Relato de viagem – Depois de 40 horas de viagem entre carros, ônibus, aviões e shuttle (van), mais ou menos 9.500 km, cheguei. Fiquei em Provo, que se localiza a 40 minutos da capital de Utah, Salt Lake City. Só que Salt Lake não é só a capital do estado, é a capital mundial dos mórmons. Sim, os mórmons. Aqueles educados e simples rapazes que peregrinam o mundo na tentativa de angariar mais e mais membros para sua religião. Só que os mórmons rendem um capítulo à parte e, nesta hora, vale a pena redigir um pouco sobre a experiência que tive nos EUA.
A minha rotina em Provo era acordar cedo e trabalhar. Fui funcionário do Marriott – uma rede de hotéis – durante quase três meses e o serviço era exaustivo: limpar, conservar e arrumar quartos.
Logo que cheguei ajudava outras housekeepers (camareiras) e aprendia com elas os macetes para fazer o serviço rápido e de modo
eficaz. Mas não interessava apenas a velocidade, era importante, e muito, a qualidade. Se fizesse rápido e não estivesse bem feito, tinha que voltar e fazer de novo. Eu devia conferir se o hóspede tomou café, trocar o tipo de café e limpar a cafeteira, limpar a lixeira, trocar as fronhas, três camadas de lençóis, verificar quantas toalhas foram usadas e trocá-las, repor sabonetes, xampus, condicionadores, loção corporal, tirar o pó dos móveis e, por último, passar aspirador. Ufa! Acho que não esqueci nada, até porque, se esqueci, terei de escrever de novo: tinha que voltar no quarto para executar o que estava faltando.
Assim que deixei de acompanhar uma housekeeper e trabalhar sozinho, o número de quartos era oito. No dia seguinte eram 10. Assim, dia após dia, foram sendo acrescidos dois quartos. Até que cheguei ao ‘patamar’ de limpar e arrumar míseros 16 quartos, sozinho e no mesmo tempo que um dia limpei oito. Dá para acreditar? Pois é, por isso que era exaustivo e considerado por eles (norte-americanos) um subemprego. Eu também considero. Das diversas colegas camareiras que haviam lá, muitas eram mexicanas (uns 70%), algumas eram da terra do tio Sam mesmo e revoltadas com a vida (15%) e os outros 15% intercambistas. Pelo fato de as norte americanas trabalharem num subemprego (na visão delas e na minha) já era um bom motivo para ter um mau humor tradicional e diário com a vida, tudo e todos. Porém o que fui observando com o tempo era: não interessava se era tua colega de trabalho, tua chefe, tua supervisora, enfim, o cargo no trabalho não mudava aquela espécie de desprazer com a vida… Uma das impressões que fiquei, foi de um povo frio, individualista, consumista e, em alguns casos, gente boa.
A viagem para os EUA foi de grande valia em todos os sentidos, foi inesquecível, grandiosa, única. Não sei quando de novo vou poder tirar umas ‘férias’ assim. E por saber disto é que aproveitei cada dia ao máximo, como se fosse o último e único. No decorrer dos três meses e alguns dias que fiquei lá, juntei dinheiro, assim como fizeram outros três amigos e planejamos uma viagem. Partimos de um fim de mundo religioso, como era Provo-Utah, para um estado quase do mesmo tamanho, mas muito, muito mais capitalista: Nevada.
A capital de Nevada é Las Vegas: incrível, inexplicável, iluminada, grande, bonita, rica, enfim, imensuráveis qualidades, tanto boas quanto ruins. Mas foi na Califórnia que vi como os Estados Unidos é imponente, independente e um lugar bom. Na Califórnia, cidade grande era apelido. Uma das muitas que conheci foi Los Angeles (L.A.): segunda maior metrópole do país e, junto com suas cidades conturbadas, forma uma das maiores áreas urbanas do mundo. Era uma selva de concreto infinita. Casa, prédio, casa e prédio que não acabavam mais. No estado que também se encontra o Vale do Silício, tive a oportunidade de conhecer onde é entregue o Oscar em Hollywood, o bairro das estrelas, Beverly Hills, as praias de Malibu e Santa Mônica, a cidade das pontes, San Francisco e muitas coisas, situações e lugares que se possa imaginar. Para ser sincero, só passando por lá para saber mesmo. Então, depois de viajarmos mais ou menos 4500 km, por 16 dias, atravessando 4 estados, era hora de voltar para casa. Voei, andei de carro, ônibus e se foram mais aqueles 9500 km iniciais e cheguei no Brasil. Entre diversas conclusões que a viagem me proporcionou, ruins e boas, uma posso afirmar: se for para os Estados Unidos, não deixe de conhecer a Califórnia.