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Marina Colasanti desconstrói seu cavalo

Uma vez perguntaram a Michelangelo como esculpir um cavalo. Ele respondeu que era simples: Pega-se um bloco grande de mármore tira-se tudo o que não é um cavalo e ali está ele. Foi assim que a escritora Marina Colasanti começou sua conferência no VIII Seminário Internacional de Letras do Centro Universitário Franciscano (Unifra) nesta sexta-feira. Ao exemplo de Michelangelo, ela tentou contar como teria sido a sua vida se dela tirasse os livros.

 

Marina disse falar há muitos anos sobre leitura, discutindo no almoço e no jantar, este que é um assunto incessante em casa. Ela é casada com o também escritor e poeta é Affonso Romano de Sant’Anna. Para a autora, nós simbolizamos tanto a vida que ela acaba sendo uma representação. Acabamos sendo sujeitos com a necessidade da linguagem para nos expressarmos e falarmos conosco mesmos. “A mim a que coube foi a linguagem escrita”, argumenta.
Tirando os livros da sua infância, ela acabaria também com a voz amorosa e doce de mulher que lia para ela dormir, a voz da sua mãe. Com isso, acabaria o aprendizado da linguagem escrita por meio da oralidade e as boas noites de sono pós conto de fadas. “Eu pularia na cama, como se pula em um poço. Também não teria patinhos feios, como eu, para me dizer que um dia poderia virar um pássaro”, complementa.
Já na fase dos livros de aventura, ela teria que defenestrar os Três Mosqueteiros e O Homem da Máscara de Ferro e, assim, perderia um bom pedaço da história da França. E não saberia como é importante escolher os amigos e o significado do lema “Um por todos e todos por um”. Com isso, seus livros perderiam as máscaras que tantas vezes nele aparecem.
Se os piratas abandonassem sua vida, abandonariam também os seus livros. E não teria aprendido com Peter Pan que é impossível deixar de crescer, o preço é caro demais. E ela veria as ilhas como um acidente geográfico e não como o isolamento de cada ser humanos e do próprio mundo. E não aprenderia com elas que, com inteligência, pode-se reinventar a vida sempre.
Ela ficaria com o tédio ao invés de com a Enciclopédia Infantil.  Perderia com Dom Quixote o encontro do sonho de um com a solidez realista de outro. Também cairia fora de sua trajetória Marcos Pólo e Ulisses. E, com eles, iriam os Mitos Gregos. “Os mitos têm uma força muito grande de comunicação, com isto eles se impõem. São a nossa realidade interna trazida à superfície” explica a autora sobre os mitos que tanto usa em sua literatura.
Acabariam os romances de má qualidade da sua adolescência, mas por outro lado repletos de paixões. A edição do Pinóquio, que até hoje ela tem também seria esquecida. A escritora fica feliz por ter sugerido o lançamento de uma coleção dos livros do Pinóquio para as crianças brasileiras, pois há uma identificação muito grande entre ambos. “Pinóquio é a história de um herói pobre. As crianças brasileiras convivem muito com a pobreza. E o herói, no fim, renasce denso e bonito”, reflete a autora.
Deixaria para trás os amigos dela: Bandeira e Andrade. E todas as leituras que fez por blocos: escritores russos, norte-americanos e chineses. Os russos, que para ela são os melhores arquitetos literários; e os americanos, que ao oposto são secos, jornalísticos e objetivos. Entram nessa lista, ainda, desde escritos de Papini a Yasunari Kawabata, primeiro japonês laureado com o Prêmio Nóbel da Literatura.

No final das contas, Marina Colassanti não vai tirar nenhum autor da sua vida. Ao contrário, diz ter gratidão infinita pelo que fizeram a ela. “Me ajudaram a compreender a vida e a me compreender um pouco melhor. Ao escrever, tento ser um elemento que também ajude na compreensão das coisas”, finaliza a autora.

Marina Colasanti é formada em Jornalismo e em belas artes .Tem mais de 40 livros publicados, entre contos, poesia, prosa, literatura infantil e infanto-juvenil. Muitos destes, com publicação também no exterior.  Foi redatora do Caderno B e do Caderno Infantil, do Jornal do Brasil e trabalhou 18 anos para revistas femininas. Em paralelo a esse trabalho, ela percorre o país como conferencista e arrecada diversos prêmios importantes da literatura.  

 

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Uma vez perguntaram a Michelangelo como esculpir um cavalo. Ele respondeu que era simples: Pega-se um bloco grande de mármore tira-se tudo o que não é um cavalo e ali está ele. Foi assim que a escritora Marina Colasanti começou sua conferência no VIII Seminário Internacional de Letras do Centro Universitário Franciscano (Unifra) nesta sexta-feira. Ao exemplo de Michelangelo, ela tentou contar como teria sido a sua vida se dela tirasse os livros.

 

Marina disse falar há muitos anos sobre leitura, discutindo no almoço e no jantar, este que é um assunto incessante em casa. Ela é casada com o também escritor e poeta é Affonso Romano de Sant’Anna. Para a autora, nós simbolizamos tanto a vida que ela acaba sendo uma representação. Acabamos sendo sujeitos com a necessidade da linguagem para nos expressarmos e falarmos conosco mesmos. “A mim a que coube foi a linguagem escrita”, argumenta.
Tirando os livros da sua infância, ela acabaria também com a voz amorosa e doce de mulher que lia para ela dormir, a voz da sua mãe. Com isso, acabaria o aprendizado da linguagem escrita por meio da oralidade e as boas noites de sono pós conto de fadas. “Eu pularia na cama, como se pula em um poço. Também não teria patinhos feios, como eu, para me dizer que um dia poderia virar um pássaro”, complementa.
Já na fase dos livros de aventura, ela teria que defenestrar os Três Mosqueteiros e O Homem da Máscara de Ferro e, assim, perderia um bom pedaço da história da França. E não saberia como é importante escolher os amigos e o significado do lema “Um por todos e todos por um”. Com isso, seus livros perderiam as máscaras que tantas vezes nele aparecem.
Se os piratas abandonassem sua vida, abandonariam também os seus livros. E não teria aprendido com Peter Pan que é impossível deixar de crescer, o preço é caro demais. E ela veria as ilhas como um acidente geográfico e não como o isolamento de cada ser humanos e do próprio mundo. E não aprenderia com elas que, com inteligência, pode-se reinventar a vida sempre.
Ela ficaria com o tédio ao invés de com a Enciclopédia Infantil.  Perderia com Dom Quixote o encontro do sonho de um com a solidez realista de outro. Também cairia fora de sua trajetória Marcos Pólo e Ulisses. E, com eles, iriam os Mitos Gregos. “Os mitos têm uma força muito grande de comunicação, com isto eles se impõem. São a nossa realidade interna trazida à superfície” explica a autora sobre os mitos que tanto usa em sua literatura.
Acabariam os romances de má qualidade da sua adolescência, mas por outro lado repletos de paixões. A edição do Pinóquio, que até hoje ela tem também seria esquecida. A escritora fica feliz por ter sugerido o lançamento de uma coleção dos livros do Pinóquio para as crianças brasileiras, pois há uma identificação muito grande entre ambos. “Pinóquio é a história de um herói pobre. As crianças brasileiras convivem muito com a pobreza. E o herói, no fim, renasce denso e bonito”, reflete a autora.
Deixaria para trás os amigos dela: Bandeira e Andrade. E todas as leituras que fez por blocos: escritores russos, norte-americanos e chineses. Os russos, que para ela são os melhores arquitetos literários; e os americanos, que ao oposto são secos, jornalísticos e objetivos. Entram nessa lista, ainda, desde escritos de Papini a Yasunari Kawabata, primeiro japonês laureado com o Prêmio Nóbel da Literatura.

No final das contas, Marina Colassanti não vai tirar nenhum autor da sua vida. Ao contrário, diz ter gratidão infinita pelo que fizeram a ela. “Me ajudaram a compreender a vida e a me compreender um pouco melhor. Ao escrever, tento ser um elemento que também ajude na compreensão das coisas”, finaliza a autora.

Marina Colasanti é formada em Jornalismo e em belas artes .Tem mais de 40 livros publicados, entre contos, poesia, prosa, literatura infantil e infanto-juvenil. Muitos destes, com publicação também no exterior.  Foi redatora do Caderno B e do Caderno Infantil, do Jornal do Brasil e trabalhou 18 anos para revistas femininas. Em paralelo a esse trabalho, ela percorre o país como conferencista e arrecada diversos prêmios importantes da literatura.