maioria das vezes, usar anabolizantes parte de iniciativa dos próprios alunos. Os mais experientes e mais fortes que têm o hábito de usar acabam dando dicas de como tomar e o que tomar. Ele ressalta que a internet também é uma fonte muita rica em informações de como adquirir e de como fazer o uso dos esteróides. Quando questionado sobre como o produto é comprado pelos alunos, o professor explica que existem pessoas que têm acesso à receita, seja por “amizade ou parceria com médicos, conseguindo comprar facilmente os anabolizantes nas farmácias”, menciona.

Pela experiência e convívio em academias e escolas, Belloli ainda fala sobre a indicação dessas substâncias nas academias de musculação e centros de treinamentos por parte dos próprios instrutores. Segundo ele, a falta de formação profissional de muitas pessoas que trabalham nesta área contribui diretamente para este agravante. “Como em qualquer outra área, existem muitos profissionais que atuam sem formação. Eles não têm o conhecimento teórico, só prático, e não estudaram, por exemplo, fisiologia. São geralmente com estes profissionais que acontecem casos de indicação dessas substâncias”, conclui o professor.

 
O que diz a lei
 
No Rio Grande do Sul, a Lei N.º 12.542, de 29 de junho de 2006, obriga as academias de ginástica, clubes desportivos e estabelecimentos similares, a exibir em suas dependências placas de advertência sobre as conseqüências do uso de anabolizantes. A placa deve ter 30 centímetros de largura por 20 centímetros de altura e conter os seguintes dizeres: "O uso de anabolizantes prejudica o sistema cardiovascular, causa lesões nos rins e no fígado, degrada a atividade cerebral e aumenta o risco de câncer".

Uso veterinário 

Existe ainda quem tome drogas de uso veterinário, ou seja, anabolizantes para cavalos. O remédio mais conhecido é o Equipoise, que aumenta a massa muscular humana ainda mais rápido que os hormônios de uso humano. Porém, os riscos também são maiores, segundo alerta o próprio Ministério da Saúde: até mesmo a primeira dose pode ser letal.